segunda-feira, 27 de janeiro de 2025

Vereda da Poesia = 207


Trova de
PROFESSOR GARCIA
Caicó/ RN

No teu olhar eu contemplo
seja no instante que for,
mãe - o viés de um exemplo,
dando-me, exemplos de amor!
= = = = = = = = =  

Poema de
MACHADO DE ASSIS 
Rio de Janeiro/RJ, 1839 – 1908

Maria

Maria, há no seu gesto airoso e nobre,
Nos olhos meigos e no andar tão brando,
Um não sei quê suave que descobre,
Que lembra um grande pássaro marchando.

Quero, às vezes, pedir-lhe que desdobre
As asas, mas não peço, reparando
Que, desdobradas, podem ir voando
Levá-la ao teto azul que a terra cobre.

E penso então, e digo então comigo:
"Ao céu, que vê passar todas as gentes
Bastem outros primores de valia.

Pássaro ou moça, fique o olhar amigo,
O nobre gesto e as graças excelentes
Da nossa cara e lépida Maria".
= = = = = = = = =  

Trova de
DINAIR LEITE
Paranavaí/PR

A voragem da paixão
é como um barco sem rumo,
deriva sem direção,
sem timoneiro e sem prumo…
= = = = = = 

Poema de
VANICE ZIMERMAN
Curitiba/PR

Tudo dá saudade...

De madrugada,
Deixei as dobras
Da camisa de seda,
Feito
Pequenas ondas acariciarem
Meus seios, colo e braços...
Hoje de madrugada,
Entreguei-me às lembranças
Da maciez dos teus lábios
Doce invasão - permitida -
Do gosto delicioso e único
Dos teus beijos –
Deixei que as notas mescladas
Dos nossos perfumes me envolvessem,
Intensamente...
Hoje de manhãzinha,
Deixei as gotas de orvalho
Umedecerem meu corpo,
Banharem minh'alma
E senti  a presença do teu vento,
Do toque Sutil – incandescente
Das tuas mãos, desvendando
Com as pontas dos dedos
Caminhos em mim -
Tudo dá saudade...
= = = = = = 

Trova de
JOSÉ REGINALDO PORTUGAL
Bandeirantes/PR

Estes carecas sofridos,
sem cabelos ... que ironia,
deixam piolhos perdidos
por falta de moradia!
= = = = = = 

Poema de
DOMINGOS FREIRE CARDOSO
Ilhavo/ Portugal

Tu deixaste a leitura interrompida
(Mário Quintana, in “Rua dos Cataventos”)

Tu deixaste a leitura interrompida
Nas linhas de um parágrafo qualquer
Quando foste atender uma mulher
Que à porta perguntava por guarida.

O livro que tu lias era a vida
Prosseguir a leitura era mister
Mas tu, que sempre acolhes quem vier
Disseste que a visita era querida.

Não lhe viste esse olhar desfigurado
Nem a foice cravada no cajado
Quando ela em tua casa se instalou.

Para te dar trouxe as trevas e um açoite
E ao partir, logo nessa mesma noite
Com ela, de mãos dadas, te levou…
= = = = = = = = = 

Trova de
DOROTHY JANSSON MORETTI 
Três Barras/SC, 1926 – 2017, Sorocaba/SP

Em cada tarde a cair,
vejo a vida em agonia,
aos poucos se despedir
na morte de mais um dia.
= = = = = = 

Soneto de
OLAVO BILAC
Rio de Janeiro/RJ, 1865 – 1918

Surdina

No ar sossegado um sino canta,
Um sino canta no ar sombrio...
Pálida, Vênus se levanta...
Que frio!

Um sino canta. O campanário
Longe, entre névoas, aparece...
Sino, que cantas solitário,
Que quer dizer a tua prece?

Que frio! Embuçam-se as colinas;
Chora, correndo, a água do rio;
E o céu se cobre de neblinas...
Que frio!

Ninguém... A estrada, ampla e silente,
Sem caminhantes, adormece...
Sino, que cantas docemente
Que quer dizer a tua prece?

Que medo pânico me aperta
O coração triste e vazio!
Que esperas mais, alma deserta?
Que frio!

Já tanto amei! Já sofri tanto!
Olhos, por que inda estais molhados?
Por que é que choro, a ouvir-te o canto,
Sino que dobras a finados?

Trevas, caí! que o dia é morto!
Morre também, sonho erradio!
- A morte é o último conforto...
Que frio!

Pobres amores, sem destino,
Soltos ao vento, e dizimados!
Inda vos choro... E, como um sino,
Meu coração dobra a finados.

E com que mágoa o sino canta,
No ar sossegado, no ar sombrio!
Pálida, Vênus se levanta...
Que frio!
= = = = = = 

Trova de 
IZO GOLDMAN
Porto Alegre/RS, 1932 – 2013, São Paulo/SP

A casa toda quebrada,
e o casal diz numa "boa":
- Mas que furacão, que nada,
foi só uma briguinha à-toa!...
= = = = = = 

Soneto de
AUTA DE SOUZA
Macaíba/RN, 1876 – 1901, Natal/RN

Flores

Quando começa a raiar
O dia cheio de amor,
Eu gosto de contemplar
O coração de uma flor,

Desmaiada e tremulante,
Pendendo triste no galho,
Tendo o pistilo brilhante
Embalsamado de orvalho:

A rosa só me parece,
Assim tão casta e sem véu,
Um anjo rezando a prece
Um’ alma voando ao Céu.

Do jasmim puro e mimoso,
A corola embranquecida,
É como um seio formoso
De criança adormecida.

Esqueço-me, então, das horas
A contemplar estas flores,
As violetas, auroras,
Saudades, lindos amores.
= = = = = = = = =  

Trova de
PAULO WALBACH PRESTES
Curitiba/PR, 1945 – 2021

A canção que agora faço
vem da alma e do coração,
vem do céu e vem do espaço
esta minha inspiração!
= = = = = = 

Haicai de
GUILHERME DE ALMEIDA
Campinas/SP 1890 – 1969 São Paulo/SP

Outubro

Cessou o aguaceiro.
Há bolhas novas nas folhas
do velho salgueiro.
= = = = = = 

Poema de
CLÁUDIA CAROLA
Sesimbra/ Setúbal/ Portugal

Procura

Tenho saudades tuas, do teu abraço 
Tenho saudades de te ter no meu regaço 
Tenho saudades dos beijos tão intensos
Dos nossos diálogos pela noite, extensos

Tenho saudades da tua pele doce e quente
Tenho saudades do teu olhar que não mente
Tenho saudades de ao ouvido te sussurrar 
Tenho muitas saudades de te namorar

Porque és de outros tempos, outras eras
Porque continuamos em diferentes esferas
Porque nesta vida ainda não nos cruzamos
Porque nestes corpos ainda não nos amamos

Continuamos na demanda do nosso amor
Continuamos a caminhar curando a dor
Continuamos com fé que nos vamos encontrar 
Continuamos a acreditar que nos vamos amar
= = = = = = 

Trova de
LUIZ PIZZOTI FRAZÃO 
???? – 1998, Niterói/RJ

Almas sensíveis, tocadas
pelo frio do abandono,
são como as tardes nubladas
e as noites tristes de outono…
= = = = = = 

Hino de 
JARDIM DO SERIDÓ/ RN

Quando o século dezoito findava
Dentre a lusa colonização
Ó, Jardim, tu nasceste tão alva,
Na fazenda de gado e algodão!
Embalaram teus sonhos os coqueiros
Que, no Cobra, se encontram altaneiros,
Enfeitando os céus do sertão!
Conceição do Azevedo,
Terra do amor!
Teu passado fulgente
Assegura o teu valor!
O teu solo e tua gente
Bem refletem sob o sol;
Vida e grandeza!
Salve Jardim do Seridó.
Tu surgiste entre rios e lajedo
E com fé, muito amor e emoção,
O segundo Antônio de Azevedo
Te sonhou: Vila da Conceição!
Hoje, alegres, teus filhos decantam
O progresso, a vida em flor!
Berço amigo de paz e de amor!
= = = = = = = = =  

Soneto de
BENEDITA AZEVEDO
Magé/ RJ

Viver o agora

Chegou o tempo de viver o agora
Essa proposta que a vida nos trás
E o nosso coração sempre elabora
Uma resposta que a nós satisfaz.

Navegando por águas mais tranquilas
Com  esta  vontade e a mente bem  leve
Poderá, com certeza,  então segui-las:
 Paz, Alegria e a estima que eleve.

E nesta liberdade  que terá
Sem ter de pra ninguém justificar
Qualquer coisa que faça lá ou cá.

Portanto amiga seja bem feliz
Com  tanto amor só pode conquistar
A vida sem censura como diz.
= = = = = = = = =  = = = = 

Trova de
ANTONIO JURACI SIQUEIRA
Belém/PA

Na tua imagem gravada
sobre as dunas da ilusão,
deixei, em cada pegada,
pedaços do coração!...
= = = = = = = = = 

Uma Lengalenga de Portugal
ERA UMA VEZ…
 
Estas lengalengas eram usadas como efeito cômico, quando as crianças pediam a alguém que lhes contasse uma história e o narrador não tinham nem tempo, nem paciência para as contar, calando-as com estas rimas curtas.

Era uma vez
 Uma galinha perchês
E um galo francês
Eram dois
Ficaram três…
Queres que te conte outra vez?
 
*** 
Era uma vez uma vaca
Chamada Vitória
Morreu a vaquinha
Acabou-se a história
E depois?
Depois…
Morreram as vacas
Ficaram os bois
= = = = = = = = =  

Trova Popular de
AUTOR ANÔNIMO

Eu quero bem à desgraça
que sempre me acompanhou;
mas tenho ódio à ventura,
que bem cedo me deixou.
= = = = = = = = =  

Poema de
DANIEL MAURÍCIO
Curitiba / PR

De repente

De repente
Um quê de fada,
De anjo, de estrela,
Brilhou diferente entre os cachos de flores.
Borboletas...
Pequenas e ligeiras
Almas com asas,
Tingidas com pó de arco-íris
Rasgam o vento tão leve
Tal como o sono inocente.
Sonha em mim,
Coração em pétalas 
No suave pousar das borboletas.
Em silêncio falam aos meus olhos
De um mundo de paz, 
Amor e poesia. 
= = = = = = = = = 

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Levo a prosa e a poesia,
através de um boletim,
e também toda a magia
que elas trazem para mim.