domingo, 3 de novembro de 2024

Vereda da Poesia = 148 =


Trova de
BORGES DA CRUZ
Lisboa/Portugal

Coração, não tenhas pressa...
Bate mais devagarinho...
Quem muito corre, tropeça
ou pode errar o caminho.
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Soneto de
ANTERO DE QUENTAL
Ponta Delgada/Portugal. 1842 – 1891

Transcedentalismo

Já sossega, depois de tanta luta,
Já me descansa em paz o coração.
Caí na conta, enfim, de quanto é vão
O bem que ao Mundo e à Sorte se disputa.

Penetrando, com fronte não enxuta,
No sacrário do templo da Ilusão,
Só encontrei, com dor e confusão,
Trevas e pó, uma matéria bruta...

Não é no vasto Mundo - por imenso
Que ele pareça à nossa mocidade -
Que a alma sacia o seu desejo intenso...

Na esfera do invisível, do intangível,
Sobre desertos, vácuo, soledade,
Voa e paira o espírito impassível!
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Trova de
NOEL DE ARRIAGA
Porto/Portugal

Casar? Casarmos os dois?
Não vejo qual o proveito.
Só faríamos depois
o mesmo que temos feito...
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Soneto de
JOÃO BATISTA XAVIER OLIVEIRA
Bauru/SP

Joio

Por que nós complicamos singelezas
pelo simples sabor de afirmação;
por que não escutar o coração
que pulsa as vibrações das incertezas...

se temos ao alcance o corrimão;
degraus que facilitam mãos coesas;
o dom de emocionarmos às belezas...
Por que só ver a luz na escuridão?

Estamos de passagem simplesmente.
Abrindo com desvelo nossa mente
o mundo é bem maior em nosso espaço.

Por que nós complicamos as passagens
seguindo a realidade das miragens?
A vida é bela e o tempo é bem escasso!
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Trova Premiada de
ÉLBEA PRISCILA DE SOUSA E SILVA
Piquete/SP, 1942 – 2023, Caçapava/SP

Bem escrito… mas sem chance
de sucesso, é voz geral:
ao nosso morno romance
falta a página final!
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Poema de
ANTERO JERÓNIMO
Lisboa/Portugal

Dom

Que vontade te impele
a ausentares-te dos demais
no ermo desse horizonte infinito.
A escutares o silêncio onde esculpes
apurada arte de aprofundares o mundo
dom de sussurrares palavras sentidas ao vento
impregnadas de acentuadas essências multicores.
Sementes engravidando a imponência da montanha
numa tocante melodia, elevada ao céu da eternidade.
= = = = = = 

Fábula em Versos
adaptada dos Contos e Lendas do Brasil
JOSÉ FELDMAN
Campo Mourão/PR

O Saci e a Natureza

No verde profundo, o saci se esconde 
entre as folhas… ele observa e guia 
com seu olhar sagaz… a vida responde, 
e a natureza pulsa em harmonia. 

As pessoas sentem a força do vento 
com o saci, a terra ganha voz 
e em cada lenda, um novo intento 
de respeitar o mundo… somos todos nós. 

Ele traz a sabedoria do chão, 
e ensina a ouvir o canto das flores, 
a arte da vida em plena união, 
Celebra as cores e os nossos amores. 

Assim, no ciclo eterno de toda ação, 
o saci é a ponte entre o céu e a criação.
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Trova Popular

Chamaste-me tua vida,
eu tua alma quero ser:
a vida acaba com a morte,
a alma não pode morrer.
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Soneto de
JERSON BRITO
Porto Velho/RO

Meiga flor

Esse encanto sem par me extasia
E conduz aos portais do pecado
Plenamente envolvido, abismado
Sou refém duma rara euforia

Provocante, tu és a culpada
Das torrentes de amor, desvario
Tua ausência produz um vazio
Meiga flor, em meu ser tatuada

Aspirando o frescor desse aroma
Enclausuro-me em doce redoma
Onde encontro um prazer colossal

Quando imerso nas cores da bruma
Que meus passos domina e perfuma
Provo, enfim, d'alegria integral
= = = = = = 

Trova de
DELCY CANALLES
Porto Alegre/RS

Tinha portas de poesia
e janelas de luar
essa morada que um dia
deixou meu amor entrar.
= = = = = = 

Poema de
PABLO NERUDA
Parral/Chile (1904 – 1973) Santiago/Chile

Se eu morrer…

Se eu morrer, sobrevive a mim com tamanha força
que acordarás as fúrias do pálido e do frio,
de sul a sul, ergue teus olhos indeléveis,
de sol a sol sonha através de tua boca cantante.
Não quero que tua risada ou teus passos hesitem.
Não quero que minha herança de alegria morra.
Não me chames. Estou ausente.
Vive em minha ausência como em uma casa.
A ausência é uma casa tão rápida
que dentro passarás pelas paredes
e pendurarás quadros no ar.
A ausência é uma casa tão transparente
que eu, morto, te verei, vivendo,
e se sofreres, meu amor, eu morrerei novamente.
= = = = = = 

Trova de
JESSÉ NASCIMENTO
Angra dos Reis/RJ

Nossos puros sentimentos
são comparados, na vida,
a afinados instrumentos
numa orquestra bem regida.
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Soneto de 
ALFREDO SANTOS MENDES
Lisboa/Portugal

Heresia

Talvez minha garganta revoltada.
Espinhosa ficasse, e enrouquecesse.
Ou para meu castigo enlouquecesse,
Por a manter tão muda, tão calada!

Quero falar, a voz sai embargada,
Como se algum mal eu lhe fizesse.
Eu juro que não fiz, e isso acontece.
Minhas cordas vocais fiquem paradas!

Eu preciso gritar minha revolta,
Engolir todo o mal que não tem volta,
E na glote se encontra aprisionado!

Eu quero ler a minha poesia.
Limpar do meu passado, a heresia,
Engolir as tristezas do meu fado!
= = = = = = 

Trova de
ADEMAR MACEDO
Santana do Matos/RN (1951 – 2013) Natal/RN

O Carnaval irradia
prazeres aos foliões,
mas o melhor da folia
está em nossos corações!
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Sonetilho de
FLORBELA ESPANCA 
Vila Viçosa, 1894 – 1930, Matosinhos


Eu tenho pena da Lua!
Tanta pena, coitadinha,
Quando tão branca , na rua
A vejo chorar sozinha!...

As rosas nas alamedas,
E os lilases cor da neve
Confidenciam de leve
E lembram arfar de sedas...

Só a triste, coitadinha....
Tão triste na minha rua
Lá anda a chorar sozinha....

Eu chego então à janela:
E fico a olhar pra lua...
E fico a chorar com ela!…
= = = = = = 

Trova Funerária Cigana

Sobre a tua sepultura
um frouxo raio da lua
parece a gota do pranto
celeste, na terra tua.
= = = = = = 

Spina de 
SOLANGE COLOMBARA
São Paulo / SP

Um Certo Tom Lilás 

Gratidão ao abençoado 
dia reina mansamente, 
confabulando a poesia 

em entrelinhas do meu verso
com o universo. Em sorrisos
amanheço no ar da calmaria
das rimas. No horizonte azul
o crepúsculo voa na sintonia.
= = = = = = 

Trova de 
JOSÉ CORRÊA FRANCISCO
Ponta Grossa/PR

O tempo, veloz, avança,
consumindo nossos anos.
Vamos perdendo esperança
e colhendo desenganos…
= = = = = = 

Soneto de 
AMILTON MACIEL MONTEIRO
São José dos Campos/SP

Oração

Senhor me ajuda a ser o sal da terra
e luz do mundo, tal qual nos ordenas.
Sou um alguém que sempre muito erra,
querendo agir com meu conceito apenas...

Em ânsia de acertar, já fiz novenas...,
porém meu bom intento sempre emperra
nas fraquezas humanas, que às centenas,
meu peito tão incrivelmente encerra!

Aumenta, pois, em mim o dom do amor,
a grande graça que se pode opor
a toda insana e egoísta cupidez!

Que eu possa dar sabor e claridade
aos que deles precisam... E, talvez,
eu corresponda, assim, Tua bondade!
= = = = = = 

Trova de
A. A. DE ASSIS
Maringá/PR

Até como terapia, 
crer em Deus faz muito bem: 
– banha a gente na alegria 
que da eterna luz provém!
= = = = = = 

Escada de Trovas de
FILEMON MARTINS
São Paulo/SP

TOPO:
Saudade, de quando em quando,
provoca mágoas e dores,
pois vai de amores matando
quem vive lembrando amores.
Mário Barreto França
(In memoriam)

SUBINDO:
Quem vive lembrando amores
vai perdendo a emoção,
porque viver velhas dores
não faz bem ao coração.

Pois vai de amores matando
momentos bons, sem iguais,
que a vida vai cultivando
ao longo dos ideais.

Provoca mágoas e dores
quem vai e fica também,
pois todos os dissabores
são as saudades de alguém.

Saudade, de quando em quando
sem ser plantada, floresce,
no peito já vai brotando
como se fosse uma prece.
= = = = = = 

Triverso de
TAMAIALE AKSENEN 
Irati/PR

Férias de verão
Dormir até mais tarde
Ui! Galo chato.
= = = = = = 

Soneto de
JOSÉ XAVIER BORGES JUNIOR
São Paulo/SP

Pêndulo
 
De tudo o que busquei, foram-se os anos,
De tudo o que sonhei sobram resquícios,
De tudo o que cantei  - vãos desenganos –
Restaram só profundos precipícios...
 
Por tudo o que velei, tracei meus planos
E quando caminhei fiz meus auspícios,
E dos meus ferimentos, dos meus danos
Ergui os meus castelos fictícios...
 
Enfim, onde cheguei, nessas quimeras?
Um pêndulo oscilante, eis o que sou,
Bailando entre rosas e entre feras,
 
Sou títere que a vida utilizou,
E ao cabo de uma vida só de esperas,
Não sei exatamente nem quem sou…
= = = = = = 

Trova Humorística de
THEREZINHA DIEGUEZ BRISOLLA
São Paulo/ SP

Num pagode eu fui dançar
diz o velho, e "aconteceu"
quando a moça eu fui tirar:
– "Quer dar-me a honra?" E ela deu!
= = = = = = 

Poema de 
SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN
Porto (1919 – 2004) Lisboa

Navio naufragado

Vinha de um mundo
Sonoro, nítido e denso.
E agora o mar o guarda no seu fundo
Silencioso e suspenso.

É um esqueleto branco o capitão,
Branco como as areias,
Tem duas conchas na mão
Tem algas em vez de veias
E uma medusa em vez de coração.

Em seu redor as grutas de mil cores
Tomam formas incertas quase ausentes
E a cor das águas toma a cor das flores
E os animais são mudos, transparentes.

E os corpos espalhados nas areias
Tremem à passagem das sereias,
As sereias leves dos cabelos roxos
Que têm olhos vagos e ausentes
E verdes como os olhos de videntes.
= = = = = = 

Trova Humorística de
ZAÉ JÚNIOR
Botucatu/SP, 1929 – 2020, São Paulo/SP

Velha viola, na orfandade,
calou-se, pois seus segredos
não suportam a saudade
nem o toque de outros dedos!
= = = = = = 

Hino de 
Bagre/PA

Salve, salve terra altaneira
Marcada por tristes lembranças
Que representa sua luta,
Sua história e esperança
Para ser independente
E triunfar com confiança.

"Oh! Bagre, sustenta teu valor"
No teu povo jamais vencido
E eleva teu nome em memória
De teus heróis destemidos.

No vasto leito de teus rios
Casco estreito a velejar
Dentro dele se esconde
O açaí e o jacundá
O sustento de teu povo
Que sempre te elevará.

Na imensa história da vida
Um currículo a se lembrar
Até os pássaros que aqui gorjeiam
Estão o teu nome a festejar
De um peixe sem destino
Que o mundo lembrar.

Tua juventude participa
Nas leis da nação, trabalho e estudo.
Preserva a tua beleza natural
Na arte, esporte em tudo
Abrindo horizonte de muita esperança
Para teu nome brilhar no futuro.
= = = = = = 

Trova de
MAURÍCIO NORBERTO FRIEDRICH
Porto União/SC, 1945 – 2020, Curitiba/PR

Foram refúgio de sonhos
as tuas cartas de amor;
hoje, traços enfadonhos
que só causam muita dor.
= = = = = = 

Soneto de 
FRANCISCA JÚLIA
(Francisca Júlia da Silva Munster)
Eldorado/SP (antiga Xiririca) 1874 –  1920, São Paulo/SP

Musa impassível (II)

Ó Musa, cujo olhar de pedra, que não chora,
Gela o sorriso ao lábio e as lágrimas estanca!
Dá-me que eu vá contigo, em liberdade franca,
Por esse grande espaço onde o impassível mora.

Leva-me longe, ó Musa impassível e branca!
Longe, acima do mundo, imensidade em fora,
Onde, chamas lançando ao cortejo da aurora,
O áureo plaustro do sol nas nuvens solavanca.

Transporta-me de vez, numa ascensão ardente,
À deliciosa paz dos Olímpicos-Lares
Onde os deuses pagãos vivem eternamente,

E onde, num longo olhar, eu possa ver contigo
Passarem, através das brumas seculares,
Os Poetas e os Heróis do grande mundo antigo.
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Trova Premiada de
RITA MARCIANO MOURÃO 
Ribeirão Preto/SP

O trovador finge tanto
que ao cantar a própria dor,
finge que a dor no entanto
é de um outro trovador.
= = = = = = 

Recordando Velhas Canções
MATRIZ OU FILIAL 
(samba-canção, 1964) 

Quem sou eu     
pra ter direitos exclusivos sobre ela
se eu não posso sustentar os sonhos dela
se nada tenho e cada um vale o que tem
 
Quem sou eu     
pra sufocar a solidão da sua boca
que hoje diz que é matriz e quase louca
quando brigamos diz que é a filial
 
Afinal     
se amar demais passou a ser o meu defeito
é bem possível que eu não tenha mais direito
de ser matriz por ter sòmente amor pra dar
 
Afinal  
o que ela pensa em conseguir me desprezando
se sua sina sempre é voltar chorando
arrependida me pedindo pra ficar
= = = = = = = = = = = = = 

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Levo a prosa e a poesia,
através de um boletim,
e também toda a magia
que elas trazem para mim.