sábado, 17 de agosto de 2024
Leon Tolstói (O gatinho)
Era uma vez um irmão e uma irmã − Vássia e Kátia. Eles tinham uma gata. Na primavera, a gata sumiu. As crianças procuraram por todo canto, mas não conseguiram achar. Um dia, estavam brincando ao lado do celeiro e ouviram, lá em cima, alguma coisa miando com vozes finas. Vássia subiu correndo a escada para o forro do celeiro. Kátia ficou embaixo e toda hora perguntava: “Achou? Achou?”
Mas Vássia não respondia. Afinal, Vássia gritou:
− Achei! A nossa gata… e ela teve gatinhos; são lindos; venha cá, depressa.
Kátia foi para casa correndo, pegou leite e levou para a gata. Os filhotes eram cinco. Quando cresceram um pouco e começaram a sair do cantinho onde nasceram, as crianças escolheram para elas um gatinho cinzento de patas brancas e levaram para casa. A mãe deu todos os outros gatos, mas aquele ficou para os filhos. As crianças lhe davam comida, brincavam com ele e dormiam junto com o gatinho.
Um dia as crianças foram brincar na estrada e levaram o gatinho.
O vento remexia a palha na estrada, o gatinho brincava com a palha e aquilo divertia as crianças. Depois viram no caminho umas folhas de azedinha, foram colher e esqueceram o gato. De repente ouviram alguém gritar bem alto:
− Para trás! Para trás!
E viram um caçador vir correndo e, na frente dele, dois cachorros que olhavam para o gatinho e queriam agarrá-lo. Mas o gatinho era bobo e, em vez de fugir, se agachou no chão, arqueou as costas e olhou para os cachorros.
Kátia ficou assustada com os cachorros, começou a gritar e fugiu para longe deles. Mas Vássia foi correndo na direção do gato e o pegou na mesma hora em que os cachorros pularam na direção dele.
Os cachorros queriam agarrar o gatinho, mas Vássia pulou de barriga em cima do gato e o escondeu dos cachorros.
O caçador chegou a galope e enxotou os cachorros; Vássia levou o gatinho para casa e nunca mais saiu com ele para o campo.
Fonte: Liev Tolstói. Livros de leitura para crianças. Publicado originalmente em 1864. Disponível em Domínio Público
Vereda da Poesia = 86 =
DOMINGOS FREIRE CARDOSO
O pranto que ninguém viu
e em mim só ficou guardado,
foi o que mais me feriu
por não ter sido chorado…
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Poema de Lisboa/Portugal
ANTERO JERÓNIMO
Trazes pombas na brancura das tuas mãos
Feridas por cicatrizar no peito dilacerado
O mar dos teus olhos fala de promessas e sonhos adiados
Candura do rosto emoldurando a beleza
dessa fragilidade acesa e delicada.
Ofereço-te a frescura desta terna flor
para que possas guardar em mim todos os segredos
Encontrar um abraço no sorriso dos meus olhos
E a coragem renovada de um novo recomeço.
Em cada manhã
Por cada suspiro de primavera
Me desassossegues com o oiro da tua luz
Sussurres brisas acordando a nossa paixão
Rasgando as densas sombras
E eu renascerei ao extinguir-me em ti.
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Trova de Paredes/ Portugal
TIAGO
ANTÓNIO BARRADAS BARROSO
Quis colher o sol e a lua,
Depô-los no teu regaço,
Quis cantar de rua em rua,
Os versos que já não faço.
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Soneto de Portugal
NATÁLIA CORREIA
Fajã de Baixo/São Miguel, 1923 — 1993, Lisboa
Mãe ilha
No coração da ilha está um vaso
Cheio das pérolas que pra mim sonhaste,
Ó mãe completa da manhã ao ocaso,
Pastora dos meus sonhos, minha haste.
Partí pras Índias do meu estranho caso
—ó danos que dos versos sois o engate!—
E com maus fados se entendem ao acaso
Lírios e feras do meu vão contraste.
Ave exausta, o retorno quem me dera,
Vou no canta dos órfãos soletrando
O âmbar da manhã que ali me espera.
Feridas asas, enfim ali fechando
Ao pasto e á onda me unirei sincera,
Ilha no manso azul de mãe esperando.
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Trova Premiada em Blumenau/SC, 2016
FABIANO WANDERLEY
FABIANO DE CRISTO MAGALHÃES WANDERLEY
Natal/RN
Os seus carinhos maternos,
com seus infindos cuidados,
deixaram-me amores ternos,
para sempre, idolatrados!
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Poema de Portugal
DANIEL FELIPE
DANIEL DAMÁSIO ASCENSÃO FILIPE
Ilha da Boa Vista/ Cabo Verde, 1925 – 1964, Lisboa
Morna
É já saudade a vela, além.
Serena, a música esvoaça
na tarde calma, plúmbea, baça,
onde a tristeza se contém.
os pares deslizam embrulhados
de sonhos em dobras inefáveis.
(Ó deuses lúbricos, ousáveis
erguer, então, na tarde morta
a eterna ronda de pecados
que ia bater de porta em porta.)
E ao ritmo túmido do canto
na solidão rubra da messe,
deixo correr o sal e o pranto
– subtil e magoado encanto
que o rosto núbil me envelhece.
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Trova Popular
Quem roubou o meu amor
deve ser um meu amigo...
Levou penas, deixou glórias,
levou trabalhos consigo...
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Soneto de Portugal
FERNANDO ECHEVARRÍA
Cabezón de la Sal/Espanha, 1929 – 2021, Porto/Portugal
Qualquer coisa de paz
Qualquer coisa de paz. Talvez somente
a maneira de a luz a concentrar
no volume, que a deixa, inteira, assente
na gravidade interior de estar.
Qualquer coisa de paz. Ou, simplesmente,
uma ausência de si, quase lunar,
que iluminasse o peso. E a corrente
de estar por dentro do peso a gravitar.
Ou planalto de vento. Milenária
semeadura de meditação
expondo à intempérie a sua área
de esquecimento. Aonde a solidão,
a pesar sobre si, quase que arruína
a luz da fronte onde a atenção domina.
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Trova de Lisboa/Portugal
EDUARDO BORGES DA CRUZ
1896 – ????
Coração, não tenhas pressa...
Bate mais devagarinho...
Quem muito corre, tropeça
ou pode errar o caminho.
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Poema de Portugal
MANUEL ANTÓNIO PINA
Sabugal, 1943 – 2012, Porto
Completas
A meu favor tenho o teu olhar
testemunhando por mim
perante juízes terríveis:
a morte, os amigos, os inimigos.
E aqueles que me assaltam
à noite na solidão do quarto
refugiam-se em fundos sítios dentro de mim
quando de manhã o teu olhar ilumina o quarto.
Protege-me com ele, com o teu olhar,
dos demónios da noite e das aflições do dia,
fala em voz alta, não deixes que adormeça,
afasta de mim o pecado da infelicidade.
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Trova de Lisboa/Portugal
GABRIEL DE SOUSA
O porvir já vem traçado
nas linhas da nossa mão,
mas poderá ser moldado
se tivermos ambição.
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Soneto de Portugal
CESÁRIO VERDE
JOSÉ JOAQUIM CESÁRIO VERDE
Lisboa, 1855 – 1886, Lumiar
Árvores do Alentejo
Horas mortas … Curvada aos pés do Monte
A planície é um brasido … e, torturadas,
As árvores sangrentas, revoltadas,
Gritam a Deus a bênção de uma fonte!
E quando, manhã alta, o sol desponte
A ouro a giesta, a arder, pelas estradas,
Esfíngicas, recortam desgrenhadas
Os trágicos perfis no horizonte!
Árvores, corações, almas que choram,
Almas iguais à minha, almas que imploram
Em vão remédio para tanta mágoa!
Árvores! Não choreis! Olhai e vede:
Também ando a gritar, morta de sede,
Pedindo a Deus a minha gota de água!
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Trova de Sandim/Vila Nova de Gaia/Portugal
DIMAS LOPES DE ALMEIDA
1915 – 1994
Um moinho de ilusão
no meu peito se contém,
pois não vivo só de pão,
vivo de sonhos também.
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Poema de Lisboa/Portugal
CRISTÓVAM PAVIA
FRANCISCO ANTÓNIO LAHMEYER FLORES BUGALHO
1933 – 1988
Ao meu cão
Deixei-te só , à hora de morrer.
Não percebi o desabrigado apelo dos teus olhos
Humaníssimos, suaves, sábios, cheios de aceitação
De tudo… e apesar disso, sem o pedir,
Tentando insinuar que eu ficasse perto,
Que, se me fosse, a mesma era a tua gratidão.
Não percebi a evidência de que ias morrer
E gostavas da minha companhia por uma noite,
Que te seria tão doce a minha simples presença
Só umas horas, poucas.
Não percebi, por minha grosseira incompreensão,
Não percebi, por tua mansidão e humildade,
Que já tinhas perdoado tudo à vida
E começavas a debater-te na maior angústia,
A debater-te
Com a morte.
E deixei-te só, à beira da agonia,
Tão aflito,
Tão só
E sossegado.
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Trova de Avis/Portugal
FERNANDO MÁXIMO
Pecador arrependido,
que o seja, mas de verdade,
terá sempre garantido
do bom Deus a piedade!
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Soneto de Portugal
FLORBELA ESPANCA
FLOR BELA DE ALMA DA CONCEIÇÃO ESPANCA
Vila Viçosa, 1894 — 1930, Matosinhos
Velhinha
Se os que me viram já cheia de graça
Olharem bem de frente para mim,
Talvez, cheios de dor, digam assim:
“Já ela é velha! Como o tempo passa!…”
Não sei rir e cantar por mais que faça!
Ó minhas mãos talhadas em marfim,
Deixem esse fio d’ouro que esvoaça!
Deixem correr a vida até ao fim!
Tenho vinte e três anos! Sou velhinha!
Tenho cabelos brancos e sou crente…
Já murmuro orações… falo sozinha…
E o bando cor-de-rosa dos carinhos
Que tu me fazes, olho-os indulgente.
Como se fosse um bando de netinhos.
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Trova Premiada em Blumenau/SC, 2016
GERALDO TROMBIN
Americana/SP
Quando a vida joga os dados,
mexe com os corações,
que precisam de cuidados
contra as fortes emoções.
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Poema de Lisboa/Portugal
SAMUEL COSTA VELHO
Tanto tempo sem nós
Deu tempo para lembrar tudo
enquanto o meu corpo embatia no chão.
Desde o primeiro olhar fresco que trocámos
até à ausência mútua,
revivi e desvivi, nesse instante.
Com os ossos a desistirem de resistir ao encontro
com o chão suave que me abraçava
e a dor/prazer/tu a começar a sentir-se.
Morri aos pedaços quando a queda acabou, quando
todo eu me apaguei contra o teu peito.
Deu tempo para um pensamento.
O amor ou a tua mão, pergunto-me com qual
me abandonaste primeiro.
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Trova de Queluz/Portugal
AMÉRICO FERRER LOPES
As sementes da mentira,
e da calúnia também,
giram num mundo que gira
na lama que o mundo tem.
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Pantun de Caicó/RN
PROFESSOR GARCIA
Pantun da pedra escondida
TROVA TEMA:
Nas ruas da minha vida
quantas pedras eu saltei,
mas a pequena escondida,..
Foi nela que eu tropecei!
Vera Maria Bastos Braz
Juiz de Fora/MG
PANTUN:
Quantas pedras eu saltei,
na menor de todas elas,
foi nela que eu tropecei
em meio a pedras tão belas.
Na menor de todas elas,
eu vi um brilho tão forte,
em meio a pedras tão belas
há nela, o brilho da sorte.
Eu vi um brilho tão forte,
e essa luz, eu não renego,
há nela, o brilho da sorte
da velha cruz que carrego.
E essa luz, eu não renego,
eis a forma desmedida,
da velha cruz que carrego
nas ruas de minha vida!
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Trova de Portugal
DIMAS LOPES DE ALMEIDA
Sandim/Vila Nova de Gaia, 1915 - 1994
O lenço branco que acena
um adeus de despedida
é leve como uma pena
e pesa tanto na vida!
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Hino de Sabará/MG
Entre as lindas montanhas mineiras,
neste vale que Deus escolheu
brava gente formando bandeiras
as primeiras choupanas ergueu!
Em demanda de um vasto tesouro,
o baiano e o paulista valente
iniciaram com as minas de ouro
o progresso da pátria nascente!
Sabará, Sabará, Sabará!
vila real das áureas tradições!
Tua imagem gloriosa aqui está
viva e presente em nossos corações!
Fluorescente, risonha e formosa,
enfeitando estas plagas louçãs,
bem merece o prestigio que goza
entre as belas cidades irmãs!
Lindos templos cristãos, onde entoa
o bom gosto com a arte mais rara,
em que Antônio Francisco Lisboa
seu talento invulgar confirmara.
Sabará, Sabará, Sabará!
vila real das áureas tradições!
Tua imagem gloriosa aqui está
viva e presente em nossos corações!
Aos chamados da pátria querida
respondeste garbosa e de pé
'fidelíssima" atenta e aguerrida
em defesa da honra e da fé!
Grandes feitos se alinham na história
pela fibra de um povo altaneiro,
sempre em marcha e vibrante de gloria
na vanguarda do solo mineiro!
Sabará, Sabará, Sabará!
vila real das áureas tradições!
Tua imagem gloriosa aqui está
viva e presente em nossos corações!
Corre o aço de forno candente,
movimenta-se a indústria fabril
em favor do progresso crescente
e a grandeza de nosso Brasil!
Salve, salve cidade adorada!
Grandes filhos que deste ao país!
Do porvir, na perene jornada,
Deus te faça maior e feliz.
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Trova de Faro/Portugal
ÁLVARO MANUEL VIEGAS CAVACO
Quem na vida o bem pratica
dos outros faz a dif’rença…
Sua alma mais nobre fica
e Deus dá-lhe a recompensa!
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Poema de Lisboa/Portugal
FERNANDO PESSOA
1888 – 1935
Quem vende a verdade?
Quem vende a verdade, e a que esquina?
Quem dá a hortelã com que temperá-la?
Quem traz para casa a menina
E arruma as jarras da sala?
Quem interroga os baluartes
E conhece o nome dos navios?
Dividi o meu estudo inteiro em partes
E os títulos dos capítulos são vazios…
Meu pobre conhecimento ligeiro,
Andas buscando o estandarte eloquente
Da filarmónica de um Barreiro
Para que não há barco nem gente.
Tapeçarias de parte nenhuma
Quadros virados contra a parede…
Ninguém conhece, ninguém arruma
Ninguém dá nem pede.
Ó coração epitélico e macio,
Colcha de crochê do anseio morto,
Grande prolixidade do navio
Que existe só para nunca chegar ao porto.
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Trova de Soalheira/Portugal
ANA ROLÃO PRETO
Olhando as folhas caídas
que o vento arrasta no chão,
fico a pensar nessas vidas
a quem ninguém deu a mão.
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Fábula em Versos da França
JEAN DE LA FONTAINE
Château-Thierry, 1621 – 1695, Paris
O mono e o leopardo
O leopardo e o mono
Mostravam-se nas feiras
Enchendo as algibeiras.
Bradava o leopardo com entono:
«É conhecida a história
Da minha imensa glória.
O próprio rei quis ver
O meu pelo esquisito, e, ao contemplá-lo,
Ordenou que, no dia em que eu morrer,
Lhe façam um regalo
Da minha pele ondeada,
Zebrada, chamuscada,
Mosqueada, marchetada!»
A cor sempre agradou. Cada qual ia,
Olhava, e nada mais, depois saía.
E o macaco a gritar: «Vinde, senhores,
A ver o rei dos escamoteadores.
Deixai gabar-se o leopardo, que ele
Só tem a variedade à flor da pele:
É vazio no espírito! — Simão,
Vosso servo, que é primo coirmão
E genro de Gaspar,
Que foi mono do papa noutras eras,
Acaba de chegar em três galeras
Só para vos falar.
Sabe falar, cantar, dança e rebola,
Salta, pula, marinha e cabriola,
Faz caretas e partes,
Fura paredes e arcos,
Tudo isto por uns parcos
Quatro vinténs: vinde animar as artes.
E, o que ainda mais importa,
Se a alguém lhe não agrada,
Ensina-se-lhe a porta
E não se leva nada.»
Dou razão ao macaco. Na verdade
A mim não me cativa a variedade
No exterior; chega a cansar a vista.
O espírito, não há quem lhe resista,
Renova-se e seduz.
São certos figurões como o leopardo,
Das galas do trajar fazem alardo,
Tendo os cérebros nus.
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Trovadora Homenageada
Rainha da Trova
LILINHA FERNANDES
MARIA DAS DORES FERNANDES RIBEIRO DA SILVA
Rio de Janeiro/RJ, 1891 – 1981
1
A definição exata
do remorso, está patente:
fino punhal que não mata
mas tira a vida da gente.
2
A Inveja dorme na rede
da Injustiça, sua amiga;
do Mal se alimenta, e a sede
mata na fonte da Intriga.
3
Chorei na infância insofrida
para na roda ir cantar.
Hoje, na roda da vida,
eu canto pra não chorar.
4
Da morta felicidade
guarda a saudade dorida,
pois quem tem uma saudade
tem muita coisa na vida.
5
És de beleza um portento,
no perfil, nas formas puras.
Mas beleza sem talento
é um palácio às escuras.
6
Feliz nunca fui! Sem crença,
procuro a felicidade,
como o cego de nascença
que quer ver a claridade.
7
Há muita gente cativa
neste mundo, como eu,
que vive porque está viva,
no entanto, nunca viveu.
8
Mãe: nem um tálamo nobre
esquecerei, sem mentir,
aquele bercinho pobre
que embalavas pra eu dormir.
9
Não me odeias nem me queres...
Meu Deus! Que tortura imensa!
Mais do que o ódio, as mulheres
detestam a indiferença.
10
O vento que atro zunia,
queria a noite açoitar;
e a noite, calma, dormia
no regaço do luar.
11
Saudade é assim como fado
lembrando quem vive ausente:
é um suspiro do passado
na garganta do presente.
12
Velho em trajes de rapaz
dá a impressão, diz o povo,
de um livro antigo demais
encadernado de novo.
Dissecando a Magia dos Textos (“O choro de uma simples folha de papel em branco”, de Aparecido Raimundo de Souza)
Publicado neste blog em 15 de junho de 2024, no link
Neste texto, a folha de papel se torna um poderoso símbolo da solidão e do desejo de conexão. A narrativa explora as emoções e angústias que muitas vezes permanecem não ditas, tanto para objetos inanimados quanto para seres humanos.
TEMAS PRINCIPAIS
1. Solidão e Abandono
A folha representa aqueles que se sentem esquecidos e não ouvidos, refletindo a condição de muitos indivíduos em nossa sociedade.
2. Empatia e Conexão
A lágrima da menina transforma a folha, simbolizando como pequenos gestos de vulnerabilidade podem criar laços e significados profundos.
3. Transformação e Esperança
Mesmo algo considerado sem valor pode se tornar um receptáculo de esperança e novos começos, mostrando que cada um de nós pode carregar histórias importantes.
PERSONAGENS
A Folha de Papel:
Encara sua própria solidão, mas também deseja ser um suporte emocional. Sua transformação em confidente da menina é central à narrativa.
Personificação: A folha é dotada de sentimentos e desejos, refletindo a solidão e a busca por conexão. Essa personificação faz com que os leitores se identifiquem com sua dor.
Símbolo de Desvalorização: Representa aqueles que se sentem descartados ou invisíveis na sociedade, ecoando a experiência de muitos que lutam para serem ouvidos.
A Menina:
Representa a fragilidade humana e a busca por compreensão. Sua tristeza é universal, ecoando as lutas de muitos.
Vulnerabilidade: Sua tristeza é palpável e representa a fragilidade da juventude. Ela carrega o peso de suas emoções, que se manifestam na forma de lágrimas.
Busca por Alívio: A lágrima que cai na folha simboliza um desejo de desabafar e encontrar conforto, uma conexão que vai além das palavras.
ESTRUTURA NARRATIVA
Introdução da Folha
A folha de papel é apresentada como um objeto comum, mas com uma história não contada. Essa introdução cria uma conexão imediata com o leitor, despertando curiosidade.
Ambiente Escolar
O cenário da sala de aula, com seus sons e agitações, contrasta com a solidão da folha. Isso reflete o caos da vida cotidiana, onde muitos se sentem invisíveis.
Momento de Transformação
A lágrima da menina representa um ponto de virada. É um momento de vulnerabilidade que transforma a folha, mostrando que a dor pode criar empatia e conexão.
ABORDAGENS
1. A Fragilidade da Vida
A folha e a menina compartilham uma fragilidade. Ambas estão em busca de significado e compreensão, simbolizando a luta humana.
2. A Escuta Atenta
A narrativa sugere a importância de ouvir as vozes ao nosso redor, mesmo aquelas que parecem silenciosas. A folha, ao absorver a lágrima, se torna um símbolo dessa escuta.
3. Esperança em Situações Difíceis
A ideia de que mesmo em momentos de desespero é possível encontrar esperança é central. A folha se transforma em um espaço onde novos começos podem surgir.
ELEMENTOS LITERÁRIOS
1. Imagens Sensoriais
A descrição dos sons da sala de aula cria uma atmosfera vibrante, contrastando com a quietude da folha. Isso intensifica a sensação de solidão.
2. Metáforas e Simbolismos
A folha de papel representa não apenas o abandono, mas também um potencial infinito. Sua transformação ao absorver a lágrima é uma metáfora para como a dor pode gerar empatia e compreensão.
3. Narrativa Reflexiva
A narrativa convida à reflexão sobre nossas próprias vidas. Assim como a folha, todos nós temos histórias não contadas e emoções que muitas vezes são ignoradas.
REFLEXÕES
1. Importância da Empatia
A história enfatiza que, independentemente de quão insignificante alguém ou algo possa parecer, há uma necessidade fundamental de empatia e compreensão.
2. A Força da Vulnerabilidade
Mostrar fragilidade pode ser um ato de coragem. A lágrima da menina é um convite para que outros também compartilhem suas dores.
3. Esperança e Renovação
A folha, ao absorver a lágrima, se torna um símbolo de renovação. Isso sugere que mesmo momentos de tristeza podem levar a novos começos e crescimento emocional.
4. Solidão Coletiva
A folha de papel representa uma solidão que não é única. Em ambientes como escolas, muitas pessoas se sentem isoladas, mesmo cercadas por outras. A história destaca como essa solidão é comum, mas ainda assim dolorosa.
5. A Importância da Escuta
A narrativa sugere que ouvir as vozes ao nosso redor pode nos ajudar a entender e apoiar aqueles que sofrem em silêncio. A folha, ao absorver a lágrima, simboliza essa escuta ativa e empatia.
6. Conexão Emocional
A relação entre a folha e a menina exemplifica como conexões inesperadas podem surgir em momentos de vulnerabilidade. Essa conexão pode ser profundamente curativa.
7. Ciclo de Dor e Esperança
A transformação da dor em esperança é um ciclo poderoso. A lágrima, embora dolorosa, traz uma nova vida para a folha, mostrando que a dor pode ser um catalisador para mudança.
8. O Valor do Simples
A história nos lembra que até os objetos mais simples têm valor e significado. Isso nos convida a reavaliar como percebemos o cotidiano e as coisas que consideramos “desprezíveis”.
9. A Natureza da Existência
A folha, embora inanimada, questiona o que significa existir e ser ouvido. Essa reflexão leva os leitores a considerar suas próprias vidas e a importância de suas vozes.
CONEXÕES COM A REALIDADE
1. Experiências Universais
A narrativa ressoa com experiências comuns a muitos, como a tristeza da infância e a busca por aceitação, tornando-a relevante para diversas faixas etárias.
2. Representação de Vulnerabilidades
A história pode ser vista como um espelho das vulnerabilidades humanas, onde cada um de nós, em algum momento, se sentiu como a folha: deixado de lado e em busca de significado.
CONCLUSÃO
A narrativa não é apenas sobre a dor da folha ou da menina, mas sobre a interconexão das experiências humanas. Cada lágrima, cada gesto de vulnerabilidade, tem o poder de transformar não apenas a nós mesmos, mas também aqueles ao nosso redor. A história nos motiva a buscar conexões significativas, a ouvir as vozes silenciadas e a encontrar beleza na fragilidade da vida.
A história é um lembrete poderoso de que todos, mesmo os objetos aparentemente insignificantes, têm histórias e emoções. Ela nos convida a olhar além das superfícies e a reconhecer a dor e a beleza nas pequenas coisas. Essa narrativa nos inspira a cultivar empatia e a valorizar as conexões humanas, lembrando que cada lágrima pode ser um passo em direção à cura e à esperança.
A narrativa destaca a importância de reconhecer as vozes não ouvidas e a capacidade de transformação que existe em momentos de dor. A folha de papel, embora simples, se torna um símbolo de resiliência e esperança, convidando-nos a refletir sobre nossas próprias experiências e as conexões que formamos.
Fonte: José Feldman. Dissecando a magia dos textos: Contos e Crônicas. Maringá/PR. IA Open.
Biblioteca Voo da Gralha Azul. 2024.