Julho iniciou com o cinza mastigando o azul em mordidas pequenas, e construiu com elas uma colcha opaca que impede o sol de sorrir.
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ESPADACHIM
Desenhou com a espada a rosa dos ventos: queria delimitar as direções que tomaria.
Seguiu uma: a da cama dela.
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ESPUMAS
Poetizando, o mar espumou a praia: em cada bolha, versos em redondilha.
A menina brincando com os pés na água, não sabendo ler, os desfez.
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FALTA DE PASSADO
Atônita, Eva repreendeu Caim pelo assassinato; ao que ele, ainda cobrando, lhe perguntou:
– Exemplo, mamãe, que exemplo você deu?
Não soube o que dizer.
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FRIVOLIDADE
Na casa de Zezé não tem pão, não tem café; mas tem batom e tem rapé…
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INFÂNCIA
À beira da calçada, o copo com água e sabão e a haste de arame envergado faziam sonhos, felicidade magia.
Todos assoprados nas bolhas de sabão.
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INVEJA OU TRISTEZA?
A borboleta mostrava às flores o lindo vestido. A mariposa amarfanhada e bêbada, disse:
– Já fui assim, menos colorida, mas fui…
Lágrima escorreu.
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PERCEPÇÃO
No desfile, o plocploc dele é diferente dos plocplocs dos demais. Então da plateia, uma égua relincha:
– sapatos novos, hein garanhão?
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VAZIO
O negror se abre para a lua. Com ela, o frescor recolhe pessoas, mas, na madrugada, uivados vadios quebram o silêncio.
– É a voz da solidão.
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VIDA CURTA
A noite efêmera se deitou fria.
Pessoas se banharam, vestiram-se e se amaram. Quando deu conta, o sol lambia seus pés.
Fonte: Renato Benvindo Frata. 200 microcontos… e mais alguns. Paranavaí/PR: Ed. Paranavaí, 2016. Enviado pelo autor.
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