domingo, 14 de setembro de 2025

Asas da Poesia * 93 *


Poema de 
LAIRTON TROVÃO DE ANDRADE
Pinhalão/PR

Vou-me embora
"Gosto de sentar-me à sua sombra."
(Ct. 2.3)

Foi assim tão de repente
Que falaste, sem demora,
Entre lágrima dolente*:
'"Tchau, amor, eu vou-me embora!"

Oh, não! Fica mais um pouco!
Jamais sejas meu açoite!
Apenas, por ti, sou louco!
Fica!.. Fica até à noite!

Não me dês a solidão!
Fica mais, não vás embora!
Este amor não é em vão!
Fica, pois, até a aurora!

Quem te fala é um grande amor,
Não o deixes na saudade!
És o meu maior valor!
Fica... até à eternidade!

E não fales mais assim!
Vê que muito te suplico:
Vive um pouquinho pra mim!
Dize-me somente; "Eu fico!"

Com tais rogos de aflição,
Que de sobra aqui se vê,
Disseste, dando-me a mão;
"Vou-me embora... com você!"
* * * * * * * * * * * * * * * * * *
*Dolente: Magoada, cheia de dor, lastimosa.
= = = = = = = = =  

Soneto de
ANTERO DE QUENTAL
Ponta Delgada/Portugal. 1842 – 1891

Transcedentalismo

Já sossega, depois de tanta luta,
Já me descansa em paz o coração.
Caí na conta, enfim, de quanto é vão
O bem que ao Mundo e à Sorte se disputa.

Penetrando, com fronte não enxuta,
No sacrário do templo da Ilusão,
Só encontrei, com dor e confusão,
Trevas e pó, uma matéria bruta...

Não é no vasto Mundo - por imenso
Que ele pareça à nossa mocidade -
Que a alma sacia o seu desejo intenso...

Na esfera do invisível, do intangível,
Sobre desertos, vácuo, soledade,
Voa e paira o espírito impassível!
= = = = = =

Soneto de
JOÃO BATISTA XAVIER OLIVEIRA
Presidente Alves/SP, 1947 – 2025, Bauru/SP

Joio

Por que nós complicamos singelezas
pelo simples sabor de afirmação;
por que não escutar o coração
que pulsa as vibrações das incertezas...

se temos ao alcance o corrimão;
degraus que facilitam mãos coesas;
o dom de emocionarmos às belezas...
Por que só ver a luz na escuridão?

Estamos de passagem simplesmente.
Abrindo com desvelo nossa mente
o mundo é bem maior em nosso espaço.

Por que nós complicamos as passagens
seguindo a realidade das miragens?
A vida é bela e o tempo é bem escasso!
= = = = = = 

Triverso de
TAMAIALE AKSENEN 
Irati/PR

Férias de verão
Dormir até mais tarde
Ui! Galo chato.
= = = = = =

Poema de
ANTERO JERÓNIMO
Lisboa/Portugal

Dom

Que vontade te impele
a ausentares-te dos demais
no ermo desse horizonte infinito.
A escutares o silêncio onde esculpes
apurada arte de aprofundares o mundo
dom de sussurrares palavras sentidas ao vento
impregnadas de acentuadas essências multicores.
Sementes engravidando a imponência da montanha
numa tocante melodia, elevada ao céu da eternidade.
= = = = = = 

Fábula em Versos
adaptada dos Contos e Lendas do Brasil
JOSÉ FELDMAN
Floresta/PR

O Saci e a Natureza

No verde profundo, o saci se esconde 
entre as folhas… ele observa e guia 
com seu olhar sagaz… a vida responde, 
e a natureza pulsa em harmonia. 

As pessoas sentem a força do vento 
com o saci, a terra ganha voz 
e em cada lenda, um novo intento 
de respeitar o mundo… somos todos nós. 

Ele traz a sabedoria do chão, 
e ensina a ouvir o canto das flores, 
a arte da vida em plena união, 
Celebra as cores e os nossos amores. 

Assim, no ciclo eterno de toda ação, 
o saci é a ponte entre o céu e a criação.
= = = = = =

Poema de 
SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN
Porto/Portugal, 1919 – 2004, Lisboa/Portugal

Navio naufragado

Vinha de um mundo
Sonoro, nítido e denso.
E agora o mar o guarda no seu fundo
Silencioso e suspenso.

É um esqueleto branco o capitão,
Branco como as areias,
Tem duas conchas na mão
Tem algas em vez de veias
E uma medusa em vez de coração.

Em seu redor as grutas de mil cores
Tomam formas incertas quase ausentes
E a cor das águas toma a cor das flores
E os animais são mudos, transparentes.

E os corpos espalhados nas areias
Tremem à passagem das sereias,
As sereias leves dos cabelos roxos
Que têm olhos vagos e ausentes
E verdes como os olhos de videntes.
= = = = = =

Quadra Popular

Chamaste-me tua vida,
eu tua alma quero ser:
a vida acaba com a morte,
a alma não pode morrer.
= = = = = = 

Soneto de
JERSON BRITO
Porto Velho/RO

Meiga flor

Esse encanto sem par me extasia
E conduz aos portais do pecado
Plenamente envolvido, abismado
Sou refém duma rara euforia

Provocante, tu és a culpada
Das torrentes de amor, desvario
Tua ausência produz um vazio
Meiga flor, em meu ser tatuada

Aspirando o frescor desse aroma
Enclausuro-me em doce redoma
Onde encontro um prazer colossal

Quando imerso nas cores da bruma
Que meus passos domina e perfuma
Provo, enfim, d'alegria integral
= = = = = =

Spina de 
SOLANGE COLOMBARA
São Paulo / SP

Um Certo Tom Lilás 

Gratidão ao abençoado 
dia reina mansamente, 
confabulando a poesia 

em entrelinhas do meu verso
com o universo. Em sorrisos
amanheço no ar da calmaria
das rimas. No horizonte azul
o crepúsculo voa na sintonia.
= = = = = =

Hino de 
ROSÁRIO DO SUL/RS

Terra fértil de ricas colheitas
de rebanhos e verdes cereais
tua praia de areias eleitas
lembra imenso lençol de cristais

Estribilho: 
Rosário do Sul, Rosário do Sul
Do povo gaúcho contente e feliz
orgulho da gente, cidade bendita
que sonha e palpita no sul do país

O brasão da cidade retrata
as origens que a história traduz
em seus rios, a pureza da prata
sobre o verde à que o ouro dá luz

O rosário, a cabeça de touro
e as armas que em paz hoje estão
simbolizam no verde e no ouro
que Rosário engrandece a nação

Quem o rio contemplar das barrancas
vendo as águas e a vida passar
essas praias de areias tão brancas
dentro d'alma vai sempre levar
= = = = = =

Soneto de 
AMILTON MACIEL MONTEIRO
São José dos Campos/SP

Por quê?

Não sei por que é que Deus me fez assim
completamente tolo e apaixonado,
que só para ficar sempre ao seu lado,
acabo me esquecendo até de mim!

Pois desde que você me deu seu sim
e eu confiei que foi um sim pensado,
não permiti jamais que houvesse um fim
em nosso amor tão meigo e desejado!

Você é meu sonho todo santo dia!
E o dia todo desde o amanhecer...
E logo após também, quando adormeço!

E nestes sonhos cheios de alegria
e de utopias, só tenho prazer...
Tanto prazer que eu sei que não mereço!
= = = = = =

Soneto de 
ALFREDO SANTOS MENDES
Lisboa/Portugal

Heresia

Talvez minha garganta revoltada.
Espinhosa ficasse, e enrouquecesse.
Ou para meu castigo enlouquecesse,
Por a manter tão muda, tão calada!

Quero falar, a voz sai embargada,
Como se algum mal eu lhe fizesse.
Eu juro que não fiz, e isso acontece.
Minhas cordas vocais fiquem paradas!

Eu preciso gritar minha revolta,
Engolir todo o mal que não tem volta,
E na glote se encontra aprisionado!

Eu quero ler a minha poesia.
Limpar do meu passado, a heresia,
Engolir as tristezas do meu fado!
= = = = = =

Recordando Velhas Canções
EU SEI QUE VOU TE AMAR 
(samba-canção, 1959) 

 Eu    sei que vou te amar
Por toda a minha vida
Eu vou te amar
Em cada despedida eu vou te amar
Desesperadamente eu sei que vou te amar

E cada verso meu será      
pra te dizer
Que eu sei que vou te amar
Por toda minha vida

Eu sei que vou chorar
A  cada ausência tua eu vou chorar
Mas cada volta tua há de apagar
O que esta ausência tua me causou

Eu sei que vou sofrer
A eterna desventura de viver
A espera de viver ao lado teu
Por toda a minha vida.

Eu sei que vou sofrer
A eterna desventura de viver
A espera de viver ao lado teu
Por toda a minha vida.
= = = = = = = = = = = = =

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Solicito que coloque o seu nome após o comentário, para que o mesmo seja publicado.