ANA ROLÃO PRETO
Soalheira/ Portugal
Olhando as folhas caídas
que o vento arrasta no chão,
fico a pensar nessas vidas
a que ninguém deu a mão.
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Soneto de
ANÍBAL BEÇA
Manaus/ AM, 1946 – 2009
SIMPLES SONETO
Desejado soneto este que é escrito
sem as firulas graves do solene,
que leva na palavra o simples rito
da fala cotidiana. Não condene
no entanto, a falta de um estro especioso,
nem de brega rotule esse meu vezo.
Apenas sinta o som oco e poroso
do fundo mar de anêmonas, o peso
rarefeito das algas nos peraus.
Essa cantiga filtra nossos medos,
as culpas e os tabus, e dá-me o aval
para buscar o simples e em querê-lo
ornamento de estética espartana
na faxina ao supérfluo que se espana.
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Trova de
ANTÓNIO JOSÉ BARRADAS BARROSO
Parede/ Portugal
Vivemos um tempo duro
em que nada nos convence,
não me indaguem do Futuro,
que o Futuro a Deus pertence.
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Poema de
SILVIAH CARVALHO
Manaus/AM
A SÚPLICA DO BEIJA-FLOR
...Quanto a mim, da solidão me vesti,
Vi sangrar o meu coração sem paz,
A segredar à noite tudo que vivi,
Reluto sozinha, não volto atrás.
O sossego das noites não refrigera meus dias,
Poeta beija-flor... Perdi essa identidade!
Exilada morro aos poucos e comigo a poesia,
Tantos “não” que do “sim”, sinto saudades.
Quisera ressuscitar-me, não mais amar...
Já não percebo do amor o fulgor,
Só o silencio que sua ausência deixou.
Eu preciso me redescobrir no teu olhar,
Voar na essência e sabor do seu vasto jardim,
Alimenta esse beija-flor, traga néctar pra mim...
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Trova de
AUGUSTO GIL
Lordelo de Ouro/ Portugal
Teus olhos, contas escuras,
são duas Ave-Marias
do rosário de amarguras
que eu rezo todos os dias!
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Poema de
DOMINGOS FREIRE CARDOSO
Ilhavo/ Portugal
ENERVA-ME ESTA CHUVA IMPERTINENTE
(Fernandes Valente Sobrinho in "Poemas Escolhidos", p. 127)
Enerva-me esta chuva impertinente
Que tomba lá dos céus feitos de breu
E as gotas são o pranto que nasceu
De nuvens que tivessem dor de gente.
O vento ainda faz mais repelente
Cada pingo que o meu rosto ofendeu
Lágrima que do ar se desprendeu
Como um cristal da mágoa que alguém sente.
A chuva tudo alaga, tudo invade
Deixando o fino véu dessa umidade
Caído pelo chão, pênsil dos ramos.
E sobe uma revolta ao meu olhar;
Por que há de a Natureza assim chorar
Do modo como nós também choramos?
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Trova de
DOROTHY JANSSON MORETTI
Três Barras/SC, 1926 – 2017, Sorocaba/SP
Presença eterna do ausente,
perfume em frasco vazado,
saudade é sombra incoerente
num coração apagado.
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Poema de
AFONSO FREDERICO SCHMIDT
Cubatão/ SP, 1890-1964, São Paulo/SP
OS PEQUENOS VARREDORES
Pela escura avenida arborizada,
ninguém. Lá para cima,
escuta-se um rumor que se aproxima,
nuvens rolando pelo chão, mais nada...
Depois, enche-se a noite de pavores,
há risos, pragas, uivos;
dançam, ao longe, contra o vento, ruivos
de poeira, pequeninos varredores.
De ombros estreitos e de faces cavas,
lutam com seus destinos,
nas horas em que todos os meninos
dormem e sonham com princesas flavas.
Há, entre eles, alguns que são precoces,
fumam e bebem. Vários,
transitam para a noite dos ossários,
têm o pulmão comido pelas tosses.
Arrastando o esqualor destas sarjetas,
dirão, olhos em brasa,
que é melhor acabar na Santa Casa
do que viver assim, como grilhetas.
E lá se vão. A nuvem se adelgaça;
um senhor, na alameda
sem luz, toma do lenço, que é de seda,
tapa o nariz, inclina a fronte, e passa…
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Trova do
PROFESSOR GARCIA
Caicó/ RN
Se o tempo me desse tempo,
de fazer mais do que faço,
queimava a sobra do tempo
no calor do teu abraço!
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Soneto de
FILEMON MARTINS
São Paulo/ SP
GARIMPANDO A FELICIDADE
Vou garimpando pela vida afora
a lição de Humildade que conforta
e traz ao coração a Luz da aurora,
mesmo que a crença já pareça morta.
De solo em solo, busco sem demora
o cascalho do Amor que aduba a horta.
Busco a pedra da Fé, que revigora
e prepara o caminho abrindo a porta.
Não quero, meu amigo, andar a esmo,
minha sorte depende de mim mesmo,
que a vida pode ser melhor assim.
E se meus passos forem tão errantes,
buscando joias, pedras, diamantes,
- não haverá felicidade em mim!
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Trova de
CATARINA BLASQUES DE OLIVEIRA BARROSO
Parede/ Portugal
Deus, escuta minha prece,
não me deixes ser assim,
se a tentação acontece,
tem piedade de mim.
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Poetrix de
GERALDO TROMBIN
Americana/SP
FUNDO MUSICAL
Pisou fundo no acelerador,
Bateu de frente com o infortúnio.
Marcha fúnebre!
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Soneto de
AUTA DE SOUZA
Macaíba/RN, 1876 – 1901, Natal/RN+
POBRE FLOR!
Deu-ma um dia uma antiga companheira
Do tempinho feliz de adolescente;
E os meus lábios roçaram docemente
Pelas folhas da nívea feiticeira.
Como se apaga uma ilusão primeira,
Um sonho estremecido e resplendente,
Eu beijei-lhe a corola, rescendente
Inda mais que a da flor da laranjeira.
E como amava o seu formoso brilho!
Tinha-lhe quase essa afeição sagrada
Da jovem mãe ao seu primeiro filho.
Dei-lhe no seio uma pousada franca...
Mas, ai! depressa ela murchou, coitada!
Doce e mísera flor, cheirosa e branca!
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Trova de
APARÍCIO FERNANDES
Acari/RN, 1934 – 1996, Rio de Janeiro/RJ
Felicidade é somente
uma visita apressada
que aparece de repente
e parte sem dizer nada.
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Hino de
CANELA/ RS
Canela, terra querida
Onde a gente vive mais
Possuis pinheiros frondosos
E paisagens naturais
No inverno cai branca neve
Neve de encantos mil
Nossa Suíça encantadora
A Suíça do Brasil
Deus, o criador do mundo
Escultor da natureza
Colocou-te junto ao céu
Premiou-te com a beleza
Enfeitou tua existência
E com flores deu teu nome
A cidade do turismo
A cidade das hortências
Canela, terra querida
Onde a gente vive mais
Possuis pinheiros frondosos
E paisagens naturais
No inverno cai branca neve
Neve de encantos mil
Nossa Suíça encantadora
A Suíça do Brasil
Do turista és preferida
Por tua brisa refrescante
És a terra mais querida
Num recanto exuberante
Se existe o céu na terra
Num pedaço do Rio Grande
É na mais bela cidade
Na cidade de Canela
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Soneto de
BENEDITA AZEVEDO
Magé/ RJ
RESTOS DE SONHOS
Passou a juventude, a sua glória,
inconsequentes risos e paqueras.
Tudo se transformou em vãs quimeras
e a vida de euforia é só memória.
No presente as carências aceleras,
em sonhos de passadas trajetórias.
Mas, a vida em cobranças compulsórias,
deixa-te somente sonhos que veneras.
Duvidosa promessa já acolhida,
não deixa tua alma já liberta
desta lembrança triste, animicida.
Restos de sonhos e esperanças cedem
e o esquecimento nesta fresta aberta,
invade os pensamentos que se perdem.
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Trova de
DEODATO PIRES
Olhão/ Portugal
Neste mundo em convulsão
dia a dia a denegrir
temo com apreensão
o que será o porvir…
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Cantiga Infantil de Roda
ROCK DO RATINHO
(Cyro de Souza)
Era uma vez um ratinho pequenino
que namorava uma ratinha pequenina
e os dois se encontravam todo dia
num buraquinho na esquina
rock rock rock rock rock
é o rato e a ratinha namorando
rock rock rock rock rock
é o rato e a ratinha se beijando
o ratinho lhe trazia todo dia
um pedaço de toucinho fumeiro
um tiquinho de manteiga, um queijinho
e um pouquinho de manteiga no focinho
rock rock rock rock rock
é o sino da igreja badalando
rock rock rock rock rock
é o ratinho e a ratinha se casando…
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Trova Popular de
AUTOR ANÔNIMO
Na rua não sei de onde
puseram não sei que santo,
pra rezar não sei o quê,
e ganhar não sei lá quanto.
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Poema de
VANICE ZIMERMAN
Curitiba/PR
JANELA DE SONHOS...
A janela entreaberta
Ainda à espera
Dos sons da tua volta...
Há tanto silêncio
Em tua ausência,
Que inquieta a alma...
Busco teu olhar, tuas mãos
E não as encontro,
Encontro à saudade
Que se despe
Das rendas tecidas de poesias
E deságua
Em lágrimas…
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Trova de
DIMAS LOPES DE ALMEIDA
Vila Nova de Gaia/ Portugal
Um moinho de ilusão
no meu peito se contém,
pois não vivo só de pão,
vivo de sonhos também.
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Levo a prosa e a poesia,
através de um boletim,
e também toda a magia
que elas trazem para mim.