sexta-feira, 21 de fevereiro de 2025

Vereda da Poesia = 218

Soneto de
ANÍBAL BEÇA
Manaus/ AM, 1946 – 2009

SIMPLES SONETO

Desejado soneto este que é escrito
sem as firulas graves do solene,
que leva na palavra o simples rito
da fala cotidiana. Não condene

no entanto, a falta de um estro especioso,
nem de brega rotule esse meu vezo.
Apenas sinta o som oco e poroso
do fundo mar de anêmonas, o peso

rarefeito das algas nos peraus.
Essa cantiga filtra nossos medos,
as culpas e os tabus, e dá-me o aval

para buscar o simples e em querê-lo
ornamento de estética espartana
na faxina ao supérfluo que se espana.
= = = = = = = = =  

Poema de
SILVIAH CARVALHO
Manaus/AM

A SÚPLICA DO BEIJA-FLOR

...Quanto a mim, da solidão me vesti,
Vi sangrar o meu coração sem paz,
A segredar à noite tudo que vivi,
Reluto sozinha, não volto atrás.

O sossego das noites não refrigera meus dias,
Poeta beija-flor... Perdi essa identidade!
Exilada morro aos poucos e comigo a poesia,
Tantos “não” que do “sim”, sinto saudades.

Quisera ressuscitar-me, não mais amar...
Já não percebo do amor o fulgor,
Só o silencio que sua ausência deixou.

Eu preciso me redescobrir no teu olhar,
Voar na essência e sabor do seu vasto jardim,
Alimenta esse beija-flor, traga néctar pra mim...
= = = = = = = = =  

Poema de
DOMINGOS FREIRE CARDOSO
Ilhavo/ Portugal

ENERVA-ME ESTA CHUVA IMPERTINENTE
(Fernandes Valente Sobrinho in "Poemas Escolhidos", p. 127)

Enerva-me esta chuva impertinente
Que tomba lá dos céus feitos de breu
E as gotas são o pranto que nasceu
De nuvens que tivessem dor de gente.

O vento ainda faz mais repelente
Cada pingo que o meu rosto ofendeu
Lágrima que do ar se desprendeu
Como um cristal da mágoa que alguém sente.

A chuva tudo alaga, tudo invade
Deixando o fino véu dessa umidade
Caído pelo chão, pênsil dos ramos.

E sobe uma revolta ao meu olhar;
Por que há de a Natureza assim chorar
Do modo como nós também choramos?
= = = = = = = = = 

Poema de
AFONSO FREDERICO SCHMIDT
Cubatão/ SP, 1890-1964, São Paulo/SP

OS PEQUENOS VARREDORES

Pela escura avenida arborizada,
ninguém. Lá para cima,
escuta-se um rumor que se aproxima,
nuvens rolando pelo chão, mais nada...

Depois, enche-se a noite de pavores,
há risos, pragas, uivos;
dançam, ao longe, contra o vento, ruivos
de poeira, pequeninos varredores.

De ombros estreitos e de faces cavas,
lutam com seus destinos,
nas horas em que todos os meninos
dormem e sonham com princesas flavas.

Há, entre eles, alguns que são precoces,
fumam e bebem. Vários,
transitam para a noite dos ossários,
têm o pulmão comido pelas tosses.

Arrastando o esqualor destas sarjetas,
dirão, olhos em brasa,
que é melhor acabar na Santa Casa
do que viver assim, como grilhetas.

E lá se vão. A nuvem se adelgaça;
um senhor, na alameda
sem luz, toma do lenço, que é de seda,
tapa o nariz, inclina a fronte, e passa…
= = = = = = 

Soneto de
FILEMON MARTINS
São Paulo/ SP

GARIMPANDO A FELICIDADE

Vou garimpando pela vida afora
a lição de Humildade que conforta
e traz ao coração a Luz da aurora,
mesmo que a crença já pareça morta.

De solo em solo, busco sem demora
o cascalho do Amor que aduba a horta.
Busco a pedra da Fé, que revigora
e prepara o caminho abrindo a porta.

Não quero, meu amigo, andar a esmo,
minha sorte depende de mim mesmo,
que a vida pode ser melhor assim.

E se meus passos forem tão errantes,
buscando joias, pedras, diamantes,
- não haverá felicidade em mim!
= = = = = = = = =  

Poetrix de
GERALDO TROMBIN
Americana/SP

FUNDO MUSICAL

Pisou fundo no acelerador,
Bateu de frente com o infortúnio.
Marcha fúnebre!
= = = = = = 



Cantiga Infantil de Roda
ROCK DO RATINHO
(Cyro de Souza)

Era uma vez um ratinho pequenino
que namorava uma ratinha pequenina
e os dois se encontravam todo dia
num buraquinho na esquina

rock rock rock rock rock
é o rato e a ratinha namorando
rock rock rock rock rock
é o rato e a ratinha se beijando

o ratinho lhe trazia todo dia
um pedaço de toucinho fumeiro
um tiquinho de manteiga, um queijinho
e um pouquinho de manteiga no focinho

rock rock rock rock rock
é o sino da igreja badalando
rock rock rock rock rock
é o ratinho e a ratinha se casando…
= = = = = = = = =  

Quadra Popular de
AUTOR ANÔNIMO

Na rua não sei de onde
puseram não sei que santo,
pra rezar não sei o quê,
e ganhar não sei lá quanto.
= = = = = = = = =  

Poema de
VANICE ZIMERMAN
Curitiba/PR

JANELA DE SONHOS...

A janela entreaberta
Ainda à espera
Dos sons da tua volta...
Há tanto silêncio
Em tua ausência,
Que inquieta  a alma...
Busco teu olhar, tuas mãos
E não as encontro,
Encontro à saudade
Que se despe
Das rendas tecidas de poesias
E deságua
Em lágrimas…
= = = = = = 

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