MILTON SEBASTIÃO SOUZA
Porto Alegre/RS, 1945 – 2018, Cachoeirinha/RS
Quando Deus apontar novo começo,
colho o rumo, e sorrindo vou contente.
Só consigo provar merecimento
sendo bom, cordial com toda gente.
Faço isso, sentindo nos caminhos
que Deus sempre caminha em minha frente.
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Soneto de
MANUEL BANDEIRA
Recife/PE (1886 – 1968) Rio de Janeiro/RJ
A minha irmã
Depois que a dor, depois que a desventura
Caiu sobre o meu peito angustiado,
Sempre te vi, solícita, a meu lado,
Cheia de amor e cheia de ternura.
É que em teu coração inda perdura,
Entre doces lembranças conservado,
Aquele afeto simples e sagrado
De nossa infância, ó meiga criatura.
Por isso aqui minh' alma te abençoa:
Tu foste a voz compadecida e boa
Que no meu desalento me susteve.
Por isso eu te amo, e, na miséria minha,
Suplico aos céus que a mão de Deus te leve
E te faça feliz, minha irmãzinha…
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Poema de
GIL SALOMON
Jaraguá do Sul/SC
Refúgio
Meu grito morreu na garganta
sufocado por esta cidade,
mas ainda trago a esperança
de me livrar dessa velocidade.
Não tenho tempo para mais nada,
o celular me acha em qualquer lugar,
então me escondo, as mãos no teclado
procurando alguém pra me plugar.
Eu agora grito por socorro,
Preciso urgente me refugiar,
Se continuar aqui eu morro
Sem da vida poder desfrutar.
Quero um refúgio,
venha comigo.
Quero um amigo
que não seja virtual.
Alguém com quem possa falar,
alguém com quem possa compor
uma bela canção de amor,
do verde amor das florestas,
do cristalino amor dos rios,
dos amor azul do céu
e do negro e quente amor da noite.
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Trova Popular
Priva-me de que eu te veja
isso, meu bem, pode ser;
mas privar-me de que te ame,
só Deus tem esse poder.
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Poema de
EMANUEL MEDEIROS VIEIRA
Salvador/BA
Astrolábio
A bússola e o astrolábio
velas ao vento.
Existe outro Bojador
nestes mapas interiores.
Os navegadores estão no exílio:
há faróis neste degredo?
Findou a aventura no mundo.
Singrando-me, cumpro-me.
Além de mim, além da vida:
do pó que serei.
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Poema de
ARACELY BRAZ
São Francisco do Sul/SC
Inspiração
Porque me foges, imperiosa amiga?
A procura me sufoca e tu, distante ainda.
Em qual recanto te escondeste assim?
Já são longos os caminhos percorridos
Nem o mar, nem sol ou sombra de um abrigo
Trazem esperança, a tua luz em mim.
Sei que és a clave, és os bemóis desta canção.
Peço da vida o que ela tem de bom;
Se lentamente chegares, qualquer dia,
Inundará de perfume meu jardim,
Renascerá o esplendor de um coração.
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Poema de
TERESINKA PEREIRA
Ohio/Estados Unidos
Explicações
Ninguém se arrepende
do que é.
O brincar com as ilusões
de tempo e de sonhos
não conserta planos perdidos
nem explica a falta de garra
em um momentâneo céu.
Para isso existe a crueldade
E a covardia dos deuses
E daqueles que de joelhos
Morrem por um perdão.
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Poema de
HARRY WIESE
Ibirama/SC
Poema para alguém ausente
A noite transcende o sono
e me aprisiona no calabouço
de mim mesmo.
Na escuridão absoluta,
sinto a tua imagem transcendente,
funesta.
Éramos desbravadores sentimentais
em tempos de fartura
e descobrimos a vida
amando o mundo.
Agora, a noite sufoca o sono
e no teto da velha casa vejo os monstros
que te sugaram o plasma
no labirinto traiçoeiro.
As sombras espessas da noite
vagam lentas
e eu preciso lembrar-me de você
antes de cair sonâmbulo
na madrugada estia.
Depois nada mais houve;
as horas lentas me empurraram
para a vida mais só.
A noite transcende o sono
e se vai sem rumo...
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Soneto de
VANDA FAGUNDES QUEIROZ
Curitiba/PR
Cota suficiente
Bendita a pérola pequena e inculta
que fartas vezes vislumbrar logrei
na concha humilde, a única que herdei
do mar imenso que agiganta e avulta.
Bendito o mínimo botão que a estulta
gente distante, nos jardins que andei,
calcou aos pés. Pois dele me apossei,
deixando a todos, livre, a rosa culta.
E vendo o mundo em ouro se encantar,
busquei nas coisas simples me abrigar,
sem ter cobiça a ventura imponente.
Fortuna tenho, imensa, a ostentar:
pois no alto vendo o astro-rei brilhar,
eu desejei a sombra. Simplesmente…
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Poema de
ERNA PIDNER
Joinville/SC
Sou
Sou
Uma estrela cadente
Brilho resplandecente
Caída do céu!
Sou
A magia da noite
Esperando o açoite
De sensações ao léu!
Sou
Alquimia de almas
No aguardo de palmas;
Paixões ao luar...
Sou
O regaço de amantes
Frenesis ofegantes
Pedacinhos do amor...
Sou
Sempre fui e serei;
Ainda não terminei
Minha obra sem fim...
Sou
Solução de momento
Astro no firmamento
Fragmentos de mim…
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Pantum de
MIFORI
(Maria Inez Fontes Rico)
São José dos Campos/SP
Uma visão
MOTE:
Esta atual geração
mostra certa negligência.
Apinhada em atuação
desafiando a ciência.
PANTUM:
Mostra certa negligência
em toda a sua postura,
desafiando a ciência,
a juventude imatura.
Em toda a sua postura,
leva um emblema no peito;
a juventude imatura
se veste de qualquer jeito.
Leva um emblema no peito,
atira-se nua ao mar,
se veste de qualquer jeito,
põe-se logo a navegar.
Atira-se nua ao mar,
com muita satisfação.
Põe-se logo a navegar,
esta atual geração.
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Hino de
Arraias/TO
Arraias minha altaneira,
Idílio de amor em teu luar!
Nobre, feliz alvissareira,
Hei de rever-te, te abraçar.
És do Tocantins a joia rara
Teu sol luzente no arrebol
Refulge em pedraria cara
O ouro fulvo do teu sol.
Arraias, és bela e sedutora,
Poema de gozo em solidão.
És simples, nobre, encantadora,
És grande de alma e coração!
Tua água, ó biquinha, benfazeja
Teu gosto é milagroso ao paladar.
Aquele que te prova só deseja
A Arraias, feliz, sempre voltar!
Arraias minha! Arraias bela!
Terra de afeto e dileção
Tu tens do jovem, da donzela,
Todo o encanto e sedução.
Sussurra a brisa bem fadada
Na mais doce vibração
Tu és uma terra encantada
De um povo hospitaleiro e irmão.
Arraias, ninguém te esquece
Tua graça, teu viço sem igual
Relembra a velha serra que parece
Um guardião a cuidar-te, paternal.
Tuas noites tão formosas celebradas
Em rodas, bacondês, ó, dias meus!
Nas noites arraianas encantadas
Nossa alma se recolhe e sobe a Deus.
Igrejinha do Rosário, ainda te vejo
Na lembrança, com saudade e ternura.
Pra mim há sempre o ensejo
De voltar à minha infância de candura.
Córrego Rico, em cujas águas tão lendárias
A lembrança do escravo se debruça,
Acalentando a velha rua solitária,
Onde a alma do passado ainda soluça.
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Poema de
CISSA DE OLIVEIRA
Campinas/SP
A agenda
no meu dia-a-dia
cada folha
é um poema de amor
É outono, eu sei,
contudo as músicas das folhas
dizem: primavera!
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Fábula em Versos de
JEAN DE LA FONTAINE
Château-Thierry/França, 1621 – 1695, Paris/França
Os dois ratos, o raposo e o ovo
Dois ratos, indo buscar vida, acharam
Um ovo, que jantar daria farto
A gente dessa laia,
Que de acertar com um boi não necessita.
De apetite e folgança mais que cheios,
Cada um já se dispunha
A ter no ovo quinhão. Mas, eis que avistam
Um fuão, que se diz Mister Raposo.
Aziaga aventura!
Salvar o ovo era o ponto, enfardelá-lo,
Ir, com os dianteiros pés levando-o a pino,
Rodá-lo, ou já arrastá-lo,
Sobre arriscado, era África impossível.
Necessidade é astuta, é inventiva.
Mede a distância à toca,
Mede a distância ao sôfrego raposo, —
Obra de mais de légua. Eis que um se abraça
Com o ovo, e se põe de costas,
Tombos sofre, sofre ásperos caminhos,
Enquanto o outro o reboca pelo rabo.
Meditem neste conto,
E não venham clamar que é nulo o juízo
Nos animais; quando eu, se em mim coubesse,
Lhe o dera igual à infância.
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