RODOLPHO ABBUD
1926 – 2013
Não há analista que explique
no enterro, à pobre viuvinha:
Bem maior que o seu chilique,
era o choro da vizinha !...
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
Poema da Espanha
MIGUEL DE UNAMUNO
Bilbao, 1864 - 1936, Salamanca
Oração do Ateu
Ouve meu rogo, Deus que não existes,
em teu nada recolhe as minhas queixas.
Tu, que aos homens mais pobres nunca deixas
sem consolo de enganos. Não resistes
a nosso rogo, e ao nosso anseio assistes.
Quando da minha mente mais te afastas,
eu mais recordo essas palavras castas
com que embalou minha ama as noites tristes.
Que grande és tu, meu Deus! Tu és tão grande
que não passas de Ideia; e é tão estreita
a realidade mesmo que se expande
para abarcar-te. Sofro à tua espreita,
inexistente Deus. Pois se viveras
existiria eu também deveras.
(Tradução: Jorge de Sena)
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
Aldravia de Anastácio/MS
FLÁVIA ROHDT
(Flavia Guiomar Ferreira da Silva Rohdt)
cálice
na
boca
desejos
no
coração
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
Soneto de Uberlândia/MG
RAQUEL ORDONES
Eu sou a esperança
E se tudo me parecer arruinado
E se me furtarem a perseverança
Se do orbe eu ficar desencaixado
Preciso crer, eu sou a esperança.
E se o caminho parecer tortuoso
Se lágrima cair da minha criança
Se o adulto de mim for orgulhoso
Preciso crer, eu sou a esperança.
Se a minha flor tende emurchecer
Se eu tropeçar na minha andança
Preciso crer, eu sou a esperança.
Em minha essência algo invisível
Devo empunha-lo e ter confiança
É minha fé, sou minha esperança.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
Trova Premiada em São Paulo/2013
JAIME PINA DA SILVEIRA
São Paulo/SP
Eu divido a minha vida
como se houvesse dois “eus”.
Um antes da despedida.
Outro , após o teu adeus.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
Poema de Lisboa/Portugal
ANTERO JERÓNIMO
Memória adormecida
A revolta corrói por dentro, intensa
no corpo cansado de reprimir
mastigam-se côdeas de desespero no resistir
no dizer não ao sobreviver de sentença
a liberdade atraiçoada em desumana condição
moldes em série de vontades amordaçadas
verdades construídas sobre mentiras subornadas
o cravo encimando espingardas é disforme ilusão
a ignomínia promessa já não cabe nesta hora
aviva as frias cinzas repletas da nossa história
corpo adormecido ergue pensamento d’outrora
onde a coragem encheu páginas de glória.
Acorda breve que o dia já demora
ó Corpo de Gente, adormecido na memória.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
Trova Popular
Um suspiro de repente,
um certo mudar de cor,
são infalíveis sinais
de quem sofre o mal de amor.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
Soneto de Bandeirantes/PR
NEIDE ROCHA PORTUGAL
Êxodo mental
Ficou distante a roça… E, com a venda,
entre a mobília que cortava a estrada
se avolumava o pó, em fina renda,
sobre a “senhora” reduzida ao nada.
.
Noutro lugar, levada à estranha tenda,
não mais se lembra nem da filharada.
Dessa memória, que hoje é pura lenda,
recordou-se de mim… E, na empreitada,
.
tentei trazer à luz essa memória;
reconstruir a “ordem” nessa história,
sem entender por que me reproduz.
.
Do que é capaz um som?… Fiz o que pude:
– Sou a cantiga do sarilho rude
que traz o balde d’água para a luz!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
Trova de São Paulo/SP
IZO GOLDMAN
Porto Alegre/RS, 1932 – 2013, São Paulo/SP
A saudade me consome
e as angústias são pesadas,
quando eu murmuro teu nome
e o vento... dá gargalhadas...
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
Poema de Belo Horizonte/MG
CARLOS LÚCIO GONTIJO
Gonçalves Dias
O sabiá esvoaçante onde canta?
Aonde chega o alto-falante de seu canto?
Manto flamejante em forma de som
Que aos ouvidos somente encanta
Numa promessa de constante tempo bom
Sem a dor lacrimejante da solidão que espanta
Tornam-se afeitas as esperanças mais arredias
E vivo se nos apresenta o poeta Gonçalves Dias!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
Trova Humorística de São José dos Campos/SP
AMILTON MACIEL MONTEIRO
Diz-se um machão da pesada,
valentão que dá no couro,
mas não passa sob escada,
com medo de mau agouro.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
Soneto de Juiz de Fora/MG
HEGEL PONTES
(1932 – 2012)
Estrela da manhã
Estrela da manhã que resplandece
no céu espiritual de minha vida,
vislumbro em seu olhar a mesma prece
que envolve ao longe a solitária ermida.
Brilha no azul. Porém quando escurece,
não passa de uma lágrima perdida
na imensidão da noite que aparece,
de estrelas fulgurantes, revestida.
E, levando meus sonhos noite afora,
eu posso vê-la ainda ao sol nascente,
quando as estrelas todas vão embora.
Pois só você, estrela entristecida,
não tem repouso e brilha suavemente
no céu espiritual de minha vida.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
Trova de Porto/Portugal
EMILIA PEÑALBA DE ALMEIDA ESTEVES
Faz o bem sem ver a quem,
até às pessoas más,
porque o bem faz sempre bem,
Inclusive a quem o faz!...
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
Glosa de Niterói/RJ
ANGELA STEFANELLI DE MORAES
Doce guarida
MOTE:
Modifico a minha vida
quando fico a contemplar
esta estrada tão florida
e os pássaros a cantar.
Alda Corrêa Mendes Moreira
(Niterói/RJ)
GLOSA:
Modifico a minha vida
quando admiro um jardim.
Sinto que tenho guarida
ao vislumbrar o jasmim.
Curo minh’alma ferida
quando fico a contemplar
a alegre margarida
tão doce a desabrochar.
Fico muito embevecida
ao olhar na primavera,
esta estrada tão florida
que me traz tanta quimera.
Admiro a majestade
deste cenário sem-par
que traz amabilidade
e os pássaros a cantar.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
Trova de Curitiba/PR
MARIA DA CONCEIÇÃO FAGUNDES
Ruínas... sonhos contidos
no penoso caminhar...
Passos trôpegos, sofridos,
à noite esperam sonhar.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
Soneto da Bahia
PEDRO KILKERRY
(Pedro Militão Kilkerry)
Santo Antônio de Jesus, 1885 – 1917, Salvador
Taça
Aquela taça de metal que, um dia,
À Laura, um dia assim, lhe oferecera,
Entre relevos delicados de hera,
"Saudade" em letras de rubis trazia.
E era um riso de amor e de poesia
Em cada riso ou flor da primavera...
E Laura, a um canto, cruel, por que a esquecera,
Laura que soluçou, porque eu partia?
Anos derivam. De remorsos presa
Não é que vai, acaso, à soledade
Da abandonada... Vai por fantasia.
Mas, como um choro, vê, vê com surpresa,
Desmancharem-se as letras da "Saudade"
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
Trova Premiada em Natal/RN, 2005
WANDA DE PAULA MOURTHÉ
(Belo Horizonte/MG)
Sem temor, meu barco avança,
seja qual for a maré,
pois no mastro da esperança
iço a bandeira da fé.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
Poema de Itajaí/SC
SAMUEL DA COSTA
Segredar-te
Queria eu falar-te
Ao pé do ouvido!
Chega aqui...
Bem perto de mim!
Não hoje!
Nem agora!
Nem nunca
Pois o século se finda...
Introspecto!
E um novo se aproxima...
Algo novo vem por ai
Intrínseco!
Extrínseco!
Fugaz
Um mundo novo
Quero-te
Quero-te agora
Com todo o rigor!
De quem vai à guerra!...
Com toda a certeza
Que não de voltar mais.
Pois bem sei
Não haverá...
Um novo amanhã possível...
Não para nós dois!
Não tens futuro algum
Ao meu lado!
Pois o nosso século se finda...
Introspecto!
E um novo século inicia.
Intrínseco!
Extrínseco!
Fugaz
Amorfo
Um mundo novo
E artificial
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
Triverso de Londrina/PR
DOMINGOS PELLEGRINI
Aquela tigela
aquela faca
e uma bela jaca
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
Décimas de Fortaleza/CE
FRANCISCO JOSÉ PESSOA
(Francisco José Pessa de Andrades Reis)
1949 - 2020
Excesso de Bagagem
Se promessas são dívidas ou não
Eis-me aqui, são e salvo neste frio,
Vindo do norte de um calor bravio
Para provar a minha gratidão.
Pus poesia no meu matulão*
Mandei o Haroldo** reservar passagem
Viemos juntos para esta viagem
Trazendo tanto, tanto, tanto amor
Que no check-in, acredite o senhor,
Foi registrado EXCESSO DE BAGAGEM.
Mas eu paguei feliz o tal imposto
E pagaria tudo uma outra vez
Só pelo fato de estar com vocês
E poder abraçá-los rosto a rosto.
Falar ao vivo tem um outro gosto
Participar dessa camaradagem
Amizade fiel, sem maquiagem,
E de tanta afeição, tenho certeza
No check-in ao voltar pra Fortaleza,
Vou pagar outro EXCESSO DE BAGAGEM!
* * * * * * * * * * * * * * * * * *
* Matulão: Saco onde os retirantes nordestinos carregavam seus pertences.
** Haroldo a que o poeta se refere, é outro poeta, Haroldo Lyra.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
Trova de Maringá/PR
A. A. DE ASSIS
Sofro junto a dor injusta
de que a Terra está repleta...
- Esse é o preço que me custa
a graça de ser poeta.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
Hino de Vitória/ES
Música: Carlos Cruz
Letra: Almeida Rego
Quero ver os capixabas
Vibrando, cantando esta canção,
Hino de glória à grandeza
Da Ilha de Vitória
Vitória,
Da Vila Nova antiga
Onde o progresso tem vida
No porto que é Tubarão.
A Vitória das vitórias
A terra feliz onde eu nasci,
Tem no Penedo bravura
E doçura em Camburi.
Vitória,
Minha querida Vitória,
És a cidade presépio,
Orgulho do meu coração! (bis)
De Anchieta a Monteiro,
Lutando, mostrando o teu brasão,
Viva o teu povo, Vitória,
Que não se entrega não!
Vitória,
Se estou longe és saudade
Que o meu peito invade
E faz chorar de emoção.
Hoje eu canto a minha terra,
Pedaço de céu do meu país.
Que Santo Antônio proteja
Essa terra tão feliz!
Vitória,
Minha querida Vitória,
És a cidade presépio,
Orgulho do meu coração! (bis)
* * * * * * * * * * * * * * * * * *
Vitória: Um Hino de Orgulho e Tradição
O 'Hino de Vitória - ES' é uma celebração vibrante e emotiva da cidade de Vitória, capital do Espírito Santo. A letra exalta o orgulho dos capixabas, destacando a grandeza e a beleza da cidade. Desde o início, a música convida os habitantes a cantarem juntos, criando um senso de comunidade e pertencimento. A referência à 'Ilha de Vitória' ressalta a geografia única da cidade, que é uma ilha, e a sua importância histórica e cultural.
A canção faz uma viagem pelo tempo, mencionando a 'Vila Nova antiga' e o progresso representado pelo porto de Tubarão. Essa dualidade entre o passado e o presente é uma metáfora para a evolução e o desenvolvimento contínuo de Vitória. A letra também destaca pontos específicos da cidade, como o Penedo e a praia de Camburi, simbolizando a bravura e a doçura, respectivamente. Esses elementos geográficos e culturais são apresentados como parte da identidade de Vitória, reforçando o orgulho local.
O hino também evoca figuras históricas como Anchieta e Monteiro, que são símbolos de luta e resistência. A menção ao brasão da cidade e à proteção de Santo Antônio reforça a ideia de uma comunidade unida e protegida. A saudade mencionada na letra é um sentimento comum entre aqueles que estão longe de sua terra natal, e a música serve como um elo emocional que conecta os capixabas à sua cidade, independentemente de onde estejam. A repetição do estribilho enfatiza o amor e o orgulho que os habitantes sentem por Vitória, tornando o hino uma verdadeira declaração de amor à cidade. https://www.letras.mus.br/hinos-de-cidades/136793/significado.html
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
Poetrix do Rio de Janeiro/RJ
LILIAN MAIAL
música
meu corpo canção
em acordes se afina
tocado por teus olhos
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
Soneto de Coimbra/Portugal
JAIME CORTESÃO
1884 – 1960
Renascimento
Nasci de novo. Eis-me liberto, enfim!
Foi por um Céu, de estrelas todo cheio,
Numa visão de Amor, que um Anjo veio
Descendo até pousar ao pé de mim.
O beijo que me deu não teve fim...,
Apertou-me nos braços contra o seio,
Abriu os lábios segredando..., e a meio
Bateu asas e levou-me assim.
Ai! como é doce o seio que me embala!
E como tudo é novo e mais profundo!...
Mas já não volta, ou, quando volta, é morto!
Noutro Mundo melhor eu vivo absorto,
E logo conheci que a esse Mundo
Quem vai não volta, ou, quando volta, é morto!!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
Trova de Petrópolis/RJ
GILSON FAUSTINO MAIA
Quando eu era bem criança,
as mãos limpas de aprendiz
transportavam esperança
de ser, um dia, feliz.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
Fábula em Versos da França
JEAN DE LA FONTAINE
Château-Thierry, 1621 – 1695, Paris
O rato anacoreta
Das curvas unhas de terrível gato
Por milagre escapando-se ligeiro,
No atulhado armazém de um merceeiro
Foi asilo buscar pequeno rato.
Pilha de seis de fundo e vinte de alto
De queijos parmesões subia ao teto,
E atraído de cheiro tão seleto,
Lá trepa o fugitivo em salto e salto.
Num queijo que à parede mais se unia,
Lá começa a roer, e em pouco espaço
Um buraco enlapou, que nada escasso
Cubículo e sustento lhe exibia.
Ora dormindo, ora manducando,
Ali vive tranquilo e sem cuidado.
«Do mundo — diz — estou desenganado,
E quero ir minhas culpas expiando!»
Que me dizes, leitor, ao tal ratinho?
Assim vivendo à custa dos patetas,
Nesses conventos regalões roupetas
Da salvação procuram o caminho.
(tradução: Costa e Silva)
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Levo a prosa e a poesia,
através de um boletim,
e também toda a magia
que elas trazem para mim.