Poema de
WASHINGTON DANIEL GOROSITO PÉREZ
Irapuato/Guanajuato/México
Solidão
A solidão dos espaços
infinitos me aterroriza.
Pascal.
Muda, etérea, indisciplinada,
se rompe ante a vista
do mundo.
A vontade de sermos livres
nos guia.
Às vezes,
enfraquece essa vontade.
Até onde se inclina o fiel
da balança da liberdade?
Vista nossa decadência atual,
é impossível prever,
se seremos conservadores,
para construir a liberdade.
Ou nos encerramos mais
na solidão.
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Trova de
JOSÉ LUCAS DE BARROS
Serra Negra do Norte/RN, 1934 – 2015, Natal/RN
Nada mais belo, decerto,
no cenário da esperança,
que a imagem de um livro aberto
sob o olhar de uma criança!
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Poema de
MACHADO DE ASSIS
Rio de Janeiro/RJ, 1839 – 1908
Alencar
Hão de os anos volver, — não como as neves
De alheios climas, de geladas cores;
Hão de os anos volver, mas como as flores,
Sobre o teu nome, vívidos e leves...
Tu, cearense musa, que os amores
Meigos e tristes, rústicos e breves,
Da indiana escreveste, — ora os escreves
No volume dos pátrios esplendores.
E ao tornar este sol, que te há levado,
Já não acha a tristeza. Extinto é o dia
Da nossa dor, do nosso amargo espanto.
Porque o tempo implacável e pausado,
Que o homem consumiu na terra fria,
Não consumiu o engenho, a flor, o encanto...
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Trova de
CAROLINA RAMOS
Santos/ SP
Quando a noite se desata
e o véu de sombras descerra,
a lua derrama prata
sobre as misérias da terra.
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Poema de
VANICE ZIMERMAN
Curitiba/PR
Prelúdio do anoitecer
Esmaece o fim de tarde
Quase, posso tocar
As nuvens, em degrade
Ah, esse silêncio encantado
Do outono em gotas
À beira do lago beijando as folhas,
Sussurrando às flores
Um poema de amor,
Enquanto embala
A despedida do dia
Na cadeira de balanço
E nesse amenizar da respiração
Da saudade tão intensa,
Mas calada - disfarçada - lágrima
Deixo as lembranças
De cada detalhe
Do teu corpo junto ao meu
Mesclarem-se, unificando-nos
Nesse terno e apaixonante
Prelúdio do anoitecer...
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Haicai de
ÁLVARO POSSELT
Curitiba/PR
Faz eco na rua –
O grito dos quero-queros
sob o nevoeiro
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Poema de
DOMINGOS FREIRE CARDOSO
Ilhavo/ Portugal
Sobre a margem tranquila de um açude
(Mário Quintana, in “Rua dos Cataventos”)
Sobre a margem tranquila de um fresco açude
Fez uma pausa longa o Tempo, a acalmar
Exausto de correr sempre a vindimar
Risos, vontades, crenças e juventude.
Também eu me detive nessa atitude
De conceder a mim mesmo esse vagar
Vergando-me ante mim, não sendo eu altar
Num gesto de humildade que me desnude.
Temos andado os dois sempre de mãos dadas
Desperdiçando as horas, que são sagradas
Em correrias loucas e sem sentido.
Vejo agora que me expus ao grave risco
De fazer desta vida um pequeno cisco
E chegar ao fim sem nunca ter vivido.
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Trova de
DOROTHY JANSSON MORETTI
Três Barras/SC, 1926 – 2017, Sorocaba/SP
Bem outro seria o clima
se em tantos gritos cruzados,
fosse ouvida, lá de cima,
a prece dos desgraçados!
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Soneto de
OLAVO BILAC
Rio de Janeiro/RJ, 1865 – 1918
Maldição
Se por vinte anos, nesta furna escura,
Deixei dormir a minha maldição,
- Hoje, velha e cansada da amargura,
Minh’alma se abrirá como um vulcão.
E, em torrentes de cólera e loucura,
Sobre a tua cabeça ferverão
Vinte anos de silêncio e de tortura,
Vinte anos de agonia e solidão...
Maldita sejas pelo Ideal perdido!
Pelo mal que fizeste sem querer!
Pelo amor que morreu sem ter nascido!
Pelas horas vividas sem prazer!
Pela tristeza do que eu tenho sido!
Pelo esplendor do que eu deixei de ser!...
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Trova de
IZO GOLDMAN
Porto Alegre/RS, 1932 – 2013, São Paulo/SP
É nos momentos tristonhos
que eu peço à minha lembrança
que traga de volta os sonhos,
no aconchego da esperança…
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Soneto de
AUTA DE SOUZA
Macaíba/RN, 1876 – 1901, Natal/RN
À memória de uma ave
Quando morre uma criança,
Diz-se que o pálido anjinho
Voou como uma esperança,
Foi para o Céu direitinho.
Mas nossa mente se cansa
A voar de ninho em ninho,
Interrogando a lembrança,
Quando morre um passarinho.
Só eu, se alguém diz que a vida
De uma avezinha querida
Se extingue como um clarão,
Ponho-me a rir, pois, divina,
Ouço cantar, em surdina,
Tu' alma em meu coração.
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Haicai de
GUILHERME DE ALMEIDA
Campinas/SP 1890 – 1969 São Paulo/SP
Interior
Havia uma rosa
no vaso. Veio do ocaso
a hora silenciosa.
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Soneto de
MÁRIO QUINTANA
Alegrete/RS (1906 – 1994) Porto Alegre/RS
Imemorial
À noite pervaguei pelo Beco do Império
que há cinquenta anos não existe mais
e as horríveis mulheres, nos portais,
estavam belas de eu sonhar com elas.
Um bêbado me olhava, muito sério.
"Ó meu velho Condessa, como vais?"
Porém, agora — eu é que era o velho
e ele nem me conhecia mais...
Tolice!... Ele, afinal, disse o meu nome!
Ah, sempre que se sonha alguma coisa
tem-se a idade do tempo em que as sonhamos:
Me esqueci do futuro... e lá nos fomos
e a luz da Lua — eterna, intemporal —
juntava numa as duas sombras gêmeas.
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Hino de
ITABUNA/ BA
I
Lá na mata, o ouro fruto,
O seu brilho atraiu
Homens bravos, corajosos,
A natureza... O desafio!
Com o machado, o homem na mata
Ressoa o grito voraz da vitória!
Tabocas! Tabocas! Tabocas...
Itabuna tu és agora!
Refrão:
Na madeira, o machado taboca!
E a vila de Ferradas vem surgindo!
O fruto ouro nos olhos, na alma!
Do Cachoeira, a cidade se expandindo!
Amada cidade grapiúna,
Sua glória; sua história
São orgulhos ao coração!
II
Com muralhas, em seu rio,
Grande espelho se formou!
Pedra preta refletindo
Sua gente, seu progresso, seu valor!
Nas praças, seus contos na memória!
Os compêndios enaltecem sua história!
Amada cidade grapiúna:
Itabuna tu és agora!
III
Hoje és linda, hoje és forte!
Sua fauna é conhecida!
Há riquezas nessa terra!
Nessa flora mãe amiga!
No comércio, na indústria... Sua força!
Esse aroma de cacau no coração
São braços fortes, que acolhem o seu povo.
Outra terra não há igual!
Obs : Repetir no final do último coro:
Itabuna, sua glória, sua história
São orgulhos ao coração!
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Soneto de
BENEDITA AZEVEDO
Magé/ RJ
Teu retrato
Em frente ao teu retrato jovem, belo,
Chegado há pouco tempo nesta terra,
Cheio de sonhos bons, encontra a guerra
Pela sobrevivência, e busca um elo.
O sorriso confiante nela encerra
Uma esperança no porvir, no anelo,
buscavas inquietante, sem libelo,
o apoio certo, então sobes a serra.
Desiludido já não ris, na foto
Da carteira social, anos depois.
Sério, parece preocupado e noto,
Que não foi tão feliz a decisão
De deixares a amada terra, pois,
Choravas de saudade à volição.
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Uma Lengalenga de Portugal
MENINA BONITA
Menina bonita
Não sobe à janela
Porque o bicho mau
Carrega com ela.
Se quer alvos ovos
Arroz com canela
Menina bonita
Não sobe à janela.
Não sobe à janela
Não sobe à varanda
Porque lá está posta
Uma fita de ganga.
E dentro da panela
Uma fita amarela
E dentro do poço
A casca de tremoço
E lá no telhado
Um gato molhado
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Quadra Popular de
AUTOR ANÔNIMO
Se eu pensara quem tu eras,
quem tu havias de ser,
não dava meu coração
para tão cedo sofrer.
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Poema de
DANIEL MAURÍCIO
Curitiba / PR
Palavra é ave
Às vezes suave
Às vezes arredia
Entre um pouso e outro
Escolhe um coração
Como ancoradouro
Pra nele fazer
O seu seguro ninho.
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Soneto de
FLORBELA ESPANCA
Vila Viçosa/Portugal, 1894 – 1930, Matosinhos/Portugal
Amor que morre
O nosso amor morreu... Quem o diria!
Quem o pensara mesmo ao ver-me tonta,
Ceguinha de te ver, sem ver a conta
Do tempo que passava, que fugia!
Bem estava a sentir que ele morria...
E outro clarão, ao longe, já desponta!
Um engano que morre... e logo aponta
A luz doutra miragem fugidia...
Eu bem sei, meu Amor, que pra viver
São precisos amores, pra morrer,
E são precisos sonhos para partir.
E bem sei, meu Amor, que era preciso
Fazer do amor que parte o claro riso
De outro amor impossível que há de vir!
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Setilha do
PROFESSOR GARCIA
Caicó/RN
Casinha à beira da estrada
com chão de terra batida,
fiz do teu portão de entrada
o meu portão de saída,
parti morto de saudade
tangendo os sonhos da idade
pelas estradas da vida!
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Trova de
PAULO ROBERTO OLIVEIRA CARUSO
Niterói/RJ
Horas por dia eu passei
no tal mundo virtual,
até que um dia paguei
uma conta bem real!
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Poema de
ELISA ALDERANI
Ribeirão Preto/SP
Casulo da palavra
Palavra fechada no casulo da alma.
Como bicho da seda tecendo fios dourados.
Trabalha sem cessar.
Na noite profunda sonha.
Escondida, aguarda seu tempo.
Na hora certeira amadurece.
Silenciosa e calma.
Com a força do pensamento,
Abre sua provisória morada.
Vagarosa sai informe.
Úmida e gelada,
Na madrugada de um dia qualquer.
Aguarda o sol chegar.
Um raio luzente a aquece,
Revigora sua carne machucada.
Distende as asas lentamente,
Voa para experimentar a vida!
Agora linda e colorida borboleta.
Não é efêmera…
Logo ela volta e docemente pousa
Na perfumada flor branca do papel.
Que acolhedor está à sua espera.
A Indelével Palavra do poeta.
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Trova de
RENATO ALVES
Rio de Janeiro/RJ
No caminho sem atalhos
que leva ao teu coração,
feri meus pés nos cascalhos
que espalhaste pelo chão.
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Poetrix de
MARDILÊ FRIEDRICH FABRE
São Leopoldo/RS
pas de deux
No jardim,
Borboletas dançam.
Coreografia da paixão.
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Soneto de
OLAVO BILAC
Rio de Janeiro/RJ, 1865 – 1918
Em uma tarde de outono
Outono. Em frente ao mar. Escancaro as janelas
Sobre o jardim calado, e as águas miro, absorto.
Outono... Rodopiando, as folhas amarelas
Rolam, caem. Viuvez, velhice, desconforto...
Por que, belo navio, ao clarão das estrelas,
Visitaste este mar inabitado e morto,
Se logo, ao vir do vento, abriste ao vento as velas,
Se logo, ao ir da luz, abandonaste o porto?
A água cantou. Rodeava, aos beijos, os teus flancos
A espuma, desmanchada em riso e flocos brancos...
- Mas chegaste com a noite, e fugiste com o sol!
E eu olho o céu deserto, e vejo o oceano triste,
E contemplo o lugar por onde te sumiste,
Banhado no clarão nascente do arrebol..
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Trova de
ADEMAR MACEDO
Santana do Matos/ RN, 1951 – 2013, Natal/ RN
Já quase louco de amor,
envolto num triste enlevo
ponho toda a minha dor
no papel…quando eu escrevo!
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Poema de
JOSÉ CARLOS MOUTINHO
Porto / Portugal
Céu azul
Contemplo o céu, fascinado
Pelo azul imensamente belo;
Deslumbra-me a imensidão do infinito espaço
E me reduz a uma infinita expressão do nada!
As nuvens movimentam-se em bailados
De fantástica coreografia;
Brancas, pombas alvas da paz,
Na quietude do tempo que sorri,
Acariciadas pelo brilho do astro rei!
E é nesta visão, serena, que me acalma,
Ao mesmo tempo que me alerta,
Para as nuvens negras, tenebrosas e ameaçadoras
De tempestades de forças diluvianas...
Mas agora, aqui, neste momento,
Só quero sentir a ilusão do belo eterno
Que me é oferecido,
Neste quadro de singular perfeição,
Onde as cores são distintas
Das inventadas pelos homens;
Aquelas têm um brilho irreal, esotérico,
Que nos atraem e nos elevam espiritualmente,
Para um outro espaço extasiante de emoções.
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