Diz-se que Moșneagul, em certa ocasião, testou três irmãos que estavam tentando explorar a floresta para cortar as árvores mais antigas e valiosas, com a intenção de vender a madeira por um bom preço na vila.
Cada irmão tinha um machado, e juntos decidiram que iriam derrubar a maior árvore da floresta, que, segundo os aldeões, era habitada por espíritos antigos.
Quando começaram a cortar a árvore, Moșneagul apareceu, disfarçado de um velho viajante, e perguntou:
— Por que estão incomodando a floresta, filhos? Não sabem que estas árvores têm vida?
Os dois irmãos mais velhos zombaram do velho, dizendo que ele era só um louco que acreditava em superstições.
Mas o irmão mais novo, que era mais humilde, parou e respondeu:
— Estamos buscando sustento, mas talvez estejamos errados em não pedir permissão à floresta.
Impressionado pela sinceridade do irmão mais novo, Moșneagul revelou sua verdadeira identidade e avisou:
— Aqueles que tiram mais do que a floresta pode oferecer serão punidos. Mas aqueles que respeitam seus limites sempre encontrarão o que precisam.
Os dois irmãos mais velhos riram e ignoraram o aviso, continuando a cortar a árvore.
No entanto, antes que conseguissem derrubá-la, um vento forte começou a soprar, e as árvores ao redor pareceram ganhar vida. As raízes se ergueram como serpentes, prendendo os dois irmãos mais velhos, enquanto o mais jovem, que havia parado, foi poupado.
Moșneagul então o abençoou, dizendo que ele viveria em harmonia com a natureza, enquanto seus irmãos teriam que trabalhar para restaurar o que haviam destruído.
A lição foi transmitida de geração em geração, ensinando aos aldeões a importância de respeitar o equilíbrio da natureza.
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* Nota do autor:
Moșneagul, que significa "o velho" em romeno, é uma figura arquetípica nas tradições folclóricas da Romênia. Ele representa a sabedoria acumulada ao longo dos anos e a conexão profunda com a cultura e as tradições locais. É frequentemente retratado como um sábio que possui um vasto conhecimento sobre a vida, a natureza e as relações humanas. Ele serve como mentor para jovens e adultos, oferecendo conselhos valiosos e orientações que muitas vezes são baseadas em experiências pessoais e sabedoria popular. As histórias contadas por ele são uma parte essencial da cultura romena. Elas geralmente abordam temas universais, como amor, amizade, coragem, e a luta entre o bem e o mal. Suas narrativas muitas vezes incluem elementos do folclore, como criaturas míticas, heróis e lições morais. Ele frequentemente menciona plantas, animais e fenômenos naturais em suas histórias, usando-os como metáforas para ensinar lições sobre a vida e a convivência harmoniosa com o meio ambiente.
Uma das principais funções de Moșneagul é transmitir a sabedoria das gerações passadas. Suas histórias são uma forma de preservar a memória cultural, passando adiante tradições, costumes e valores que poderiam se perder com o tempo. Moșneagul é muitas vezes visto como a personificação da tradição e da cultura romena. Ele representa a voz do povo, refletindo suas esperanças, medos e aspirações. Suas histórias ajudam a manter a identidade cultural viva, especialmente em tempos de mudança. Apesar da profundidade de suas lições, as histórias de Moșneagul frequentemente contêm humor e ironia. Ele utiliza o riso como uma forma de ensinar, fazendo com que as pessoas reflitam sobre suas próprias vidas de maneira leve e acessível.
As histórias de dele não apenas educam, mas também fortalecem a coesão social na aldeia. Elas criam um senso de pertencimento e identidade, unindo as pessoas em torno de valores compartilhados. Ele é mais do que um simples contador de histórias; ele é um símbolo da sabedoria coletiva, uma ponte entre o passado e o presente, e um farol de esperança e inspiração para todos que o ouvem.
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CAILIN DRAGOMIR nasceu em 1949, na cidade de Timișoara, na Romênia. Desde cedo, demonstrou uma paixão inata pela literatura e pela arte das palavras. Ele cresceu em um ambiente que refletia a rica herança cultural da sua cidade, onde a música e a poesia se entrelaçavam nas conversas cotidianas. Após concluir o ensino médio, ingressou na Universidade, onde se destacou em seus estudos de literatura. Sua dedicação e talento o levaram a continuar sua formação acadêmica, culminando em um pós-doutorado. Durante esse período, ele mergulhou na obra de grandes poetas romenos e internacionais, desenvolvendo um estilo próprio que misturava o lirismo clássico com uma abordagem contemporânea. Em 1992, tomou a decisão de se mudar para o Brasil, em busca de novas oportunidades e experiências. Ao chegar ao país, ele se estabeleceu em São Paulo, onde rapidamente se destacou como professor de literatura. Suas aulas eram conhecidas pela abordagem criativa e envolvente, inspirando os estudantes a apreciar a literatura de maneira profunda e significativa. Além de sua carreira acadêmica, cultivava uma paixão pelo xadrez. Ele se tornou um jogador forte e respeitado, participando de torneios e promovendo o jogo entre seus alunos. Dragomir acreditava que o xadrez, assim como a literatura, era uma forma de arte que desenvolvia o pensamento crítico e a estratégia, habilidades essenciais tanto na vida quanto na escrita. E em um clube de xadrez ele veio a conhecer o diretor dele, José Feldman, com quem estreitou laços de amizade não só pelo jogo, mas pela literatura, além do fato de que ambos possuíam uma paixão pela música e Feldman ser filho de pais romenos. Ao longo de sua vida, Cailin Dragomir se estabeleceu como uma figura influente na cena literária e educacional, deixando um legado duradouro tanto na Romênia quanto no Brasil. A influência da cultura romena em sua poesia se manifesta em diversos aspectos de sua obra. A rica tradição literária da Romênia, que inclui poetas como Mihai Eminescu e George Coșbuc, moldou a sensibilidade estética dele. Ele usa uma linguagem lírica e metafórica, incorporando elementos do folclore e da mitologia romena, que são essenciais na poesia romena clássica. A natureza é um tema recorrente na poesia romena, e Dragomir não é exceção. Suas descrições vívidas de paisagens romenas, como as montanhas dos Cárpatos e os campos de flores, refletem uma profunda conexão com o ambiente natural, transmitem uma sensação de integração e nostalgia.
A riqueza do folclore romeno permeia sua poesia, com referências a mitos, lendas e tradições populares. Utiliza esses elementos para criar uma ponte entre a modernidade e as raízes culturais, trazendo à tona a sabedoria ancestral que ainda ressoa na vida contemporânea. A poesia romena é conhecida por sua profundidade emocional e introspecção. Seguindo essa tradição, explora sentimentos complexos como amor, perda e saudade, utilizando uma abordagem que reflete tanto a sensibilidade individual quanto a experiência compartilhada do povo romeno. Ele muitas vezes incorpora ritmos e cadências que evocam a sonoridade da música popular romena, criando uma harmonia entre palavra e som que enriquece a experiência do leitor.
Após sua mudança para o Brasil, passou a incorporar a experiência da diáspora em sua poesia. Essa nova perspectiva enriqueceu sua obra, permitindo uma fusão de influências culturais que resultou em uma poesia mais ampla, reflexiva e acessível a diferentes públicos.
Em suas obras faz referências a figuras mitológicas romenas, como "Zmeu", um dragão que frequentemente aparece em contos populares. Ele utiliza essa figura para simbolizar desafios e superações, inserindo a luta contra o Zmeu como uma metáfora para as dificuldades da vida. Também é comum encontrar menções a "nossas montanhas", como os "Cárpatos", que não apenas servem como cenário, mas também como símbolo de resistência e força. Cailin pode descrever a beleza dessas montanhas em relação à história do povo romeno, evocando sentimentos de pertencimento. Ele inclui personagens folclóricos como "Moșneagul" (o velho sábio) e "Zână" (a fada), representando a sabedoria ancestral e a proteção, respectivamente. Esses personagens são frequentemente utilizados para transmitir lições de vida e a importância das tradições. Além disso, faz alusão a festivais tradicionais, como "Mărțișor", que celebra a chegada da primavera. Em seus versos, ele descreve a troca de fitas brancas e vermelhas como um símbolo de renovação e esperança, refletindo a alegria da vida. Histórias de amores impossíveis, como a lenda de "Făt-Frumos" e "Ilena Cosânzeana", podem ser exploradas em sua poesia. Ele usa essas narrativas para abordar temas de amor e sacrifício, conectando a experiência pessoal com a tradição. Há a presença de criaturas míticas, como o "Chimera" ou o "Roc", descrevendo esses seres como guardiões de segredos e mistérios, simbolizando os desafios que todos enfrentamos em busca de conhecimento. Esses elementos folclóricos não apenas enriquecem a poesia de Cailin Dragomir, mas também criam uma ponte entre o passado e o presente, permitindo que ele dialogue com suas raízes culturais enquanto se adapta a novas influências. Essa fusão é uma das marcas distintivas de sua obra.
Como poeta, Dragomir publicou três livros : 1. "Ecos da Alma" - Uma coletânea de poemas introspectivos que exploram a complexidade das emoções humanas; 2. "Sussurros da Memória" - Uma obra que reflete sobre o passado, a nostalgia e a busca pela identidade; 3. "Caminhos de Luz" - Uma série de poemas que celebram a beleza da natureza e a conexão entre o ser humano e o mundo ao seu redor.
Fontes:
Texto enviado pelo autor.
Biografia = por José Feldman
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing

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