Marcadores

Mostrando postagens com marcador Meus manuscritos. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Meus manuscritos. Mostrar todas as postagens

sexta-feira, 18 de abril de 2025

José Feldman (A Alegria de viver sete décadas)

Nasci nos anos 50, no século passado, em um mundo que respirava esperança e transformação. A infância foi marcada por tardes ensolaradas, brincadeiras na rua e um aroma inconfundível de comida caseira que pairava no ar. Era uma época em que o tempo parecia se arrastar, mas, de certa forma, era também um tempo privilegiado, repleto de descobertas. 
 
Ser criança nas últimas quatro décadas do século passado era viver em um mundo de descobertas simples e brincadeiras ao ar livre. Nos anos 60 e 70, as ruas eram os playgrounds. Crianças jogavam bola, andavam de bicicleta e se reuniam para brincar de esconde-esconde até o sol se pôr. Os brinquedos eram feitos de plástico e madeira, e a imaginação corria solta com bonecas, carrinhos e jogos de tabuleiro.

As tardes eram preenchidas com programas de TV, mas a tela era apenas uma parte do entretenimento. A interação social era vibrante, com amigos se reunindo para aventuras, criando histórias e laços que muitas vezes duravam a vida inteira.

Hoje, na última década, a infância é marcada pela tecnologia. Tablets e smartphones tornaram-se os novos brinquedos, e as crianças muitas vezes preferem jogos virtuais a brincadeiras ao ar livre. As redes sociais estão moldando novas formas de interação, mas muitas vezes à custa da desconexão física. Embora os brinquedos modernos sejam incríveis, muitos sentem falta da simplicidade e da criatividade dos brinquedos daquela época.

Lembro-me do primeiro telefone que vi: um aparelho de disco, com um som característico quando girávamos os números. Era uma conquista para a família, uma forma de nos conectarmos com o mundo. Hoje, ao olhar para os smartphones que todos carregam, fico impressionado com a velocidade com que as informações circulam. Naquela época, uma ligação era um evento, um contato especial. Agora, trocamos mensagens em segundos, mas a magia do “disca e espera” se perdeu.

Nos anos 60, a revolução cultural começou a tomar forma. O rock'n'roll invadiu nossas vidas, e os discos de vinil giravam nas picapes, criando trilhas sonoras para nossas histórias. As festas eram regadas a música e dança, enquanto hoje os jovens têm acesso a milhares de playlists com um toque no celular. A nostalgia do vinil, com seu chiado característico e a emoção de virar o disco, é algo que não se compara à música digital, que, apesar de prática, muitas vezes carece daquela autenticidade.

Os anos 70 trouxeram mudanças ainda mais drásticas. A invenção do mimeógrafo nos permitiu democratizar a informação nas escolas e nos grupos comunitários. Ah, como era emocionante ver as folhas saindo, ainda com aquele cheiro de tinta fresca! Hoje, a impressão é instantânea, mas a sensação de ver algo feito à mão, de esperar a tinta secar, parecia conectar as pessoas de um jeito especial. Cada cópia era única, uma obra de arte coletiva.

Na década de 80, a explosão da televisão a cores trouxe novas possibilidades. Assistíamos a programas que moldaram nossa cultura, como "Praça da Alegria" e "Os Trapalhões". A televisão estava se tornando a janela para o mundo, e as conversas na sala giravam em torno do que tínhamos assistido. Agora, com o streaming, temos acesso a uma infinidade de conteúdos, mas muitas vezes perdemos a experiência compartilhada. Lembro-me das reuniões familiares em torno da TV, rindo e comentando cada cena; isso criou laços que ainda guardo com carinho.

E assim, ao longo das décadas, vivi a transição dos anos 50 até agora, atravessando dois milênios. Cada fase trouxe suas belezas e desafios. O desenvolvimento da tecnologia foi impressionante, mas o que realmente me alegra é a capacidade de adaptação. Vi o mundo se transformar, e com isso, aprendi a valorizar o que realmente importa: as conexões humanas.

Hoje, ao olhar para os jovens imersos em suas telas, sinto uma mistura de saudade e admiração. Eles navegam por um mundo que eu mal consigo imaginar, mas também me pergunto se percebem a beleza das pequenas coisas que, para nós, eram fundamentais. A simplicidade de uma conversa à mesa, o toque de uma carta escrita à mão, a espera pela chegada de um disco de vinil pelo correio.

Nos anos 60, a educação era marcada por um ensino rigidamente tradicional. As salas de aula eram organizadas em filas, e o método de ensino focava na memorização e repetição. O professor era visto como uma figura de autoridade, e a participação dos alunos era mínima. Em contraste, a educação atual valoriza a interação e a aprendizagem ativa. Hoje, há um foco maior no desenvolvimento de habilidades críticas e na inclusão, com o uso de tecnologia e metodologias inovadoras que estimulam a curiosidade e o trabalho em grupo.

Nos anos 50, a vida era marcada por papéis tradicionais. Mulheres eram, em sua maioria, donas de casa, dedicadas à família, enquanto os homens eram os provedores. O trabalho feminino fora do lar era visto como exceção, e as aspirações frequentemente limitadas às expectativas sociais. Com a revolução dos anos 60 e 70, as mulheres começaram a desafiar essas normas, ganhando voz lutando por direitos e reconhecimento. Nas últimas duas décadas, tanto mulheres quanto homens enfrentam uma nova realidade. A diversidade de papéis é mais aceita, e o diálogo sobre igualdade de gênero se intensificou. Mulheres são líderes em diversas áreas e homens se tornam mais envolvidos na vida familiar. A luta por igualdade e respeito ainda continua.

Os carros que rodavam nas ruas eram grandes e robustos, com designs icônicos e motores potentes. Os modelos clássicos eram símbolos de liberdade e aventura. Atualmente, os carros são mais eficientes, com tecnologia avançada, como sistemas de navegação, conectividade e motores híbridos. O foco tem mudado para a sustentabilidade e a segurança, refletindo as preocupações modernas.

As lanchonetes eram frequentemente lugares de encontro, com cardápios simples e pratos clássicos, como hambúrgueres e milkshakes. Eram espaços vibrantes, onde jovens se reuniam para socializar. Hoje, as lanchonetes oferecem uma diversidade impressionante de opções, incluindo comidas rápidas de várias partes do mundo, opções veganas e saudáveis, Mc Donald’s, King Burger, Donuts, etc. A experiência de comer fora evoluiu para incluir ambientes temáticos e experiências gastronômicas variadas.

O namoro tinha um caráter mais formal e conservador. As saídas eram planejadas, com o foco em jantares e danças. As interações eram mais diretas e muitas vezes supervisionadas. Atualmente, o namoro é muito mais informal e diversificado. As pessoas se conhecem através de aplicativos e redes sociais, e as dinâmicas de relacionamento são mais flexíveis, permitindo uma ampla variedade de experiências e formas de conexão.

Os parques de diversões eram lugares mágicos, com atrações simples, como carrosséis e montanhas-russas clássicas. A atmosfera era cheia de nostalgia, com jogos de feira e shows ao vivo, jogo de argolas para conseguir prêmios, algodão doce, churros, pipoca. Hoje, os parques de diversões são verdadeiros complexos de entretenimento, com tecnologia de ponta, montanhas-russas emocionantes e experiências imersivas, como simuladores e áreas temáticas. Embora as atrações modernas ofereçam uma adrenalina incrível, muitos ainda guardam boas lembranças das diversões simples de décadas passadas.

Viver era experimentar um mundo cheio de descobertas e simplicidade, enquanto hoje a vida é marcada pela tecnologia e pela diversidade. Ambas as épocas têm suas belezas e desafios, refletindo a evolução da sociedade e das relações humanas. Cada geração traz consigo suas próprias experiências, e é fascinante observar como tudo se transforma ao longo do tempo.

A alegria de ter vivido tanto é uma dádiva. Cada risada, cada lágrima, cada inovação e cada nostalgia me moldaram. E, enquanto o mundo avança, guardo em meu coração essas memórias, como um tesouro que não se pode comprar. Sou grato por ter feito parte de tantas eras, por ter testemunhado a evolução da vida e por saber que, apesar das mudanças, a essência humana permanece a mesma. E assim, sigo em frente, com um sorriso e muitas histórias para contar.
= = = = = = = = =  = = = = = = = = =  = = = = = = = = =  = = = = 

JOSÉ FELDMAN nasceu na capital de São Paulo. Poeta, escritor e gestor cultural. Formado em patologia clínica trabalhou por mais de uma década no Hospital das Clínicas. Foi enxadrista, professor, diretor, juiz e organizador de torneios de xadrez a nível nacional durante 24 anos; como diretor cultural organizou apresentações musicais. Foi amigo pessoal de literatos de renome (falecidos), como Artur da Távola, André Carneiro, Eunice Arruda, Izo Goldman, Ademar Macedo, e outros. Casado com uma escritora, poetisa, tradutora e professora da UEM, mudou-se em 1999 para o Paraná, morou em Curitiba e Ubiratã, e depois em Maringá/PR desde 2011. Consultor educacional junto a alunos e professores do Paraná e São Paulo. Pertence a diversas academias de letras, como Academia Rotary de Letras, Academia Internacional da União Cultural, Confraria Brasileira de Letras, Academia de Letras de Teófilo Otoni/MG, etc, possui os blogs Singrando Horizontes desde 2007, e Pérgola de Textos, um blog com textos de sua autoria e Voo da Gralha Azul. Assina seus escritos por Floresta/PR. Publicou mais de 500 e-books. Premiações em poesias no Brasil e exterior.

Fontes: 
José Feldman. Labirintos da vida. Maringá/PR: Plat. Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul.
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing  

quinta-feira, 17 de abril de 2025

José Feldman (À sombra do lago)

Texto construído tendo por base os versos de Edy Soares (Vila Velha/ES):
Lembrança doce e singela
enchendo o peito de afago:
eu e meu pai na pinguela,
jogando pedras no lago…
Na pequena cidade de Ribeirão Verde, havia um lago que parecia ter saído de um conto de fadas. Suas águas eram calmas e refletiam o céu azul em dias ensolarados, enquanto as árvores em volta dançavam suavemente ao vento. Era um lugar mágico, onde as crianças corriam livres e as memórias se formavam como nuvens no céu. Para Benjamim, o lago era mais do que um simples corpo de água, era um espaço sagrado, um refúgio de lembranças que guardava momentos preciosos ao lado de seu pai.

Certa tarde de verão, quando Benjamim ainda era uma criança, seu pai decidiu que era hora de o levar até a pinguela, uma pequena ponte de madeira que se estendia sobre o lago. Ele sempre dizia que aquele era o melhor lugar para jogar pedras na água e ver as ondas se espalharem como um abraço de boas-vindas. Com um sorriso no rosto, pegou sua mão e seguiram juntos pela trilha que levava ao seu destino.

A pinguela, com suas tábuas desgastadas pelo tempo, rangia sob os pés deles, mas para Benjamim era um som familiar, como uma canção que só os dois conheciam. Seu pai, com seu chapéu de palha e seu jeito despreocupado, era a personificação da alegria. Ele o ensinou a escolher as pedras mais lisas, aquelas que pulavam na superfície da água. “Olhe bem, meu filho. A pedra precisa ter o formato certo. E você deve arremessá-la com confiança”, ele dizia, enquanto Benjamim o observava com admiração.

Esse ritual de jogar pedras era mais do que uma simples brincadeira; era um momento de conexão. Cada pedra que lançavam parecia levar consigo um pedaço de suas preocupações e medos. Benjamim lembrava de como seu pai ria quando uma pedra pulava várias vezes antes de se afundar. “Veja! Essa foi uma campeã!”, ele exclamava, e o garoto ria junto, sentindo a felicidade vibrar em meu peito.

Naquele dia, enquanto jogavam pedras, ele começou a contar histórias de sua infância. Falou sobre os verões que passara pescando com seu pai e como ele mesmo tinha aprendido a escolher as melhores pedras. A cada risada, a cada história compartilhada, o coração de Benjamim se enchia de afeto. A presença do seu pai era um abrigo seguro, e nada parecia mais importante do que aqueles momentos simples à beira do lago.

Com o passar do tempo, Benjamim foi crescendo, e as responsabilidades da vida começaram a se acumular. A escola, os amigos, e mais tarde, o trabalho, foram ocupando seu tempo e sua mente. As visitas ao lago tornaram-se menos frequentes, e a pinguela, uma doce lembrança da infância, foi se tornando apenas uma imagem distante. Mas, em seu coração, ele sabia que aquelas memórias estavam guardadas como um tesouro inestimável.

Anos depois, ao receber a notícia de que seu pai não estava bem, uma onda de nostalgia o invadiu. Lembrou-se da pinguela, das pedras e das risadas. Naquele momento, percebeu que precisava voltar àquele lugar que tanto significava para eles. Assim que pode, organizou uma viagem para Ribeirão Verde.

Chegando lá, encontrou o lago como lembrava, mas a pinguela parecia ter envelhecido. As tábuas estavam mais desgastadas, e o vento parecia sussurrar histórias do passado. Com o coração apertado, se aproximou da beira da água e, por um instante, fechou os olhos. As memórias vieram à tona como se estivesse lá novamente, lançando pedras com seu pai, rindo e aprendendo sobre a vida.

Sentou-se na beira do lago, e as lágrimas escorriam pelo seu rosto. Ele sabia que precisava de um momento de conexão, mesmo que seu pai não estivesse fisicamente presente. Compreendeu que as memórias que guardava eram o verdadeiro legado dele. Com um gesto automático, pegou algumas pedras do chão e começou a jogá-las na água, como faziam antes. Cada arremesso trazia de volta um fragmento do passado, um eco das risadas e das lições.

Neste reencontro com o lago, percebeu que, embora seu pai não estivesse mais ao seu lado, ele continuava vivo nas lembranças doces e singelas que preenchiam seu peito. Ele havia lhe ensinado a importância de valorizar os momentos simples, de encontrar alegria nas pequenas coisas, e naquele dia, ao jogar pedras, ele sentia sua presença como se ele estivesse o guiando novamente.

Enquanto o sol se punha no horizonte, tingindo o céu de laranja e rosa, percebeu que a vida era feita de ciclos. Embora a dor da ausência fosse aguda, as lembranças eram um bálsamo que aliviava a saudade. Com cada pedra que lançava, Benjamim dizia um silencioso “obrigado” ao seu pai, por todas as lições e por cada momento que compartilharam.

Aquela tarde no lago lhe trouxe paz. Compreendeu que a pinguela, as pedras e o lago eram mais do que apenas um cenário, eram símbolos da relação que tiveram e do amor que ainda vive nele. Ao sair daquele lugar, Benjamim levou consigo uma nova certeza: mesmo na ausência física, as memórias permanecem vivas, e o amor nunca se apaga.

E assim, ao voltar para casa, seu coração estava mais leve. Ele sabia que, sempre que precisasse, poderia retornar àquela pinguela, onde as lembranças doces e singelas enchiam seu peito de afago, lembrando-se de que, mesmo na solidão, nunca estamos realmente sozinhos.
= = = = = = = = =  = = = = = = = = =  = = = = 
JOSÉ FELDMAN nasceu na capital de São Paulo. Poeta, escritor e gestor cultural. Formado em patologia clínica trabalhou por mais de uma década no Hospital das Clínicas. Foi enxadrista, professor, diretor, juiz e organizador de torneios de xadrez a nível nacional durante 24 anos; como diretor cultural organizou apresentações musicais. Foi amigo pessoal de literatos de renome (falecidos), como Artur da Távola, André Carneiro, Eunice Arruda, Izo Goldman, Ademar Macedo, e outros. Casado com uma escritora, poetisa, tradutora e professora da UEM, mudou-se em 1999 para o Paraná, morou em Curitiba e Ubiratã, e depois em Maringá/PR desde 2011. Consultor educacional junto a alunos e professores do Paraná e São Paulo. Pertence a diversas academias de letras, como Academia Rotary de Letras, Academia Internacional da União Cultural, Confraria Brasileira de Letras, Academia de Letras de Teófilo Otoni/MG, etc, possui os blogs Singrando Horizontes desde 2007, e Pérgola de Textos, um blog com textos de sua autoria e Voo da Gralha Azul. Assina seus escritos por Floresta/PR. Publicou mais de 500 e-books. Premiações em poesias no Brasil e exterior.

Fontes: 
José Feldman. Labirintos da Vida. Maringá/PR: Plat. Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul.
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing 

sexta-feira, 11 de abril de 2025

José Feldman (E se…?)

Era uma tarde abafada em um café literário do Rio de Janeiro, onde o velho charme das calçadas se misturava com a modernidade das telas de celular, um escritor contemporâneo, Lucas, estava sentado em uma mesa, digitando freneticamente em seu laptop, quando, de repente, uma figura conhecida entrou no estabelecimento. Era ninguém menos que Machado de Assis, com seu famoso chapéu e um olhar perspicaz.

Lucas: (olhando para cima, surpreso) Uau, é você, Machado de Assis! O que faz aqui no século XXI?

Machado: (com um sorriso sutil) Ah, jovem, o tempo é uma construção tão maleável quanto a narrativa. Vim ver como andam as letras modernas.

Lucas: (sorrindo) Pois é, a escrita mudou bastante. Você já pensou em como seriam seus livros hoje? Imagina "Dom Casmurro" com redes sociais!

Machado:(levanta uma sobrancelha) Redes sociais? Como assim?

Após algum tempo, regado a várias xícaras de capuccino, explicando resumidamente para Machado de Assis as mudanças entre os séculos, suas inovações e avanços, continuaram a debater as obras.

Lucas:(animado) Pense! Bentinho faria um perfil no Instagram, postando fotos da Capitu. E você sabe como as pessoas adoram uma polêmica! Imagina os comentários!

Machado:(rindo) Capitu teria que ter um filtro especial para esconde-los, não? O que seria da sua fama com uma "influencer" ao lado?

Lucas: Exato! E Quincas Borba, com seu "Humanitismo", poderia ter uma página de autoajuda no Facebook!

Machado:(pensativo) Hummm... e o que ele diria? “Seja feliz ou não, mas não se esqueça de compartilhar seu progresso”?

Lucas: (rindo) Sim! E imagina a briga entre Quincas e o Robson, agora discutindo em threads de Twitter!

Machado: (com um brilho nos olhos) E a ironia? Ah, meu caro, a ironia seria a estrela! “Humanitismo: mais likes, menos empatia!”

Lucas: (aproximando-se) Vamos ser sinceros, hoje em dia, seria um sucesso! Mas e "Dom Casmurro"? Você ainda acha que ele foi ciumento ou só inseguro?

Machado: (com um sorriso maroto) Ah, meu jovem, a dúvida é o que torna a história tão intrigante. Afinal, quem não tem suas inseguranças? Até mesmo neste café, quem sabe se você não está sendo traído por um croissant?

Lucas: (rindo alto) Bom ponto! Mas eu acho que a Capitu teria um podcast, falando sobre o "casamento moderno". Seria um sucesso!

Machado: (pensando) Um podcast sobre infidelidade? Isso poderia ser um verdadeiro "narrador não confiável" em áudio! Teríamos que chamar o Bentinho para debater.

Lucas: (fazendo gestos) Ouvintes votariam: “Capitu traiu ou não traiu?” E no final, a conclusão seria: “Nada como uma boa conversa no divã!”

Machado: (acena com a cabeça) Uma nova forma de análise, sem dúvida. Mas me conte, como é a literatura atual? Os jovens ainda leem clássicos?

Lucas: (pensativo) Alguns sim, mas muitos preferem resumos e adaptações. E há uma pressão enorme por conteúdo rápido. A leitura se tornou quase um “fast-food”!

Machado: (franzindo a testa) Que pena! A profundidade se perde. A literatura é um banquete, não uma refeição rápida! O que seria de Quincas Borba sem suas reflexões?

Lucas: (com um brilho nos olhos) Certo! Imagino um aplicativo de leitura, onde cada página virada poderia ser um prêmio. “Leia e ganhe pontos!”

Machado: (rindo) Seria um "Humanitismo" gamificado? “Parabéns, você acaba de refletir sobre a condição humana!”

Lucas: (aplaudindo) Exato! E o que você diria aos jovens escritores de hoje?

Machado: (pensativo) Que escrevam com sinceridade. A tecnologia pode mudar, mas a essência da escrita permanece. O olhar humano, as emoções... isso nunca deve se perder.

Lucas: (sorrindo) Palavras sábias, Machado. Vou usar isso na minha próxima obra. 

Machado: (levantando a xícara de café) Então brindemos à literatura, que sempre encontrará um caminho, seja no século XIX ou XXI!

Lucas: (erguendo seu copo) À literatura e ao diálogo entre épocas!

E assim, entre risadas e reflexões, o escritor contemporâneo e o mestre do século XIX continuaram a troca de ideias, mostrando que, independentemente do tempo, a literatura sempre será um terreno fértil para a criatividade e o humor.
= = = = = = = = =  = = = = = = = = =  = = = = 
JOSÉ FELDMAN nasceu na capital de São Paulo. Poeta, escritor e gestor cultural. Formado em patologia clínica trabalhou por mais de uma década no Hospital das Clínicas. Foi enxadrista, professor, diretor, juiz e organizador de torneios de xadrez a nível nacional durante 24 anos; como diretor cultural organizou apresentações musicais. Foi amigo pessoal de literatos de renome (falecidos), como Artur da Távola, André Carneiro, Eunice Arruda, Izo Goldman, Ademar Macedo, e outros. Casado com uma escritora, poetisa, tradutora e professora da UEM, mudou-se em 1999 para o Paraná, morou em Curitiba e Ubiratã, e depois em Maringá/PR desde 2011. Consultor educacional junto a alunos e professores do Paraná e São Paulo. Pertence a diversas academias de letras, como Academia Rotary de Letras, Academia Internacional da União Cultural, Academia de Letras de Teófilo Otoni, etc, possui os blogs Singrando Horizontes desde 2007, e Pérgola de Textos, um blog com textos de sua autoria e Voo da Gralha Azul. Assina seus escritos por Floresta/PR. Publicou mais de 500 e-books. Premiações em poesias no Brasil e exterior.

Fontes:
José Feldman. Labirintos da vida. Maringá/PR: Plat. Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul.
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing 

sábado, 29 de março de 2025

José Feldman (O Livro Mais Chato do Mundo)

Era uma vez um escritor chamado Joaquim que sonhava em publicar seu grande romance. Ele passava horas em seu pequeno escritório, cercado por pilhas de papéis e canecas de café esfriando. A ideia era brilhante: um livro repleto de histórias sobre a vida de formigas, suas rotinas diárias e os desafios de encontrar migalhas. Joaquim estava convencido de que seu livro seria um sucesso.

Após meses de trabalho árduo, Joaquim enviou seu manuscrito para várias editoras. No entanto, as respostas foram desanimadoras. Uma editora até escreveu: “Agradecemos, mas suas histórias sobre formigas são... bem... formigáveis.” 

Ele ficou chateado, mas não desanimou. Ele acreditava que um dia alguém veria a genialidade de seu trabalho.

Finalmente, um dia, Joaquim recebeu uma notícia que o deixou radiante. Ele correu para o bar onde seus amigos costumavam se reunir e, com um sorriso de orelha a orelha, anunciou:

— Pessoal! Tenho uma novidade incrível! Recebi um pagamento por meu livro! 

Os amigos pararam de conversar e olharam para ele com curiosidade.

— Uau! Que legal, Joaquim! — disse Pedro, um dos amigos. — Finalmente, alguém reconheceu seu talento!

— Qual editora finalmente decidiu publicar seu trabalho? — perguntou Maria, entusiasmada.

— A Editora Formiguinha! Eles disseram que meu livro está prestes a ser lançado! — exclamou Joaquim, batendo palmas de alegria.

Os amigos começaram a aplaudir e a brindar em sua homenagem.

— Às formigas! — gritaram, rindo.

No entanto, Joaquim, ainda em seu estado de euforia, não percebeu que havia uma pequena sombra de dúvida pairando sobre a mesa.

— Isso é ótimo, mas como você conseguiu um pagamento antes mesmo do lançamento? — perguntou Carlos, franzindo a testa.

Joaquim, um pouco desconcertado, explicou que havia enviado o manuscrito há meses e que, por algum motivo, a editora decidiu pagar adiantado. Ele estava tão feliz que não via a necessidade de esclarecer mais.

Os amigos, animados, começaram a fazer planos para uma grande festa de lançamento. Joaquim estava nas nuvens, sonhando com o sucesso e as vendas. 

No entanto, quando a empolgação começou a se acalmar, uma dúvida surgiu na mente de Joaquim.

— Espera um pouco... — ele pensou. — Como seria possível receber um pagamento sem ter um contrato assinado?

Com isso, decidiu entrar em contato com a editora. Após várias tentativas, finalmente conseguiu falar com alguém.

— Olá, aqui é Joaquim, o autor de “As Aventuras das Formigas”. Eu recebi um pagamento, mas não estou certo sobre o motivo... — começou ele.

Do outro lado da linha, uma voz muito profissional respondeu:

— Ah, sim, Joaquim! O pagamento foi referente ao reembolso... 

— Reembolso? — perguntou Joaquim, perplexo.

— Sim, seu manuscrito foi extraviado pelos correios e, por isso, decidimos reembolsá-lo. Pedimos desculpas pela confusão.

Joaquim ficou em silêncio, tentando processar a informação. Ele havia confundido um reembolso por extravio com um pagamento por publicação. Com o coração na mão, ele desligou o telefone.

Desesperado e um pouco envergonhado, decidiu voltar ao bar, onde seus amigos ainda estavam celebrando. Ao entrar, a música parou e todos olharam para ele.

— E então, Joaquim? — gritou Maria, toda empolgada. — Vai ser uma grande festa, não é?

Joaquim respirou fundo e, com um sorriso amarelo, confessou:

— Na verdade, pessoal, eu não recebi um pagamento... O que aconteceu foi que os correios perderam meu livro e eles me reembolsaram!

O silêncio tomou conta da mesa, seguido por uma explosão de risadas.

— Então, você está dizendo que seu livro é tão chato que até os correios não conseguiram se interessar? — brincou Pedro, quase se engasgando.

Joaquim respondeu:

— É, parece que minha obra-prima não estava destinada a ser lida... nem pelos correios!

E assim, entre risadas e piadas sobre formigas, Joaquim decidiu que, talvez, fosse hora de reavaliar suas histórias e, quem sabe, escrever sobre algo mais emocionante. Afinal, ele já tinha experiência com histórias que ninguém queria.
= = = = = = = = =  = = = = = = = = =  = = = = 

JOSÉ FELDMAN, poeta, escritor e gestor cultural nasceu em São Paulo, mas se radicou no Paraná desde 1999. Trabalhou por mais de uma década no Hospital das Clínicas em São Paulo. Foi enxadrista, professor, diretor, juiz e organizador de torneios de xadrez a nível nacional durante 24 anos. Diretor cultural. Consultor educacional junto a alunos e professores do Paraná e São Paulo. Pertence a diversas academias de letras, Assina seus escritos pela cidade de Floresta/PR. Publicou mais de 500 e-books. Premiações em poesias no Brasil e exterior.

Fontes:
José Feldman. Labirintos da vida. Maringá/PR: Plat. Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul.
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing  

quarta-feira, 26 de março de 2025

José Feldman (Dilema da Sopa no Quartel)

Era uma manhã ensolarada no quartel do Exército da Vila Militar. O soldado Carlos, um jovem sempre alegre, mas que às vezes exagerava, estava se recuperando de uma leve gripe. Ele havia contatado sua mãe, Dona Edna, e comentou que não estava se sentindo bem. Preocupada, ela decidiu preparar seu famoso prato de sopa de galinha e foi direto para o quartel.

— Vou levar a sopa do meu menino! — disse Dona Edna, com um sorriso no rosto e o prato bem embrulhado em suas mãos.

Ao chegar na entrada do quartel, ela foi recebida por um soldado de plantão.

— Bom dia, senhora! O que deseja? — perguntou ele, firme.

— Bom dia! Eu sou a mãe do soldado Carlos e trouxe uma sopa para ele! — respondeu Dona Edna, com entusiasmo.

— Desculpe, senhora, mas não posso deixar você entrar! — disse o soldado, com um ar sério.

— Mas é só uma sopa! Ele não está se sentindo bem! — insistiu Dona Edna, já começando a se preocupar.

— Senhora, não posso fazer exceções. É contra as regras. — respondeu o soldado, sem mudar a expressão.

Nesse momento, o sargento Almeida passou e ouviu a conversa.

— O que está acontecendo aqui? — perguntou, franzindo a testa.

— Sargento, essa senhora quer entrar com uma sopa para o soldado Carlos — explicou o soldado, apontando para Dona Edna.

— A senhora não pode entrar — disse o sargento, tentando ser firme. 

— Mas eu sou a mãe dele e estou preocupada! — Dona Edna começou a gesticular. — Ele precisa de carinho, de uma sopa quentinha!

— Senhora, eu entendo, mas regras são regras — insistiu o sargento.

Dona Edna, já irritada, decidiu que não ia se deixar abater.

— Olha aqui, meu filho está doente! Eu não vou embora sem ver o Carlos! — disse ela, cruzando os braços.

Nesse momento, o capitão Ferreira apareceu, ouvindo o barulho.

— O que está acontecendo aqui? — perguntou ele, com um ar de autoridade.

— Capitão! Esta senhora quer entrar com uma sopa! — disse o sargento, gesticulando para Dona Edna.

— Sopa? Isso é sério? — perguntou o capitão, olhando para Dona Edna. — Senhora, não podemos permitir isso. Se cada mãe trouxer sopa, vai ser uma bagunça.

— Mas é só uma sopa! — gritou Dona Edna, já começando a perder a paciência.

— Isso é uma questão de disciplina! — interveio o major Souza, que agora se juntara ao grupo.

— Disciplina? Olha, eu só quero ver meu filho e dar a ele essa sopa! — Dona Edna estava quase em lágrimas.

— Senhora, se a senhora entrar, não vai ser só a sopa. Vai ter que trazer um banquete! — disse o major, tentando manter a situação sob controle.

Dona Edna estava prestes a explodir quando Carlos decidiu intervir.

— Mãe! Eu estou aqui! Posso vê-la? — gritou ele, saindo da sala.

— Carlos! — exclamou Dona Edna, aliviada ao ver o filho.

— O que está acontecendo? — perguntou Carlos, percebendo a confusão.

— Eu só queria trazer a sua sopa! — disse Dona Edna, com a voz embargada.

— É só isso? — Carlos olhou para os oficiais, que estavam todos com expressões de cansaço da situação embaraçosa.

— Sim, e todos esses senhores não me deixam entrar! — disse Dona Edna, apontando para o sargento, o capitão e o major.

— Olha, mãe, eu aprecio sua preocupação, mas... — começou Carlos, mas foi interrompido.

— Você não pode ficar doente! — disse Dona Edna, já entrando na conversa. — Você precisa de sopa, carinho e descanso!

— E você precisa aprender a seguir as regras! — disse o major, tentando manter a ordem.

Nesse momento, Dona Edna virou-se para o major.

— E quem disse que a sopa não é uma regra? É uma regra da boa alimentação! — ela retrucou, com uma expressão determinada.

Os oficiais estavam tão cansados da discussão que começaram a olhar uns para os outros, sem saber o que fazer.

— Olhem, vamos resolver isso de uma vez por todas! — disse o capitão, já exasperado. — Carlos, você pode sair com sua mãe e levar a sopa para casa. Assim, a senhora pode cuidar de você.

— É isso mesmo! — exclamou Dona Edna, com um sorriso triunfante. — Vamos, meu filho!

— Mas, e quanto à disciplina? — perguntou o sargento, confuso.

— A disciplina pode esperar! — disse o major, já perdendo a paciência. — Todo mundo aqui já teve mãe! Deixe o soldado ir!

Carlos, aliviado, pegou a sopa de sua mãe e saiu do quartel, seguido por ela, que estava radiante.

— Obrigada, senhores! — ela gritou, enquanto se afastava. — E lembrem-se: sopa é amor!

Os oficiais, exaustos, começaram a rir da situação.

— Nunca mais vou subestimar o poder de uma mãe — disse o capitão, balançando a cabeça.

E assim, o soldado Carlos e sua mãe foram para casa, deixando para trás um quartel que nunca mais esqueceria aquela "sopa".

Fontes:
José Feldman. Labirintos da vida. Maringá/PR: Plat. Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul.
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing

segunda-feira, 17 de março de 2025

José Feldman (A Colisão da Balbúrdia)

Era um dia com muitas nuvens na cidade, e dois idosos José e Marlene estavam a caminho do mercado. José dirigia seu velho fusquinha, enquanto Marlene estava atrás do volante de seu karmann guia, um carro pequeno e brilhante. Ambos estavam ansiosos para comprar os ingredientes do almoço.

Enquanto se aproximavam de um cruzamento, José, distraído, tentava se lembrar de uma velha receita.

— Ah, eu preciso de batatas! — gritou ele para si mesmo, sem perceber que o semáforo estava vermelho.

Marlene, que estava prestes a virar à direita, viu José avançar. Ela tentou buzinar, mas o som do seu carro era mais como um "bipe" tímido.

— Olha o sinal! — gritou Marlene, mas era tarde demais.

BAM!

Os carros colidiram com um estrondo, e os dois motoristas ficaram paralisados por um momento, olhando um para o outro.

— José! O que foi que você fez? — exclamou Marlene, saindo do carro.

— Eu? Você que não olhou para os lados! — respondeu José, já saindo do fusquinha.

— Eu olhei, seu apressado! Você é que avançou o sinal! — Marlene bateu o pé, enquanto ajeitava o cabelo.

Os dois idosos começaram a discutir, levantando os braços e gesticulando como se estivessem no meio de uma apresentação teatral.

— Você deveria usar menos os ouvidos e mais o cérebro! — gritou José, apontando para Marlene.

— E você deveria usar mais os olhos e menos a boca! — retrucou ela, cruzando os braços.

As pessoas que passavam, começaram a parar para assistir à cena, algumas rindo, outras torcendo para que a discussão não terminasse em algo mais sério.

— Olha, gente! Um show de comédia grátis! — gritou um jovem, fazendo todos rirem.

— Calma, pessoal! Isso não é uma competição de quem grita mais alto! — comentou uma mulher idosa que passava.

Nesse momento, o guarda de trânsito Antunes, apareceu, com um ar de autoridade.

— O que está acontecendo aqui? — perguntou, olhando para os dois motoristas.

— Esse senhor avançou o sinal! — disse Marlene, apontando para José.

— Eu não avancei nada! A senhora é que estava distraída! — José respondeu, indignado.

O guarda olhou de um para o outro, tentando entender a situação. 

— Então, vamos lá, quem estava certo aqui? — indagou o guarda Antunes, tentando apaziguar a situação com um sorriso.

— Eu estava certa! — gritou Marlene.

— E eu também! — José respondeu, cruzando os braços.

A confusão só aumentava. Os transeuntes começaram a opinar.

— Eu vi tudo! A Dona Marlene estava certa! — disse um homem que estava vendendo frutas.

— Não, não! O José é um bom motorista! — defendeu uma mulher.

— Eu estava lá! A Dona Marlene estava tão distraída com a maquiagem que nem viu o sinal! — gritou um adolescente.

— A maquiagem é essencial para a segurança no trânsito! — Marlene protestou, dando uma piscadela para o guarda.

— Isso é verdade! Um bom batom pode salvar vidas! — disse uma idosa que estava assistindo a cena.

— Espera aí! — disse o guarda, levantando as mãos. — Vamos esclarecer isso. Quem se machucou?

— Ninguém! — disseram os dois em uníssono.

— Então, por que tanta confusão? — perguntou o guarda.

— Porque ele não sabe dirigir! — apontou Marlene novamente.

— E porque ela não sabe parar de falar! — José retrucou.

A situação estava tão engraçada que as pessoas começaram a aplaudir, como se estivessem assistindo a uma peça de teatro.

— Olha, gente! A disputa dos campeões de trânsito! — gritou o vendedor de frutas, fazendo todo mundo rir mais.

O guarda, percebendo que a situação havia tomado um rumo cômico, decidiu intervir para encerrar a confusão.

— Vamos lá, pessoal. Que tal um acordo? — sugeriu. — Vocês dois vão para o mercado, compram suas comidas e depois se encontram para um café. Assim, resolvem tudo de forma civilizada.

Marlene e José se olharam, ainda um pouco irritados, mas a ideia começou a fazer sentido.

— O que você acha, José? — perguntou Marlene, suavizando o tom.

— Eu acho que um café não seria tão ruim assim... desde que você não fique falando do meu jeito de dirigir! — disse José, já se rendendo.

— E eu prometo não olhar para o lado enquanto você toma café! — riu Marlene.

Assim, os dois motoristas se dirigiram para seus carros, deixando o guarda e os espectadores aliviados e felizes com a resolução da confusão.

— Até a próxima trombada, amigos! — gritou um jovem, enquanto todos riam novamente.

E assim, José e Dona partiram, prometendo que a próxima vez que se encontrassem, seria em um lugar onde não houvesse semáforos, apenas café e boas risadas.
= = = = = = = = =  = = = = = = = = =  = = = = = = = = = = = = =  
JOSÉ FELDMAN nasceu na capital de São Paulo. Formado em técnico de patologia clínica trabalhou por mais de uma década no Hospital das Clínicas. Foi enxadrista, professor, diretor, juiz e organizador de torneios de xadrez a nível nacional durante 24 anos; como diretor cultural organizou apresentações musicais; membro da Casa do Poeta “Lampião de Gás”. Foi amigo pessoal de literatos de renome (falecidos), como Artur da Távola, André Carneiro, Eunice Arruda, Izo Goldman, Ademar Macedo, e outros. Casado com a escritora, poetisa, tradutora e atualmente professora pós-doutorada da UEM, mudou-se em 1999 para o Paraná, morou em Curitiba e Ubiratã, morando atualmente em Maringá/PR em 2011. Consultor educacional junto a alunos e professores do Paraná e São Paulo. Pertence a diversas academias de letras, como Academia Rotary de Letras, Academia Internacional da União Cultural, Academia de Letras de Teófilo Otoni, Confraria Luso-Brasileira de Trovadores, Academia Virtual Brasileira de Trovadores, etc, possui o blog Singrando Horizontes desde 2007, e Pérgola de Textos, um blog com textos de sua autoria. Assina seus escritos por Floresta/PR. Publicou mais de 500 e-books. Premiações em poesias no Brasil e exterior.

Fontes:
José Feldman. Labirintos da vida. Maringá/PR: Plat. Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul.
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing 

sábado, 15 de março de 2025

José Feldman (Fábulas) Ingratidão

Havia um pequeno pássaro chamado Pipi, que tinha um canto lindo e único. Ele sonhava em ser ouvido por todo o mundo, mas não sabia como fazer isso.

Um dia, uma grande águia chamada Áquila, que era conhecida por sua sabedoria e generosidade, ouviu o canto de Pipi. 

Ela ficou impressionada com a beleza da sua voz e decidiu ajudá-lo a alcançar seu sonho.

Áquila levou Pipi para voar sobre as montanhas e vales, e apresentou-o a todos os animais que encontravam pelo caminho. Ela usou sua influência para que Pipi fosse convidado para cantar em todos os eventos importantes da região.

Pipi ficou famoso em pouco tempo, e todos os animais o admiravam. No entanto, à medida que sua fama crescia, Pipi começou a se esquecer de Áquila e de tudo o que ela havia feito por ele.

Ele começou a acreditar que seu sucesso era apenas mérito seu, e que Áquila não havia feito nada para ajudá-lo. Ele até começou a se comportar de forma arrogante e ingrata em relação à águia.

Um dia, Áquila se aproximou de Pipi e disse: "Pipi, você esqueceu de mim? Você esqueceu de tudo o que eu fiz por você? Eu estendi minha asa para você, e agora você me trata como se eu fosse nada?"

Pipi ficou envergonhado e percebeu seu erro. Ele pediu desculpas a Áquila e prometeu nunca mais esquecer dela e de tudo o que ela havia feito por ele.

Moral da fábula: 
A ingratidão é um veneno que pode destruir as relações e a própria alma. Devemos sempre lembrar e agradecer aqueles que nos ajudam e nos apoiam, pois sem eles, não estaríamos onde estamos hoje.
= = = = = = = = =  = = = = = = = = =  = = = = 

Fontes:
José Feldman. Labirintos da vida. Maringá/PR: Plat. Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul.
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing  

terça-feira, 11 de março de 2025

José Feldman (Um dia… um tanto quanto bagunçado na praia)


Era uma manhã com um sol vibrante no céu, quando Aparecido e Lindolfo decidiram ir à praia na Vila das Velhas. Enquanto Aparecido carregava uma expressão de desânimo, Lindolfo pulava de entusiasmo, quase derrubando a bolsa de praia.

— Olha, Aparecido! Hoje vai ser um dia incrível! — disse Lindolfo, animado.

— Incrível até você fazer alguma besteira, como sempre — resmungou Aparecido.

Chegando à praia, o primeiro desafio foi montar o guarda-sol. Lindolfo, com seu jeito atrapalhado, logo começou a lutar com a estrutura.

— Deixe que eu ajudo, Lindolfo! — Aparecido disse, tentando consertar o guarda-sol.

— Não precisa, eu sou um mestre em guarda-sóis! — respondeu Lindolfo, confiante.

Assim que Aparecido segurou o guarda-sol, um vento forte soprou e, com violência, o guarda-sol voou das mãos deles.

— Ah, não! — gritou Aparecido. 

Mas era tarde demais. O guarda-sol saiu deslizando e colidiu com uma tenda onde várias pessoas faziam ioga.

— O que foi isso?! — gritou uma instrutora, enquanto algumas pessoas caíam de costas, outras rolavam e batiam em uma barraca de bebidas.

— Ai, meu Deus! — exclamou Lindolfo, tentando ajudar, mas acabou tropeçando em um tapete de ioga. Ele caiu, e junto com ele, um grupo inteiro de praticantes de ioga desmoronou.

— Olha o que você fez! — Aparecido gritou.

As bebidas ficaram espalhadas pela areia, encharcando várias pessoas que estavam em suas esteiras.

— Essa é a melhor aula de ioga que já fiz! — alguém comentou, rindo, enquanto tentava se levantar.

Lindolfo, ainda tentando se recuperar da queda, disse:

— Vamos para o mar! O banho vai nos refrescar!

Os dois correram em direção à água, mas, ao chegarem à beira, perceberam que a areia estava escaldante.

— Ai, ai! Como está quente! — reclamou Aparecido, pulando de um pé para o outro.

— Pula como um saci, Aparecido! — brincou Lindolfo, que estava pulando de forma desengonçada.

Ao fazer um salto, Lindolfo, em sua típica falta de coordenação, acabou tropeçando em um cachorro que passava.

— Cuidado! — Aparecido gritou, mas já era tarde. Lindolfo caiu na areia, derrubando Aparecido junto, que foi parar de cara na água.

— Eu sabia que você ia fazer alguma besteira! — resmungou Aparecido, com a cara encharcada e enlameada.

— Foi só um pequeno acidente! — defendeu-se Lindolfo, rindo enquanto tentava se levantar.

No entanto, ao se levantar, Lindolfo escorregou na areia molhada e caiu novamente, agora em cima de Aparecido.

— Você está me afundando! — gritou Aparecido, tentando empurrá-lo.

— Desculpa! É tudo culpa do cachorro! — disse Lindolfo, se agitando descontroladamente.

Depois de muitas trapalhadas, finalmente conseguiram se limpar e foram para a água. O mar estava delicioso, e Aparecido até começou a relaxar um pouco.

— Olha, Aparecido! Estamos nos divertindo, não estamos? — disse Lindolfo, mergulhando.

— Se você não parar de fazer besteira, talvez sim! — Aparecido respondeu, tentando manter a calma.

Depois de um tempo, eles decidiram voltar para a areia. Mas, ao chegarem, perceberam que a confusão ainda não havia acabado. A tenda de ioga estava cheia de pessoas tentando se secar e algumas ainda confusas com a situação.

— Eles parecem estar se divertindo com o "aula de ioga aquática" — Aparecido comentou, tentando não rir.

— Olha, quem sabe isso não vira uma nova tendência? — sugeriu Lindolfo, piscando o olho.

— Tendência ou não, eu só quero um pouco de tranquilidade! — Aparecido resmungou.

Quando finalmente se prepararam para ir embora, Aparecido estava ainda mais irritado com as trapalhadas de Lindolfo.

— Você sempre arruma confusão, não é? — Aparecido reclamou.

— Mas pelo menos é divertido! — respondeu Lindolfo, rindo.

— Divertido para você! Eu acabei de passar por uma "experiência de areia" — Aparecido disse, enquanto se sacudia.

— Vamos fazer disso uma tradição! — sugeriu Lindolfo, enquanto caminhavam para o carro.

— Tradicionalmente, eu prefiro um dia tranquilo em casa — Aparecido resmungou, mas não pôde evitar um sorriso ao olhar para o amigo.

E assim, entre risadas e trapalhadas, os dois amigos foram embora da praia, mesmo que Aparecido ainda achasse que a próxima saída deveria ser para um lugar bem longe de qualquer guarda-sol.

Depois de um dia cheio de trapalhadas na praia, Aparecido chegou em casa ainda resmungando sobre as aventuras de Lindolfo. Enquanto se aprontava para tomar um banho, Lindolfo, entusiasmado, começou a mexer no celular.

— Olha, Aparecido! As fotos da praia estão incríveis! — disse Lindolfo, piscando para o amigo.

Aparecido saiu do banheiro, com a toalha na cabeça, e olhou para o telefone.

— Fotos? De que fotos você está falando? — perguntou, já prevendo mais confusões.

— Das nossas aventuras! — respondeu Lindolfo, passando rapidamente pelas imagens. — Olha essa aqui: você caindo de cara na areia!

Aparecido se aproximou, e a imagem era realmente hilária. Ele estava com um olhar de espanto, coberto de areia, e Lindolfo, ao lado, rindo descontroladamente.

— Isso é ridículo! — Aparecido exclamou. — Eu pareço um polvo!

— E essa aqui? — continuou Lindolfo, mostrando outra foto. — Olha a cara de quem estava "mergulhando" na água, com areia na cara!

Aparecido olhou para a foto e teve que admitir que, embora fosse constrangedor, era engraçado.

— Tudo bem, essa é engraçada. Mas e a parte em que você derrubou todo mundo na tenda de ioga?

Lindolfo começou a rolar as imagens e, em seguida, apareceu uma foto com várias pessoas deitadas na areia tentando se levantar.

— Olha, — disse Lindolfo. — você não pode negar que foi uma grande aventura!

— Grande aventura? Você quer dizer "grande desastre"! — Aparecido rebateu, mas com um sorriso involuntário.

Lindolfo finalmente encontrou uma foto que o fez rir ainda mais. Era uma selfie deles, com Aparecido de cara emburrada e Lindolfo com um sorriso enorme, coberto de areia.

— Essa é a melhor! — disse Lindolfo. — "Aparecido, o campeão da praia e eu, seu fiel escudeiro!"

— Fiel escudeiro? Você quer dizer "criador de problemas"! — Aparecido respondeu, mas já não continha as risadas.

— Vamos postar no grupo! — sugeriu Lindolfo, já pronto para compartilhar.

— Não! — Aparecido gritou. — Não quero que todos vejam isso!

— Ah, vai! Todos vão adorar! É um momento especial! — insistiu Lindolfo.

— "Especial"? Se você acha que eu quero ser conhecido como o cara que caiu na areia e foi atingido por um guarda-sol, você está muito enganado! — Aparecido retrucou.

— Mas é isso que faz a vida divertida! — disse Lindolfo, finalmente convencendo Aparecido a deixar ele postar as fotos.

Assim que Lindolfo publicou as imagens, rapidamente começaram a chegar comentários dos amigos.

— "Aparecido, você é um artista da areia!" — comentou um amigo.

— "O que aconteceu com o guarda-sol?!" — outro perguntou, rindo.

Aparecido olhou para Lindolfo, que estava quase se engasgando de tanto rir.

— Ok, você ganhou essa! — disse Aparecido, rendendo-se à situação. — Mas não quero mais aventuras como essa!

— Prometo que na próxima vamos apenas relaxar! — disse Lindolfo, com um sorriso travesso.

Fontes:
José Feldman. Labirintos da vida. Maringá/PR: Plat. Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul.
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing