segunda-feira, 3 de novembro de 2025

Asas da Poesia * 120 *


Poema de
LUIZ POETA
(Luiz Gilberto de Barros)
Rio de Janeiro/RJ

Caras Vitrines Espelhos

Viver não é sofrer de forma avara,
A tara de uma dor que o ser inventa,
É ver em cada espelho, nova cara
A cada vez que a dor nos violenta.

É rir, quando o espelho se depara
Com a cara que a tristeza nos empresta
Porque a flor que fere é a que sara
A dor de cada cara em cada aresta.

Viver é conviver com cicatrizes;
Felizes são aqueles que guardaram
As marcas do seu tempo de aprendizes
E tatuaram dores que sararam.

Espelhos são os olhos da razão;
Vitrines são desejos coloridos
Da alma que transforma em sedução,
Apenas sentimentos refletidos.

Amar implica dar algum sentido
Ao tempo que se tem, e transformar
O dom de abençoar o amor vivido
No brilho que abençoa o próprio olhar.
= = = = = = = = =  

Spina de
SOLANGE COLOMBARA
São Paulo/SP

Aos primeiros raios solares…

Páginas em branco
rumam em silêncio 
abrindo as janelas, 

descortinando o novo dia azul.
Repleta de paz sou esperança,
em linhas retas, sou paralelas. 
Sem pensar no amanhã, verso
risos ou prantos, sem mazelas.
= = = = = = = = =  

Trova Popular

A dor por maior que seja
se comprime, se contrai.
Eu nunca vi dor no mundo
que não coubesse num ai.
= = = = = = = = =  

Poema de
DANIEL MAURÍCIO
Curitiba/PR

Somos
Um invólucro de barro
Onde a alma 
Se abriga.
Casulo frágil, frágil...
A seu tempo, 
A alma escapa
E entre as nuvens 
Voa...
= = = = = = = = =  

Soneto de
JOSÉ FELDMAN
Floresta/PR

Gangorra do Tempo

O tempo é um rio que nunca cessa,
desliza suave, em seu curso incerto,
leva os sonhos, o amor, o deserto,
e em cada gota, uma vida expressa.

As horas se vão, a saudade, a pressa,
deixando marcas em nós, imaculadas.
As rugas são contos, chibatadas
de um passado que em nós se confessa.

Mas há a beleza na sombra que arde,
no eco da risada que se dissipou,
e na memória que ainda se faz.

A vida é um ciclo que nunca vem tarde,
em cada lembrança, um brilho que clareou,
fazendo do agora uma eterna paz.
= = = = = = = = =  

Poema de
ANTONIO CASTILHO
Avaré/SP

Alzaimer

Hoje lembrei quando você partiu
Você me abraçou no portão e me deixou aqui
Você tem só 18 anos
Não sei como vai viver sem mim .
Todos os dias vou para estação para ver se está voltando...

É tanta gente chegando, é gente partindo
Mas você não está
A saudade vai me matando mas
tenho que seguir

Amanhã eu volto e talvez te encontre
Você só tem 18 anos ...
Meu medo é que você se perca por ai ...
As vezes olho no espelho e não me reconheço 
Poucos cabelos muitas rugas
Será que o tempo passou eu não percebi?

Todos os dias eu volto para a estação esperando você chegar
Você tem só 18 anos !
E nada ...
Só um senhor  vem me resgatar
Vem me buscar para casa me levar ...

Ele me abraça ...
As vezes lembro que ele me chama de pai, 
talvez para me agradar ...
Meu filho tem só 18 anos
Não vejo a hora dele voltar
Para poder de novo abraçar e comigo finalmente ficar
= = = = = = = = =  

Soneto de 
AMILTON MACIEL MONTEIRO
São José dos Campos/SP

Sabedoria

Senhor, meu Deus, me dê Sabedoria,
é tudo o que eu mais peço ultimamente,
percebo agora o quanto eu não sabia
e preciso aprender de modo urgente!

São leis que não aprendi na academia,
não sei se por ser pouco inteligente,
ou não interpretei como devia
o Seu bondoso amor, mas exigente.

Eu quero, antes que fique bem tarde,
varrer o erro que em meu peito arde,
por míngua do saber santo e profano.

Almejo viver bem com o amor divino
e com o amor de um anjo feminino,
pois sou filho de Deus, mas sou humano!
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Poema de
ANDRÉ VASCONCELOS
Diadema/SP

E se não amanhecer

É o breu.
Sou eu.
Tempo ruim choveu.

Os planos ruíram.
Quando se apaga.
Os sonhos dormiram.

Não enxerguei.
Tateei o nada onde me vislumbrei.
Olhos sempre abertos.
Mas não significa que soube enxergar.

Respirei fundo.
Para puxar o ar que faltou.
A esperança roubou.
Sem ar sem fôlego sem acreditar.

Ouço meu nome.
Eu respondo.
Sou eu.
Desse lado.
A chuva o tempo e o breu.
= = = = = = = = =  

Trova Funerária Cigana

Envolto em tua mortalha,
meu coração tu levaste.
Antes contigo se fosse,
a vida que me deixaste.
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Poema de 
JESSÉ F. DO NASCIMENTO
Angra dos Reis/RJ

Fim

Não tente ressuscitar
os mortos que somos
para o amor.
Tudo acabou.
Restam as mágoas.
Não tente reacender
um fogo que se apagou.
Restam as cinzas.
Nada mais...
= = = = = = = = =  

Poema de 
ANTERO JERÓNIMO
Lisboa/Portugal

Paz

Vem de dentro para fora
caminho obstinado na nudez dos pés
imunes aos cardos crescendo descontrolados
passos dolentes que se recusam a parar.

Sábio silêncio do Homem que cala a voz
em guerras inúteis, ecos de palavras ocas.
Nobre missão em cruzada contra o tempo
numa luta sem decreto de vencedores ou vencidos

Paz semeada no campo da humanidade
tecida na brandura de alvos fios de linho
jardim-cultivo de amor e justiça, onde
nardos de esperança florescem no mais pleno viço.
Na presença da tua asa suprema
se tranquilizam os corações em desordem.
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Soneto de
JOSÉ TAVARES DE LIMA
Juiz de Fora/MG

Doação infeliz

Não me censures se não te procuro,
nem tentes entender meu desamor…
Mataram cedo o sentimento puro
que havia no meu peito sonhador!

Este meu jeito indiferente e duro
somente esconde um natural temor,
porque sofri demais; e, te asseguro:
morre a ternura em quem sofreu de amor…

Doei-me inteiro para alguém, um dia;
acreditei nas juras que fazia,
e em paga só colhi desilusão…

Hoje, ferido por tão rude espinho,
acostumei-me tanto a ser sozinho
que até me sinto bem na solidão!
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Soneto de
ISMAR DIAS DE MATOS
Belo Horizonte/MG

Diamantina

Tens o clima intraduzível;
cedo é sol, tarde é neblina...
Diamantina, Diamantina...
que natureza aprazível!

"Se é por demais incrível
e o meu dilema fascina,
inclina o ouvido, inclina,
ouve o tempo indescritível!

Se o sol que ora clareia
der lugar à lua cheia
e convidar à seresta;

deixa o sol, essa torrina,
calor e qualquer rotina,
vê a natureza em festa!"
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Hino de 
Lagoa da Pedra/MA

Lago da Pedra! Lago da Pedra!
Nascestes atraente e majestosa,
Circundada por riquezas naturais,
Rodeada de soberbos palmeirais.

Lago da Pedra!
Uma fonte de encanto e beleza
Para o Brasil uma esperança renovada
Pelo padroeiro São José abençoada!

Lago da Pedra!
Na dureza da paisagem do sertão
Marchando com bravura e decisão
Ao encontro de uma história triunfante.

Lago da Pedra!
Com sua juventude tão brilhante
Um sorriso alegre, um médio sertão.
Cidade de progresso do Maranhão.
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Poema de 
ATÍLIO ANDRADE
Curitiba/PR

Arrogância 

É  bom de vez em quando 
Descer da escada 
E dar uma olhada
No rodapé...
Amarrar, fixar 
Pois na ganância 
Um  tombo pode derrubar
Tua arrogância.
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Soneto de
JERSON BRITO
Porto Velho/RO

Juras sufocadas

A noite, quando exala nostalgia,
entrega-me ao calvário desumano 
de atravessar, em sonho, a galeria 
e amenizar a sede do cigano.

A inspiração, parceira na agonia,
marcada pelo sal do desengano,
às vezes me socorre e me alivia,
acolhe o desespero, o grito insano.

Rabisco juras, canto o sentimento,
imerso na saudade e, assim, enfrento 
as dores da pungente solidão.

No entanto, aos poucos, domo o desatino,
restauro a lucidez e não termino
mais um soneto escravo da ilusão…
= = = = = = = = =  

Soneto de
LUCÍLIA A. T. DECARLI
Bandeirantes/PR

Magia interrompida

O imenso amor, outrora concebido,
eu traduzia em versos, no papel…
Narrando cada passo colorido,
punha a magia dada a um carrossel.

Tempos depois, ao vê-lo constrangido,
sem ter retorno ao seu ardor fiel,
fui recolhendo o amor desiludido 
que, desbotado, impôs o adeus cruel.

E, agora, sufocando o sentimento,
sou folha seca, só e solta ao vento,
sem o vigor do intrépido passado.

Ao ver desfavorável o desfecho,
na minha inspiração não mais remexo 
e cremo o meu soneto inacabado.
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Fábula em Versos de
JEAN DE LA FONTAINE
Château-Thierry/França, 1621 – 1695, Paris/França

A rã e o rato

Trazendo viva guerra antigamente
Rãs e ratos, houve uma tão valente,
Que tomou em um choque prisioneiro
Um rato, que era entre eles cavalheiro.

Pediu-lhe este licença em certo dia,
Para acudir a um pleito que trazia.
Concedeu-lhe. Era o rato precisado
A passar um profundo rio a nado:

Deu indícios de medo; a rã lhe disse
Que se prendesse a ela e que a seguisse;
Que como no nadar tinha mais arte,
O poria sem risco na outra parte.

Aceitou, e de junco fabricaram
Uma boa tamiça a que se ataram;
Porém a falsa rã, que a má vontade
Encobria em finezas de amizade,

Desejava afogá-lo; e lá no meio
Puxava para baixo, e com receio
Puxava para cima o triste rato,
E faziam um grande espalhafato.

Passava acaso uma ave de rapina;
E vendo aquela bulha, o voo inclina;
Pilha ambos pelo atilho; e a tal contenda
Acabou em fazer deles merenda.

Ninguém creia em finezas de inimigo,
Porque o ódio se oculta e não se entende;
Dirá que de perigo nos defende,
Para haver de meter-nos em perigo.

Sabemos que não fica sem castigo;
Porque às vezes no laço em que pretende
Ofender-me, também a si ofende:
Mas que importa, se lá me tem consigo?

Se padecesse só o embusteiro,
Menos mal; porém vou com ele atado,
E posso no penar ser o primeiro;
Por isso nada fico aproveitado,
E talvez se aproveite algum terceiro
À custa do inocente e do culpado.
= = = = = = = = = 

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