ANGÉLICA VILLELA SANTOS
Guaratinguetá/SP, 1935 – 2017, Taubaté/SP
A mocinha reclamou
mas o ceguinho, no baile,
passando a mão, explicou:
- A minha dança é em braile!!!
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Folclore Português em Versos de
JOSÉ FELDMAN
Campo Mourão/PR
A Lenda da Moura Encantada
Na fonte serena, um canto a ecoar,
a Moura Encantada, beleza a brilhar,
com cabelos de seda e olhar de luar,
enfeitiça os corações que a vêm admirar.
Prisioneira do tempo, em magia a dançar,
nos braços da noite está sua alma a vagar,
quem a encontra, um destino a selar,
entre amor e encanto, um eterno par.
Mas há um segredo que a faz suspirar,
um amor que a espera, um sonho a flutuar,
na luz da manhã ela anseia por ser
Moura, a lenda, que não quer perecer,
e em cada sussurro, um lamento a ficar,
na bruma do passado, sua dor a guardar.
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Trova de
PAULO WALBACH PRESTES
Curitiba/PR, 1945 – 2021
Que saudade dos confetes,
serpentinas e pierrôs,
colombinas, marionetes,
das vovós e dos vovôs.
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Soneto de
JOÃO BATISTA XAVIER OLIVEIRA
Bauru/SP
Sinais invertidos
Olhando a terra acima dos sentidos
um ar tristonho abate-me na entranha:
sermões abaixo aos ares da montanha
e súplicas em motes de alaridos.
Como esperar que rogação tamanha
venha a elevar as almas dos “ungidos”
pelos sinais, nas mentes, invertidos,
se trechos do alfarrábio mal arranha?
Verter em lágrimas na espera, inerte,
(açoite de cilício não reverte)
na frialdade do silêncio atroz...
é malograr-se às vestes endeusadas;
é recorrer às luzes apagadas
se Deus reside aqui... dentro de nós!!
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Trova de
ROBERTO TCHEPELENTYKY
São Paulo/SP
A vida é “jangada ao vento”...
Iço a vela, aperto o laço:
No mar do meu pensamento,
o vento... sou eu que faço!
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Poema de
DANTE MILANO
Rio de Janeiro/RJ (1899 -1991) Petrópolis/RJ
O beco
No beco escuro e noturno
Vem um gato rente ao muro.
Os passos são de gatuno.
Os olhos são de assassino.
Esgueirando-se, soturno,
Ele me fita no escuro.
Seus passos são de gatuno.
Seus olhos são de assassino.
Afasta-se, taciturno.
Espanta-o meu vulto obscuro.
Meus passos são de gatuno.
Meus olhos são de assassino.
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Quadra Popular
Jurei não amar ninguém,
mas eu confesso a fraqueza,
não é tanto minha a culpa
como é da natureza.
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Poema de
MANUEL BANDEIRA
Recife/PE (1886 – 1968) Rio de Janeiro/RJ
O Anel de Vidro
Aquele pequenino anel que tu me deste,
- Ai de mim - era vidro e logo se quebrou
Assim também o eterno amor que prometeste,
- Eterno! era bem pouco e cedo se acabou.
Frágil penhor que foi do amor que me tiveste,
Símbolo da afeição que o tempo aniquilou, -
Aquele pequenino anel que tu me deste,
- Ai de mim - era vidro e logo se quebrou
Não me turbou, porém, o despeito que investe
Gritando maldições contra aquilo que amou.
De ti conservo no peito a saudade celeste
Como também guardei o pó que me ficou
Daquele pequenino anel que tu me deste
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Trova de
APARÍCIO FERNANDES
Acari/RN, 1934 – 1996, Rio de Janeiro/RJ
À noite, ó rua, constatas,
em teus silêncios tristonhos,
que, enquanto um cão vira latas,
eu vou virando os meus sonhos!
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Poema de
DINAIR LEITE
Paranavaí/PR
Acordei
Hoje acordei...
Então vi há quanto tempo dormia
e não via a vida fluir...
Os momentos perdidos de viver
outro amor, outra vida, amores...
Eu me achava condensada
em paixão. Respirando você
que não olha e não vê esse amor
que envolve meu ser
me fazendo sofrer em anseios
de ter o meu corpo em seus braços
e sua boca, a minha, a beijar.
Acordei e deixei você ir.
Esvaziei o meu ser de você.
O meu ventre e o meu coração
nunca mais sofreram a carência
ilusão do sonhar...preencher
um vazio com ar.
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Trova de
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
Itabira/MG (1902– 1987) Rio de Janeiro/RJ
O meu tempo e o teu, amada,
transcendem qualquer medida.
Além do amor, não há nada:
amor é o sumo da vida.
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Soneto de
ALFREDO SANTOS MENDES
Lisboa/Portugal
Agradecimento
Eu agradeço a Deus tanta ventura,
que orna a minha vida, o meu caminho!
Não deixar que em meus pés, um só espinho,
os façam fraquejar pela tortura!
Enfeitar os meus dias, de ternura,
rechear minhas horas de carinho!
Nunca deixar, que ficasse sozinho,
em triste solidão, torpe amargura!
Obrigado meu Deus, pelos amigos,
que me abraçam, me livram dos perigos,
e que por Ti, estão ao meu dispor!
A todos que me dão tanta amizade,
eu desejo a maior felicidade,
muitas graças de Deus, e muito amor!
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Trova de
PROF. GARCIA
Caicó/RN
Nesta longa caminhada
que fazemos sempre a sós...
Nem o silêncio da estrada
quebra o silêncio entre nós!
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Soneto de
VANDA FAGUNDES QUEIROZ
Curitiba/PR
Policromia
Nesta profusão oculta de sentires
que aconchego e acalento com ardor,
não estranhes quando acaso descobrires,
misturada a tanta cor, a tua cor.
Se entre as ânsias de minha alma um dia ouvires
um som que possa a um lamento enfim se opor,
é tua a voz! E feliz quando me vires,
da alegria que eu sentir serás credor.
No cinzento do meu peito, mil nuanças,
cor de rosa e de esperança, tentas pôr.
Com teus olhos, as tormentas são bonanças;
por tua mão, o agudo espinho é fina flor,
A mistura policroma já não cansa
quando, em meio a tanta cor, há a tua cor…
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Trova de
DALMIR PENA
Volta Redonda/RJ
Já fui comilão outrora!
Hoje, ao lembrar-me, acho graça:
vontade ainda tenho agora,
mas, como vem, logo passa!!!
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Spina de
SOLANGE COLOMBARA
São Paulo / SP
Loucura e Lucidez
Nuances do tempo
podem ser carícias,
matizes do instável
medo das lamúrias do vento,
ou apenas respostas da vida,
onde a lucidez é insuportável.
Tons do mesmo lado daquela
moeda, o vil desdém imutável.
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Trova de
RUI CARDOSO NUNES
Porto Alegre/RS
Por berço tive a montanha!
Sou camponês, trovador!
No universo da campanha,
meu estro virou condor!
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Soneto de
AMILTON MACIEL MONTEIRO
São José dos Campos/SP
Sinal de amor
Você é o sinal do amor de Deus por mim!
A pessoa mais doce já nascida!
Sua fragrância excede a do jasmim
e eu amo o seu sorrir, minha querida!
Você é a luz do sol em meu jardim;
a minha paz sonhada e apetecida,
você é a esposa amiga e é tudo, enfim,
que eu desejava ter em minha vida!
Se você sai de perto eu entristeço,
se não me dá notícia, eu desespero,
e até quando se cala, eu endoideço...
Mas quando você volta, eu a venero,
e se me diz “amor”, eu tudo esqueço,
e só me lembro o tanto que eu a quero!
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Trova de
A. A. DE ASSIS
Maringá/PR
Bem cedinho o galo canta,
molhado ainda de orvalho.
A roça, ouvindo-o, levanta,
e um hino entoa ao trabalho!
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Poema de
SYLVIA PLATH
Boston/EUA (1932 – 1963) Londres/Grã-Bretanha
Espelho
Sou prata e exato. Eu não prejulgo.
O que vejo engulo de imediato
Tal qual é, sem me embaçar de amor ou desgosto.
Não sou cruel, tão somente veraz —
O olho de um deusinho, de quatro cantos.
O tempo todo reflito sobre a parede em frente.
É rosa, com manchas. Fitei-a tanto
Que a sinto parte de meu coração. Mas vacila.
Faces e escuridão insistem em nos separar.
Agora sou um lago. Uma mulher se inclina para mim,
Buscando em domínios meus o que realmente é.
Mas logo se volta para aqueles farsantes, o lustre e a lua.
Vejo suas costas e as reflito fielmente.
Ela me paga em choro e agitação de mãos.
Sou importante para ela. Ela vai e vem.
A cada manhã sua face reveza com a escuridão.
Em mim afogou uma menina, e em mim uma velha
Salta sobre ela dia após dia como um peixe horrendo.
(Tradução de Vinicius Dantas)
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Triverso de
CARLOS SEABRA
São Paulo/SP
chuva lá fora –
os pássaros, molhados,
foram embora
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Poema de
MIFORI
(Maria Inez Fontes Rico)
São José dos Campos/SP
A luz dos olhos seus
Que todas as manhãs,
por mais frio que se faça,
nos sejam aquecidas
por nosso respeito e amor!
Sem deixar lembranças vãs
que toda neblina se desfaça,
nas carícias despendidas,
com muito, muito ardor!
Que a confiança que nos enlaça,
na fé e esperança, mantidas,
fortaleça nossa auto-estima,
abençoada pelo nosso amor!
Que cada um de nós veja bem,
por si próprio, suas atitudes,
mas, saiba enxergar também
com magnitude,
a luz dos olhos seus...
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Trova de
NILTON MANOEL TEIXEIRA
Ribeirão Preto/SP, 1945 – 2024
Meu filho só dá trabalho…
diz, na escola, o pai irado!
e o mestre olhando o pirralho…
por isto estou empregado!
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Soneto de
OLAVO BILAC
Rio de Janeiro/RJ (1865 – 1918)
Ao Coração que Sofre
Ao coração que sofre, separado
Do teu, no exílio em que a chorar me vejo,
Não basta o afeto simples e sagrado
Com que das desventuras me protejo.
Não me basta saber que sou amado,
Nem só desejo o teu amor: desejo
Ter nos braços teu corpo delicado,
Ter na boca a doçura de teu beijo.
E as justas ambições que me consomem
Não me envergonham: pois maior baixeza
Não há que a terra pelo céu trocar;
E mais eleva o coração de um homem
Ser de homem sempre e, na maior pureza,
Ficar na terra e humanamente amar.
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Trova Humorística de
ZAÉ JÚNIOR
Botucatu/SP, 1929 – 2020, São Paulo/SP
Melhor sorrir na pobreza
que ser rico na apatia,
pois fartura sobre a mesa
não enche a vida vazia!
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Hino de
MONTES CLAROS/MG
Nas manhãs gloriosas das Bandeiras,
Nascestes protegida pela Cruz,
Plantada pela fibra de Figueira,
Ao pé dos montes, refletindo luz.
No sertão ressequido das Gerais,
O pranto inaugural dos filhos teus
Rasgou teu solo, para nunca mais
Perderes lutas nem perderes Deus.
Salve, Montes Claros! És nortestrela!
Crescendo arrojada e altaneira,
História vais fluindo de bravuras
Com o orgulho de seres brasileira.
Tu és uma cidade consagrada
Pela vez dos teus bardos e cantores,
Que centelhas de ouro, na alvorada,
Semearam, exaltando os teus primores.
Os dois irmãos alertas, lucilantes
Louvam o teu progresso, tua grandeza,
E em sintonia, nos teus horizontes,
A Liberdade brilha em realeza.
Salve, Montes Claros! És nortestrela!
Crescendo arrojada e altaneira,
Histórias vais fluindo de bravuras
Com o orgulho de seres brasileira.
= = = = = =
Trova de
LAVÍNIO GOMES DE ALMEIDA
Barra do Piraí/RJ, ?? – 2009
Na inquietação que se aguça,
carrego na alma dorida,
a grande montanha russa
do sobe-e-desce da vida!
= = = = = =
Poema de
GILSON FAUSTINO MAIA
Petrópolis/RJ
Final de serenata
Guarda, meu coração, o teu segredo.
Para que revelá-lo se termina
a canção que sufoca, que alucina,
que me lançou, pra sempre, no degredo?
Ao novo seresteiro, oculte o enredo.
Não mostre essa verdade cristalina:
é a lei da paixão quem determina
o qual será feliz, contado aos dedos.
Eu cansei de cantar pra minha amada.
Eu cansei de penar na caminhada…
A canção foi cruel, incrível, ingrata.
A riqueza do mundo é um problema,
a vida, uma canção, o amor o tema,
o tempo em que vivemos, serenata.
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Trova Premiada de
RITA MARCIANO MOURÃO
Ribeirão Preto/SP
Se a porta é larga, desvio,
sem luta não tem vitória.
Porta estreita é o desafio
de quem vence e faz história!
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Recordando Velhas Canções
CAIXINHA, OBRIGADO
(samba, 1960)
Juca Chaves
A mediocridade é um fato consumado
na sociedade onde o ar é depravado
marido rico, burguesão despreocupado
que foi casado com mulher burra mas bela
o filho dela é político ou tarado
Caixinha, obrigado!
A situação do brasil vai muito mal;
Qualquer ladrão é patente nacional;
Um policial, quase sempre, é uma ilusão
E a condução é artigo racionado.
Porém, ladrão... isso tem pra todo o lado!
Caixinha, obrigado!
O rock'n'roll, nesta terra é uma doença,
e o futebol, é o ganha pão da imprensa
vença ou não vença, o Brasil é o maioral
e até da bola, nós já temos general
que hoje é nome de estádio municipal
Caixinha, nacional!
a medicina está desacreditada
penicilina, já é coisa superada
tem curandeiro nesta terra pra chuchu
Rio de Janeiro tá pior que Tambaú
e de outro lado, onde está o delegado
Caixinha, obrigado!
Dramalhão, reunião de deputado
é palavrão que só sai pra todo lado
Se um deputado abre a boca, é um
atentado
E a mãe de alguém é quem sofre toda vez
No fim do mês... cento e vinte de ordenado.
Caixinha, obrigado!
= = = = = = = = = = = = =
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Levo a prosa e a poesia,
através de um boletim,
e também toda a magia
que elas trazem para mim.