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sexta-feira, 3 de janeiro de 2025

Estante de Livros (7 livros de Júlio Verne: resumos)

1. Keraban, o cabeçudo (1883)

Keraban é um rico comerciante turco que se recusa a pagar um imposto para atravessar um rio. Determinado a não ceder, ele opta por uma jornada difícil e cheia de aventuras, que o leva a explorar a natureza e a cultura da região. Durante sua travessia, Keraban enfrenta desafios e perigos, ao mesmo tempo em que aprende sobre a importância da amizade e da solidariedade. 

Combina humor e crítica social, refletindo sobre a teimosia e a obstinação do protagonista.

2. Norte contra Sul (1887)

Neste romance, Verne retrata a rivalidade entre o Norte e o Sul dos Estados Unidos durante a Guerra Civil. A história acompanha um grupo de personagens que, em meio ao conflito, se deparam com dilemas morais e questões de lealdade. 

Verne utiliza a narrativa para explorar os efeitos da guerra nas vidas das pessoas comuns, mostrando suas esperanças e desilusões. A trama é marcada por uma crítica à guerra e à busca por um futuro melhor.

3. Os Filhos do Capitão Grant (1866)

A história começa quando um grupo de amigos encontra uma mensagem em uma garrafa, que pertence ao Capitão Grant, desaparecido em uma expedição. Com a ajuda dos filhos do capitão, eles embarcam em uma aventura marítima para resgatar Grant. A jornada os leva a diferentes partes do mundo, repleta de perigos e descobertas. 

Ao longo da história, temas de coragem, lealdade e a busca pela verdade são explorados, enquanto os personagens enfrentam desafios inesperados.

4. Robur, o Conquistador (1886)

Robur é um inventor brilhante que cria um gigantesco aeróstato, desafiando a ciência e a tecnologia da época. Ele sequestra membros da elite científica para provar sua invenção e demonstrar que a aviação pode revolucionar o transporte. 

A história mistura aventura e reflexão sobre o progresso tecnológico, à medida que Robur enfrenta seus opositores e luta por reconhecimento. O conto também explora a ambição e a visão de futuro do protagonista.

5. A Ilha da Hélice (1895)

Um grupo de cientistas e aventureiros se une para explorar uma misteriosa ilha que aparece em mapas antigos. A ilha é cercada por mistérios e perigos, revelando segredos sobre civilizações perdidas e tecnologias avançadas. 

À medida que os personagens se aprofundam na ilha, eles enfrentam desafios físicos e morais, levando a reflexões sobre a ambição humana e o desejo de conhecimento. A narrativa combina elementos de ficção científica com aventuras emocionantes.

6. O Farol do Fim do Mundo (1905)

A história se passa em um farol isolado na costa da Patagônia, onde um grupo de faroleiros enfrenta a ameaça de piratas. Com coragem e determinação, eles lutam para proteger o farol e a comunidade local. 

A obra explora temas de heroísmo e sacrifício, revelando a importância da união em tempos de crise. Verne descreve a vida no farol com detalhes vívidos, criando uma atmosfera de tensão e aventura.

7. Miguel Strogoff (1876)

Miguel Strogoff é um mensageiro do czar que recebe a missão de atravessar a Rússia até a Sibéria para entregar uma mensagem crucial. Durante sua jornada, ele enfrenta muitos perigos, incluindo inimigos e adversidades naturais. 

O livro é uma emocionante história de coragem, lealdade e sacrifício, à medida que Miguel luta para cumprir sua missão e proteger sua família. Verne explora a resiliência humana em tempos de desafio, transformando a viagem em uma épica aventura.
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Júlio Gabriel Verne nasceu em 1828, em Nantes, na França. Fez faculdade de Direito, em Paris, mas não exerceu a profissão, optou por não seguir esse rumo profissional e investiu na carreira de escritor. Em 1855 foi acometido por uma paralisia facial. Disposto a se casar com Honorine de Viane (1831–1910), ele se tornou corretor da bolsa de valores em 1857, até atingir grande sucesso como escritor, a partir da publicação de seu livro Cinco semanas em um balão, em 1863. Para sobreviver, foi secretário do Teatro Lírico. Foi eleito vereador em Amiens. Em 1892, se tornou oficial da Legião de Honra. Mas, com a morte de seu irmão Paul, em 1897, os problemas de saúde do escritor se agravaram. Ele morreu em 1905, na cidade de Amiens, é tido como o pioneiro da ficção científica. Assim, seus principais livros são direcionados ao público infantojuvenil e apresentam narrativas que também trazem conceitos científicos. 
Algumas obras, além das acima citadas: Cinco semanas em um balão (1863); Viagem ao centro da Terra (1864); Da Terra à Lua (1865); Vinte mil léguas submarinas (1870); A volta ao mundo em oitenta dias (1872); A ilha misteriosa (1874); A escola dos Robinsons (1882); A estrela do Sul (1884), etc.

Fonte: José Feldman (org.). Estante de livros. Maringá/PR: Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul.
Imagem organizada por JFeldman

sexta-feira, 27 de dezembro de 2024

Estante de Livros ("Volpone" ou "A Raposa", de Ben Jonson)

"Volpone", escrito por Ben Jonson em 1605, é uma comédia satírica que explora a avareza, a ambição e a moralidade da sociedade. A peça se passa em Veneza e gira em torno de Volpone, um rico e astuto comerciante que finge estar à beira da morte para enganar os que o cercam e se apropriar de suas riquezas.

ENREDO

Volpone, cujo nome significa "raposa" em italiano, é um personagem extremamente astuto e manipulador. Ele vive com seu criado, Mosca, que é igualmente astuto e serve como seu cúmplice. Para se divertir e aumentar sua fortuna, Volpone finge estar gravemente doente, atraindo a atenção de vários herdeiros que esperam herdar sua riqueza.

Cada um dos pretendentes traz presentes para Volpone, acreditando que seus esforços os farão merecedores de sua fortuna. Enquanto isso, Mosca manipula a situação, alimentando as esperanças dos herdeiros e aproveitando-se de sua avareza.

A trama se complica quando Celia, a esposa de Corvino, entra em cena. Ela é desejada por Volpone, que, ao vê-la, decide que quer possuí-la. Mosca percebe a oportunidade e, com promessas de recompensas, tenta seduzir Corvino a permitir que Volpone encontre um "cuidado" para sua saúde, insinuando que a presença de Celia seria benéfica.

Celia, no entanto, se recusa a ceder aos desejos de Volpone e, ao perceber o plano traiçoeiro, acaba sendo alvo de assédio. A situação se intensifica quando Corvino, enciumado e manipulador, se torna cada vez mais controlador e violento.

O clímax ocorre quando Volpone, em um ato de pura avareza, decide revelar sua verdadeira identidade. Ele organiza uma cena onde todos os pretendentes se reúnem, e, ao invés de conceder a herança a um deles, expõe suas verdadeiras intenções e a hipocrisia que permeava suas ações. A revelação se torna um espetáculo, e o público é levado a rir da audácia de Volpone e da tolice dos herdeiros.

No entanto, a comédia não termina sem consequências. A avareza e a traição têm um custo. Volpone, que acreditava estar no controle, é finalmente punido. As autoridades de Veneza, alertadas sobre suas fraudes, o condenam. Mosca, que inicialmente parecia ser seu aliado, acaba sendo traído e se vê em apuros.

Celia e seu verdadeiro amor, que é um jovem chamado Bonario, acabam por se unir, enquanto a moral da história sublinha os perigos da avareza e da manipulação.

TEMAS CENTRAIS

Avareza e Consequências: 
O tema da avareza é central em "Volpone". A peça mostra como a busca desenfreada por riqueza leva à degradação moral e ao colapso das relações humanas. Volpone, ao manipular os herdeiros, não apenas se coloca em um caminho de autodestruição, mas também revela a hipocrisia e a corrupção da sociedade veneziana.

Manipulação e Engano: 
A manipulação é um elemento crucial na trama. Volpone e Mosca, em suas artimanhas, demonstram como o engano pode ser uma ferramenta poderosa. A peça questiona a moralidade da manipulação e sugere que, em um mundo onde as aparências são enganosas, a verdade é frequentemente subjugada pelo desejo.

Moralidade e Justiça: 
Jonson utiliza a história para questionar as normas morais da sociedade. Embora Volpone e Mosca inicialmente pareçam estar no controle, suas ações têm consequências. O final da peça, com a punição dos protagonistas, sugere que a justiça pode finalmente prevalecer, mesmo em um mundo corrupto.

Hipocrisia Social: 
"Volpone" critica a hipocrisia da sociedade veneziana, onde a aparência e o status social são valorizados acima da integridade. Os herdeiros, em sua busca por riqueza, revelam a superficialidade de suas relações e a falta de princípios que permeia suas ações.

ESTILO E ESTRUTURA

Jonson utiliza uma estrutura de comédia clássica, com elementos de sátira. O uso de diálogos ágeis e espirituosos, combinado com uma rica variedade de personagens, cria uma narrativa envolvente. A linguagem é repleta de trocadilhos e jogos de palavras, refletindo a inteligência e a astúcia dos personagens.

A peça é dividida em cinco atos, cada um intensificando o conflito e a tensão entre os personagens. A construção da trama é habilidosa, levando o público a rir das situações absurdas, enquanto também provoca reflexões sobre a moralidade e a natureza humana.

CONTEXTO HISTÓRICO

"Volpone" foi escrita em uma época em que a avareza e a corrupção estavam em evidência na sociedade. A Inglaterra do século XVII enfrentava profundas mudanças sociais e econômicas, e Jonson, como dramaturgo, estava atento a essas questões. A peça reflete as tensões da época, utilizando a comédia para criticar a moralidade da elite e as instituições sociais.

PERSONAGENS

Volpone: O protagonista astuto, Volpone, é um rico comerciante que finge estar à beira da morte para enganar os herdeiros que desejam sua fortuna. Ele representa a avareza em sua forma mais pura, mostrando como a busca incessante por riqueza pode levar à degradação moral. Sua inteligência e manipulação o tornam uma figura fascinante, mas também repulsiva.

Mosca: O criado de Volpone, Mosca, é um cúmplice que se destaca por sua astúcia e capacidade de manipulação. Ele é o verdadeiro arquétipo do "servo astuto", que, apesar de sua posição subserviente, exerce grande influência sobre os eventos da trama. A dinâmica entre Mosca e Volpone revela uma complexa relação de poder, onde ambos se utilizam um do outro.

Os Herdeiros Voltore, Corbaccio e Corvino representam diferentes facetas da avareza e da ambição. Cada um deles, em busca da fortuna de Volpone, revela suas verdadeiras intenções e a moralidade duvidosa que os caracteriza:

Voltore: um advogado ambicioso que está disposto a fazer qualquer coisa para herdar a fortuna de Volpone.

Corbaccio: um velho avarento que, em sua cegueira por riqueza, decide deserdar seu próprio filho em favor de Volpone.

Corvino: um comerciante ciumento que tenta ganhar a favor de Volpone oferecendo sua esposa, Celia, em troca da herança.

Celia e Bonario: Celia, a esposa de Corvino, é uma figura de pureza e virtude em contraste com os outros personagens. Sua resistência aos avanços de Volpone a torna um símbolo de integridade, enquanto Bonario, seu amante, representa a juventude e a esperança. Juntos, eles oferecem uma contraposição à corrupção que permeia a vida dos outros personagens.

CONCLUSÃO

"Volpone" é uma obra rica em complexidade e significado, que transcende seu contexto histórico. Ben Jonson utiliza a comédia para explorar temas universais como avareza, manipulação e justiça, criando uma narrativa que ressoa com o público contemporâneo. A peça não apenas diverte, mas também provoca reflexões profundas sobre a natureza humana e a moralidade, consolidando seu lugar como um clássico da literatura.

Fonte: José Feldman (org.). Estante de livros. Maringá/PR: Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul.

domingo, 15 de dezembro de 2024

Estante de Livros (Resumos de 10 contos de O. Henry*)


1. O presente de Natal
Um conto comovente que narra a história de Jim e Della, um jovem casal pobre que deseja dar presentes especiais um ao outro no Natal. Della decide vender seus longos cabelos para comprar uma corrente de relógio para o relógio de Jim. Enquanto isso, Jim vende seu relógio para comprar um conjunto de pentes para os cabelos de Della. Quando se encontram para trocar os presentes, percebem a ironia de suas ações, revelando o amor sacrificado que têm um pelo outro.

2. A história do homem que não tinha nada
Este conto foca em um homem chamado John, que vive uma vida humilde e sem posses. Em sua jornada, ele se depara com diversas situações que o testam. Através de seus encontros, John descobre que a verdadeira riqueza não está nas posses materiais, mas nas experiências e nas relações humanas. O final surpreendente revela que, apesar de sua pobreza, ele possui um tesouro emocional que o torna mais rico do que muitos.

3. A última folha
No enredo, duas jovens artistas, Sue e Johnsy, vivem juntas em Greenwich Village. Johnsy contrai pneumonia e perde a vontade de viver, acreditando que vai morrer quando a última folha de uma parreira do lado de fora de sua janela cair. Um velho pintor, Behrman, decide ajudá-la. Ele pinta uma folha falsa na parreira, que a faz acreditar que ainda há esperança. No entanto, ele acaba pegando pneumonia e morre, revelando o sacrifício que fez para dar à jovem a vontade de viver.

4. A rosa da Pérsia
Neste conto, um jovem chamado Ali, que se disfarça de príncipe persa, visita uma loja de flores em Nova York. Ele se apaixona por uma bela florista chamada Rose. Para impressioná-la, ele inventa uma história sobre sua riqueza e posição social. No entanto, quando a verdade vem à tona, Rose revela que não se importa com o status e também nutre sentimentos por Ali. O conto explora a ideia de que o amor verdadeiro transcende as aparências e as posses.

5. Um amor de estudante
Este conto narra a história de um jovem estudante que se apaixona perdidamente por uma colega de classe. Ele descobre que ela é uma talentosa pianista, mas que vive em dificuldades financeiras. O estudante decide fazer sacrifícios para ajudá-la, mesmo que isso signifique comprometer seus próprios sonhos. O conto enfatiza a beleza do amor altruísta e os desafios que os jovens enfrentam em busca de seus objetivos, mostrando como o amor pode inspirar grandes gestos de generosidade.

6. A loteria da Babilônia
Neste conto, O. Henry apresenta uma visão fantástica de uma cidade onde tudo é regido por uma loteria. Os cidadãos são constantemente surpreendidos por sorteios que determinam eventos em suas vidas, desde o que comer até quando morrer. A história explora a ideia de destino e sorte, refletindo sobre a aleatoriedade da vida. O final, inesperado e irônico, revela que a verdadeira sorte pode ser uma questão de perspectiva.

7. A casa do juiz
O conto gira em torno de um juiz aposentado que vive em uma casa cheia de recordações de sua carreira. Um jovem advogado visita o juiz para pedir conselhos sobre um caso. Durante a conversa, o juiz compartilha histórias de seus anos no tribunal, revelando as nuances da justiça e da moralidade. Através de suas memórias, o contador de histórias reflete sobre as falhas do sistema legal e a complexidade do caráter humano, levando o leitor a questionar o que realmente define a justiça.

8. As aventuras de um fotógrafo
Neste conto, um fotógrafo de rua se vê em situações inusitadas enquanto tenta capturar a essência da vida urbana. Ele encontra personagens excêntricos e momentos engraçados, sempre com sua câmera em mãos. Através de suas interações, o fotógrafo descobre que cada pessoa tem uma história única e que a beleza da vida está nas pequenas coisas. O final do conto destaca a importância de valorizar as experiências cotidianas e as conexões humanas.

9. O advogado do diabo
Um advogado ambicioso se vê em um dilema moral quando é chamado para defender um homem acusado de um crime hediondo. À medida que investiga o caso, ele descobre que seu cliente é, na verdade, um homem bom que cometeu o crime em um momento de desespero. O advogado deve decidir entre sua carreira e sua consciência. O conto explora a ética na profissão e as complexidades da natureza humana, culminando em uma reviravolta que desafia as expectativas do leitor.

10. O homem que sabia demais
Neste conto, um homem comum se vê no meio de uma conspiração internacional. Ele descobre informações confidenciais que podem ter sérias consequências. À medida que tenta desvendar a trama, ele se depara com perigos e dilemas morais. O conto examina a ideia de conhecimento e responsabilidade, mostrando como a vida pode mudar drasticamente quando se tem informações que podem afetar outros. O final surpreendente deixa o leitor refletindo sobre as implicações do que sabemos e do que escolhemos ignorar.

Esses resumos oferecem uma visão geral das histórias, seus temas e personagens, destacando a genialidade de O. Henry em capturar a complexidade da vida humana com humor e ironia.
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**O. Henry, pseudônimo de William Sydney Porter, nasceu em 11 de setembro de 1862, em Greensboro, Carolina do Norte/EUA. Ele teve uma infância marcada por várias mudanças, já que seu pai era um médico e sua mãe morreu quando ele era jovem. Em sua juventude, trabalhou em diversas funções, incluindo como balconista e farmacêutico. Em 1896, após ser acusado de desvio de fundos em seu trabalho como caixa em um banco, ele se mudou para a América do Sul, onde começou a escrever. Ao retornar aos Estados Unidos, ele adotou o pseudônimo O. Henry e começou a publicar contos em revistas, ganhando fama por suas narrativas envolventes e reviravoltas surpreendentes. O. Henry teve uma vida pessoal tumultuada, marcada por problemas financeiros e saúde. Ele faleceu em 5 de junho de 1910, em Nova York, mas deixou um legado duradouro na literatura com suas histórias que capturam a essência da vida urbana e a natureza humana.
Obras Relevantes: Heart of the West, 1907; The Caballero's Way, 1907; The Gift of the Magi, 1905; Four Million, 1906; The Last Leaf, 1907.
O. Henry é lembrado por seu estilo ágil e por suas histórias que frequentemente apresentam finais inesperados, tornando-o um dos mestres do conto curto na literatura americana.

Fonte: José Feldman (org.). Estante de livros. Maringá/PR: IA Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul.

sábado, 14 de dezembro de 2024

Estante de Livros ("A Leste do Éden" de John Steinbeck*)

"A Leste do Éden" ("East of Eden"), publicado em 1952, é uma das obras mais ambiciosas de John Steinbeck, explorando temas de moralidade, identidade e o conflito entre o bem e o mal. A narrativa se passa na Califórnia, principalmente no Vale de Salinas, e entrelaça as histórias de duas famílias, os Trask e os Hamilton, ao longo de várias gerações.

ENREDO

O romance começa com a introdução das famílias Hamilton e Trask. Adam Trask é um dos protagonistas, um homem que se muda para o Vale de Salinas com a esperança de criar uma vida melhor. Ele é marcado por um relacionamento conturbado com seu pai, que tem uma visão rígida e opressiva da vida. A história logo revela a rivalidade entre Adam e seu irmão, Charles. A tensão entre eles culmina em um confronto violento, refletindo a luta pela aceitação e o amor paterno.

Adam eventualmente se casa com Cathy Ames, uma mulher manipuladora e sem escrúpulos, que logo se revela uma mãe negligente ao abandonar Adam e seus filhos gêmeos, Cal e Aaron. A ausência de Cathy afeta profundamente a vida dos filhos, que crescem em um ambiente marcado por conflitos internos e rivalidades.

TEMAS CENTRAIS

1. O Conflito entre o Bem e o Mal: 

Um dos temas mais proeminentes é a luta interna entre o bem e o mal. O conceito de “tu podes” é central à obra, sugerindo que cada indivíduo tem o poder de escolher seu próprio destino. Essa ideia é fundamental para a evolução dos personagens, especialmente Cal, que busca redimir-se das ações de sua mãe.

2. Identidade e Hereditariedade:

Steinbeck explora a influência do passado na formação da identidade. Cal e Aaron lutam para definir quem são em meio ao legado de sua mãe e as expectativas do pai. A busca por aceitação e amor é uma constante em suas vidas.

3. Relações Familiares: 

As dinâmicas familiares são complexas e multifacetadas. A relação entre irmãos, a influência dos pais e a busca por conexão são temas centrais. Steinbeck apresenta a família como uma força poderosa, capaz de moldar e destruir ao mesmo tempo.

4. Ambiente e Natureza: 

O Vale de Salinas é mais do que um cenário; é um personagem que reflete as emoções e as experiências dos protagonistas. A natureza é retratada como uma força vital que influencia as vidas dos personagens, simbolizando tanto beleza quanto desafios.

PERSONAGENS PRINCIPAIS

- Adam Trask: Um homem bondoso, mas ingênuo, que busca amor e aceitação. Sua vida é marcada por uma relação conturbada com seu pai e seu irmão, Charles.

- Charles Trask: O irmão de Adam, que representa a inveja e a rivalidade. Sua relação com Adam é complexa, marcada por ciúmes e a busca pela aprovação paterna.

- Cathy Ames: A esposa de Adam, uma personagem manipuladora e sombria que abandona a família. Cathy simboliza o mal e a desumanidade, desafiando as noções de maternidade e amor.

- Cal e Aaron Trask: Os filhos gêmeos de Adam e Cathy, que refletem a dualidade entre o bem e o mal. Cal, em particular, luta com a sombra de sua mãe e a busca por aceitação.

A história entrelaça a herança dos Trask com a vida dos Hamilton, uma família que representa a bondade e a moralidade. Samuel Hamilton, patriarca da família, é um sábio agricultor que serve como mentor para Adam e seus filhos, trazendo uma perspectiva mais esperançosa à narrativa.

ESTILO E LINGUAGEM

Steinbeck utiliza uma prosa rica e poética, imbuída de um forte senso de realismo. Seus personagens são desenvolvidos com profundidade emocional, e a narrativa é entremeada por reflexões filosóficas que elevam a história a um nível mais profundo. O autor faz uso de diálogos autênticos, capturando a voz do povo e a complexidade das relações humanas.

IMPACTO E RELEVÂNCIA

"A Leste do Éden" é frequentemente considerado um dos grandes romances americanos, e sua relevância perdura ao longo do tempo. A obra não apenas oferece uma crítica social e uma reflexão sobre a moralidade, mas também toca em questões universais que continuam a ressoar com os leitores contemporâneos.

FILME "VIDAS AMARGAS"

"Vidas Amargas" (título original: "East of Eden") é uma adaptação cinematográfica de 1955, dirigida por Elia Kazan e estrelada por James Dean, Julie Harris e Raymond Massey. A película se concentra principalmente na relação entre Cal e Aaron Trask, trazendo à tona os conflitos familiares e a luta pela aceitação.

A adaptação de Kazan é notável por sua capacidade de capturar a essência emocional da obra de Steinbeck, embora tome algumas liberdades criativas. James Dean, em sua performance como Cal, traz uma intensidade emocional que personifica a luta interna do personagem. A relação entre irmãos é retratada com profundidade, enfatizando o tema da rivalidade e da busca por amor paterno.

O filme se concentra mais na luta de Cal para superar seu passado e a influência de sua mãe do que na complexidade da narrativa original. A adaptação é visualmente impressionante, utilizando a cinematografia para evocar a beleza e a dureza do Vale de Salinas.

 CONSIDERAÇÕES FINAIS

"A Leste do Éden" explora questões universais sobre a condição humana, a moralidade e as complexidades das relações familiares. Enquanto o romance de Steinbeck oferece uma visão abrangente e multifacetada, a adaptação cinematográfica de Kazan destaca a intensidade emocional dos personagens, tornando a história acessível a um público mais amplo. Ambas as obras permanecem relevantes, refletindo as lutas atemporais da humanidade e a busca por identidade e aceitação.
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*John Steinbeck nasceu em 27 de fevereiro de 1902, em Salinas, Califórnia. Cresceu em uma família de classe média e teve acesso à literatura desde jovem, o que influenciou sua carreira. Estudou na Universidade de Stanford, embora não tenha concluído o curso. Trabalhou em diversas funções, incluindo como operário agrícola e jornalista, experiências que moldaram sua visão social. Durante a Grande Depressão, começou a escrever obras que abordavam as dificuldades dos trabalhadores e as injustiças sociais. Ele se tornou um dos maiores escritores americanos do século XX, ganhando o Prêmio Nobel de Literatura em 1962. Faleceu em 20 de dezembro de 1968, deixando um legado duradouro na literatura.

Obras Mais Relevantes: "O Destino Viaja de Ônibus" (1937); "As Vinhas da Ira" (1939); "A Pérola" (1947); "A Leste do Éden" (1952); "O Inverno de Nosso Descontentamento" (1961)

Essas obras refletem a preocupação de Steinbeck com a condição humana e as injustiças sociais, consolidando seu lugar como um dos grandes escritores da literatura americana.

Fonte: José Feldman (org.). Estante de livros. Maringá/PR: IA Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul.

sexta-feira, 13 de dezembro de 2024

Estante de Livros (“A Viúva Simões”, de Júlia Lopes de Almeida)

"A Viúva Simões" (1897) é um romance da escritora brasileira Júlia Lopes de Almeida, considerado um clássico da literatura brasileira.

RESUMO

A história segue a vida de Carolina Simões, uma jovem viúva que retorna ao Rio de Janeiro após a morte do marido. Carolina é uma mulher inteligente, independente e determinada, que busca reconstruir sua vida.

ENREDO

1. Retorno ao Rio: 
Carolina volta para a casa de sua família, onde encontra seu pai doente e sua irmã solteira.

2. Conflitos familiares: 
Carolina enfrenta pressões para se casar novamente, mas resiste à ideia.

3. Amizade com Fernando: 
Conhece Fernando Seixas, um jovem escritor, com quem desenvolve uma estreita amizade.

4. Desenvolvimento sentimental: 
Carolina e Fernando começam a nutrir sentimentos um pelo outro.

5. Obstáculos sociais: 
A sociedade não aceita o relacionamento, devido à diferença de classe social.

6. Crise e resolução: 
Carolina enfrenta uma crise pessoal, mas finalmente encontra a felicidade com Fernando.

ANÁLISE

Crítica social: 

O livro critica a sociedade brasileira da época, abordando temas como:
- A opressão feminina.
- A hipocrisia da classe alta.
- A importância da educação.

Feminismo: 
Carolina é um exemplo de mulher independente e autônoma, lutando contra as convenções sociais.

Amor e liberdade: 
O romance explora a busca pela felicidade e liberdade individual.

Identidade feminina: 
Carolina enfrenta desafios para manter sua identidade em uma sociedade patriarcal.

Realismo literário: 
O livro apresenta uma visão realista da vida cotidiana no Rio de Janeiro da época.

Personagens principais

Carolina Simões: Protagonista, viúva, inteligente e independente.

Fernando Seixas: Jovem escritor, amigo e posteriormente namorado de Carolina.

Sr. Simões: Pai de Carolina, doente e conservador.

Irmã de Carolina: Solteira e dependente do pai.

Estilo e influências

1. Realismo literário: Influenciado por autores como Gustave Flaubert e Émile Zola.

2. Naturalismo: Aborda temas sociais e psicológicos.

3. Romantismo: Explora o amor e a liberdade individual.

IMPACTO CULTURAL

1. Influência na literatura brasileira: "A Viúva Simões" inspirou gerações de escritores brasileiros.

2. Representação feminina: O livro contribuiu para a representação mais realista da mulher brasileira na literatura.

3. Crítica social: O romance ajudou a questionar as convenções sociais da época.

Fonte: José Feldman (org.). Estante de livros. Maringá/PR: IA Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul.

quinta-feira, 12 de dezembro de 2024

Estante de Livros ("Kalki", de Gore Vidal)

RESUMO

"Kalki" é um romance de Gore Vidal publicado em 1978, que se passa em um futuro distópico, especificamente em um mundo onde os valores e a moralidade da sociedade foram profundamente corrompidos. O livro é uma crítica incisiva à política contemporânea, à religião e ao estado da civilização.

A história é narrada através da perspectiva de uma série de personagens, mas o foco principal está em Kalki, uma figura messiânica que representa a última encarnação de Vishnu, o deus hindu preservador. O enredo se desenrola em um cenário em que a sociedade se deteriorou sob o peso da corrupção, do consumismo e da guerra. Kalki, que surge como um salvador, é uma figura ambígua que desafia as noções tradicionais de heroísmo e sacrifício.

Em 2067, após uma catástrofe nuclear, os Estados Unidos estão fragmentados. O protagonista, Theodore "Ted" Barker, é um jovem jornalista que descobre um movimento messiânico liderado por Kalki, uma figura misteriosa, que promete uma nova era de paz e prosperidade, mas seu verdadeiro objetivo é criar uma raça superior através da engenharia genética. Ted se torna um discípulo de Kalki, mas logo questiona as intenções do líder.

TEMAS CENTRAIS

Messianismo e Redenção: 
Kalki é apresentado como uma figura messiânica, mas Vidal subverte a ideia tradicional de um salvador. A busca por redenção é complexa; ele não é necessariamente um herói, mas um reflexo das falhas da humanidade e das instituições que a governam. Isso provoca uma reflexão sobre a natureza da salvação e a responsabilidade individual.

Crítica Política: 
A obra é uma crítica contundente à política americana e ao sistema de governo. Através da descrição de líderes corruptos e de uma sociedade decadente, Vidal examina a hipocrisia da política e a alienação do cidadão comum. O livro sugere que a corrupção é endêmica e que as instituições falharam em servir ao povo.

Religião e Poder: 
Gore Vidal explora a intersecção entre religião e poder, questionando como as crenças espirituais podem ser manipuladas para fins políticos. A figura de Kalki, como um deus encarnado, levanta questões sobre a fé, a manipulação religiosa e o papel que essas crenças desempenham na sociedade.

Desumanização e Alienação: 
O ambiente distópico do livro ilustra a desumanização do indivíduo em uma sociedade dominada pelo consumismo e pela superficialidade. Vidal retrata personagens que lutam com a alienação, refletindo a crise de identidade em um mundo que valoriza a aparência sobre a essência.

IMPACTO CULTURAL

1. Recepção crítica: 
Kalki recebeu críticas mistas, mas é considerado um clássico da ficção distópica.

2. Influência em outros autores: 
Inspirou obras de autores como Don DeLillo e Margaret Atwood.

3. Contexto histórico: 
Reflete a ansiedade pós-guerra fria e a crise de confiança nos líderes políticos.

ESTILO E ESTRUTURA

O estilo de Gore Vidal em "Kalki" é caracterizado por uma prosa incisiva e um diálogo afiado. Ele utiliza uma narrativa não linear, intercalando diferentes pontos de vista e contextos históricos, o que enriquece a complexidade da história. A construção dos personagens é multifacetada, permitindo que eles sejam simultaneamente representativos de arquétipos e indivíduos únicos.

CONCLUSÃO

"Kalki" é uma obra que transcende seu contexto temporal, abordando questões universais sobre a moralidade, a política e a condição humana. Gore Vidal oferece uma visão sombria, mas perspicaz do futuro, instigando os leitores a refletirem sobre seu papel dentro da sociedade e as implicações de suas escolhas. O livro se destaca não apenas como uma narrativa envolvente, mas como um manifesto crítico que ressoa com inquietações contemporâneas.

Fonte: José Feldman (org.). Estante de livros. Maringá/PR: IA Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul.

quinta-feira, 28 de novembro de 2024

Estante de Livros (“Coração trovador”, de Giuseppe Paolo Dell’Orso)


Dell’Orso apresenta uma série de poemas que se destacam pela sua profundidade emocional e pela beleza lírica. É uma obra que celebra a poesia e a amizade, mostrando como as tradições literárias podem ser transformadas e renovadas.

TEMÁTICA E ESTRUTURA 

A obra é uma coletânea de poemas que revive o espírito dos trovadores medievais, mas com um toque contemporâneo. Dell’Orso utiliza a forma clássica de versos para expressar sentimentos universais, como amor, saudade e a busca por identidade. Seus poemas muitas vezes fazem alusões a paisagens, sentimentos e experiências vividas tanto na Itália quanto no Brasil, criando um diálogo entre as duas culturas. 

ESTILO POÉTICO 

O estilo é marcado por uma musicalidade delicada e por imagens vívidas. Ele incorpora elementos da natureza e da vida cotidiana, utilizando metáforas que evocam as tradições literárias de ambos os países. Os poemas refletem uma profunda sensibilidade e um olhar atento para as nuances da vida. 

IMPACTO E RECEPÇÃO 

O livro foi bem recebido tanto no Brasil quanto na Itália, sendo elogiado por críticos literários por sua capacidade de fundir tradições e por sua linguagem poética. "Coração Trovador" não apenas resgata uma forma literária histórica, mas também a reinventa, tornando-a acessível e relevante para o público contemporâneo. O engajamento de Dell’Orso com a cultura brasileira foi especialmente destacado, solidificando sua posição como um importante mediador entre as culturas italiana e brasileira. 

Aqui estão alguns dos poemas mais conhecidos da obra: 

"Versos de Outono" 
Este poema evoca a transitoriedade da vida, utilizando imagens da natureza para refletir sobre a passagem do tempo e a saudade. A conexão entre os ciclos naturais e os sentimentos humanos é central nesta composição. 

"Canto da Terra" 
Uma ode à beleza das paisagens brasileiras e italianas, este poema celebra a diversidade natural e a relação íntima que os seres humanos têm com a terra. A musicalidade dos versos cria um ritmo envolvente, típico da tradição trovadoresca. 

"Amor de Trovador" 
Neste poema, Dell’Orso explora o amor romântico, utilizando metáforas inspiradas nos trovadores medievais. A linguagem é rica e evocativa, capturando a intensidade dos sentimentos apaixonados. 

"Saudade de Casa" 
Uma reflexão sobre a nostalgia e a busca por pertencimento. Ele utiliza imagens de sua terra natal na Itália e de sua nova vida no Brasil, mostrando como as memórias moldam nossa identidade. 

"Luz do Amanhã" 
Este poema aborda a esperança e a renovação, utilizando a metáfora da luz que surge após a escuridão. É um chamado à resiliência e à busca por novos começos, resonando com a experiência humana universal. 

"Caminhos Cruzados" 
Uma celebração das amizades e das conexões feitas ao longo da vida. Dell’Orso reflete sobre como as relações moldam nossa trajetória, utilizando uma linguagem calorosa e acolhedora. 

Esses poemas exemplificam a habilidade em unir tradição e modernidade, criando uma obra rica em emoção e significado. "Coração Trovador" não apenas resgata a essência da poesia trovadoresca, mas também a adapta ao contexto contemporâneo, tornando-a acessível e relevante para os leitores de hoje. 

Fonte: José Feldman (org.). Estante de livros. Maringá/PR: IA Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul.

sexta-feira, 22 de novembro de 2024

Estante de Livros (3 livros de Herman Hesse)


As obras de Hermann Hesse são profundas explorações da condição humana, abordando temas como a busca por identidade, a luta entre o dever e o desejo, e a necessidade de autoconhecimento. Hesse combina narrativa rica e filosófica com uma prosa poética, criando histórias que desafiam o leitor a refletir sobre suas próprias experiências e escolhas na vida.

1. Rosshalde
Narra a história de Gustav von Aschenborn, um pintor de renome que vive em uma propriedade chamada Rosshalde, com sua esposa, bela e jovem, e seu filho, Bruno. Apesar de seu sucesso artístico, Gustav sente-se preso em sua vida e em suas relações. O romance é ambientado em um período de crise pessoal e artística para Gustav, que se vê confrontado com a insatisfação em seu casamento e o desejo de liberdade criativa.

A obra explora os conflitos internos de Gustav, que se sente dividido entre suas obrigações familiares e sua necessidade de expressar-se artisticamente. A complexidade de seus relacionamentos, especialmente com sua esposa, se torna um reflexo das tensões entre o mundo exterior e sua vida interior. À medida que a história avança, Gustav toma uma decisão que mudará sua vida — ele abandona Rosshalde e sua família em busca de sua própria identidade e de um significado mais profundo.

"Rosshalde" é uma profunda exploração da busca pela autenticidade e da luta entre a arte e a vida pessoal. Hesse utiliza o personagem de Gustav para refletir sobre a tensão entre o dever e o desejo, a liberdade e a responsabilidade. O ambiente de Rosshalde simboliza tanto a segurança quanto a prisão, enquanto a arte de Gustav representa a busca por expressão e verdade.

A relação entre Gustav e sua esposa é central para a narrativa, ilustrando como as expectativas sociais e as pressões familiares podem sufocar a individualidade. A obra também aborda temas de autoaceitação e a importância de seguir o próprio caminho, mesmo que isso signifique deixar para trás pessoas amadas.

Hesse utiliza uma prosa lírica e rica em simbolismo, criando uma atmosfera que ressoa com a busca interna de Gustav. O romance é uma meditação sobre a condição humana, a criatividade e a necessidade de encontrar um propósito que transcenda as convenções sociais.

2. Siddhartha
É um romance que narra a jornada espiritual de um jovem chamado Siddhartha durante o tempo do Buda. Siddhartha, um filho de um brâmane, é inteligente e ambicioso, mas sente-se insatisfeito com a vida de prazeres e rituais convencionais. Ele decide deixar sua casa e seus privilégios, em busca da iluminação e do verdadeiro significado da vida.

Siddhartha se junta a um grupo de ascetas, praticando a renúncia e a meditação, mas logo percebe que essa caminho não leva à verdadeira realização. Em seguida, ele encontra Gautama, o Buda, mas mesmo assim sente que a iluminação não pode ser ensinada, apenas vivida. Siddhartha continua sua busca, experimentando a vida material e amorosa ao se envolver com Kamala, uma cortesã, e se tornando um homem de negócios.

Após anos de excessos, Siddhartha se sente vazio e decide se retirar para a margem de um rio, onde encontra um barqueiro sábio que o ajuda a compreender a natureza do tempo e da existência. Através desse encontro, Siddhartha alcança a iluminação, reconhecendo a unidade de todas as experiências e a interconexão da vida.

É uma obra rica em filosofias orientais e reflexões sobre a busca espiritual. A jornada de Siddhartha é uma metáfora para a busca de cada indivíduo por significado e compreensão. Hesse utiliza elementos do budismo e do hinduísmo para explorar a ideia de que a verdadeira sabedoria vem da experiência pessoal e da introspecção.

O romance destaca a importância do autoconhecimento e da aceitação das dualidades da vida — prazer e dor, amor e perda. Siddhartha é um personagem que representa a universalidade da busca humana por propósito, e sua jornada é uma reflexão sobre como cada um de nós deve encontrar seu próprio caminho.

A prosa de Hesse é poética e contemplativa, criando uma atmosfera meditativa. O simbolismo do rio, que representa o fluxo da vida e a continuidade da existência, é central para a obra, refletindo a ideia de que cada experiência, por mais desafiadora que seja, contribui para o crescimento e a compreensão.

3. O Jogo das Contas de Vidro
Esta é uma obra futurista que se passa em uma sociedade utópica chamada Castália, dedicada ao desenvolvimento da cultura e do intelecto. A história gira em torno de Joseph Knecht, um talentoso jogador das contas de vidro, uma prática que combina música, matemática e filosofia em uma forma de arte elevada. Knecht é escolhido para se tornar um mestre do jogo, mas à medida que avança em sua carreira, começa a questionar o papel da arte e do intelecto na vida humana.

Ao longo da narrativa, Knecht reflete sobre suas experiências e sua relação com a sociedade, incluindo seus amigos e mentores. A obra é dividida em três partes, cada uma explorando diferentes aspectos da vida de Knecht e sua busca por significado. Ele acaba se afastando do sistema rígido de Castália, buscando uma conexão mais profunda com a vida fora da academia.

A história culmina em sua decisão de deixar Castália e se tornar um simples educador, reconhecendo que a verdadeira sabedoria vai além do conhecimento acadêmico. Knecht entende que a vida deve ser vivida plenamente, e não apenas contemplada.

"O Jogo das Contas de Vidro" é uma reflexão profunda sobre o papel da arte, da educação e da espiritualidade na vida moderna. Hesse critica a elitização do conhecimento e a desconexão entre o intelecto e a experiência vivida. A obra é uma meditação sobre a busca pela autenticidade e a necessidade de integração entre o intelecto e a vida prática.

O jogo em si, com sua complexidade e beleza, simboliza a busca pela harmonia e pela compreensão profunda da existência. Através de Knecht, Hesse explora a tensão entre o idealismo e a realidade, questionando se é possível encontrar um equilíbrio entre o intelecto e a vida emocional.

A prosa de Hesse é rica em simbolismo e filosofia, desafiando o leitor a refletir sobre suas próprias crenças e valores. A obra é considerada uma das mais ambiciosas de Hesse, abordando questões existenciais e espirituais que continuam a ressoar com leitores contemporâneos.

Fontes: José Feldman (org.). Estante de livros. Maringá/PR: IA Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul.
Imagem criada por JFeldman a partir de fotografia da estante de livros

quarta-feira, 20 de novembro de 2024

Jaqueline Machado (“Cachorro velho”, de Teresa Cárdenas)

Cachorro velho aproximou do rosto a borda da cuia e cheirou. O aroma do café adoçado com mel lhe entrou em cheio, confortando-o.

Talvez essa fosse a única sensação de prazer de um senhor negro e velho, filho de uma escrava vinda da África. Ele nasceu e cresceu dentro do cercado de uma fazenda de engenho. Nunca ultrapassou as porteiras daquele lugar onde, desde criança, sobreviveu sob a égide dos patrões brancos e do terrível sistema escravista que sugaram suas forças.

O ancião não teve infância, não pode desfrutar dos belos sonhos na juventude. E perdeu seu único e breve amor. 

Toda a história que nasceu para viver, ficou reprimida nas vigas estreitas e estremecidas de suas entranhas.

Seu coração não reconhecia a felicidade. Tanta era sua agonia que, ao sentir prazer por qualquer coisa que se assemelhasse à alegria, ele de imediato repelia o sentimento. Pois não entendia o que era. Estava embrutecido demais para entender sobre bem-estar e amor.

Sua vida era tão sem vida que ele gostava de se imaginar morto...

O café que o confortava era feito por Beira, companheira do barracão onde dormia.

O escravo era tão menosprezado, que não tinha nome. Todos o conheciam por “Cachorro Velho”.

É! Histórias iguais a esta, descrita no emocionante conto, Cachorro Velho, da escritora cubana Teresa Cárdenas, eram muito recorrentes. E ainda são, só que hoje, em formatos diferentes.

Dizem que a escravidão acabou. Então, por que ainda necessitamos de um dia como o 20 de novembro para repensarmos essas tristes histórias?

Sim! O racismo permanece atuante. E fere, oprime e mata.

Muitos dizem que o preconceito não existe. Que tudo isso que ouvimos por aí é “mimimi”... Mas no fundo, todos sabemos que isso não é bem assim...

O racismo é uma grave anomalia da sociedade. Pra mim, trata-se de algo incompreensível, bestial. É impossível entender como a simples diferença de cor de pele pode causar qualquer tipo de rejeição entre os irmãos de uma mesma Terra.

Pelo menos aqui no Brasil, a maioria dos habitantes é descendente de negros. E tem sangue afro correndo em suas veias.

A negritude não perde em humanidade, beleza e cultura, para nenhuma outra raça. Por isso, deixo aqui registrada minha profunda admiração pela cultura do povo negro. E minha nota de repúdio por quem traz no olhar, nas palavras e nas atitudes, a chama venenosa do racismo, e da ingratidão para com este povo que ajudou a construir a nossa linda nação.
 
Fonte: Texto enviado pela autora.

sexta-feira, 15 de novembro de 2024

Estante de Livros (3 Livros de Simone de Beauvoir)


As obras de Simone de Beauvoir são fundamentais para a filosofia existencialista e o feminismo moderno. Seu olhar crítico sobre a opressão das mulheres, a busca por identidade e a complexidade das relações humanas oferece uma rica contribuição ao entendimento da condição feminina. Beauvoir não apenas desafia as normas sociais, mas também inspira a busca pela liberdade e pela autenticidade.

1. O Segundo Sexo

"O Segundo Sexo" é uma obra seminal que examina a condição feminina ao longo da história e nas diversas esferas da vida social, cultural e psicológica. Dividido em duas partes, "Fatos e Mitos" e "A Experiência Vivida", o livro aborda como as mulheres foram historicamente definidas em relação aos homens, sendo frequentemente vistas como "o Outro". Beauvoir analisa a construção social do gênero, explorando temas como a biologia, a psicanálise, a literatura e a filosofia.

Ela argumenta que a opressão das mulheres é resultado de uma construção social que perpetua a ideia de que o homem é o sujeito e a mulher é objeto. Beauvoir não apenas critica essas construções, mas também propõe que as mulheres devem se libertar dessas limitações e assumir sua própria identidade. A famosa afirmação "Não se nasce mulher, torna-se mulher" encapsula sua ideia de que a feminilidade é uma construção social.

A obra é um marco do feminismo moderno e um dos textos fundacionais da teoria de gênero. A análise de Beauvoir é abrangente e interdisciplinar, combinando filosofia, sociologia e psicologia para tratar da opressão das mulheres. Seu estilo é ao mesmo tempo acessível e rigoroso, abordando questões complexas com clareza.

Beauvoir não apenas critica a opressão, mas também explora as possibilidades de emancipação. Ela enfatiza a importância da liberdade e da escolha, argumentando que as mulheres devem se autodeterminar em vez de aceitar papéis impostos pela sociedade. Sua obra continua a ser relevante, oferecendo uma perspectiva crítica sobre as desigualdades de gênero e inspirando movimentos feministas contemporâneos.

2. A Convidada

"A Convidada" é um romance que aborda as complexidades das relações amorosas e a dinâmica de poder entre homens e mulheres. A história gira em torno de Françoise, uma jovem mulher que se envolve com o casal Pierre e Xavière. Françoise se sente atraída por Pierre, mas logo se vê em um triângulo amoroso que desafia suas noções de amor, liberdade e possessividade.

Ao longo da narrativa, Françoise luta com suas próprias inseguranças e desejos, enquanto Pierre e Xavière tentam manter um equilíbrio em seu relacionamento aberto. O romance explora temas como ciúmes, liberdade sexual e a busca por identidade em um contexto de normas sociais restritivas.

"A Convidada" reflete as ideias de Beauvoir sobre a liberdade e a complexidade das relações humanas. A obra examina a tensão entre o desejo individual e as expectativas sociais, destacando a luta de Françoise para encontrar sua própria identidade em meio às pressões externas.

A narrativa é rica em simbolismo e revela as nuances das interações entre os personagens. Beauvoir utiliza seus personagens para discutir questões filosóficas sobre a liberdade e a autenticidade, desafiando as convenções do amor romântico. O romance é uma exploração profunda da condição humana, destacando as contradições do desejo e a necessidade de autoconhecimento.

3. Memórias de uma Moça Bem-Comportada

"Memórias de uma Moça Bem-Comportada" é uma autobiografia em que Beauvoir narra sua infância e juventude, refletindo sobre sua formação intelectual e suas experiências pessoais. A obra é marcada por suas observações sobre a sociedade e a educação da época, explorando como essas influências moldaram sua identidade.

Beauvoir descreve sua família, suas amizades, e suas primeiras descobertas sobre sexualidade e amor. A narrativa revela suas lutas internas e externas, destacando a pressão que sentia para se conformar aos padrões de gênero da sociedade. A obra é tanto uma crônica pessoal quanto uma análise crítica da educação e do papel da mulher na sociedade.

As « Memórias de uma moça bem-comportada » oferecem uma visão íntima de sua formação como pensadora e feminista. A obra é rica em reflexões sobre a liberdade, a escolha e a opressão, revelando como a experiência pessoal é entrelaçada com questões socioculturais mais amplas. A narrativa é marcada por uma honestidade brutal, à medida que Beauvoir questiona as normas que moldaram sua vida.

O estilo autobiográfico de Beauvoir permite uma conexão profunda com o leitor, ao mesmo tempo em que ilustra a luta de uma mulher para se afirmar em um mundo dominado por homens. Sua análise crítica das instituições educacionais e da sociedade é atemporal, e suas reflexões continuam a ressoar com as experiências de muitas mulheres contemporâneas.

Fonte: José Feldman (org.). Estante de livros. Maringá/PR: IA Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul.