Poema de
LAIRTON TROVÃO DE ANDRADE
Pinhalão/PR
Saudade
"Dize-me, ó tu, que meu coração ama,
onde apascentas o teu rebanho?"
(Ct. 1.7)
A minh'alma está cheia de dor,
Dor perene de acerba saudade,
De saudade do mais puro amor...
Estou triste qual triste albatroz,
Não preciso escutar nada mais,
Pois ouvir eu nem posso a sua voz.
Este vento assobia lá fora...
Lentamente meu dia passou...
Vem a noite calada, agora,
Sufocar minha vida tristonha
Com o meu pensamento angustiado
- Pesadelo acordado que sonha.
Nem as cordas sonoras da lira
Inspirar melodias puderam;
Só lamento pungente se ouvira
De uma vida que vive o temor,
E, distante da face querida,
A saudade tem sulcos de dor.
Que saudade do seu rosto lindo,
Desses olhos que olharam pra mim;
Eu a vejo formosa, sorrindo,
- Primavera corando-se em flor...
Que saudade da face excitada,
Fascinando-me em taça de amor.
Quero vê-la de novo bem linda,
Com seus braços repletos de vida;
No meu lar seja sempre bem-vinda,
Casa cheia de dócil encanto;
Contagiado será seu viver,
Expulsando, co'amor, o meu pranto.
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Soneto de
EDY SOARES
Vila Velha/ES
Inquietudes
Vejo em meu rosto as marcas esculpidas.
O espelho mostra a face insatisfeita
nessas manhãs de noites mal dormidas,
que sua ausência junto a mim se deita...
prevalecendo em vão, em nossas vidas,
há sempre um fio de esperança à espreita,
e um “nunca mais” em nossas despedidas
que o esperançoso o coração rejeita!
E neste emaranhado de quimeras,
passam-se os sonhos, vão-se as primaveras,
os dias passam, tudo passa e enfim...
num misto de regressos e tristezas,
envolto no universo de incertezas…
só este amor incerto é certo em mim!
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Quadra Popular de
AUTOR ANÔNIMO
Fui na fonte apanhar água,
molhei a ponta do lenço;
o amor de muitos homens
da minha parte dispenso.
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Poema de
ANTERO JERÓNIMO
Lisboa/ Portugal
Da pele o inebriante apelo
incita o chamamento dos lábios
num premente e ousado anelo
de beber da fonte o fogo.
Da pele rendidos à química reação
olhos em promessa reagente
deslumbradas mãos em tentação
num afagar de sentidos sem remissão.
Da pele traça-se relevo mapeado
navegação ausente de pontos cardeais
conquista-se o desejo pela vontade
encanto que nega a breve saciedade.
Da pele essa audível sinfonia de afetos
corpos cegos pela iridescência da paixão
Náiade sulcando as margens do meu rio
numa promessa de eterna inspiração.
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Haicai do
PROFESSOR GARCIA
Caicó/RN
A noite sem sono
e, a lua cheia de luz,
sozinha no abandono!
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Poema de
DOMINGOS FREIRE CARDOSO
Ilhavo/ Portugal
Ante a verdade pura e sem disfarce
(Maria Amélia de Carvalho e Almeida in "Ao Sabor das Marés", p. 192)
Ante a verdade pura e sem disfarce
Dos teus olhos interrogando os meus
O coração, nesse instante do adeus
Não logrou fazer mais do que entregar-se.
E vieram as lágrimas juntar-se
Nascidas dos meus olhos tão ateus
Ao enlace dos meus braços pigmeus
Onde o teu colo em dor veio aninhar-se.
O amor falou mais alto nessa hora
Em que tu desististe de ir embora
E voltaste a aquecer a nossa cama.
A lua deu lugar à luz do dia
Das trevas despontou uma alegria
E das cinzas nasceu uma outra chama.
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Soneto de
AMAURY NICOLINI
Rio de Janeiro/RJ
Dança dos signos
Hoje bem cedo eu tive a curiosidade
de ler o horóscopo publicado no jornal,
e se o que está escrito ali for a verdade
o dia que começa vai ser sensacional.
Conhecerei muita gente interessante,
terei mil oportunidades de progresso,
viajarei com destino a um lugar distante
e provarei o sabor doce do sucesso.
Fico pensando se você também, feliz,
e lendo o mesmo horóscopo que eu
pede que ainda mais os astros contem.
E depois, sem conseguir nada que quis,
vai descobrir o que foi que errado deu:
o jornal que a gente leu era de ontem.
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Poema de
FILEMON MARTINS
São Paulo/ SP
Ipupiara
Cravada no Sertão, jardim de flores
nasceu uma cidade hospitaleira.
Seus campos coloridos, sedutores,
tornam a vida bela e corriqueira.
Berço de heróis, poetas, escritores,
produzem versos na cidade ordeira.
O clima é quente, bom e aviva as cores
da alegria que é sempre verdadeira.
Ipupiara é flor cheia de encanto,
cuja beleza inspira o bem, porquanto
as alegrias são puras e completas.
Há de brilhar no céu, mesmo à distância,
esta Terra de amor e de elegância,
pois tu és a cidade dos Poetas!
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Poeminha de
A. A. DE ASSIS
Maringá/PR
Serra-serra,
será dor.
Cessa a serra,
será flor.
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Poema de
THEREZINHA DIEGUEZ BRISOLLA
São Paulo/SP
A janela encantada
Se a luz do dia revela
que a noite de amor é finda,
fecho, depressa, a janela
e pensas que é noite ainda!
* * * *
A casa pobre e singela,
um dia se enriqueceu
e os pais, cheios de alegria,
a chamaram de Maria
quando a menina nasceu.
Um quarto, a sala, a cozinha,
uma porta e uma janela...
Nessa casa pequenina
cresceu, em graça, a menina
que, aos poucos, tornou-se bela!
À tarde sai à janela,
sempre no horário marcado
a olhara rua!... Risonha,
a menina pobre sonha
com seu príncipe encantado!
E é na janela o namoro...
Pede, o moço apaixonado,
ao pai a mão de Maria
e, para sua alegria,
o casamento é marcado.
O tempo passou ligeiro...
Sem a cortina de renda,
a casa em ruínas, fechada,
hoje, a janela encantada
ostenta uma placa: À VENDA.
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Epigrama de
BOCAGE
(Manuel Maria de Barbosa l'Hedois du Bocage)
(Setúbal, 1765 – 1805, Lisboa)
A uma velha muito feia
Não veio a morte buscar-te
Com o seu chamante robusto,
Porque receia ao encarar-te
Morrer a Morte de susto.
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Soneto de
ERIGUTEMBERG MENESES
Blumenau/SC
Paleta de sentimentos
Se a paleta de cores fosse o peito
E cada cor reflexo dos humores
Seriam os casais vistos nas cores
Dos sentimentos, cada um a seu jeito.
Somente o amor real seria aceito
E não havia ciúme ou rancores.
A vida era um universo de valores
Na arte de expor o par perfeito.
O casal de afeto fiel e franco
Com sentimentos puros era o branco,
A mistura das cores sem ter regra?
E o casal que engana, trai e mente
Teria do extrato reagente
Ao sulfato a cor que mais alegra?
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Trova de
RITA MOURÃO
Ribeirão Preto/SP
Quando esta lua indiscreta,
me traz lembranças sem fim
eu choro o velho poeta
que morreu dentro de mim.
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Poema de
JÉRSON BRITO
Porto Velho/ RO
Relicário
Do jardim retiraste a fragrância,
Lividez se alastrou, inclemente,
Não levaste, entretanto, a semente
Que me faz encurtar a distância.
Em mim mesmo encerrei tua essência,
Tua graça, teu jeito elegante,
Não me aparto sequer um instante
Desse alívio pra minha carência.
As delícias daquele cenário
Reuni numa doce memória…
Habitante do meu relicário
Apesar dos caminhos cinéreos,
Indelével no peito a história
Irradia sabores etéreos.
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Haicai de
BENEDITA AZEVEDO
Magé/RJ
O clarão da Lua
ressalta a torre da igreja –
sombra na pracinha.
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Soneto de
MILTON S. SOUZA
Porto Alegre/RS, 1945 – 2018, Cachoeirinha/RS
Escravidão
Fazes de mim o que bem quer... mas não consigo
mudar o rumo desta história complicada.
Sufoco mágoas, resisto, brigo contigo...
mas volto sempre a caminhar na mesma estrada.
Na escravidão desta paixão desenfreada,
sinto morrendo uns tantos sonhos que persigo.
minha alma, às vezes, quase explode, revoltada
por ver que faço sempre o oposto do que digo.
Mas este amor, repleto de contradições,
é força imensa que inventa as próprias razões
e faz a mente parar de raciocinar.
A minha vida mais parece um labirinto:
ando sem rumo, bato portas, choro, minto...
por mais que tente, nunca deixo de te amar.
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Sextilha de
HÉLIO PEDRO SOUZA
Caicó/RN
Bate forte um coração
quando um sonho é bem sonhado,
o caminho é mais florido
fica o céu mais estrelado,
e a lua aumenta o seu brilho
se o sonho é realizado.
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Soneto de
LUIZ POETA
(Luiz Gilberto de Barros)
Rio de Janeiro/RJ
Flutu...ânsias
Numa doce interferência do destino,
nossos olhos... cristalinos...se encontraram
e o mundo se tornou tão pequenino,
ante sonhos que os destinos projetaram.
E havia tanto encanto em nosso olhar,
tanto brilho em nosso mar de poesia,
que nem mesmo a luz da Lua, a flutuar,
conseguia ofuscar a fantasia.
Nosso amor, que era tão adolescente
e inocente em nossa linda ingenuidade,
transformou-se em lembrança... de repente.
repousando no brilho da mesma Lua,
diluindo-nos, com mansa intensidade
na saudade que desperta... e que... flutua.
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Trova de
ERCY MARIA MARQUES DE FARIAS
Bauru/SP
Que bom se a gente pudesse
fazer tudo que não fez…
e a vida, a chance nos desse,
de ser criança outra vez!…
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Poema de
BENJÚNIOR
(Benevides Garcia Barbosa Júnior)
Porto União/SC
Tarde azul
Olhando por esta janela antiga,
Nem mais sei
O que eu sou.
Já não ouço mais
Meus blues,
Nem tenho tempo
Para ver o sol nascer.
Só restam lamentos
Nas minhas tardes azuis,
Uma tristeza profunda,
Vontade de não mais ser...
Como um espantalho
levado pelo vento
vou seguindo a vida,
esquecido dos deuses,
ermo de amores,
carente de pensamentos,
distante de tudo,
crivado de dores...
Sou agora aquele que nunca foi.
Aquele que nunca ousou,
alguém que nunca amou...
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Trova de
CAROLINA RAMOS
Santos/SP
De esperanças carregada,
velejou por tantos portos;
hoje retorna a jangada,
trazendo meus sonhos mortos.
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Soneto de
BERNARDO TRANCOSO
(Bernardo Sá Barreto Pimentel Trancoso)
Vitória/ES
Loucuras de amor (I)
Torcer por um amor insano, incerto,
É ser um sonhador, ter peito aberto
Pra suportar a dor, infernizante,
Que a insegurança traz a cada instante.
É ver a alma perdida num deserto,
Sedenta e entristecida; é estar tão perto
De ser feliz na vida e tão distante
Desta felicidade, desta amante.
Passa o tempo e o desejo permanece,
Mas o corpo envelhece. Penso, então,
Que a alegria se encontra em outro plano.
Sabendo disso, um ser novo aparece
E, pretendendo alçar seu coração,
Arrisco um novo amor incerto, insano.
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Poetrix de
RENATO BENVINDO FRATA
Paranavaí/PR
Flores
Sensível, mas perfumada
chora a rosa
lágrimas de espinho.
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Poema de
POETA SILVAIS
(Manuel Joaquim Frades Carvalhal)
Évora/Portugal
Dedicado ao mensageiro
Mensageiro a Poesia
Está-te muito agradecida
E o Poeta dia a dia
Dá-te rimas que são vida
De tristeza já esquecida
Por carinho e simpatia
A pobreza enriquecida
Dá-te amor por cortesia
Do pai da mãe e da tia
Do primo do neto e avô
Quero que siga a “Dinastia”
Desta herança que te dou
O amar a quem te amou
E amanhã quem te amará
Daquilo que não estimou
Nunca nada te dará
Qualquer dia venho cá
E não é pra te agradar
Quem critica ajudará
Tua vida a melhorar
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Triolé* de
MACHADO DE ASSIS
(Joaquim Maria Machado de Assis)
Rio de Janeiro/RJ, 1839 – 1908
Flor da mocidade
Eu conheço a mais bela flor:
És tu, rosa da mocidade,
Nascida, aberta para o amor.
Eu conheço a mais bela flor:
Tem do céu a serena cor
E o perfume da virgindade.
Eu conheço a mais bela flor:
És tu, rosa da mocidade.
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* Triolé, pequeno poema de forma fixa. Originário da França (triolet), ao mesmo tempo em que o rondel e o rondó, com os quais é confundido; o triolé tem sua própria estrutura poética. Deschamps, poeta francês medieval, julgava-o igual ao rondel, e assim há quem o considere até hoje. Caiu em desuso (completo) no século XVI e foi reerguido, na metade do século XIX, pelos poetas parnasianos. Dentre os nossos que experimentaram o triolé, destaca-se um nome ilustre, Machado de Assis.
A estrutura do triolé consta do seguinte: uma oitava, ou mais, com duas rimas apenas, de modo que o primeiro verso repete no quarto, e os dois primeiros fecham a estrofe, como o sétimo e oitavo, assim: ABaAabAB (as maiúsculas representam os versos que são repetidos como estribilho).
Consta de estrofes de oito versos, em duas rimas, com a seguinte disposição: abaaabab. O 1.º, o 4.º e o 7.º versos são iguais.
(Ricardo Sérgio – Recanto das Letras)
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