terça-feira, 28 de janeiro de 2025

Jerson Brito (Asas da poesia) 08


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JERSON LIMA DE BRITO, nasceu em Porto Velho/RO, em 1973, onde reside. Graduado em Administração e Direito pela Fundação Universidade Federal de Rondônia. Sonetista, trovador e cordelista, é membro fundador da Academia Brasileira de Sonetistas (Abrasso), integrante do Fórum do Soneto e Delegado da União Brasileira de Trovadores (UBT) em Porto Velho. Exerce o cargo de Técnico Federal de Controle Externo na SECEX-RO, tendo participado de algumas Mostras de Talentos do TCU. Neto de nordestinos, na infância teve os primeiros contatos com os versos, lendo os folhetos de cordel que seu pai comprava. Já na fase adulta, depois dos 30 anos, deu os primeiros passos na literatura escrevendo sobretudo cordéis. Posteriormente, aderiu aos sonetos e outras modalidades poéticas. Premiado em diversos concursos de trovas, sonetos e cordéis.

Monsenhor Orivaldo Robles (O que fica do que passou)

Tirante a amplitude da circunferência abdominal, a dificuldade de subir ladeira, a urgência em levantar à noite várias vezes, o esforço de fazer a memória pegar no tranco e a facilidade de chorar até em comercial de detergente, não posso dizer que os anos me pesem muito. Tempo houve em que tudo era mais fácil. Ainda assim, não me queixo. Aborrecem-me saudosistas de olhos sempre fixos no passado. Não sofro por não ter de volta o que já foi. “Tudo tem seu tempo” (Ecl 3,1). Comento situações que vivi porque me ensinaram alguma coisa. “O saber não ocupa lugar”, dizia o pai. Já ouvi que, se alguém fala: “Tenho muita experiência”, o que quer dizer é: “Já fiz muita burrada na vida”. Pode ser. Sem negar as tolices que cometi, entendo que a idade também me forneceu lições determinantes de bem viver.

Exemplo: quem viveu meia dúzia de décadas lembra como funcionavam as coisas em família. Pai e mãe davam ordens, filhos obedeciam. Não se respeitava a individualidade dos filhos? Pais eram dominadores? Havia casos, sim, não dá para esconder. Afinal poucos tinham ouvido falar de psicologia. Ainda hoje, apesar do muito que progredimos, quantos podem considerar-se verdadeiro pai ou mãe? Naquela época, então... Às crianças não se davam chances de escolha. Moradia, comida, vestuário, calçado, brinquedo, tudo era decidido pelos pais. Roupa e sapato passavam de filhos mais velhos para mais novos. Sem arrufo, nem esperneio. Sequer em sonho passava pela cabeça de um adulto que criança lhe questionasse uma decisão. Não há como não reconhecer a melhora que conseguimos. Hoje, pais se empenham em acertar na formação dos rebentos. Não se permitem domesticá-los. Nem agir como ditadores.

Alguns, entretanto, talvez tenham virado o fio. Na ânsia de evitar excesso de autoridade optaram por autoridade nenhuma. O ambiente familiar virou do avesso. Antes era quartel, agora virou zorra. Há famílias em que o leme de comando foi entregue a uma gracinha de três anos. Nem fala direito, mas decide tudo. Os pais se julgam antenados. Sei. Esperem mais dez anos para ver.

Outro ponto: cedo aprendi que um homem vale tanto quanto a sua palavra. As pessoas ponderavam bem o que iam falar. Porque, uma vez proferida, palavra não tinha volta. Entrava em vigor com a força de compromisso. Testemunha, assinatura, firma reconhecida, registro público, para quê? O importante tinha sido empenhado: a palavra, que outra coisa não era senão o próprio ser da pessoa externado pela sua voz. Que garantia maior exigir? Ninguém pulava para trás desdizendo afirmação anteriormente feita. Por lucrativa que fosse a vantagem ou rendoso o interesse, honra não se negociava. Ninguém punha em dúvida este aforismo: homem que se vende, ainda que por um mísero centavo, sempre recebe mais do que vale. Bom tempo, sem dúvida, em que, de olhos fechados, se confiava no que a pessoa dizia. Quem sabe, por saudade ou anseio pela volta desse tempo foi que Thiago de Mello escreveu, no Estatuto do Homem: “Fica decretado que o homem não precisará nunca mais duvidar do homem. (...) O homem confiará no homem como um menino confia em outro menino”. Em termos de recursos de comunicação hoje nos encontramos a anos-luz do passado. Ninguém há que não aprecie as fantásticas invenções da técnica e da ciência. Bom seria se o mesmo se verificasse também no respeito à verdade.
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MONSENHOR ORIVALDO ROBLES nasceu em Polôni (SP) em 1941. Estudou em Jales e Poloni e ingressou no Seminário Nossa Senhora da Paz, em São José do Rio Preto, em 1953. Cursou Filosofia em Curitiba (PR), graduando-se na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, de Mogi das Cruzes SP, com diploma reconhecido pela USP, São Paulo. Graduou-se em Teologia no Studium Theologicum de Curitiba, afiliado à Pontifícia Universidade Lateranense, de Roma. Lecionou no Colégio Estadual Dr. Gastão Vidigal, e no Instituto de Educação, em Maringá (PR) (1967-1969). No Colégio Estadual e na Escola Normal de Paranacity (PR) (1970-1972). Por quase onze anos trabalhou como pároco de Marialva, de onde saiu no início de 1983 para assumir, por seis anos, o cargo de reitor do Seminário Arquidiocesano Nossa Senhora da Glória - Instituto de Filosofia de Maringá. Em 1989 assumiu a Paróquia Santa Maria Goretti, em Maringá, onde trabalhou por mais de 20 anos. Desde 2009, trabalhou na Catedral Metropolitana de Maringá, exercendo a função de vigário paroquial. Foi palestrante convidado a discorrer, em colégios ou outros núcleos humanos, sobre temas ligados à cidadania, formação pessoal e sobre ética pessoal ou pública. Em 2012 teve publicado o livro "Celeiro Desprovido", com 270 páginas, contendo 118 crônicas e artigos escritos desde 1995. Em 2017, foi publicado o livro dos 60 anos da Diocese de Maringá. Foi articulista mensal ou semanal, por mais de quinze anos, de jornais editados em Maringá, além de ter matérias reproduzidas em revistas ou blogs da região.Faleceu de enfisema pulmonar, em 2019, em Maringá/PR.

Fonte:
Recanto das Letras. Publicado em 19 dez 2011.
https://www.recantodasletras.com.br/cronicas/3395981
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing 

José Feldman (Esquecimento turbulento)

Era uma manhã ensolarada na cidade, e o senhor Astolfo, um avô de 71 anos com uma energia surpreendente para a idade, estava a caminho do mercado com sua neta, Clara, já na fase aborrecente. Eles sempre se divertiam juntos, e aquela manhã não seria diferente. Astolfo estava vestido com sua clássica camisa listrada e um chapéu florido que sua ex-esposa lhe havia dado, enquanto Clara usava fones de ouvido, imersa em seu mundo musical.

Assim que o ônibus chegou, eles entraram e se acomodaram em um banco perto da janela. Astolfo começou a contar histórias sobre quando ele era jovem, enquanto Clara revirava os olhos, mas com um sorriso no rosto. 

— Você sabe, Clara, na minha época, ônibus era muito mais divertido! — começou Astolfo.

— Claro, vovô! E você também caminhava 10 quilômetros na chuva, né? — brincou Clara.

— Não! Eu ia de ônibus! — Astolfo respondeu, rindo.

Depois de algumas paradas, o ônibus chegou a um ponto onde Astolfo decidiu que era hora de descer. Ele olhou pela janela e viu uma loja de ferramentas que lhe chamou a atenção.

— Vou descer aqui! — pensou e se levantou rapidamente. Mas, na empolgação, esqueceu de avisar a neta.

Ao descer do ônibus, Astolfo mal percebeu que Clara ainda estava sentada e, quando ele pisou na calçada, o ônibus começou a se afastar. 

— Clara! — gritou ele, percebendo que ela não tinha vindo junto. O ônibus começou a acelerar, e a expressão de Astolfo mudou de surpresa para pânico. Começou a correr atrás do ônibus.

— Vovô! Volta! — gritou Clara, agora percebendo que ele havia descido sem aviso. 

Ela pulou de seu assento e se aproximou da janela, olhando para ele com os olhos arregalados.

Os passageiros do ônibus, vendo a cena que se desenrolava, começaram a rir e a incentivar Astolfo.

— Vai, seu moço! Corre! — gritou uma senhora de cabelo grisalho, batendo palmas.

— Mais rápido, campeão! — gritou um jovem com um boné de lado.

Um passageiro distraído, sem estar ciente do ocorrido:

– Deixa de ser muquirana, rapaz, tá querendo economizar no ônibus? Corre atrás do táxi que economiza mais! 

Astolfo estava determinado. Com o chapéu quase caindo, ele começou a correr com todas as suas forças. O ônibus, por sua vez, parecia estar em um filme de ação, com motoristas e passageiros assistindo à cena como se fosse um espetáculo.

— Clara! — ele gritava, enquanto as pernas pareciam não responder à sua vontade de correr mais rápido. — Espera!

Clara, do outro lado, gritava:

— Vovô, vem mais rápido! O ônibus não vai esperar!

O motorista, vendo a cena no retrovisor, decidiu dar uma freada para que Astolfo pudesse alcançá-los. O ônibus parou abruptamente, e a situação se transformou em um verdadeiro espetáculo.

Astolfo, aliviado por ter conseguido alcançar o ônibus, fez um esforço final e se lançou em direção à porta. Mas, em vez de conseguir entrar, ele acabou batendo na traseira do ônibus com "cara de tacho", quase escorregando. A cena foi tão cômica que todos os passageiros explodiram em risadas.

— Olha a cara do vovô! — Clara não conseguiu conter a risada, enquanto Astolfo se endireitava, ruborizado, mas também rindo da própria situação.

— Ah, que susto! — ele disse, tentando recuperar a compostura. — Eu pensei que você iria embora!

— E eu pensei que você estava se preparando para a São Silvestre! — respondeu Clara, ainda rindo.

O motorista, com um sorriso, abriu a porta para Astolfo entrar e disse:

— Vamos lá, seu moço. Suba logo antes que eu mude de ideia!

Astolfo, agora mais calmo, entrou no ônibus, e os passageiros continuaram a rir e a aplaudir.

— Isso foi uma corrida épica! — gritou o jovem do boné.

Astolfo se sentou ao lado de Clara, que ainda estava se recuperando da risada.

— Nunca mais vou descer sem avisar você, Clara! — ele disse, respirando fundo.

— Eu espero que sim, vovô! Assim você não vira o “Super Vovô” das corridas de ônibus! — ela brincou.

E assim, enquanto o ônibus seguia seu caminho, Astolfo e Clara continuaram a rir, prometendo que, na próxima vez, ele definitivamente avisaria antes de descer. Aquele dia se tornaria uma das memórias mais engraçadas da relação entre avô e neta.

Fontes:
José Feldman. Peripécias de um jornalista de fofocas & outros contos. Maringá/PR: Plat. Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul.

                                                                             Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing  

Vereda da Poesia = 208


Trova de
DORONI HILGENBERG
Manaus/AM

A cama guarda segredos,
guarda amor e fantasias,
guarda também muitos medos
das madrugadas vazias.
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Poema de
MACHADO DE ASSIS 
Rio de Janeiro/RJ, 1839 – 1908

A Carolina

Querida, ao pé do leito derradeiro
Em que descansas dessa longa vida,
Aqui venho e virei, pobre querida,
Trazer-te o coração do companheiro.

Pulsa-lhe aquele afeto verdadeiro
Que, a despeito de toda a humana lida,
Fez a nossa existência apetecida
E num recanto pôs um mundo inteiro.

Trago-te flores, — restos arrancados
Da terra que nos viu passar unidos
E ora mortos nos deixa e separados.

Que eu, se tenho nos olhos malferidos
Pensamentos de vida formulados,
São pensamentos idos e vividos.
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Trova de
ELEN DE NOVAES FÉLIX 
Niterói/RJ (???? – 2015)

Quando as folhas vão caindo,
fecundando o solo enxuto,
o outono chega sorrindo
pelo sorriso do fruto.
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Poema de
DANIEL MAURÍCIO
Curitiba / PR

As imagens do tempo
Ficaram encalacradas
No velho espelho 
E o sorriso sem jeito
Ficou imperfeito pela mancha no aço
No corredor semi-escuro
Com ladrilhos em mosaico
Desfilam lembranças 
Com chinelos de veludo
E o espelho
Com olhar cansado 
Já não guarda mais segredo 
Com silêncio centenário 
O relógio de parede
Assiste a tudo
Pois já os seu ponteiros 
Parados
Marcam um tempo indefinido.
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Trova de
ÉLBEA PRISCILA DE S. E SILVA
Piquete/SP, 1942 – 2023, Caçapava/SP

Atravesso a praça e estanco
ao ver a saudade atroz,
sentada no mesmo banco
que era ocupado por nós...
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Poema de
DOMINGOS FREIRE CARDOSO
Ilhavo/ Portugal

À janela do meu quarto de alfazema
(Augusto Nunes in "Os Espelhos da Água", p. 16)

À janela do meu quarto de alfazema
Vem a lua, de leve e a sorrir
Indagar se eu estou mesmo a dormir
Ou se namoro ainda o meu poema.

E vendo que eu hesito no fonema
Que a voz do coração há de exprimir
Um raio de luar vem redigir
A frase que me solta do dilema.

De miradouro faz esta janela
E em muitas noites saio através dela
Levado por estrelas e miragens.

E quando me levanto, de manhã
Sinto que a alma está mais pura e sã
Depois de eu regressar dessas viagens.
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Trova de
DOROTHY JANSSON MORETTI 
Três Barras/SC, 1926 – 2017, Sorocaba/SP

Dizem que amas de mentira,
mas gosto de acreditar,
e até que um dia eu confira,
vou-me deixando enganar.
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Soneto de
OLAVO BILAC
Rio de Janeiro/RJ, 1865 – 1918

Última página

Primavera. Um sorriso aberto em tudo. Os ramos
Numa palpitação de flores e de ninhos.
Dourava o sol de outubro a areia dos caminhos
(Lembras-te, Rosa?) e ao sol de outubro nos amamos.

Verão. (Lembras-te, Dulce?) À beira-mar, sozinhos,
Tentou-nos o pecado: olhaste-me... e pecamos;
E o outono desfolhava os roseirais vizinhos,
Ó Laura, a vez primeira em que nos abraçamos...

Veio o inverno. Porém, sentada em meus joelhos,
Nua, presos aos meus os teus lábios vermelhos,
(Lembras-te, Branca?) ardia a tua carne em flor...

Carne, que queres mais? Coração, que mais queres?
Passam as estações e passam as mulheres...
E eu tenho amado tanto! e não conheço o Amor!
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Trova de 
IZO GOLDMAN
Porto Alegre/RS, 1932 – 2013, São Paulo/SP

A saudade não me poupa,
desenhando, fio a fio,
o perfil da tua roupa
no guarda-roupa vazio...
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Soneto de
AUTA DE SOUZA
Macaíba/RN, 1876 – 1901, Natal/RN

A minha avó

Minh' alma vai cantar, alma sagrada!
Raio de sol dos meus primeiros dias...
Gota de luz nas regiões sombrias
De minha vida triste e amargurada.

Minh 'alma vai cantar, velhinha amada!
Rio onde correm minhas alegrias...
Anjo bendito que me refugias
Nas tuas asas contra a sina irada!

Minh 'alma vai cantar... Transforma o seio
N'um cofre santo de carícias cheio,
Para este livro todo o meu tesouro...

Eu quero vê-lo, em desejada calma,
No rico santuário de tu' alma...
— Hóstia guardada num cibório de ouro!
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Trova de
NEI GARCEZ
Curitiba/PR

No livro, cheio de graça,
que o Mestre, na sala edita,
cada criança que passa
é a sua página escrita!
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Haicai de
A. A. DE ASSIS
Maringá/PR

Os Ipês de Maringá

O show dos ipês.
Turistas gravam imagens
para o facebook.
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Glosa de
ZÉ SALVADOR
São Gonçalo/ RJ

Mote:
O QUE SE FAZ COM AMOR
TEM UM SABOR DIFERENTE. 
ADEILZA PEREIRA
Serra Talhada/ PE
.
Eu faço arte popular,
na que faço, sou fiel,
sou amante do cordel
e jamais quis me casar.
Eu preferi me amigar,
decisão inteligente, 
foi conceituadamente
meu consenso sem impor 
o que se faz com amor
tem um sabor diferente. 
.
Planto uva vou colher uva,
fava planto e colho fava,
por isto aqui eu pensava:
cai água do céu é chuva
e a cortadeira é saúva
não é gente como a gente,
mas, ô “bichim” resistente 
e muito trabalhador,
o que se faz com amor
tem um sabor diferente!
.
A formiga cortadeira
na prevenção da invernada,
tem a labuta pesada
trabalha sem brincadeira,
mas a cigarra faceira
se diverte no presente,
canta no sol inclemente  
seja o futuro qual for,
o que se faz com amor
tem um sabor diferente.
.
A aranha tem seu emprego, 
ela é boa fiandeira, 
fia o fio a noite inteira
tem a roca no sossego,
isto não é subemprego
é um prazer referente,
não estardalha mas sente
a sua leveza ao expor
o que se faz com amor
tem um sabor diferente.
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Trova de
APARÍCIO FERNANDES
Acari/RN, 1934 – 1996, Rio de Janeiro/RJ

Eu trago minha alma aflita,
bem vês o ciúme em meu rosto:
o mal é seres bonita
e os outros terem bom gosto!
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Hino de 
RIACHO DA CRUZ/ RN

Refrão
Riacho da Cruz, Brasil!
Nós te saudamos e te valorizamos – BIS

Parte I
Apesar de pequenina
Há fascínio e encantos mil
És retrato de formosura
Dentro dos encantos do Brasil.

Refrão
Riacho da Cruz, Brasil!
Nós te saudamos e te valorizamos – BIS

Parte II
A tua gente simples
Mais calorosa e gentil
Te saúda com orgulho
Este bom pedaço do Brasil.

Refrão
Riacho da Cruz, Brasil!
Nós te saudamos e te valorizamos – BIS

Parte III
Riacho, teu nome
É Riacho da Cruz
E o teu povo forte
Faz do Rio Grande do Norte
Sua terra mãe, de luz! Riacho da Cruz.

Refrão
Riacho da Cruz, Brasil!
Nós te saudamos e te valorizamos – BIS

Parte IV
Riacho, teu nome
É Riacho da Cruz
E o teu povo forte
Faz do Rio Grande do Norte
Sua terra mãe, de luz! Riacho da Cruz

Riacho da Cruz, BRASILLLLLLLLLL!
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Soneto de
BENEDITA AZEVEDO
Magé/ RJ

Esta noite

Nesta noite tão bela quero ter-te
Ao meu lado sorrindo e bem contente.
Aceitando o convite com meu flerte
Para jantarmos logo mais...  Consente!

Nós dois naquele barco, ao convés,
Não venha com recusa,  por favor!
Traga aqueles teus olhos cuja cor
Transmite essa beleza do que és.

Agora temos logo de tratar
Do que precisaremos nesta noite
Talvez alguma coisa pra levar.

Uma noite só nossa é o que prometo
Mesmo com tanto medo do pernoite
No  barco em alto-mar, mesmo em soneto.
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Trova de
SONIA LODI FERLE
Santos/SP

Tantas nuances benditas
nas obras do Criador!
São tantas cores bonitas
mas consciência não tem cor.
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Uma Lengalenga de Portugal
LENGALENGAS PARA TIRAR A SORTE
 
Um-dó-li-tá
Cara de amendoá
Um segredo colorido
Quem está livre
Livre está
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Um, dois, três, quatro
A galinha mais o pato
Fugiram da capoeira
Foi atrás a cozinheira
Que lhes deu com um sapato
Um, dois, três, quatro…
***

 Nove vezes nove
Oitenta e um,
Sete macacos e tu és um
Fora eu que não sou nenhum!
***

A saquinha das surpresas
Ninguém sabe o que lá vem
Tão calada, tão quietinha
Vamos ver o que lá vem!
***

 Pim, pam, pum
Cada bola mata um
Da galinha pro peru
Quem se livra és tu!
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Trova Popular de
AUTOR ANÔNIMO

Se esta rua fosse minha
eu mandava ladrilhar,
com pedrinhas de brilhante, 
para meu amor passar.
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Poema de
VANICE ZIMERMAN
Curitiba/PR

Vida em verdes versos

Na imobilidade dos seus gestos
O Olhar intenso, atento.
Em total cumplicidade com a folha
Torna-se parte delas
Num mágico entrelaçar de vidas:
Louva-a- deus e folha
Ele, na solidão e expectativa de seus breves dias,
Uma vida plena...
Ela, a folha observa e o admira.
O mágico dos disfarces
Imita as cores à sua volta,
E, assim inspira poemas:
Vida em verdes versos...
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Nilto Maciel (O oráculo)

Guilhermartins orgulhava-se de sua sem par biblioteca que, de vez em quando, aparecia na imprensa. Dizia o colunista social: O intelectual Guilhermartins, dono da mais rica coleção de alfarrábios, jantava ontem ao lado da bela Antonieta Brochado. O repórter vulgava: Chega-se a duvidar da existência do Tratado do Amor do Diabo, de Abulcámim Abdelhákem, tal a sua raridade.

Ao lado das fileiras de franceses, brasileiros, javaneses, acumulavam-se pilhas de revistas e jornais: O Chauffeur Moderno, Revista do Foot-Ball, O Positivista Mineiro, Diário da América, Gazeta do País, Revue des Cinq Mondes, Il Fanfulla, La Hacienda, The Marine Engineer e outros.

Perguntado em que coisas gastara seu tempo enquanto vivera, disse que lera desde A Aarônica Aba Ababá, novela mentirosa sobre os costumes dos índios ababás, escrita pelo cearense José de Alenquer, até Zwinglio Zuruó, biografia moleque de autoria do soviético Alexey Chirikov.

Perguntado quanto tempo havia que era leitor, disse que havia oitenta ou setenta e nove.

Estas e outras perguntas e respostas encontram-se publicadas nos jornais, assim como as segundas, um tanto modificadas, como afirmações de outras pessoas, em periódicos mais antigos. Por exemplo, é da edição de 27 de novembro de 1937 do Diário da América o seguinte trecho do pesquisador Salomão Souto: “A Aarônica Aba Ababá, novela fantástica sobre os costumes dos índios ababás, foi escrita por José de Alenquer.”

A primeira refeição de Guilhermartins consistia de café com manchetes. Um gole aqui, um golpe ali, um sorvo agora, um corpo morto no canto da página, uma sorvedura apressada, uma ditadura derrubada. Dos títulos passava às matérias e o golpe se enchia de sangue, estrelas, tanques nas ruas, pronunciamentos, prisões, decretos, viva o general.

Esse hábito de não comer pão nem mamão, leite ou azeite após o sono se constituiu ao longo de décadas de falta de tempo para fazer uma refeição mais rica, porque apetite não lhe faltava, nem sua fazenda parecia pequena.

Vivendo assim, não podia sonhar senão realidades, quer dizer, realidades futuras, fatos vindouros, porém, logicamente relacionados aos do passado dia. Assim, se antes de pegar no sono lia sobre o nascimento do filho da princesa, no sonho lhe aparecia a relação dos prováveis nomes reais do infante às mãos do príncipe. Pulava da cama, agarrava os jornais e ria de mais um crime da imprensa – todos copiavam seus sonhos.

Entre suas previsões mais assombrosas citam-se o lançamento do Sputnik, a destruição de Israel, a publicação de A Cachoeira das Eras, de Carlos Emílio Corrêa Lima, e a morte de Stalin.

Um crítico, de sua amizade, chegou a chamar-lhe de o oráculo da era atômica. Guilhermartins riu e explicou: a História é uma novela; o novelista, um gênio anônimo. Os teístas o insultaram. O gênio tinha nome, sim senhor: Deus. Os ateístas defenderam-se: não existia esse tal gênio.

Disse mais Guilhermartins: considerava-se apenas o mais atento e inteligente espectador, daí poder ler o próximo capítulo antes de publicado. E recusou convites para polemizar. Faltava-lhe tempo para falar. Mandava um pequeno texto sobre a questão. Discutissem-no à vontade.

De fato, estafetas e jornaleiros não paravam de bater à sua porta, sobraçando pacotes das mais variadas procedências. Jornais da Jordânia, revistas revanchistas alemãs, boletins de laboratórios farmacêuticos, informativos panteístas, publicações de guerrilheiros e terroristas, relatórios acadêmicos e divulgações de seitas novas.

Não se esquecia de si mesmo Guilhermartins. Colecionava tudo o que a imprensa publicava sobre sua pessoa. Na primeira folha do álbum, a notícia de seu nascimento. A partir daí, entrevistas, artigos, crônicas, reportagens.

Uma dessas crônicas, do poeta Carlos André, começa assim: “Há quarenta anos conheço e pratico esse raro Guilhermartins, e ainda não me arrependi de o ter achado. Pois o achei, posto que o procurasse sem o conhecer. Valeu como achar a edição príncipe de O Grande Pânico, de Airton Monte."

Tomam três ou cinco folhas as reportagens sensacionalistas sobre seu divórcio. Num deles, sua mulher o chama de maníaco, leitor inveterado, comedor de traças, intelectual onisciente, o diabo.

Um dos artigos mais pomposos sobre sua pessoa intitula-se “O Mago Guilhermartins” e o equipara a Wronski, o inventor da máquina de predizer.

Apesar da enorme quantidade de publicações que diariamente recebia, Guilhermartins sabia de cor os nomes de todas elas e até os dias em que deveria recebê-las. Deu-se então de um dia o estafeta esquecer-se de levar-lhe o Informativo Cabalístico. O assinante vomitou insultos: irresponsável, inimigo da informação, mulherengo, nazista. E o entregador de jornais perdeu a paciência: maníaco, judeu, alienado, filho de satã. E saiu aos brados.

Fulminado por tão duras palavras, Guilhermartins sentou-se sobre os pacotes, abatido, triste, decepcionado.

– Eu, maníaco? Sim, por que não? De que me serve o conhecimento ? Para que passo a vida a ler, a me informar de tudo? Tenho vivido aqui, cercado de livros, revistas, jornais, envelhecido diante de tudo isso. Que fiz afinal da vida? Ou ainda é tempo de mudar, de fugir dessa caverna, de sair do ovo, de pular para o mundo?

E saltou para a rua, a gritar que sabia de tudo, conhecia tudo, o passado e o presente e até um pouco do futuro. Cercaram-no curiosos e ele subiu a uma janela. Pôs-se a falar de guerras e pazes, enchentes e secas, golpes e revoluções, tudo sem nenhum sentido, misturado, confuso.

– É o sábio Guilhermartins.

– Um doido varrido.

– O diabo em pessoa.

Pouco a pouco, todos se afastaram e ele se calou. Coçou a cabeça, arregalou os olhos, sorriu. E correu aos jornais e emissoras. Noticiassem: Guilhermartins convocava a população para uma conferência sobre o conhecimento humano. Na maior praça de esportes da cidade. Entrada franca. A partir do fim da tarde. Sem horário previsto para o encerramento. Podiam decretar greve geral. Assim, todos estariam livres para comparecer ao espetáculo.

Não falaram de greve, porém, milhares de pessoas se atropelaram desde o começo da noite diante do estádio. A cavalaria não sossegou de pisotear a multidão.
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Nilto Maciel nasceu em Baturité/CE em 1945. Formou-se na Faculdade de Direito da Universidade Federal do Ceará. Em parceria com outros escritores, no ano de 1976 criou a revista Saco. Transferiu-se no ano seguinte para Brasília, trabalhando na Câmara dos Deputados, Supremo Tribunal Federal e Tribunal de Justiça do DF. Em 2002 foi para Fortaleza/CE onde residiu até a sua morte em 2014. Venceu inúmeros concursos literários, e escreveu diversos livros, tendo contos e poemas publicados em esperanto, espanhol, italiano e francês. Além de contos e romances publicados, também Panorama do Conto Cearense, Contistas do Ceará, Literatura Fantástica no Brasil. Alguns livros publicados: Contos Reunidos vol. I, são os 66 contos escritos por Nilto em seus livros Itinerário (1974 a 1990), Tempos de Mula Preta (1981 a 2000) e Punhalzinho cravado de ódio (1986). O volume II conta com 122 contos dos livros As Insolentes patas do cão (1991), Babel (1997) e Pescoço de Girafa na Poeira (1999). 
"Nilto possui esta capacidade de fazer com que nossas almas percorram desde um estado de profunda tristeza ao de êxtase. Não é apenas um escritor, são muitos escritores dentro de um só. A cada conto terminado, aflora o anseio pelo próximo. Aonde Nilto nos conduzirá agora? Cada conto é um conto, que faz com que nossa imaginação nos leve às vezes a adentrar dentro dele e participar, deixando que nos levemos pelo seu encanto, pela sua linguagem simples e deliciosa." (José Feldman, em Nilto Maciel o mago das almas, 18/12/2010)

Fontes:
Nilto Maciel. Punhalzinho Cravado de Ódio, contos. Secretaria da Cultura do Ceará, 1986. Enviado pelo autor.
Imagem criada por Feldman com Microsoft Bing 

segunda-feira, 27 de janeiro de 2025

José Feldman (Textos & Trovas) O Jogo das Ilusões

Texto construído tendo por base a trova de Solange Colombara (São Paulo/SP)
O mentiroso pensou
ter enganado a donzela...
Por interesse casou,
mas quem o enganou, foi ela!

Na pitoresca vila de São Lucas, onde as casas coloridas se alinhavam como um arco-íris e as flores perfumavam o ar, havia um jovem chamado Álvaro. Ele era charmoso e tinha um sorriso que derretia corações. No entanto, por trás daquela fachada encantadora, Álvaro carregava um segredo: ele era um mentiroso contumaz. Sua habilidade de enganar os outros era quase uma arte, e ele usava isso para conseguir o que desejava.

Certa vez, durante uma festa à beira do rio, Álvaro conheceu Isabela, uma donzela de beleza estonteante e inteligência aguçada. Desde que se olharam pela primeira vez, ele ficou fascinado. Isabela não era apenas uma moça qualquer, ela tinha uma aura de mistério e uma sagacidade que o intrigava. 

Mas, como sempre, Álvaro viu em Isabela uma oportunidade. Ele decidiu que a conquistaria não por amor, mas por interesse: seu pai, um próspero comerciante, possuía uma fortuna considerável.

Álvaro começou a cortejá-la, usando todo o seu charme e persuasão. Ele contava histórias fantásticas sobre suas viagens, suas conquistas e seus planos grandiosos para o futuro. Isabela, no entanto, era mais esperta do que ele imaginava. Embora se sentisse lisonjeada pela atenção, ela percebia que havia algo de superficial nas promessas de Álvaro. Mas o jogo de sedução a divertia, e ela decidiu seguir na dança.

Com o decorrer dos meses, Álvaro foi se envolvendo cada vez mais com Isabela, mas sempre com um pé atrás. Ele a via como um meio para alcançar seus objetivos. Quando finalmente pediu sua mão em casamento, ele estava convencido de que tinha enganado a moça. 

Casaram-se em uma cerimônia belíssima, rodeados por amigos e familiares, e Álvaro não podia deixar de pensar o quanto foi bem sucedido o seu plano.

No entanto, a verdadeira trama começou a se desenrolar após o casamento. Isabela, que parecia ser a moça ingênua que Álvaro pensava ter enganado, revelou-se uma mulher astuta e determinada. Ela não era apenas uma herdeira de um grande patrimônio, era também uma empresária perspicaz, bem informada sobre os negócios de seu pai e sobre como o mundo funcionava. Aos poucos, ela começou a perceber que Álvaro não era o homem que ele havia pintado em suas histórias.

Certa noite, enquanto Álvaro se gabava de seus “feitos” em uma conversa, Isabela decidiu dar o troco. Com um sorriso enigmático, ela começou a contar histórias sobre suas próprias "aventuras". Falou sobre como havia viajado por terras distantes, feito investimentos inteligentes e se envolvido em negócios lucrativos. 

Álvaro, que estava acostumado a ser o centro das atenções, começou a se sentir desconfortável. Ele percebeu que Isabela não era uma moça desavisada, mas uma mulher que poderia, de fato, ser sua parceira em vez de apenas um troféu.

As semanas se passaram, e Álvaro se viu cada vez mais encurralado. Isabela começou a administrar os bens do casal com uma habilidade que ele nunca imaginara. As histórias de suas "aventuras" se tornaram realidade, e logo ele percebeu que sua esposa era mais do que apenas uma herdeira: ela era uma força a ser reconhecida. O que ele via como uma conquista se transformou em um desafio, e a verdade começou a emergir.

Certa manhã, enquanto Álvaro revisava as contas da casa, encontrou um documento que o deixou intrigado. Era um contrato de sociedade que Isabela havia assinado com um grupo de investidores. Ao ler os detalhes, percebeu que Isabela não apenas conhecia o valor do dinheiro, mas também sabia como multiplicá-lo. O que ele pensava ser uma vida de luxo às custas da fortuna dela se tornara uma parceria em que ele não tinha controle.

Com o passar do tempo, a confiança que Álvaro tinha em sua própria capacidade de manipulação começou a desmoronar. Ele se sentia cada vez mais impotente e, em suas tentativas de manter a aparência de um marido bem sucedido, começou a mentir indiscriminadamente. Mas, para a sua surpresa, Isabela estava sempre um passo à frente. Ela sabia de suas mentiras e, em vez de confrontá-lo de imediato, decidiu usar isso a seu favor.

Certa noite, enquanto Álvaro tentava impressionar os amigos em um jantar, ele começou a contar uma história que envolvia uma conquista de negócios que, na verdade, nunca havia acontecido. Isabela, com um sorriso no rosto, interrompeu-o. “Álvaro, você se esqueceu de mencionar aquele investimento que fizemos juntos, não é? O que você está contando é um pouco diferente da realidade.” 

O silêncio que se seguiu foi ensurdecedor. Os amigos de Álvaro trocaram olhares confusos, e ele percebeu que a máscara estava prestes a cair.

A partir daquele momento, Isabela começou a tomar as rédeas da situação. Ela não fez um escândalo, em vez disso, usou sua inteligência e astúcia para transformar a dinâmica do relacionamento. Com um jeito gentil, mas firme, ela começou a fazer com que Álvaro percebesse o valor da honestidade. Ele, que pensava ter enganado a moça, agora se via engolido por suas próprias mentiras.

Isabela não apenas se tornou a administradora dos bens do casal, mas também a mentora de Álvaro. Com paciência e compreensão, ela o ensinou sobre a importância da transparência, da verdade e da parceria. Ele começou a perceber que suas mentiras não o protegiam, mas o isolavam. A vida a dois se transformou em um aprendizado mútuo, onde ambos se tornavam melhores a cada dia.

Com o tempo, Álvaro aprendeu a ser mais verdadeiro, não apenas consigo mesmo, mas também com Isabela. O amor que antes parecia baseado em interesses tornou-se uma relação autêntica, onde ambos se apoiavam e cresciam juntos. Ele começou a admirar a força e a determinação de sua esposa, e, mesmo que o início de sua história tivesse sido repleto de erros, o final prometia ser diferente.

Anos depois, quando olhavam para trás, ambos riam das artimanhas que haviam usado no início de seu relacionamento. Álvaro percebeu que, embora tivesse tentado enganar Isabela, foi ela quem realmente o havia ensinado sobre o amor verdadeiro. Em vez de um conto de fadas, sua história era uma narrativa de crescimento, de superação e de aprendizado mútuo.

E assim, a lição ficou clara: as mentiras podem enganar por um tempo, mas a verdade sempre se revela. Na dança do amor, quem tenta manipular pode acabar sendo o manipulado, e o que parece um jogo de interesses pode se transformar em uma parceria genuína.
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JOSÉ FELDMAN nasceu na capital de São Paulo. Formado em patologia clínica, não concluiu o curso superior de psicologia. Foi enxadrista, professor, diretor, juiz e organizador de torneios de xadrez a nível nacional durante 24 anos; como diretor cultural organizou apresentações musicais; trovador da UBT São Paulo e membro da Casa do Poeta “Lampião de Gás”. Foi amigo pessoal de literatos de renome (falecidos), como Artur da Távola, André Carneiro, Eunice Arruda, Izo Goldman, Ademar Macedo, Hermoclydes S. Franco, e outros. Casado com a escritora, poetisa e tradutora professora Alba Krishna mudou-se em 1999 para o Paraná, morou em Curitiba e Ubiratã, radicou-se definitivamente em Maringá/PR em 2011. Consultor educacional junto a alunos e professores do Paraná e São Paulo. Pertence a diversas academias de letras e de trovas, como Academia Rotary de Letras, Academia Internacional da União Cultural, Academia de Letras Brasil-Suiça, Academia de Letras de Teófilo Otoni, Confraria Brasileira de Letras, Confraria Luso-Brasileira de Trovadores, Academia Virtual Brasileira de Trovadores, União Brasileira dos Trovadores, etc, possui o blog Singrando Horizontes desde 2007, com cerca de 20 mil publicações. Atualmente assina seus escritos por Campo Mourão/PR, onde pertence a entidades da região. Publicou mais de 500 e-books. Dezenas de premiações em trovas e poesias.

Fontes: 
José Feldman. Labirintos da vida. Maringá/PR: Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul.
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing

Vereda da Poesia = 207


Trova de
PROFESSOR GARCIA
Caicó/ RN

No teu olhar eu contemplo
seja no instante que for,
mãe - o viés de um exemplo,
dando-me, exemplos de amor!
= = = = = = = = =  

Poema de
MACHADO DE ASSIS 
Rio de Janeiro/RJ, 1839 – 1908

Maria

Maria, há no seu gesto airoso e nobre,
Nos olhos meigos e no andar tão brando,
Um não sei quê suave que descobre,
Que lembra um grande pássaro marchando.

Quero, às vezes, pedir-lhe que desdobre
As asas, mas não peço, reparando
Que, desdobradas, podem ir voando
Levá-la ao teto azul que a terra cobre.

E penso então, e digo então comigo:
"Ao céu, que vê passar todas as gentes
Bastem outros primores de valia.

Pássaro ou moça, fique o olhar amigo,
O nobre gesto e as graças excelentes
Da nossa cara e lépida Maria".
= = = = = = = = =  

Trova de
DINAIR LEITE
Paranavaí/PR

A voragem da paixão
é como um barco sem rumo,
deriva sem direção,
sem timoneiro e sem prumo…
= = = = = = 

Poema de
VANICE ZIMERMAN
Curitiba/PR

Tudo dá saudade...

De madrugada,
Deixei as dobras
Da camisa de seda,
Feito
Pequenas ondas acariciarem
Meus seios, colo e braços...
Hoje de madrugada,
Entreguei-me às lembranças
Da maciez dos teus lábios
Doce invasão - permitida -
Do gosto delicioso e único
Dos teus beijos –
Deixei que as notas mescladas
Dos nossos perfumes me envolvessem,
Intensamente...
Hoje de manhãzinha,
Deixei as gotas de orvalho
Umedecerem meu corpo,
Banharem minh'alma
E senti  a presença do teu vento,
Do toque Sutil – incandescente
Das tuas mãos, desvendando
Com as pontas dos dedos
Caminhos em mim -
Tudo dá saudade...
= = = = = = 

Trova de
JOSÉ REGINALDO PORTUGAL
Bandeirantes/PR

Estes carecas sofridos,
sem cabelos ... que ironia,
deixam piolhos perdidos
por falta de moradia!
= = = = = = 

Poema de
DOMINGOS FREIRE CARDOSO
Ilhavo/ Portugal

Tu deixaste a leitura interrompida
(Mário Quintana, in “Rua dos Cataventos”)

Tu deixaste a leitura interrompida
Nas linhas de um parágrafo qualquer
Quando foste atender uma mulher
Que à porta perguntava por guarida.

O livro que tu lias era a vida
Prosseguir a leitura era mister
Mas tu, que sempre acolhes quem vier
Disseste que a visita era querida.

Não lhe viste esse olhar desfigurado
Nem a foice cravada no cajado
Quando ela em tua casa se instalou.

Para te dar trouxe as trevas e um açoite
E ao partir, logo nessa mesma noite
Com ela, de mãos dadas, te levou…
= = = = = = = = = 

Trova de
DOROTHY JANSSON MORETTI 
Três Barras/SC, 1926 – 2017, Sorocaba/SP

Em cada tarde a cair,
vejo a vida em agonia,
aos poucos se despedir
na morte de mais um dia.
= = = = = = 

Soneto de
OLAVO BILAC
Rio de Janeiro/RJ, 1865 – 1918

Surdina

No ar sossegado um sino canta,
Um sino canta no ar sombrio...
Pálida, Vênus se levanta...
Que frio!

Um sino canta. O campanário
Longe, entre névoas, aparece...
Sino, que cantas solitário,
Que quer dizer a tua prece?

Que frio! Embuçam-se as colinas;
Chora, correndo, a água do rio;
E o céu se cobre de neblinas...
Que frio!

Ninguém... A estrada, ampla e silente,
Sem caminhantes, adormece...
Sino, que cantas docemente
Que quer dizer a tua prece?

Que medo pânico me aperta
O coração triste e vazio!
Que esperas mais, alma deserta?
Que frio!

Já tanto amei! Já sofri tanto!
Olhos, por que inda estais molhados?
Por que é que choro, a ouvir-te o canto,
Sino que dobras a finados?

Trevas, caí! que o dia é morto!
Morre também, sonho erradio!
- A morte é o último conforto...
Que frio!

Pobres amores, sem destino,
Soltos ao vento, e dizimados!
Inda vos choro... E, como um sino,
Meu coração dobra a finados.

E com que mágoa o sino canta,
No ar sossegado, no ar sombrio!
Pálida, Vênus se levanta...
Que frio!
= = = = = = 

Trova de 
IZO GOLDMAN
Porto Alegre/RS, 1932 – 2013, São Paulo/SP

A casa toda quebrada,
e o casal diz numa "boa":
- Mas que furacão, que nada,
foi só uma briguinha à-toa!...
= = = = = = 

Soneto de
AUTA DE SOUZA
Macaíba/RN, 1876 – 1901, Natal/RN

Flores

Quando começa a raiar
O dia cheio de amor,
Eu gosto de contemplar
O coração de uma flor,

Desmaiada e tremulante,
Pendendo triste no galho,
Tendo o pistilo brilhante
Embalsamado de orvalho:

A rosa só me parece,
Assim tão casta e sem véu,
Um anjo rezando a prece
Um’ alma voando ao Céu.

Do jasmim puro e mimoso,
A corola embranquecida,
É como um seio formoso
De criança adormecida.

Esqueço-me, então, das horas
A contemplar estas flores,
As violetas, auroras,
Saudades, lindos amores.
= = = = = = = = =  

Trova de
PAULO WALBACH PRESTES
Curitiba/PR, 1945 – 2021

A canção que agora faço
vem da alma e do coração,
vem do céu e vem do espaço
esta minha inspiração!
= = = = = = 

Haicai de
GUILHERME DE ALMEIDA
Campinas/SP 1890 – 1969 São Paulo/SP

Outubro

Cessou o aguaceiro.
Há bolhas novas nas folhas
do velho salgueiro.
= = = = = = 

Poema de
CLÁUDIA CAROLA
Sesimbra/ Setúbal/ Portugal

Procura

Tenho saudades tuas, do teu abraço 
Tenho saudades de te ter no meu regaço 
Tenho saudades dos beijos tão intensos
Dos nossos diálogos pela noite, extensos

Tenho saudades da tua pele doce e quente
Tenho saudades do teu olhar que não mente
Tenho saudades de ao ouvido te sussurrar 
Tenho muitas saudades de te namorar

Porque és de outros tempos, outras eras
Porque continuamos em diferentes esferas
Porque nesta vida ainda não nos cruzamos
Porque nestes corpos ainda não nos amamos

Continuamos na demanda do nosso amor
Continuamos a caminhar curando a dor
Continuamos com fé que nos vamos encontrar 
Continuamos a acreditar que nos vamos amar
= = = = = = 

Trova de
LUIZ PIZZOTI FRAZÃO 
???? – 1998, Niterói/RJ

Almas sensíveis, tocadas
pelo frio do abandono,
são como as tardes nubladas
e as noites tristes de outono…
= = = = = = 

Hino de 
JARDIM DO SERIDÓ/ RN

Quando o século dezoito findava
Dentre a lusa colonização
Ó, Jardim, tu nasceste tão alva,
Na fazenda de gado e algodão!
Embalaram teus sonhos os coqueiros
Que, no Cobra, se encontram altaneiros,
Enfeitando os céus do sertão!
Conceição do Azevedo,
Terra do amor!
Teu passado fulgente
Assegura o teu valor!
O teu solo e tua gente
Bem refletem sob o sol;
Vida e grandeza!
Salve Jardim do Seridó.
Tu surgiste entre rios e lajedo
E com fé, muito amor e emoção,
O segundo Antônio de Azevedo
Te sonhou: Vila da Conceição!
Hoje, alegres, teus filhos decantam
O progresso, a vida em flor!
Berço amigo de paz e de amor!
= = = = = = = = =  

Soneto de
BENEDITA AZEVEDO
Magé/ RJ

Viver o agora

Chegou o tempo de viver o agora
Essa proposta que a vida nos trás
E o nosso coração sempre elabora
Uma resposta que a nós satisfaz.

Navegando por águas mais tranquilas
Com  esta  vontade e a mente bem  leve
Poderá, com certeza,  então segui-las:
 Paz, Alegria e a estima que eleve.

E nesta liberdade  que terá
Sem ter de pra ninguém justificar
Qualquer coisa que faça lá ou cá.

Portanto amiga seja bem feliz
Com  tanto amor só pode conquistar
A vida sem censura como diz.
= = = = = = = = =  = = = = 

Trova de
ANTONIO JURACI SIQUEIRA
Belém/PA

Na tua imagem gravada
sobre as dunas da ilusão,
deixei, em cada pegada,
pedaços do coração!...
= = = = = = = = = 

Uma Lengalenga de Portugal
ERA UMA VEZ…
 
Estas lengalengas eram usadas como efeito cômico, quando as crianças pediam a alguém que lhes contasse uma história e o narrador não tinham nem tempo, nem paciência para as contar, calando-as com estas rimas curtas.

Era uma vez
 Uma galinha perchês
E um galo francês
Eram dois
Ficaram três…
Queres que te conte outra vez?
 
*** 
Era uma vez uma vaca
Chamada Vitória
Morreu a vaquinha
Acabou-se a história
E depois?
Depois…
Morreram as vacas
Ficaram os bois
= = = = = = = = =  

Trova Popular de
AUTOR ANÔNIMO

Eu quero bem à desgraça
que sempre me acompanhou;
mas tenho ódio à ventura,
que bem cedo me deixou.
= = = = = = = = =  

Poema de
DANIEL MAURÍCIO
Curitiba / PR

De repente

De repente
Um quê de fada,
De anjo, de estrela,
Brilhou diferente entre os cachos de flores.
Borboletas...
Pequenas e ligeiras
Almas com asas,
Tingidas com pó de arco-íris
Rasgam o vento tão leve
Tal como o sono inocente.
Sonha em mim,
Coração em pétalas 
No suave pousar das borboletas.
Em silêncio falam aos meus olhos
De um mundo de paz, 
Amor e poesia. 
= = = = = = = = =