quinta-feira, 16 de maio de 2024

Vereda da Poesia = 8 =


UMA TROVA

Maria Helena Uruhahy Campos Fonseca
Angra dos Reis/RJ

Eu juro, falo a verdade,
em noite morna, altaneira,
eu me escondo da saudade
no livro de cabeceira.
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UM SONETO

Auta de Souza
Macaíba/RN, 1876 – 1901, Natal/RN

PÁGINA TRISTE

Há muita dor por este mundo afora,
Muita lágrima à toa derramada;
Muito pranto de mãe angustiada
Que vem saudar o despontar da aurora!

Alma inocente só de amor cercada
A criancinha a soluçar descora,
Talvez no berço onde o menino chora
Também, ó Dor, tu queiras, desolada,

Erguer um trono, procurar guarida...
Foge do berço! não magoes a vida
Desta ave implume, lirial botão...

Queres um ninho, um carinhoso abrigo?
Pois bem! procura-o neste seio amigo,
Dentro em minh'alma, aqui no coração!
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UMA QUADRA

Antonio Aleixo
(António Fernandes Aleixo)
Vila Real de Santo António/Portugal, 1899 — 1949, Loulé/França

Da guerra os grandes culpados,
Que espalham a dor na terra,
São os menos acusados
Como culpados da guerra.
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UMA POESIA

Carolina Ramos
Santos/SP

SE ELA CHEGAR...

Se ela chegar... eu rogarei baixinho;
- Não te aproximes! Vai! Esquece-o... Parte!
Que ele nem te pressinta!... O seu carinho
é meu... só meu... quem ama não reporte!

Nosso amor é sereno. Tão sereno,
que nem teme rivais! Se sou amada,
amo, também! Afeto puro e pleno,
que o entardecer transforma em alvorada!

Implorarei em prantos; - Não o leves!
Deixa-o comigo... Vês? Inda é tão cedo!
Nossas horas de amor foram tão breves,
tão breves quanto foi nosso segredo!

Mostrarei o teu rosto, belo e calmo,
tal como o vejo agora, meu querido...
Provarei que és feliz e, palmo a palmo,
defenderei teu corpo adormecido.

Tuas mãos - lhe direi - guardam carícias
somente minhas, apesar de o mundo
bafejá-las de intrigas e malícias!
Vai! - pedirei! E com fervor profundo,

esmolarei, ainda, uma migalha,
uma fração de tempo! E, suplicante,
meu coração, beijando-lhe a mortalha,
há de rogar-lhe nesse cruel instante:

- Bem sabes... tanta gente, em vão te espera
e tresloucada, às vezes, te procura!
Vai buscar essa gente sem quimera!
Deixa em paz nosso ninho de ternura!

Esquece que existimos. E, algum dia,
já velhinhos, já trôpegos, cansados,
de tua porta, iremos à porfia,
para beijar-te os mãos, sempre abraçados!

Se ela chegar... e se me ouvir paciente,
ela, que alma não tem, terá piedade,
levará minha angústia, tão somente,
sem acender o círio da saudade!

Contudo, ela chegou! Levou-te, amigo,
alheia ao meu clamor desesperado!
Nem quis a vida que deixou comigo,
cuja metade eu lhe teria dado!

Restou somente a solidão enorme...
O frio intenso... esse terrível frio
que enregela de dor um inconforme,
um pobre e triste coração vazio!…
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UM TRIVERSO TRAVESSO 

A. A. de Assis
Maringá/PR

Ah, havia o espaço
e no espaço havia ação.
Apertem os cintos.
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UM POEMA

Daniel Maurício
Curitiba/PR

O céu de tão azul
Estava um tipo Mário Quintana
E até a minh'alma mundana
Ganhou uma veste celeste
Mesmo sem saber que era prece
Ver o voar da Tesourinha
Que cortava o céu
E costurava sem linha
Um manto azul,
De um toque quase sagrado
Para aqueles que foram perdoados
E nem perguntaram o porquê.

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Levo a prosa e a poesia,
através de um boletim,
e também toda a magia
que elas trazem para mim.