O estilo da casa exigiu um beiral do tipo aberto, vigas expostas e a parte inferior com telhas à mostra, próprio do visual rústico pretendido. Ele ficou lindo, é verdade. Diferente, ao menos!
Construímos um jardim com canteiros bem bolados, arbustos escolhidos e até um jasmineiro que pulveriza perfume pelo entorno em noites de lua. Sorrimos da concepção à realização, as molhaduras, o crescimento das plantas, as primeiras e contínuas flores, o cuidado com as cochonilhas e outras que se servem do bonito, e nos contentamos! É prazeroso cuidar de um jardim.
Aí, aos poucos, o beiral foi se transformando em pensão de alta rotatividade, como certos hotéis em que o entra-e-sai é constante e de caráter duvidoso: são os pássaros que, por falta de comida no seu habitat, nos imitaram deixando os campos para arreliar nas cidades.
E o nosso lindo beiral recebeu e recebe constantemente dezenas, centenas de pássaros para o pernoite. O bendito descansar após um dia em que, tendo saído na madrugada, misturam aventuras pelos céus em busca do precioso zanzar.
O retorno à tarde para eles, sinto, é o melhor dos alívios. 
Não há maior alegria e nem melhor sensação espiritual depois da jornada, do que ter para onde retornar. Verdade que serve a todos e se comprova com os passarinhos hóspedes do nosso beiral. Vêm em bando, alegres, cantantes, esvoaçantes na disputa do melhor lugar - a melhor cama no albergue emplumado que se tornou o seu interior. Ali conversam, estridulam, contam coisas, e o melhor: amam-se! 
Entre eles, como em nós, há fêmeas e machos — daí os olhares, a plumagem, os gritinhos e esvoaçares convidativos ao fazerem amor. 
Por isso há ninhos aqui, ali, acolá, a despeito de termos nos preocupado em dotar a estrutura com telas passarinheiras de plástico e de arame, e tudo o que se imagina para evitar esse incômodo. Sem resultado, porém!
As maritacas se responsabilizaram por destruir as de plástico; os pardais, tizius e outros, de alargarem suas malhas, e a passarinhada faz a festa no recinto democrático onde todos – sem exceção – têm vez e vida! E de graça...
O único senão não é sua cantoria, aliás, muito linda e que representa beleza a nossos ouvidos, mas a sujeira que fazem ao transformar nossas calçadas em penico.
Quanto come um pássaro? Não faço ideia, mas a lavar suas cacas esparramadas nas calçadas, tenho impressão de que comem um boi com chifres, rume e cascos. É o único inconveniente ao tê-los – não como pets, mas como hóspedes ambulantes.
No entanto, há a compensação. 
Ela vem pela manhã, faça sol ou chuva, frio ou calor: a cantoria na dança do bem acordar. Começam às cinco, e transformam nossos resmungares, queixas de dores e arrastares de chinelos de velhos em plena e magistral sinfonia. 
Tudo vale, quando o coração aceita.	E comunga.	
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Renato Benvindo Frata nasceu em Bauru/SP, radicou-se em Paranavaí/PR. Formado em Ciências Contábeis e Direito. Professor da rede pública, aposentado do magistério. Atua ainda, na área de Direito. Fundador da Academia de Letras e Artes de Paranavaí, em 2007, tendo sido seu primeiro presidente. Acadêmico da Confraria Brasileira de Letras. Seus trabalhos literários são editados pelo Diário do Noroeste, de Paranavaí e pelos blogs:  Taturana e Cafécomkibe, além de compartilhá-los pela rede social. Possui diversos livros publicados, a maioria direcionada ao público infantil.
Fontes:
Texto enviado pelo autor. 
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing 

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