Campinas/SP
CUMPLICIDADE
Pequeno preito de gratidão à lua.
Tu me seduzias com tua inebriante claridade.
E eu, cativo, não resistia aos teus insistentes apelos.
Sob o manto da noite, me guiaste, soberana, quando percorri caminhos improváveis e situações inusitadas.
Me ajudaste em paixões, exibindo tuas companheiras estrelas, para que eu as contasse quando estivesse nos braços de alguém.
Sou-lhe grato também pelas inúmeras vezes, que para conter meus excessos, tu me indicavas estar indo embora, e que a intensa luz do dia não mais encobriria minha conduta.
Tu, recatada, por vezes se escondia atrás das nuvens para não presenciar minha desvairada boemia. Fostes testemunha e cúmplice de minhas aventuras em amores proibidos.
Ocultaste-me em tuas sombras quando eu corria perigo em minhas descuidadas andanças.
Certa vez, talvez para exibir-me perante os companheiros de copo, ousei afirmar que tu não passavas de matéria que se deslocara da Terra após o choque com o planeta Theia.
Ao sair, olhei para o céu, e tu, tristonha, estavas minguante. Voltei então à mesa e desdisse tudo o que antes afirmara de ti. Ao sair novamente, tu estavas crescente a sorrir para mim.
Foi o sinal para nossa eterna cumplicidade.
Fonte: Arthur Thomaz. Leves contos ao léu: imponderáveis. Volume 3. Santos/SP: Bueno Editora, 2022. Enviado pelo autor
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