Em uma pequena cidade, onde as ruas são tranquilas e o tempo parece fluir de maneira diferente, vive Alessandro. Aos 75 anos, ele se tornou uma sombra do homem vibrante que um dia foi. Com seu fiel cachorro, Tico, como única companhia, ele habita uma casa que já foi cheia de risos e histórias, mas que agora ecoa um profundo silêncio.
A solidão é uma visita constante, e, para Alessandro, ela se torna cada dia mais pesada. Ele se lembra de seus irmãos quando eram pequenos, correndo, trazendo vida e alegria ao lar. Mas, à medida que o tempo passou, suas vidas tomaram rumos diferentes. A distância se transformou em abandono, e a casa, uma fortaleza vazia.
Caminhando pelas ruas, observa as famílias passando, as crianças brincando, os avós sendo abraçados. Ele sorri ao ver a alegria dos jovens, mas em seu coração uma dor silenciosa se instala. O descaso da sociedade para com os idosos que vivem sozinhos é um tema que muitas vezes não é discutido. Os dias se arrastam, e a presença de Tico se torna o único consolo em meio à solidão.
Muitos não veem o valor que um idoso pode trazer. A sabedoria acumulada ao longo de décadas, as histórias de vida que poderiam iluminar as novas gerações, tudo isso é frequentemente ignorado. Alessandro, em suas conversas com Tico, fala sobre os tempos antigos, sobre as dificuldades que enfrentou e as lições que aprendeu. Mas, na ausência de ouvidos atentos, suas palavras se perdem no ar.
A solidão não afeta apenas a mente, mas também o corpo. Ele sente a falta de energia, a falta de motivação. Ele gostaria de plantar flores no jardim, de preparar um bolo para as visitas que nunca vêm. O cachorro, com sua lealdade inabalável, é seu único alicerce, mas até mesmo a alegria que ele traz não é suficiente para preencher o vazio.
É essencial que as famílias acolham seus idosos com carinho. Cada um deles trilhou um longo caminho de experiências, de conquistas e derrotas. A vida os moldou, e eles têm tanto a oferecer. Um simples telefonema, uma visita inesperada, podem fazer toda a diferença. É nesse carinho que reside a esperança de um futuro mais humano.
No final de cada dia, Alessandro se senta na varanda, olhando para o céu que se pinta de estrelas. Ele ainda acredita que ao menos Tico o entende. E, embora a solidão possa ser uma companheira cruel, seu coração guarda a expectativa de que um novo dia traga uma mudança. Com um sorriso triste, ele acaricia a cabeça do cachorro e murmura: “Ainda temos muito para viver, não é, meu amigo?”
A verdade é que, enquanto houver amor e empatia, a solidão pode ser suavizada. A experiência dos idosos é um tesouro que devemos valorizar. Eles não são apenas lembranças do passado; são pilares de uma sociedade que precisa aprender a ouvir. E, quem sabe, ao acolhê-los, possamos também descobrir um pouco mais sobre nós mesmos.
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JOSÉ FELDMAN, poeta, trovador, escritor, professor e gestor cultural. Formado em técnico de patologia clínica trabalhou por mais de uma década no Hospital das Clínicas de São Paulo. Foi enxadrista, professor, diretor, juiz e organizador de torneios de xadrez a nível nacional durante 24 anos; como diretor cultural organizou apresentações musicais e oficina de trovas. Morou 40 anos na capital de São Paulo, onde nasceu, ao casar-se mudou para Curitiba/PR, radicando-se em Maringá/PR, cidade onde sua esposa é professora da UEM. Consultor educacional junto a alunos e professores do Paraná e São Paulo. Pertence a Confraria Brasileira de Letras, Confraria Luso-Brasileira de Trovadores, etc. Possui os blogs Singrando Horizontes desde 2007, Voo da Gralha Azul (com trovas do mundo). Assina seus escritos por Floresta/PR. Dezenas de premiações em crônicas, contos, poesias e trovas no Brasil e exterior.
Publicações:
Publicados: “Labirintos da vida” (crônicas e contos); “Peripécias de um Jornalista de Fofocas & outros contos” (humor); “35 trovadores em Preto & Branco” (análises); “Canteiro de trovas”.
Em andamento: “Pérgola de textos”, "Chafariz de Trovas", “Caleidoscópio da Vida” (textos sobre trovas), “Asas da poesia”, "Reescrevendo o mundo: Vozes femininas e a construção de novas narrativas".
Fontes:
José Feldman. Pérgola de Textos. Floresta/PR: Plat. Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul.
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing

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