PAULO ROBERTO DA SILVA
Caicó/RN
Nem que a hora desta vida,
venha a nos inquietar...
pois ao seu lado querida
nem vejo a mesma passar!...
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Folclore Brasileiro em Versos de
JOSÉ FELDMAN
Campo Mourão/PR
A Cuca
Na noite enluarada um sussurro a soar,
a Cuca, a bruxa de olhos de fogo,
com seu manto escuro vem te atormentar,
dos sonhos das crianças é o eterno jogo.
Sonhos se desfazem sob seu olhar frio,
e o medo se espalha como sombra a dançar,
levando os inocentes ao mais profundo vazio,
na teia da noite, ela vem se enredar.
Mas sob a maldade há um lamento a ecoar,
histórias esquecidas de um amor a vagar,
que, mesmo em pesadelos busca a liberdade,
e assim, a Cuca tem sua dualidade,
guardando em seu ser um profundo pesar,
entre sonhos perdidos ela vai se ocultar.
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Trova de
LUNA FERNANDES
Rio de Janeiro/RJ
As outras brincam de roda…
E a olhar a brincadeira
a menina se acomoda
sobre as rodas da cadeira…
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Soneto de
JOÃO BATISTA XAVIER OLIVEIRA
Bauru/SP
Sutil olhar
A nova era agora tão veloz
atinge os ares lassos de metais;
a quântica figura não é mais
o mito que atordoa a todos nós.
Os olhos deslumbrados por fanais
que buscam horizontes, antes sós,
percebem muito além de nossa voz
as vibrações sutis de mil sinais.
Desperta criatura limitada!
Aguça a tua aura dos sentidos;
o mundo ao teu redor é quase nada!
A nova era agora tem ouvidos;
o espírito retarda evolução
se olhar de uma segunda dimensão!!
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Trova de
CÍCERO ACAYABA
Cambuquira/MG (1925 – 2009)
– “Eu volto um dia” – juraste.
– “Não te espero” – me zanguei…
– “Mentiste: nunca voltaste…
Menti: eu sempre esperei…”
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Poema de
YVES NAMUR
Namur/Bélgica
Figuras do muito obscuro (I)
Evita pois
Olhar no seio do visível
E
Antes vê as coisas que não vês
E tudo isso que não ouves.
Pois é aí,
Ao centro de “Nenhures”,
Que sempre o coração vai ter
E
O passo do inesperado.
Porquê obstinarmo-nos a chamar ainda
Aquele que o não pode ser
E
Nunca há de poder regressar?
Se não fosse para aumentar o vazio
E a nossa necessidade de ser na imensidão?
(Tradução: Fernando Eduardo Carita)
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Trova Popular
Vou tirar o teu retrato,
no tampo da minha viola,
o dia que não te ver,
teu retrato me consola.
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Poema de
JOSÉ FANHA
(José Manuel Kruss Fanha Vicente)
Lisboa/Portugal
Grito
De ti que inventaste
a paz
a ternura
e a paixão
o beijo
o beijo fundo intenso e louco
e deixaste lá para trás
a côncava do medo
à hora entre cão e lobo
à hora entre lobo e cão.
De ti que em cada ano
cada dia cada mês
não paraste de acender
uma e outra vez
a flor elétrica
do mais desvairado
coração.
De ti que fugiste à estepe
e obrigaste
à ordem dos caminhos
o pastor
a cabra e o boi
e do fundo do tempo
me chamaste teu irmão.
De ti que ergueste a casa
sobre estacas
e pariste
deuses e linguagens
guerras
e paisagens sem alento.
De ti que domaste
o cavalo e os neutrões
e conquistaste
o lírico tropel
das águas e do vento.
De ti que traçaste
a régua e esquadro
uma abóboda inquieta
semeada de nuvens e tritões
santidades e tormentos.
De ti que levaste
a volúpia da ambição
a trepar ereta
contra as leis do firmamento.
De ti que deixaste um dia
que o teu corpo se cansasse
desta terra de amargura e alegria
e se espalhasse aos quatro cantos
diluído lentamente
no mais plácido
silente
e negro breu.
De ti
meu irmão
ainda ouço
o grito que deixaste
encerrado
em cada pétala do céu
cada pedra
cada flor.
O grito de revolta
que largaste à solta
e que ficou para sempre
em cada grão de areia
a ressoar
como um pálido rumor.
O grito que não cansa
de implorar
por amor
e mais amor
e mais amor.
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Trova de
APARÍCIO FERNANDES
Acari/RN, 1934 – 1996, Rio de Janeiro/RJ
Ah! Se eu morresse, querida,
sentindo os carinhos teus,
teria, na morte, a vida
que em vida pedi a Deus!
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Poema de
CZESLAW MILOSZ
Seteniai/Lituânia, 1911 – 2004, Cracóvia/Polônia
Tão Pouco
Disse tão pouco
Dias curtos.
Dias Curtos,
Noites curtas.
Anos curtos.
Disse tão pouco,
Não tive tempo.
O meu coração cansou-se
Do êxtase,
Do desespero,
Do zelo,
Da esperança.
A boca do Leviatã
Engolia-me.
Deitava-me nu junto ao mar
Nas ilhas desertas.
Arrastava-me para o pélago
A baleia branca do mundo.
E agora não sei
O que foi verdade.
(tradução: Elzbieta Milewska e Sérgio das Neves)
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Trova de
PROFESSOR GARCIA
Caicó/RN
A musa chega e me inspira,
num delírio encantador...
Afina as cordas da lira
e enche o meu mundo de amor!
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Soneto de
ANTÔNIO OLIVEIRA PENA
Volta Redonda/RJ
O caminho
Dize a palavra que te encerre o sonho,
aquela que resuma o teu desejo;
evita aquela de pesar medonho,
aquela de lamento malfazejo.
Dize a palavra que te encerre o sonho
com a mesma intensidade do teu beijo!
Evita o murmurar insano, e põe o
teu pensamento a trabalhar, que vejo
que aquilo que dizemos é que é ouvido,
ainda que o façamos em segredo...
— Não há palavra sem repercussão!...
Na estrada em que o homem vai, tão comovido,
seja de sua pátria, ou do degredo,
antes, por ela, andou seu coração!
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Trova de
CONCHITA MOUTINHO DE ALMEIDA
Poços de Caldas/MG
A terra finge que dorme,
o sereno por seu turno,
com uma ternura enorme
se faz amante noturno.
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Spina de
SOLANGE COLOMBARA
São Paulo / SP
O Tempo
Aprendi que sou
dilúvio ou talvez
brisa, a calmaria
quente, em uma noite fria.
Entendi que a vida usufrui
tudo que o instinto irradia.
Sou um ângulo forte, uma
luz que grita, na fotografia.
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Trova de
MARILDA MENDONÇA PINHEIRO
São Gonçalo/RJ
Das veredas da fazenda
a primavera agradece
às flores caindo em renda,
bordando o chão que amanhece!
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Soneto de
AMILTON MACIEL MONTEIRO
São José dos Campos/SP
Ter razão
“Ninguém por ter razão já foi ao céu”!
Eu não duvido disso, pois de fato
Nada vale fazer louco escarcéu,
Se barulho não é prova do que é exato!
Quem teima pode ir é ao beleléu...
É um Infeliz com orgulho caricato,
Que o faz tão só ser dono de um troféu
De convencido, tolo e até insensato!
Impor nossa razão só por vaidade
E a qualquer preço, hora e até lugar
Talvez seja a maior boçalidade!
Importa é ter amor! Não, ter razão!
Vale a pena esta regra ponderar:
O amar faz muito bem ao coração!
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Trova de
A. A. DE ASSIS
Maringá/PR
Como foi, como não foi,
conte dois que eu conto um...
Num belo inglês, diz o boi,
olhando a Lua: moon... moooon...
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Poema de
ULLA HAHN
Brachthausen/Alemanha
Pré- Escrita
Esta Saudade
de te chamar pelo nome
Este receio
de te chamar pelo nome
Esta saudade
de manter a palavra
Este receio
de apenas manter a palavra
Esta saudade de uma vida
que não dê em poema
Este receio de um poema
que antecipe a vida.
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Trova de
MILTON SEBASTIÃO SOUZA
Porto Alegre/RS, 1945 – 2018, Cachoeirinha/RS
Se um pai se entrega à bebida,
ao filho desencaminha.
O mau exemplo é na vida
pior do que erva daninha.
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Soneto de
HEGEL PONTES
Juiz de Fora/MG (1932 – 2012)
Devaneio
É noite de natal, estou sozinho
E escuto ela chegando passo a passo;
Entra no quarto e agora, de mansinho,
Afaga minha fonte e meu cansaço.
Ela fala das flores do caminho,
E ainda sem notar meu embaraço,
Fala de velhos sonhos, de carinho,
De um beijo antigo, de um antigo abraço.
E por falar comigo desse jeito,
Vai removendo amargas cicatrizes
E arrancando lembranças do meu peito.
Eu ouço e peço: “Cala-te saudade,
Não se deve dizer aos infelizes
Que algum dia existiu felicidade”.
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Trova Humorística de
ZAÉ JÚNIOR
Botucatu/SP, 1929 – 2020, São Paulo/SP
Foi de horas mortas, furtivas,
este amor que agora cortas...
mas, em mim, como estão vivas
essas nossas horas mortas!
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Hino de
SÃO JOÃO DE MERITI/RJ
Desejando a lei conceber o progresso
De ver o Sol renascendo maior,
Fez ir ao berço da mãe gentil
São João transformado em cidade.
Do passado é memória na história presente
Para tecer um futuro melhor.
Continuamente, nosso dever
É guiá-lo crescendo e avante.
São João de Meriti é o nome da terra que louvamos!
O povo meritiense com áureos lauréis honramos!
Se tiver que partir eu irei onde a vida decidir!
Mas em meu coração levarei a bandeira de Meriti!
Sobre o chão dos "Tamoios" virou "Freguesias",
Nas sesmarias de "Iguaçu",
A produzir finas iguarias
Levadas nas águas do rio.
Tal labor construiu sobre tua presença
Templos à pura e exata razão
Enaltecendo a doce emoção
De quem ama, trabalha e pensa.
Que teu céu guarde o voo da sã liberdade
E que teu solo a permita correr.
Fartas virtudes possam chover
Sobre nossa querida cidade,
Pois ao imaginar não haver mais saída,
Quando a luz do final se apagar,
Quero chorar do amor que te sinto
Ao ver teu brasão acendendo.
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Quadra Humorística de
IDEL BECKER
Porto Casares/ Argentina, 1910 – 1994, São Paulo/SP
Tenho tosse no cabelo,
dor de dentes no cachaço,
sinto canseira nas unhas,
não vejo nada de um braço.
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Soneto de
VICENTE DE CARVALHO
Santos/SP, 1866 – 1924
Corrida de amor
Quando partiste, em pranto, descorada
A face, o lábio trêmulo... confesso:
Arrebatou-me um verdadeiro acesso
De raivosa paixão desatinada.
Ia-se nos teus olhos, minha amada,
A luz dos meus; e então, como um possesso,
Quis arrojar-me atrás do trem expresso
E seguir-te correndo pela estrada...
"Nem há dificuldade que não vença
Tão forte amor!" pensei. Ah! como pensa
Errado o vão querer das almas ternas!
Com denodo, atirei-me sobre a linha...
Mas, ao fim de uns três passos, vi que tinha
Para tão grande amor, bem curtas pernas...
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Trova Premiada de
RITA MARCIANO MOURÃO
Ribeirão Preto/SP
Se o homem abaixasse a fronte
com fé, respeito, humildade,
seria a Terra uma ponte
entre Deus e a humanidade.
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Recordando Velhas Canções
ACALANTO
Elomar Figueira Melo
(Vitória da Conquista/BA)
Certa vez ouvi contar
Que muito longe daqui
Bem pra lá do São Francisco, ainda pra lá...
Em um castelo encantado,
Morava um triste rei
E uma linda princesinha,
Sempre a sonhar...
Ela sempre demorava
Na janela do castelo
Todo dia à tardezinha, a sonhar...
Bem pra lá do seu castelo,
Muito além, ainda mais belo,
Havia outro reinado,
De um outro rei.
Certo dia a princesinha,
Que vivia a sonhar
Saiu andando sozinha,
Ao luar...
E o castelo encantado
Foi ficando inda pra lá
Caminhando e caminhando,
Sem encontrar.
Contam que essa princesinha
Não parou de caminhar,
E o rei endoideceu,
E na janela do castelo morreu,
Vendo coisas ao luar.
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Levo a prosa e a poesia,
através de um boletim,
e também toda a magia
que elas trazem para mim.