Fonte: Espaço Das |
POEMA LIVRE
Mastigo um pedaço de lua
e como um segredo de Deus,
que é dia de festa:
no céu,
no mar,
no lar.
Rumino um bocado de sol
e tomo um refresco de azul,
que é dia o que resta:
do bem,
do mal,
do caos.
No céu que a gente faz dentro,
concentro todo o mar
que não vi,
o lar
que eu vivi,
o céu
que eu cri.
Do bem que a gente concentra,
contemplo todo o mal
que não cri,
o caos
que eu vivi,
o bem
que eu vi.
Lua, Deus, sol e azul, livres, são
de mim o mais humano
que experimento,
o mais de mim que eu reinvento,
e os tento,
não como sendo um herege,
mas como sendo um discípulo,
alguém.
CORAÇÃO PEQUENINO
No pequenino coração que Deus me dera, couberam, cabem e caberão todas as coisas. Todas as coisas?! Não!... Todas as formas, cores, cheiros, sabores e ruídos de todas as coisas...
De barbante e papel,
em perfeito destino,
levo em mim o troféu:
coração pequenino.
Não me deixam o céu,
as nuances do sino,
mas escuto o escarcéu:
coração pequenino.
Fosse grande o bastante
para honrar seu intento,
eu, menino e gigante,
dava a si este alento,
de bater com quem cante
seu pequeno lamento.
TODO ADEUS
Num adeus que nunca digo,
digo mais do que já disse,
calo mais do que eu queria,
só me resta, então, poesia.
Num adeus que nunca sigo,
sigo mais do que seguiste,
paro mais do que a poesia,
que me move o dia a dia.
Sob os pés, já sinto os egos
que me espetam; sem alarde,
piso em ovos: tantos eus!...
Lenços brancos, elos cegos,
e uma cor me diz que é tarde,
mudo e cinza todo adeus.
UM PEQUENO AMOR
Num canteiro assim,
entre a pedra e a flor,
foi que eu fiz pra mim
um pequeno amor.
Num cantinho assim,
entre a terra e o andor,
foi que eu quis sem fim
um pequeno amor.
Sob as asas mágicas
de um perfeito anjinho,
enxuguei as lágrimas
de uma flor sem ninho,
pequeninas páginas,
grande amor mindinho.
DE CINZAS
de sonhos, a quinta
de chopes, a sexta
de churros, o sábado
de reza, o domingo
de trampo, a segunda
de sambas, a terça
de cinzas, a quarta
UM AMIGO VAI-SE EMBORA...
Numa noite sem estrelas,
um amigo vai-se embora,
e eu me privo de retê-las
neste colo, feito a aurora.
Numa noite sem estradas,
um amigo vai-se embora,
e eu me privo das amadas
que me olham toda hora.
Numa noite sem ninguém,
um amigo vai-se embora,
e eu embarco nesse trem
que só parte e até decora
meu trajeto para o além:
longe, muito longe, agora...
O PEQUENO PEREGRINO
O pequeno peregrino
pede pão em cada esquina;
molecote, tão menino,
e já sofre, e cumpre a sina!
O pequeno peregrino
nem seu nome não assina;
o corpinho, pequenino,
n'alma, grande, peregrina.
Já faz tempo, velho amigo,
que esse pobre perambula,
mas não pede mais abrigo...
Quando pede, se encabula,
volta os olhos, vem comigo;
sem remédio, a vida é bula.
UMA CAIXA DE SAPATO
Entre lobos sem estepe,
surge a caixa de sapato;
numa esquina, puro rap,
pressa, caixa, desacato.
Um pedestre, um "serelepe",
cheira a caixa de sapato;
não importa que se estrepe,
deixa a caixa: triste fato.
Entre lobos de gravata,
chapeuzinhos de Ray-Ban,
"patricinhas" de regata,
dorme a caixa, serenata;
nela, um baby sem mamã
morde a caixa, se desata.
Fonte:
Poemas enviados pelo poeta
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Levo a prosa e a poesia,
através de um boletim,
e também toda a magia
que elas trazem para mim.