sexta-feira, 29 de agosto de 2025

Asas da Poesia * 82 *


Trova de
CÔNEGO BENEDITO VIEIRA TELLES
Bueno Brandão/MG, 1928 – 2022, Maringá/PR

A trova é flor tão pequena 
neste jardim de emoção.
Chamo-te rosa, açucena,
amo-te com afeição.
= = = = = = = = =  

Soneto de
JOÃO BATISTA XAVIER OLIVEIRA
Presidente Alves/SP, 1947 – 2025, Bauru/SP

...E a vida continua

Aos poucos meus amigos vão embora...
Saudade hospitaleira abre janelas
e os ares das paisagens amarelas
aumentam o vazio que devora.

As mãos saudosas ficam sem aquelas
que tanto me afagaram mundo afora
nas horas tristes bem fora de hora
e nos momentos das tertúlias belas.

E assim eu sinto que também vou indo
na esteira da fatal apoteose.
Sublime é caminhar sempre sorrindo

sabendo que ao beber da mesma dose
os planos das paisagens verdejantes
ressurgirão sorrindo como antes
= = = = = = 

Trova de
DÉCIO VALENTE
São Paulo/SP

Mãe! Criatura querida,
santa heroína sois vós;
quando nos destes a vida,
destes o sangue por nós.
= = = = = = = = =  

Soneto de 
MARTINS FONTES
Santos/SP, 1884 – 1937

Ser Paulista

Ser paulista! é ser grande no passado
E inda maior nas glórias do presente!
É ser a imagem do Brasil sonhado,
E, ao mesmo tempo, do Brasil nascente.

Ser paulista! é morrer sacrificado
Por nossa terra e pela nossa gente!
É ter dó das fraquezas do soldado
Tendo horror à filáucia do tenente.

Ser paulista! é rezar pelo Evangelho
De Rui Barbosa - o sacrossanto velho
Civilista imortal de nossa fé.

Ser paulista em brasão e em pergaminho
É ser traído e pelejar sozinho,
É ser vencido, mas cair de pé!
= = = = = = 

Trova de
LUIZ OTÁVIO
Rio de Janeiro/RJ, 1916 – 1977, Santos/SP

Com tanta pureza, tanta
bondade em teu coração,
não és rainha, mas santa,
no altar da minha Paixão…
= = = = = = = = =  

Spina de 
SOLANGE COLOMBARA
São Paulo / SP

Miragem

Relances do tempo
traduzem em ecos
sua suave história,

apenas resquícios de uma trajetória. 
A memória não distingue momentos
futuros, talvez breve lacuna aleatória.
Um oásis reflete diversas passagens, 
estremeço em cena, intuo dedicatória. 
= = = = = = 

Trova de
MÁRIO LUIZ RIBEIRO
Santos Dumont/MG

Vendo o moço correr tanto,
julguei ser um campeão,
mas, foi grande o meu espanto
quando ouvi: - Pega o ladrão!
= = = = = = = = =  

Poema de
MARCOS ASSUMPÇÃO
(Marcos André Caridade de Assumpção)
Niterói/RJ

Casa Vazia

Falar de amor não é mistério
Nem tão difícil de explicar
A gente nunca faz por mal

Meu coração praia deserta
Morre de medo do inverno
E da solidão que me devora

Agora, a casa vazia,
Eu grito seu nome,
Só o silêncio me responde

Pensar que o amor é sempre eterno
Que é impossível ele se acabar,
Você bem que podia tentar, mas não, não, não.....

Então quero falar por um momento 
(só por um momento)
Da tua ausência no meu corpo
E dessa lágrima no meu rosto

Agora, a casa vazia,
Eu grito seu nome,
Só o silêncio me responde

o fogo arde sob o nosso chão
nada é tão fácil assim
eu ando sozinho, no olho do furacão
você nem lembra mais de mim

Agora, a casa vazia,
Eu grito seu nome,
Só o silêncio me responde
= = = = = = 

Trova de
SÉRGIO BERNARDO 
Nova Friburgo/RJ

Descrente dos bens terrenos,
chego à tardia certeza
de quanto foram pequenos
meus delírios de grandeza…
= = = = = = = = =  

Soneto de
JOSÉ XAVIER BORGES JUNIOR
São Paulo/SP

Saudade

...e mesmo sem te ver quero-te tanto
que sinto-te em mim, e tua voz no pranto
que escapa-me em torrentes de tristeza.
Antes que dúvida, és minha certeza...

Quero-te na amenidade do poente,
No sol do fim de tarde, reluzente,
Quando nasces em mim, como uma flor.
...e mesmo sem te ver, és meu amor...

Quero-te tanto, que em minh’alma trago
O gosto do vinho em que me embriago
Nesses lábios sedentos que ofereces.

Algum anjo há de ouvir as minhas preces,
E há de entender a solidão que canto
Por não te ver e por amar-te tanto…
= = = = = = 

TROVA POPULAR

Bateram, abri por dó;
era a desgraça que entrou.
Fez-lhe pena ver-me só
e nunca mais me deixou.
= = = = = = = = =  

Poema de 
CECÍLIA MEIRELES
Rio de Janeiro/RJ, 1901 – 1964

Monólogo

Para onde vão minhas palavras,
se já não me escutas?
Para onde iriam, quando me escutavas?
E quando me escutaste? - Nunca.

Perdido, perdido. Ai, tudo foi perdido!
Eu e tu perdemos tudo.
Suplicávamos o infinito.
Só nos deram o mundo.

De um lado das águas, de um lado da morte,
tua sede brilhou nas águas escuras.
E hoje, que barca te socorre?
Que deus te abraça? Com que deus lutas?

Eu, nas sombras. Eu, pelas sombras,
com as minhas perguntas.
Para quê? Para quê? Rodas tontas,
em campos de areias longas
e de nuvens muitas.
= = = = = = 

Trova de
LUIZ POETA
(Luiz Gilberto de Barros)
Rio de Janeiro/RJ

Cada rastro no caminho
nos mostra novo trajeto,
mas Deus nos dá, com carinho
o caminho predileto.
= = = = = = = = =  

Hino de 
SÃO JERÔNIMO DA SERRA / PR

Foi a fibra do valente pioneiro
Desbravando o sertão do Jatai
Que fez nascer neste solo alvissareiro
Junto às margens do rio Tibagi.

Tão formosa e fagueira cidade
Para orgulho de imparra gentil
Berço augusto de prosperidade
Que ornamenta o querido Brasil.

És a joia mais linda que há
neste recanto feliz do Paraná
São Jerônimo da Serra, meu torrão
viverás para sempre em meu coração.

Rio Tigre de alvura singular
Serra da Esperança, a mais linda que há
São tesouros a ornamentar 
as riquezas que temos aqui.

São Jerônimo, adorado padroeiro
Abençoa com seu manto esta terra
Protegendo este povo hospitaleiro
Que impulsiona São Jerônimo da Serra.

Isto será passageiro
E verás, quando passar
que em lindo sol
Pioneiro em teu céu há de brilhar.

Por que em tua juventude
Em tuas sábias crenças
reside a maior virtude
Depósito de esperança.

São Jerônimo da Serra,
Simples e muito mais
Eu pisei em tua terra,
Não te esquecerei jamais.
= = = = = = 

Trova de
THEREZINHA DIEGUEZ BRISOLLA
São Paulo/SP

Pedir votos, não foi "canja"!
Um político safado
criou confusão na granja
e saiu "ovocionado!?
= = = = = = = = =  

Soneto de 
MARTINS FONTES
Santos/SP, 1884 – 1937

São Francisco e o Rouxinol

Um rouxinol cantava. Alegremente,
quis São Francisco, no frutal sombrio,
acompanhar o pássaro contente,
e começa a cantar, ao desafio.

E cantavam os dois, junto à corrente
do Arno sonoro, do lendário rio.
Mas São Francisco, exausto, finalmente,
parou, tendo cantado horas a fio.

E o rouxinol lá prosseguiu cantando,
redobrando as constantes cantilenas,
os trilados festivos redobrando.

E o santo assim reflete, satisfeito,
que feito foi para escutar, apenas,
e o rouxinol para cantar foi feito.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Trova de
JORGE PICANÇO SIQUEIRA
Macaé/RJ, 1930 – 2006, Niterói/RJ

Todos dizem que saudade
é lembrança que se sente,
mas saudade, na verdade,
é saudade simplesmente.
= = = = = = = = =  

Recordando Velhas Canções
FOI ASSIM 
(samba-canção, 1963) 

Foi assim,   
eu tinha alguém que comigo morava 
Mas tinha um defeito que brigava  
Embora com razão,
ou sem razão 
Encontrei um dia uma pessoa diferente 
Que me tratava carinhosamente  
Dizendo resolver minha questão 

Mas não foi assim,  
Troquei essa pessoa que eu morava 
Por essa criatura que eu julgava 
Pudesse compreender todo meu eu 
Mas no fim fiquei na mesma coisa em que estava 
Porque a criatura que eu sonhava  
Não fez aquilo que me prometeu 
Não sei se é meu destino, não sei se meu azar 
Mas tenho que viver brigando 

Todos no mundo encontram seu par 
Porque só eu vivo trocando  
Se deixo alguém por falta e carinho 
Por brigas e outras coisas mais 
Quem aparece no meu caminho 
tem os defeitos iguais
= = = = = = = = = = = = =

Trova de
ARTHUR THOMAZ
Campinas/SP

No momento da partida,
o beijo cala um adeus
e uma lágrima incontida
vem molhar os lábios teus.
= = = = = = = = =  

Fábula em Versos de
JEAN DE LA FONTAINE
Château-Thierry, 1621 – 1695, Paris

O rato e o elefante

Um mínimo ratinho, ao ver um elefante
Dos de vulto maior — quadrúpede gigante —
A motejar se pôs do caminhar pausado
Do famoso animal, que no dorso elevado,
Como em terceiro andar, tranquilo conduzia
Com sultana gentil de ilustre hierarquia,
O seu gato, o seu cão, sua velha companheira,
Um papagaio e um mono, a sua casa inteira,
Que iam de romaria. O mísero ratinho
Pasmava ao ver o povo atento no caminho
A contemplar absorto aquela enorme massa:
«Como se o ocupar maior ou menor praça
Tirasse — ele dizia — ou importância desse!
Homens, que admirais vós num animal como esse?
O volume será do corpo seu robusto,
Que infantes apavora e os faz tremer de susto?
Nem um só grão, sequer, nós nos prezamos menos
Que um elefante, nós, que somos tão pequenos!»

E mais ainda o rato iria granizando,
Se o gato, da gaiola um lesto salto dando,
Não lhe houvesse mostrado, em menos dum instante,
Que diferença vai dum rato a um elefante.
= = = = = = = = =  

Trova de
VANDA FAGUNDES QUEIROZ 
Curitiba/PR

Atrás dos sonhos correndo,
no meu delírio sem fim,
eu acabei me esquecendo
de passar perto de mim…
= = = = = = = = =

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