JOSÉ RODRIGUES FERNANDES
Fortaleza/CE (1910 – ????)
Chora o vento lá por fora...
Chora a chuva e vão-se as águas.
O coração também chora,
mas nunca se vão as mágoas.
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Poema de
ELVIRA BARBOSA CAMARINHA
Braga/Portugal
Donzela
Com violino e rabeca
donzela me sinto,
ao toar de Agosto quente,
com a alma ardente,
corpo decente.
Tesouro guardado.
Chave do cofre, escondida
algures,
perdida,
sinal de nova vida!
Donzela
nua de pés,
adormece na sua tela!
Tesouro apetecido.
Saudades tuas
serão manhãs cruas...
donzela perdeu a sensualidade,
pecado arremessado
pelos senhores da Verdade!
Prazo de validade...
Tesouro requisitado.
Tarde,
fez-se noite,
a donzela fechou-se...
cadeado!
Saudades donzela do
teu Amor quente,
enfeitiçado!
Donzela liberou o passado...
e dela ficou o beijo molhado.
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Limerique de
NILTON MANOEL
Ribeirão Preto/SP, 1945 – 2024
Limerique Urbano IV
Pela longa rua da feira
tem tudo de bom e primeira;
vê-se a granel,
quentinho. pastel...
Tem até gente barraqueira.
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Poema de
SÉRGIO TAVARES
Piabetá/RJ
Eu te peço perdão
Eu te peço perdão, por ser tão inexato,
por não possuir a claridade desse dia,
por ter uma visão de mentecapto,
por ter a vida, assim, sempre vazia.
Eu te peço perdão, por não estar onde me queres,
por dizer não, quando na verdade te queria,
por sorrir, quando tanto tu choravas,
mas, por chorar, quanto tanto tu sorrias.
Mas não me culpe se tudo deu errado,
se o teu amor nunca foi correspondido,
pois apesar de estar sempre do teu lado,
meu sentimento foi mal compreendido.
Culpe menos ainda o meu verso,
que é apenas uma forma de sangria,
é, apenas, o reflexo do meu reverso,
e se nasceu foi porque tu morrias.
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Trova de
APARÍCIO FERNANDES
Acari/RN, 1934 – 1996, Rio de Janeiro/RJ
Conheço um tipo de fome
que não se farta de pão:
fome de amor! Eis o nome
da fome do coração!...
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Soneto de
EMÍLIO DE MENESES
Curitiba/PR, 1866 – 1918, Rio de Janeiro/RJ
Alcoolismo
A leitura do tópico tremendo
À lembrança me trouxe uma anedota
Velha, tão velha quanto aquela bota
Que era toda o Larousse do remendo.
Certo alcoolista, um sábio artigo lendo
De um médico alemão de grande nota
Contra o álcool, diz em compulsão devota:
"Como ele prova quanto o vício é horrendo!"
E acrescenta: "A verdade em mim desperta!
Eu não quero pelo álcool cair morto,
Vou dizê-lo bem alto e de alma aberta!"
Tal leitura me traz tanto conforto,
Que vou beber saudando a descoberta
Três garrafas de bom vinho do Porto!...
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Trova de
PROFESSOR GARCIA
Caicó/RN
Amores na mocidade!...
Depois, a contrapartida:
cansaço, dor e saudade
na curva extrema da vida!
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Poema de
RABINDRANATH TAGORE
Índia (1861 - 1941)
Julgamento
Não julgues...
Habitas num recanto mínimo desta terra.
Os teus olhos chegam
Até onde alcançam muito pouco...
Ao pouco que ouves
Acrescentas a tua própria voz.
Mantém o bem e o mal, o branco e o negro,
Cuidadosamente separados.
Em vão traças uma linha
Para estabelecer um limite.
Se houver uma melodia escondida no teu interior,
Desperta-a quando percorreres o caminho.
Na canção não há argumento,
Nem o apelo do trabalho...
A quem lhe agradar responderá,
A quem lhe agradar não ficará impassível.
Que importa que uns homens sejam bons
E outros não o sejam?
São viajantes do mesmo caminho.
Não julgues,
Ah, o tempo voa
E toda a discussão é inútil.
Olha, as flores florescem à beira do bosque,
Trazendo uma mensagem do céu,
Porque é um amigo da terra;
Com as chuvas de Julho
A erva inunda a terra de verde,
e enche a sua taça até à borda.
Esquecendo a identidade,
Enche o teu coração de simples alegria.
Viajante,
Disperso ao longo do caminho,
O tesouro amontoa-se à medida que caminhas.
(tradução de José Agostinho Baptista)
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Trova de
WANDA DE PAULA MOURTHÉ
Belo Horizonte/MG
Esta angústia indefinida,
que sempre à noite me invade,
são sombras próprias da vida
ou disfarces da saudade?
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Soneto de
AMILTON MACIEL MONTEIRO
São José dos Campos/SP
Não tenha inveja!
O voo do urubu tão silencioso
e, na aparência, sem esforço algum,
nos lembra um parapente fabuloso,
cujo piloto tem risco comum....
O nosso pobre abutre é bem feioso,
mas seu voar supera qualquer um;
enquanto o voo à vela é majestoso,
perigo o urubu não tem nenhum!
A lei protege até sua existência,
por sua importante excelência,
limpando sem cansar a Natureza!
Vendo o urubu no céu, não tenha inveja,
(como de quem com risco é que veleja),
já que o manjar do abutre é a impureza!
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Trova de
ZAÉ JÚNIOR
Botucatu/SP, 1929 – 2020, São Paulo/SP
A esperança do colono
de sol a sol é cativa...
mas seu patrão não é dono
dos sonhos que ele cultiva!
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Hino de
NOVA GRANADA/SP
Sob as bênçãos de São Benedito,
do valente Francisco dos Santos,
veio a nós este solo bendito,
a quem vou dedicar o meu Canto.
No começo eras Vila Bela,
com orgulho lembra a gente tua;
outro nome surgiu nesta tela,
mas o amor de teus filhos continua!
Deus te salve, oh, Granada,
do "São João" ao "Pitangueiras",
para sempre, terra amada,
do "Matão" ao "Corredeira".
Teu passado é glorioso,
tua face é altaneira;
do teu povo laborioso
é a paz, "Cidade Hospitaleira"!
Brava gente chegada da Espanha
fez o nosso progresso aumentar
e, de força irmanada tamanha,
nossa Nova Granada aí está.
Teu passado foi feito de glórias,
teu presente à luta pertence,
teu futuro já tem uma história;
que alegria é morrer granadense!
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Trova de
RITA MOURÃO
Ribeirão Preto/SP
Com as chaves da alvorada,
Deus que é poder e magia,
deixa a noite enclausurada
e abre as portas para o dia.
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Recordando Velhas Canções
QUEM É ...
(fox, 1959)
Oldemar Magalhães e Osmar Navarro
Quem é...
Que lhe cobre de beijos
Satisfaz seus desejos
E que muito lhe quer... Quem é
Quem é...
Que esforços não mede
Quando você lhe pede
Uma coisa qualquer
Quem é...
Que de você tem ciúmes
Quem é
que lhe ouve os queixumes
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Trova de
CLARINDO BATISTA ARAÚJO
Jardim do Piranhas/RN, 1929 – 2010, Natal/RN
Negra cinza no chão pobre
que resultou da queimada,
é o triste manto que cobre
a Natureza enlutada!...
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Poema de
MACHADO DE ASSIS
Rio de Janeiro/RJ, 1839 – 1908
Gonçalves Crespo
Esta musa da pátria, esta saudosa
Níobe dolorida,
Esquece acaso a vida,
Mas não esquece a morte gloriosa.
E pálida, e chorosa,
Ao Tejo voa, onde no chão caída
Jaz aquela evadida
Lira da nossa América viçosa.
Com ela torna, e, dividindo os ares,
Trépido, mole, doce movimento
Sente nas frouxas cordas singulares.
Não é a asa do vento,
Mas a sombra do filho, no momento
De entrar perpetuamente os pátrios lares.
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Trova de
LUCÍLIA A. T. DECARLI
Bandeirantes / PR
Lembrando auroras passadas,
dos momentos mais felizes,
vou transpondo as madrugadas
e esquecendo as cicatrizes...
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Poema de
DOMINGOS FREIRE CARDOSO
Ilhavo/ Portugal
Foram levando qualquer coisa minha
(Mário Quintana, in “Rua dos Cataventos”)
Foram levando qualquer coisa minha
Os ocasos que eu tanto apreciava
Como se o sol morrendo envolto em lava
Me roubasse o que em minha alma eu tinha.
De cada vez que a luz, régia rainha
Do meu olhar carente se ocultava
Levava o que mais rico em mim achava
Até do meu ser não restar nadinha.
Corpo seco, sou concha de molusco
Solto à beira da praia onde eu busco
A minha alma por quem ando a penar,
E se o destino não me deixar tê-la
No fim de cada tarde eu venho vê-la
À hora em que o sol cá se vem deitar.
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Trova de
MARIA HELENA OLIVEIRA COSTA
Ponta Grossa/PR
Na vida, mestra da gente,
tudo tem vez e tem hora:
só conhece o seu poente
quem já viveu sua aurora...
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Soneto de
OLAVO BILAC
Rio de Janeiro/RJ, 1865 – 1918
Velhas árvores
Olha estas velhas árvores, mais belas
Do que as árvores novas, mais amigas:
Tanto mais belas quanto mais antigas,
Vencedoras da idade e das procelas...
O homem, a fera, e o inseto, à sombra delas
Vivem, livres de fomes e fadigas;
E em seus galhos abrigam-se as cantigas
E os amores das aves tagarelas.
Não choremos, amigo, a mocidade!
Envelheçamos rindo”! Envelheçamos
Como as árvores fortes envelhecem:
Na glória da alegria e da bondade,
Agasalhando os pássaros nos ramos,
Dando sombra e consolo aos que padecem!
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Trova de
MASSILON SILVA
Aracaju/SE
Gosto de te ver passar
trazendo os raios da aurora,
todo dia a clarear
a rua em que a gente mora.
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Poema de
CECÍLIA MEIRELES
Rio de Janeiro RJ, 1901-1964
De que são feitos os dias?
- De pequenos desejos,
vagarosas saudades,
silenciosas lembranças.
Entre mágoas sombrias,
momentâneos lampejos:
vagas felicidades,
inatuais esperanças.
De loucuras, de crimes,
de pecados, de glórias
- do medo que encadeia
todas essas mudanças.
Dentro deles vivemos,
dentro deles choramos,
em duros desenlaces
e em sinistras alianças...
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Trova de
REGINA RINALDI
Pariquera-Açu/SP
Acordada, vejo a aurora
pintar de laranja o céu,
doces lembranças de outrora
descortinam feito véu!...
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