segunda-feira, 11 de novembro de 2024

Vânia Figueiredo (Uma aurora)

Aquela foi uma noite de pavor, no pequeno barco em pleno rio Xingu. O céu estava limpo, estrelado, mas sobre a superfície da água começava a soprar uma ventania feroz, era tipo inusitado de tempestade que não vinha dos céus... Ondas furiosas se levantavam e sacudiam o barco que estralejava como à beira de partir-se. "E o banzeiro", - explicou o barqueiro, sem parecer preocupado e ainda acrescentou: "Acontece por aqui, mas vai passar... nóis chega lá." Para ele, natural do povo xinguara, aquilo era apenas algo conhecido. Para mim, sulista e urbana, era a Morte chegando.

"Lá" era meu destino, a cidade de Altamira, no Pará, onde meu trabalho na colonização do INCRA me aguardava. Agarrada ao fundo do barco, eu duvidava que realmente pudéssemos chegar lá, amaldiçoando a tolice de ter querido visitar uma distante vila ribeirinha a título de aventura.

Foi então que as águas começaram a se acalmar, o vento foi perdendo a força, a angústia timidamente se transformando em expectativa. Quando ousei erguer-me para ver o que acontecia, uma flecha de luz dourada atingiu meus olhos. A aurora vinha surgindo, majestosa e solene como uma rainha, vestida de ouro e púrpura, dominando o rio que se aquietava sob sua luz. Pássaros saíam da mata próxima e revoavam saudando a aurora, um e outro boto dançou em sua homenagem.

Eu me senti pequena sob a magia daquela festa da Natureza, diante do sol que surgia pontuando a vida, sabendo que jamais veria uma aurora como aquela.
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A autora é de Campinas/SP

(Este conto obteve a menção honrosa no Concurso de Contos, adulto nacional, do III Concurso Literário “Foed Castro Chamma”, 2020 – Tema: Aurora)

Fontes: Luiza Fillus/ Bruno Pedro Bitencourt/ Flávio José Dalazona (org.). III Concurso Literário “Foed Castro Chamma 2020”. Ponta Grossa/PR: Texto e Contexto, 2021. Livro enviado por Luiza Fillus.
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing

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