sexta-feira, 21 de fevereiro de 2025

Vereda da Poesia = 218


Trova de
ANA ROLÃO PRETO
Soalheira/ Portugal

Olhando as folhas caídas
que o vento arrasta no chão,
fico a pensar nessas vidas
a que ninguém deu a mão.
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Soneto de
ANÍBAL BEÇA
Manaus/ AM, 1946 – 2009

SIMPLES SONETO

Desejado soneto este que é escrito
sem as firulas graves do solene,
que leva na palavra o simples rito
da fala cotidiana. Não condene

no entanto, a falta de um estro especioso,
nem de brega rotule esse meu vezo.
Apenas sinta o som oco e poroso
do fundo mar de anêmonas, o peso

rarefeito das algas nos peraus.
Essa cantiga filtra nossos medos,
as culpas e os tabus, e dá-me o aval

para buscar o simples e em querê-lo
ornamento de estética espartana
na faxina ao supérfluo que se espana.
= = = = = = = = =  

Trova de
ANTÓNIO JOSÉ BARRADAS BARROSO
Parede/ Portugal

Vivemos um tempo duro
em que nada nos convence,
não me indaguem do Futuro,
que o Futuro a Deus pertence.
= = = = = = 

Poema de
SILVIAH CARVALHO
Manaus/AM

A SÚPLICA DO BEIJA-FLOR

...Quanto a mim, da solidão me vesti,
Vi sangrar o meu coração sem paz,
A segredar à noite tudo que vivi,
Reluto sozinha, não volto atrás.

O sossego das noites não refrigera meus dias,
Poeta beija-flor... Perdi essa identidade!
Exilada morro aos poucos e comigo a poesia,
Tantos “não” que do “sim”, sinto saudades.

Quisera ressuscitar-me, não mais amar...
Já não percebo do amor o fulgor,
Só o silencio que sua ausência deixou.

Eu preciso me redescobrir no teu olhar,
Voar na essência e sabor do seu vasto jardim,
Alimenta esse beija-flor, traga néctar pra mim...
= = = = = = = = =  

Trova de
AUGUSTO GIL
Lordelo de Ouro/ Portugal

Teus olhos, contas escuras,
são duas Ave-Marias
do rosário de amarguras
que eu rezo todos os dias!
= = = = = = 

Poema de
DOMINGOS FREIRE CARDOSO
Ilhavo/ Portugal

ENERVA-ME ESTA CHUVA IMPERTINENTE
(Fernandes Valente Sobrinho in "Poemas Escolhidos", p. 127)

Enerva-me esta chuva impertinente
Que tomba lá dos céus feitos de breu
E as gotas são o pranto que nasceu
De nuvens que tivessem dor de gente.

O vento ainda faz mais repelente
Cada pingo que o meu rosto ofendeu
Lágrima que do ar se desprendeu
Como um cristal da mágoa que alguém sente.

A chuva tudo alaga, tudo invade
Deixando o fino véu dessa umidade
Caído pelo chão, pênsil dos ramos.

E sobe uma revolta ao meu olhar;
Por que há de a Natureza assim chorar
Do modo como nós também choramos?
= = = = = = = = = 

Trova de
DOROTHY JANSSON MORETTI 
Três Barras/SC, 1926 – 2017, Sorocaba/SP

Presença eterna do ausente,
perfume em frasco vazado,
saudade é sombra incoerente
num coração apagado.
= = = = = = 

Poema de
AFONSO FREDERICO SCHMIDT
Cubatão/ SP, 1890-1964, São Paulo/SP

OS PEQUENOS VARREDORES

Pela escura avenida arborizada,
ninguém. Lá para cima,
escuta-se um rumor que se aproxima,
nuvens rolando pelo chão, mais nada...

Depois, enche-se a noite de pavores,
há risos, pragas, uivos;
dançam, ao longe, contra o vento, ruivos
de poeira, pequeninos varredores.

De ombros estreitos e de faces cavas,
lutam com seus destinos,
nas horas em que todos os meninos
dormem e sonham com princesas flavas.

Há, entre eles, alguns que são precoces,
fumam e bebem. Vários,
transitam para a noite dos ossários,
têm o pulmão comido pelas tosses.

Arrastando o esqualor destas sarjetas,
dirão, olhos em brasa,
que é melhor acabar na Santa Casa
do que viver assim, como grilhetas.

E lá se vão. A nuvem se adelgaça;
um senhor, na alameda
sem luz, toma do lenço, que é de seda,
tapa o nariz, inclina a fronte, e passa…
= = = = = = 

Trova do 
PROFESSOR GARCIA
Caicó/ RN

Se o tempo me desse tempo,
de fazer mais do que faço,
queimava a sobra do tempo
no calor do teu abraço!
= = = = = = 

Soneto de
FILEMON MARTINS
São Paulo/ SP

GARIMPANDO A FELICIDADE

Vou garimpando pela vida afora
a lição de Humildade que conforta
e traz ao coração a Luz da aurora,
mesmo que a crença já pareça morta.

De solo em solo, busco sem demora
o cascalho do Amor que aduba a horta.
Busco a pedra da Fé, que revigora
e prepara o caminho abrindo a porta.

Não quero, meu amigo, andar a esmo,
minha sorte depende de mim mesmo,
que a vida pode ser melhor assim.

E se meus passos forem tão errantes,
buscando joias, pedras, diamantes,
- não haverá felicidade em mim!
= = = = = = = = =  

Trova de
CATARINA BLASQUES DE OLIVEIRA BARROSO
Parede/ Portugal

Deus, escuta minha prece,
não me deixes ser assim,
se a tentação acontece,
tem piedade de mim.
= = = = = = 

Poetrix de
GERALDO TROMBIN
Americana/SP

FUNDO MUSICAL

Pisou fundo no acelerador,
Bateu de frente com o infortúnio.
Marcha fúnebre!
= = = = = = 

Soneto de
AUTA DE SOUZA
Macaíba/RN, 1876 – 1901, Natal/RN+

POBRE FLOR!

Deu-ma um dia uma antiga companheira
Do tempinho feliz de adolescente;
E os meus lábios roçaram docemente
Pelas folhas da nívea feiticeira.

Como se apaga uma ilusão primeira,
Um sonho estremecido e resplendente,
Eu beijei-lhe a corola, rescendente
Inda mais que a da flor da laranjeira.

E como amava o seu formoso brilho!
Tinha-lhe quase essa afeição sagrada
Da jovem mãe ao seu primeiro filho.

Dei-lhe no seio uma pousada franca...
Mas, ai! depressa ela murchou, coitada!
Doce e mísera flor, cheirosa e branca!
= = = = = = 

Trova de
APARÍCIO FERNANDES
Acari/RN, 1934 – 1996, Rio de Janeiro/RJ

Felicidade é somente
uma visita apressada
que aparece de repente
e parte sem dizer nada.
= = = = = = 

Hino de 
CANELA/ RS

Canela, terra querida
Onde a gente vive mais
Possuis pinheiros frondosos
E paisagens naturais

No inverno cai branca neve
Neve de encantos mil
Nossa Suíça encantadora
A Suíça do Brasil

Deus, o criador do mundo
Escultor da natureza
Colocou-te junto ao céu
Premiou-te com a beleza

Enfeitou tua existência
E com flores deu teu nome
A cidade do turismo
A cidade das hortências

Canela, terra querida
Onde a gente vive mais
Possuis pinheiros frondosos
E paisagens naturais

No inverno cai branca neve
Neve de encantos mil
Nossa Suíça encantadora
A Suíça do Brasil

Do turista és preferida
Por tua brisa refrescante
És a terra mais querida
Num recanto exuberante

Se existe o céu na terra
Num pedaço do Rio Grande
É na mais bela cidade
Na cidade de Canela
= = = = = = = = =  

Soneto de
BENEDITA AZEVEDO
Magé/ RJ

RESTOS DE SONHOS

Passou a juventude, a sua glória,
inconsequentes risos e paqueras.
Tudo se transformou em vãs quimeras
e a vida de euforia é só memória.

No presente as carências aceleras,
em sonhos de passadas trajetórias.
Mas, a vida em cobranças compulsórias,
deixa-te somente sonhos que veneras.

Duvidosa promessa já acolhida,
não deixa tua alma já liberta
desta lembrança triste, animicida.

Restos de sonhos e esperanças cedem
e o esquecimento nesta fresta aberta,
invade os pensamentos que se perdem.
= = = = = = = = =  = = = = 

Trova de
DEODATO PIRES
Olhão/ Portugal

Neste mundo em convulsão
dia a dia a denegrir
temo com apreensão
o que será o porvir…
= = = = = = = = = 

Cantiga Infantil de Roda
ROCK DO RATINHO
(Cyro de Souza)

Era uma vez um ratinho pequenino
que namorava uma ratinha pequenina
e os dois se encontravam todo dia
num buraquinho na esquina

rock rock rock rock rock
é o rato e a ratinha namorando
rock rock rock rock rock
é o rato e a ratinha se beijando

o ratinho lhe trazia todo dia
um pedaço de toucinho fumeiro
um tiquinho de manteiga, um queijinho
e um pouquinho de manteiga no focinho

rock rock rock rock rock
é o sino da igreja badalando
rock rock rock rock rock
é o ratinho e a ratinha se casando…
= = = = = = = = =  

Trova Popular de
AUTOR ANÔNIMO

Na rua não sei de onde
puseram não sei que santo,
pra rezar não sei o quê,
e ganhar não sei lá quanto.
= = = = = = = = =  

Poema de
VANICE ZIMERMAN
Curitiba/PR

JANELA DE SONHOS...

A janela entreaberta
Ainda à espera
Dos sons da tua volta...
Há tanto silêncio
Em tua ausência,
Que inquieta  a alma...
Busco teu olhar, tuas mãos
E não as encontro,
Encontro à saudade
Que se despe
Das rendas tecidas de poesias
E deságua
Em lágrimas…
= = = = = = 

Trova de
DIMAS LOPES DE ALMEIDA
Vila Nova de Gaia/ Portugal

Um moinho de ilusão
no meu peito se contém,
pois não vivo só de pão,
vivo de sonhos também.
= = = = = = = = =

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Levo a prosa e a poesia,
através de um boletim,
e também toda a magia
que elas trazem para mim.