LAIRTON TROVÃO DE ANDRADE
Pinhalão/ PR
No salão
"...Mostra-me o teu rosto!"
(Ct. 2.14)
Neste dia negro
De febril pavor,
Meu desejo único
É te consolar.
Eu preciso muito
Aliviar tua dor
E as feridas d'alma
Com amor curar.
Vai o longo dia,
Vai mui lentamente,
Meu anseio é ver
Meu amor passar.
Um olhar apenas,
Um sorrir somente
Far-me-ão só bem,
Para me acalmar.
Sem estrela alguma
- Noite tenebrosa! -
Barulhenta festa
Naquele salão...
Eu quero o perfume
Da mais bela rosa,
Que podia estar
Entre a multidão.
Entro no recinto.
E, de quando em quando,
Atento palmilho
O extenso salão...
Meus olhos sedentos
Veem cada canto,
Mas, em cada canto,
Só há ilusão.
Não vejo mais nada...
Que posso fazer?!
Naquele local
Há imenso calor.
Eu fico frustrado,
Sem poder te ver,
Só resta-me o lenço
Pra enxugar meu suor.
= = = = = = = = =
Poema de
MARIA LUÍZA WALENDOWSKY
Brusque/ SC
Busco-te
Busco-te como um pássaro
ao ninho de sua ninhada,
para nutri-lo de amor, tão sonhado.
Meus olhos seguem rumo ao rio
delineando os obstáculos
para chegar à imensidão do mar.
Busco-te no sobrevoo de cada pássaro,
então percebo do alto a me ignorar.
A fúria cega a visão da plenitude,
do voo no céu azul límpido.
Ah! Procuro respostas no teu rosto,
nas tuas mãos, no teu corpo...
Busco-te no jogo da sedução,
no balanço do meu corpo de mulher
prestes a embalar
o perfume da paixão.
Vejo a tua indiferença...
cruel!
Busco-te com lindas palavras,
ao som arrebatador do flamenco.
Procuro-te cativar.
Segues impassivo.
Busco então dentro de mim:
Forças.
Certeza que está deixando
uma grande mulher partir.
Lágrimas fluem... Naturalmente ...
= = = = = = = = =
Poema de
DANIEL MAURÍCIO
Curitiba/PR
Dia de chuva.
Ruazinhas esburacadas
pra desviar das poças d’água
o rapaz pulava amarelinha
com a namorada.
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Soneto de
LUIZ POETA
(Luiz Gilberto de Barros)
Rio de Janeiro/RJ
Grãos
A palavra tem o poder da semente,
Que às vezes não tem outra alternativa
A não ser tornar-se forte e resistente,
Para que seu conteúdo sobreviva.
Vejo plantas, que já foram frágeis grãos,
Germinarem, comprovando as escrituras,
Procurando esgueirar-se pelos vãos
Do concreto, sem nem ter semeadura...
Solos férteis são corações preparados
Para o fado de abrigar tantas sementes...
Quando os caules já não são fragilizados,
Às raízes se espalham pelo chão...
É assim com as palavras envolventes
Que alicerçam-se, criando novos grãos.
= = = = = =
Poema de
VANICE ZIMERMAN
Curitiba/PR
Gotas de luz e sombra
Em forma de conchas
Com textura
De pétalas brancas
A flor retém as gotas d’água,
Enquanto
Delicados riscos
Em tons de magenta
Mesclam-se
Nessa taça diáfana - líquida
Gerânio em gotas,
Espelhos...
= = = = = =
Fábula em Versos
adaptada dos Contos e Lendas da África
JOSÉ FELDMAN
Floresta/ PR
A Princesa e a Serpente
Na terra de Malavi, uma princesa tão bela,
Nia, a destemida, com sabedoria singela.
Um dia, uma serpente, em seu caminho se aprumou:
“Liberte-me, princesa, e o poder eu te dou.”
Nia, com cautela, refletiu sobre a oferta,
“Prefiro meu valor, a liberdade é certa.”
A serpente, com raiva, atacou enfurecida,
mas Nia, ágil, desviou da investida.
Com um golpe rápido, a serpente caiu,
e a princesa, vitoriosa, seu caminho seguiu.
A liberdade é qual tesouro que deve ser guardada,
e Nia, a guerreira, nunca foi dominada.
O verdadeiro poder vem da liberdade,
e a coragem é a chave da felicidade.
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QUADRA POPULAR
Venci! Cheguei a subir!
Nada! Ninguém me ajudou!
Mas comecei a cair,
toda gente me puxou!...
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Soneto de
JERSON BRITO
Porto Velho/RO
Doce fada
Melífico, teu beijo verte enlevo, fada
Viajo nos sabores pelo ardor cingido
No vício imerso quero a boca aveludada
Tocando os lábios meus... Delírio é garantido
Teu corpo é sinuoso, encantadora estrada
Desejo imensamente nela estar perdido
Sorver a sedução das curvas emanada
Romper as convenções, fazer o proibido
Na teia irresistível me envolvi contente
Contemplo, arrebatado, um brilho nobre, etéreo
Não posso me negar refém desse fulgor
Faceira, aprisionaste um coração carente
Tingiste de emoção aquele céu cinéreo
Grilhões nos pensamentos colocaste, amor
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Poema de
VIVALDO TERRES
Itajaí/SC
Chave da vida
Mulher és a fonte de luz,
És o amor que conduz,
Através de ti que a espécie é garantida
Isto porque és a chave de vida!
És da espécie humana, a escolhida.
Para que através de ti o amor seja dissolvido,
Provado, bebido, sentido e o homem esteja onde estiver...
...nunca se esqueça que se ele aqui esta!
Deve muita a ti mulher.
És a luz que ilumina nossos dias!
Muitos deles cheio de tristeza e dor,
Mas com a tua presença, nos fortalece...
Isto porque tu és o amor
Quantas vezes no meu refúgio...
Eu começo a refletir e chego a me emocionar!
Lembrando-me daquela que me colocou no mundo!
E me ensinou a dar os primeiros passos e a caminhar.
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Soneto de
AMILTON MACIEL MONTEIRO
São José dos Campos/SP
Bem-querer
Meu coração calou a sua voz;
não quer mais se expressar de nenhum jeito.
fechou-se mudo dentro do meu peito,
qual indeiscente fruto, estranha noz...
E, assim, nesse ostracismo, insatisfeito,
mal-humorado e rude está feroz
porque eu lhe disse que, vivendo a sós,
nós iremos perder nosso conceito...
Francamente, não sei que mais fazer
para ver se ele assume o velho amor,
mesmo à moda de um simples bem-querer...
Então, quem sabe, volte a ser feliz
vivendo junto a quem lhe dá valor
e que outrora provou quanto lhe quis!
= = = = = =
Soneto de
FLORBELA ESPANCA
Vila Viçosa, 1894 – 1930, Matosinhos
Noite de saudade
A noite vem pousando devagar
Sobre a terra que inunda de amargura…
E nem sequer a bênção do luar
A quis tornar divinamente pura…
Ninguém vem atrás dela a acompanhar
A sua dor que é cheia de tortura…
E eu ouço a noite imensa soluçar!
E eu ouço soluçar a noite escura!
Por que é assim tão’ scura, assim tão triste?!
É que, talvez, ó noite, em ti existe
Uma saudade igual à que eu contenho!
Saudade que eu nem sei donde me vem…
Talvez de ti, ó noite!… Ou de ninguém!…
Que eu nunca sei quem sou, nem o que tenho!
= = = = = =
TROVA FUNERÁRIA CIGANA
Dizem que almas não morrem
são imortais... não têm fim...
A minha faz exceção
'stá morta dentro de mim!
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Spina de
SOLANGE COLOMBARA
São Paulo / SP
Na simplicidade
fiz-me poesia
Aprendi que nas
nuances da vida
sou viva demais.
Entendi que no minimalismo sou
insana na minha poeticidade raiz
ritmada, em versos não normais.
Entre as novas mesmices, sorrio,
porque menos sempre será mais.
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Poema de
BENJÚNIOR
(Benevides Garcia Barbosa Júnior)
Porto União/SC
Ao entardecer...
Às vezes fico olhando
Os raios de sol na água
Que vibram como música
Enquanto a tarde se vai...
Outras, me pego cantando
Canções sem rimas
Que surgem a esmo, sem pensar...
Têm dias que o sol não aparece
E fica um tempo triste de se ver;
Então meus passos
Seguem direções impossíveis de saber
Se o horizonte é uma mancha na penumbra
Ou se é o dia que está a morrer...
Os últimos raios tingem o lago sereno
E um vento ameno
Passa trazendo uma saudade fria.
Os primeiros sinais da noite
Chegam com a luz pálida do casario
Enquanto mais além
Com ares suaves de poesia
Uma janela se abre para o amor
Que não vem...
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Soneto de
IALMAR PIO SCHNEIDER
Porto Alegre/RS
Soneto de Lembrança Antiga
Bom dia ! pé de bugre e aroeira!
Cumprimento essas árvores nativas,
qual se fossem a ausente companheira,
de minha infância das imagens vivas...
Aquela que deixou-me, de maneira
tão bruscamente, em horas aflitivas,
hoje, surge-me à mente toda inteira,
para trazer-me flores sempre-vivas...
Busquei não recordá-la e foi em vão
meu intento sincero e imorredouro,
querendo sepultar essa ilusão...
Depois fiquei sabendo que partiu,
sem saber que pra mim era um tesouro
e nem que me deixava este vazio...
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Soneto de
JOSÉ XAVIER BORGES JUNIOR
São Paulo/SP
A rosa e o lírio
Às horas tantas de uma tarde amena
Um lírio enfeita um prado reflorido
enquanto a rosa confessa à dracena
Antigos ais de um tempo já esquecido...
Ao lado canta a gentil açucena
E o prado aos poucos fica colorido
E o vento sopra, observando a cena,
Suavemente, num doce gemido...
Então a rosa, rubra e cintilante
Bebe o alvor do lírio embevecido
E o Tempo para por um breve instante.
O lírio abraça a rosa esfuziante,
E no calor do prado florescido
Revive o amor com sua doce amante…
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Poema de
FERNANDO PESSOA
Lisboa/Portugal, 1888 – 1935
Sossega, coração! Não desesperes!
Sossega, coração! Não desesperes!
Talvez um dia, para além dos dias,
Encontres o que queres porque o queres.
Então, livre de falsas nostalgias,
Atingirás a perfeição de seres.
Mas pobre sonho o que só quer não tê-lo!
Pobre esperança a de existir somente!
Como quem passa a mão pelo cabelo
E em si mesmo se sente diferente,
Como faz mal ao sonho o concebê-lo!
Sossega, coração, contudo! Dorme!
O sossego não quer razão nem causa.
Quer só a noite plácida e enorme,
A grande, universal, silente pausa
Antes que tudo em tudo se transforme.
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Hino de
ALÉM PARAÍBA/MG
Cidade Força e Trabalho
- Grandiosa, hospitaleira -
Tu és Além Paraíba
- Glória da terra mineira! (bis)
É o teu céu de um azul muito azul
- Que o sol de prata ilumina.
E o Paraíba que histórias ensina
Sob o Cruzeiro do Sul!
Terra bendita de ordem e de paz
Terra riqueza e fartura:
Ser um teu filho que doce aventura!
É ser ditoso assaz!
= = = = = =
Soneto de
BERNARDO TRANCOSO
(Bernardo Sá Barreto Pimentel Trancoso)
Vitória/ES
Micro-Sentidos
Eu queria ser bem pequenininho,
Pras curvas do teu corpo atravessar;
Grutas, vales secretos decifrar;
Escalar as montanhas, com jeitinho.
Tão logo me cansar, ir rumo ao ninho;
Num carinho, por tua boca entrar,
Buscando o coração; quando alcançar,
Me alojar dentro dele, de mansinho.
Lá, só não sei se vou ter condição
De aguentar teu calor, sem derreter;
De aceitar outro ser: mãe, pai, irmão.
Pequeno, ao ver tão grande amor nascer
Que, por maior que seja o coração,
Nem no meu, nem no teu, não vai caber.
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