segunda-feira, 24 de junho de 2024

Vereda da Poesia = 43 =


Trova Humorística de São Paulo/SP

RENATA PACCOLA

Rico cinquentão? Coitado!
Quisera que fosse assim!
Ele anda mais apertado
que pasta dental no fim!
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Soneto Humorístico de Sorocaba/SP

DOROTHY JANSSON MORETTI
Três Barras/SC, 1926 – 2017, Sorocaba/SP

Causa Mortis
 
Todo mundo que chegava
ao velório do Candinho,
penalizado, falava:
- Morreu como um passarinho.
 
Um bebum que ali se achava,
curioso, entre o burburinho,
a cada passo escutava:
- Morreu como um passarinho.
 
Chega alguém que, comovido,
pergunta-lhe ao pé do ouvido:
- De que a morte foi causada?
 
E o bebum, em tom de prece:
- Também não sei, mas parece
que foi de uma estilingada.
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Aldravia do Rio de Janeiro/RJ

MESSODY RAMIRO BENOLIEL

dúvidas
estremecem
relacionamentos
quando
permanecem
presentes
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Soneto de de Santos/SP

CAROLINA RAMOS

Naufrágio

Neste oceano da vida, tumultuoso,
Lancei, cheio de sonhos, um barquinho.
E ele flutuou e deslizou airoso,
Vencendo os empecilhos do caminho!

Nos momentos difíceis, sem repouso,
Depressa ia ampará-lo o meu carinho
E ansiosa eu via, com secreto gozo,
Meus sonhos desafiando os torvelinhos!

E chegaste! E de pedra era tua alma!
De papel, o barquinho... e tenso e mudo,
Ficaste, quando o mar perdeu a calma!

Contra o recife, o barco soçobrou!
E os sonhos, sem guarida, ao fim de tudo,
Um a um, impiedoso, o mar levou!
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Trova Premiada em Natal/RN, 2022

ARTHUR THOMAZ
(Arthur Thomaz da Silva Neto)
Campinas/SP

Quando perto, o trem apita,
batem forte os corações…
Tudo na estação se agita,
provocando as emoções.
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Poema de Porto Alegre/RS

LUCIANA CARRERO

Bloco Súbito

Eis aqui a cidade
bloco súbito de concreto
plantada na simplicidade
da paisagem - pelo arquiteto

Nela o homem-multidão
tal compacto rio
e o ídolo – destacável cidadão
que a consciência grupal pariu

Indivíduo impotente
na massa comprimido
logra êxito na corrente
que fabrica seu ídolo

Nele se satisfaz
por fim realizado (?)
Nada lhe resta mais
na multidão segregado
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Quadra Popular

Sei que pareço um ladrão...
mas há muitos que eu conheço
que, não parecendo o que são,
são aquilo que eu pareço.
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Soneto de Vitória/ES

BERNARDO TRANCOSO
(Bernardo Sá Barreto Pimentel Trancoso)

A Rosa Branca

Tantas púrpuras rosas no rosal;
Grosas e grosas, tão bonitas rosas;
Entre as rosas vultosas, majestosas,
Brota uma branca rosa, desigual.

Meu olhar só percebe a rosa tal;
Prefere-lhe, entre rosas mais charmosas;
Rosas prá te dizer que, em meio às grosas,
És como a rosa branca, especial.

Tens no andar que alucina novas cores;
É por ter novas cores que alucina;
És preferida, dentre mil amores.

Como a flor no rosal, tão pequenina
Que, perante outras mais formosas flores,
Difere e, o coração, logo ilumina.
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Trova do Rio de Janeiro

HERMOCLYDES S. FRANCO
(Hermoclydes Siqueira Franco)
Niterói/RJ (1929 – 2012) Rio de Janeiro/RJ

Tenho um cão chamado THÉO,
grande amigo, inseparável...
Ao meu lado, está no céu
e eu me sinto invulnerável!
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Poema de Angola

ALDA LARA
Benguela, 1930 – 1962, Cambambe

As belas meninas pardas

As belas meninas pardas
são belas como as demais.
Iguais por serem meninas,
pardas por serem iguais.

Olham com olhos no chão.
Falam com falas macias.
Não são alegres nem tristes.
São apenas como são
todos dos dias.

E as belas meninas pardas,
estudam muito, muitos anos.
Só estudam muito. Mais nada.
Que o resto, trás desenganos.

Sabem muito escolarmente.
Sabem pouco humanamente.

Nos passeios de domingo,
andam sempre bem trajadas.
Direitinhas. Aprumadas.
Não conhecem o sabor que tem uma gargalhada
(Parece mal rir na rua!...)

E nunca viram a lua,
debruçada sobre o rio,
às duas da madrugada.

Sabem muito escolarmente.
Sabem pouco humanamente.

E desejam, sobretudo, um casamento decente...

O mais, são histórias perdidas...
Pois que importam outras vidas?...
outras raças?... , outros mundo?...
que importam outras meninas,
felizes, ou desgraçadas?!...

As belas meninas pardas,
dão boas mães de família,
e merecem ser estimadas...
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Haicai de Irati/PR

ELISSON THOMAZ SVEREDA

Lembro de meu pai
Debruçado na janela.
Noitinha de outono.
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Sextilha Agalopada de Caicó/RN

PROFESSOR GARCIA

Foi voando nas asas dos condores
agarrado nas mãos celestiais,
que senti os prazeres infinitos
e a doçura dos beijos das vestais;
musas virgens da sã sabedoria
que enfeitiçam poetas imortais!
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Trova de Maringá/PR

JORGE FREGADOLLI

Borboleta beijoqueira
dá beijos em cada flor.
Voando solta, fagueira,
vai fecundar seu amor. 
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Glosa de Catanduva/SP

ÓGUI LOURENÇO MAURI

É a primavera chegando...
 
 MOTE
As flores estão voltando,
colorindo tudo... Enfim,
é a Primavera chegando,
perfumando meu jardim.
 José Feldman 
(Campo Mourão/PR)
 
 GLOSA
 As flores estão voltando,
denunciam seus odores;
o vento chega mais brando
nos cenários multicores.
 
É a pintora Natureza
colorindo tudo... Enfim,
lindo toque de beleza
que, à mão de Deus, fica assim!
 
Meu astral se eleva quando
vejo toda essa pintura;
é a Primavera chegando,
como é linda enquanto dura!
 
Pena que, com tanto zelo,
falte uma flor para mim;
a rosa do teu cabelo
perfumando meu jardim.
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Aldravia do Rio de Janeiro/RJ

REGINA COELI NUNES

rosto
sempre
triste
promove
rugas
subalternas
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Soneto de Minas Gerais

NATHAN DE CASTRO
(Nathan de Castro Ferreira Júnior)
João Pinheiro/MG, 1954 – 2014, Uberlândia/MG

Soneto de setembro

Com voz de trovoada e olhos de coriscos,
o céu de cara feia afugenta o soneto.
Arrisco-me no verso livre, em branco e preto:
cantigas de setembros, chuvas e rabiscos

Sinais de tempestades, flores, borboletas?
Versos de folhas verdes nas mãos do Poeta?
Quiçá, quem sabe a terra ensinando-me as letras
das cepas dos coqueiros de praias desertas?!

Canções de erva-cidreira, picão e canela,
remédios para curar as paixões de agosto...
Sementes nos canteiros de eterno desgosto?

Verso livre com cheiro de amor - primavera -
abóbora madura (onde estão minhas feras?).
Silêncio, outro soneto, e um sorriso no rosto.
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Trova Premiada em Ribeirão Preto/SP, 2007

RITA MOURÃO 
Ribeirão Preto/SP

Seria a paz mais presente
e o porvir menos incerto
se na mão do adolescente
sempre houvesse um livro aberto!
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Poema do Rio de Janeiro/RJ

ARNOLDO PIMENTEL FILHO

Aquarela

Eu pinto sonhos que nem sempre têm asas
Sonhos vividos
Sonhos esquecidos
Sonhos que poderão viver na minha tela
Na minha triste aquarela
Minha tela pode estar pintada de vazio
Silêncio vazio
Cores incolores que mostram meu rosto
Tela vazia incolor que inspira minhas cores
Eu pinto meus temores na madrugada
Onde a tempestade é a verdadeira tela
Onde a solidão disfarçada
Invade o meu quarto pela janela
Eu pinto a solidão do meu corpo
Pinto as cores da minha voz nua
Pinto meus olhos perdidos no infinito
Minha tela é meu próprio grito
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Triverso de Curitiba/PR

ROSÂNGELA JACINTO DA SILVA

À beira do mar.
Como se fosse num espelho
o brilho da Lua.
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Setilha Sobre o Mar, de Crato/CE

JOSENIR LACERDA

Fim de tarde, “mar” revolto
As ondas beijando a praia
No horizonte luminoso
O sol cansado desmaia
É cena da natureza
Plena de garbo e Beleza
Que um novo dia ensaia
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Trova de Juiz de Fora/MG

CEZÁRIO BRANDI FILHO

Quanta gente gostaria
de ter a vida da gente,
sem saber que isto seria
trocar tristeza somente. 
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Hino de Angelina/SC

1. 
Entre os montes, a verde campina
Foi o berço da Vila Mundéus,
Que mais tarde chamou-se Angelina
E cresceu com as bênçãos de Deus.

A fé na Gruta de Angelina
Este povo ensina a viver melhor,
O homem faz a trajetória, construindo a história
De um Brasil maior.

2. 
Gratidão este canto encerra
Para aquele que a Vila fundou;
O suor derramado na terra
Foi semente que frutificou.

3. 
Estudantes e agricultores
Cumprem juntos a mesma missão;
Uns cultivam dos livros as flores,
Outros tiram riquezas do chão.

4. 
Os minérios são nova mensagem
Que Angelina ao mundo traduz;
O seu rio abastece a Barragem,
Rica fonte de força e de luz.
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Poetrix de Espinho/Portugal

ANA OLIVEIRA

o lobo mau e a sua esquizofrenia

cortaram ligações
ao tálamo,
na lobotomia.
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Poema dos Estados Unidos

E. E. CUMMINGS
(Edward Estlin Cummings) 
Cambridge/Massachussets, 1894 – 1962, Madison/New Hampshire

O Primeiro de Todos os Meus Sonhos 

o primeiro de todos os meus sonhos era sobre
um amante e o seu único amor,
caminhando devagar (pensamento no pensamento)
por alguma verde misteriosa terra

até o meu segundo sonho começar—
o céu é agreste de folhas; que dançam
e dançando arrebatam (e arrebatando rodopiam
sobre um rapaz e uma rapariga que se assustam)

mas essa mera fúria cedo se tornou
silêncio: em mais vasto sempre quem
dois pequeninos seres dormem (bonecas lado a lado)
imóveis sob a mágica

para sempre caindo neve.
E então este sonhador chorou: e então
ela rapidamente sonhou um sonho de primavera
—onde tu e eu estamos a florescer

(Tradução de Cecília Rego Pinheiro)
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Trova Humorística de Maringá/PR

A. A. DE ASSIS
(Antônio Augusto de Assis)

Melhor idade?… Bobagem…
lorota antiga… falácia…
– Velhice só traz vantagem
para o dono da farmácia!
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Fábula em Versos da França

JEAN DE LA FONTAINE 
Château-Thierry, 1621 – 1695, Paris

A Rã e o Boi

Num prado uma rã
Um boi contemplou,
E ser maior que ele
Vaidosa intentou.

A pela enrugada
Inchando alargou,
E às leves irmãs
Assim perguntou:

- Maior que o Boi
Ó Manas, já sou?
- Não és, lhe disseram
E a rã lhes tornou:

- E agora, inda não?
E mais ainda inchou;
Eis logo de todas
Um não escutou.

Inchar-se invejosa
De novo buscou,
Mas dando um estouro
A vida acabou.

Também, se em grandeza
Vencer procurou
O pobre ao potente,
Por força estourou.
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colaborações: gralha1954@gmail.com

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através de um boletim,
e também toda a magia
que elas trazem para mim.