Luís Fernando Veríssimo, renomado escritor, cronista e humorista brasileiro, é conhecido por sua escrita leve, criativa e cheia de humor. Embora não tenha um manual formal para novos escritores, suas entrevistas, textos e obras oferecem lições valiosas para quem está começando na escrita. Aqui estão algumas dicas extraídas do estilo e das ideias de Veríssimo, com base em sua abordagem literária:
1. Leia muito e de tudo
Veríssimo frequentemente destaca a importância da leitura como base para a escrita. Ele é um leitor ávido e diversificado, o que enriquece sua obra.
Leia autores diferentes, de gêneros variados, para expandir seu vocabulário, seu estilo e sua visão criativa.
“A leitura é essencial. Não há escritor que não seja antes de tudo um leitor.” (LFV)
2. Escreva sobre o que você conhece
Ele acreditava que escrever sobre o que você conhece (seja experiências, comportamentos ou situações) torna o texto mais autêntico e envolvente. Ele usava muito do cotidiano em suas crônicas.
Observe pessoas, situações e diálogos reais ao seu redor. Transforme o comum em algo interessante.
“O humor está no cotidiano, no que vivemos todos os dias. Basta saber olhar.” (LFV)
3. Use o humor como ferramenta
O humor é a marca registrada dele. Ele usava o humor para criticar, questionar e até emocionar. O humor não precisa ser escancarado; pode ser sutil ou irônico.
Experimente inserir humor em situações inesperadas, como em uma conversa banal ou em um momento de tensão.
“O humor é uma forma de olhar o mundo. Às vezes, ele é o único jeito de suportá-lo.” (LFV)
4. Seja simples e direto
Veríssimo evitava floreios desnecessários. Sua escrita é clara, acessível e fluida, o que o torna compreensível para leitores de todas as idades.
Evite palavras complicadas ou frases muito longas. Priorize a clareza e a naturalidade.
“O mais difícil é escrever simples.” (LFV)
5. Observe e capture o comportamento humano
Muitas das histórias e crônicas de Veríssimo são baseadas no comportamento humano, com descrições precisas e engraçadas de situações do dia a dia.
Preste atenção em como as pessoas falam, se movem e reagem. Isso pode inspirar personagens e diálogos autênticos.
“O ser humano é fascinante, porque ele é previsível e imprevisível ao mesmo tempo.” (LFV)
6. Experimente diferentes gêneros e formatos
Sua escrita transita entre crônicas, contos, romances, quadrinhos e roteiros. Essa versatilidade o ajudou a alcançar públicos diferentes.
Se você escreve contos, experimente crônicas. Se escreve prosa, tente poesia. Expandir suas habilidades pode surpreender você.
“Eu gosto de experimentar. Às vezes funciona, às vezes não. Mas o importante é tentar.” (LFV)
7. Não se leve tão a sério
Veríssimo acreditava na leveza e no prazer de escrever. Ele não tentava ser pretensioso ou “literário” demais.
Escreva com naturalidade, sem se preocupar excessivamente com perfeição. Divirta-se no processo.
“Escrever é como contar uma boa piada: tem que fluir, senão perde a graça.” (LFV)
8. Cultive a curiosidade
Ele era curioso por natureza e usava isso para criar histórias e personagens. Ele observava o mundo com olhar atento e questionador.
Pergunte-se “e se?” com frequência. Por exemplo: “E se esse vizinho estranho fosse um espião?” ou “E se o mundo acabasse amanhã?”
“A curiosidade é o que move o escritor.” (LFV)
9. Não tenha medo de reescrever
Ele mencionava que reescrever faz parte do processo de escrita. Nem sempre o primeiro rascunho será perfeito.
Depois de escrever, deixe o texto descansar. Volte a ele com um olhar crítico e faça ajustes.
“Escrever é reescrever.” (LFV)
10. Seja um observador do tempo em que vive
Veríssimo usava suas crônicas para refletir sobre questões sociais, políticas e culturais. Ele transformava o contexto em ficção ou humor.
Olhe ao redor e escreva sobre o que está acontecendo no mundo – com crítica, ironia ou emoção.
“A crônica é um reflexo do tempo em que vivemos.” (LFV)
11. Não tenha pressa para encontrar sua voz
Segundo Veríssimo, o estilo de um escritor surge com o tempo e a prática. Não se preocupe em ser original no início; a autenticidade virá.
Escreva todos os dias, mesmo que seja apenas um parágrafo. Aos poucos, você encontrará seu próprio jeito de contar histórias.
“O estilo é uma consequência, não um objetivo.” (LFV)
12. Divirta-se escrevendo
Acima de tudo, ele acreditava que a escrita deve ser prazerosa, tanto para o autor quanto para o leitor.
Escreva sobre temas que você gosta ou que o divertem. Isso transparecerá no texto e cativará o leitor.
“Se você não se diverte escrevendo, o leitor não vai se divertir lendo.” (LFV)
Resumo das dicas de Luís Fernando Veríssimo
- Leia muito e observe o mundo ao seu redor.
- Escreva com simplicidade, autenticidade e leveza.
- Inclua humor e ironia sempre que possível.
- Reescreva e experimente novos formatos.
- Não tenha pressa: a prática e a consistência são essenciais.
Essas lições mostram que a escrita é tanto uma arte quanto um ofício – e, como Veríssimo demonstrava em sua obra, ela pode ser ao mesmo tempo inteligente e divertida.
Luís Fernando Veríssimo é mestre em usar o humor em suas crônicas para criticar, refletir ou simplesmente entreter. Seu estilo é marcado por uma combinação de ironia, observações do cotidiano, diálogos engraçados e situações aparentemente banais que ele transforma em algo hilário. Aqui estão alguns exemplos de como ele usa o humor em suas crônicas, com explicações sobre as técnicas empregadas:
1. Observação do Cotidiano
Veríssimo transforma situações comuns em algo cômico ao destacar o absurdo ou a ironia escondida no dia a dia.
Exemplo: “A Dieta”
Nesta crônica, Veríssimo brinca com a obsessão por dietas e o comportamento contraditório das pessoas que tentam emagrecer. Ele narra a história de alguém que segue uma dieta rigorosa durante o dia, mas à noite devora um bolo inteiro escondido na cozinha.
Humor: A graça está no exagero e na identificação do leitor com o comportamento descrito. Quem nunca tentou enganar a própria dieta?
Trecho:
“A dieta é questão de honra. Você toma só suco no café da manhã, come só salada no almoço, recusa a sobremesa, mas, à noite, o bolo de chocolate começa a cochichar seu nome na cozinha.”
2. Humor Autodepreciativo
Ele usa a si mesmo ou narradores fictícios como alvos da piada, criando empatia com o leitor.
Exemplo: “Academia”
O narrador conta sua experiência desastrosa ao entrar em uma academia de ginástica, fazendo piada sobre a falta de preparo físico e o desconforto em meio a pessoas saradas.
Humor: A graça está no contraste entre o narrador comum (fora de forma) e os frequentadores da academia, além da ironia com a própria situação.
Trecho:
“Eu sabia que estava fora de forma, mas não sabia que a forma era tão fora de mim. No primeiro exercício, quase desmaiei. No segundo, desmaiei mesmo.”
3. Diálogos Bem-Humorados
Cria diálogos rápidos e engraçados, muitas vezes absurdos ou carregados de ironia.
Exemplo: “O Analista de Bagé”
O Analista de Bagé, um dos personagens mais famosos de Veríssimo, é um psicanalista gaúcho que mistura o rigor da análise freudiana com a rusticidade e a franqueza típicas do interior do Rio Grande do Sul.
Humor: O contraste entre o cenário sofisticado da psicanálise e a simplicidade gaudéria cria situações hilárias.
Trecho:
Paciente: “Doutor, eu tenho um problema com a minha mãe...”
Analista: “Problema com a mãe? Pois te atira de joelhos no chão e pede perdão pra velha, tchê!”
Paciente: “Mas ela está morta!”
Analista: “Então pede perdão mais alto, que ela há de ouvir, vivente!”
4. Ironia e Crítica Social
Usa o humor para criticar comportamentos, preconceitos ou aspectos da sociedade, mas de forma leve e acessível.
Exemplo: “A Mulher Ideal”
Ele descreve o que seria a mulher ideal de acordo com os padrões absurdos da sociedade, brincando com os estereótipos de beleza e comportamento.
Humor: A ironia está em exagerar os padrões irreais, tornando-os absurdos e, portanto, engraçados.
Trecho:
“A mulher ideal é aquela que acorda maquiada, tem o corpo de atleta olímpica, nunca reclama e ainda acha graça das piadas do marido. Em resumo, não existe.”
5. Exagero e Situações Surreais
Veríssimo leva situações cotidianas ao extremo para torná-las cômicas.
Exemplo: “A Guerra do Lanche”
A crônica narra uma discussão entre amigos sobre quem vai pagar a conta de um lanche, que acaba escalando para uma guerra literal, com batalhas e exércitos.
Humor: O exagero transforma algo trivial (dividir a conta) em uma situação épica e absurda.
Trecho:
“No início, era só um argumento: ‘Eu pago.’
Depois, começaram os insultos: ‘Você pagou da última vez, então deixa que eu pago agora!’
Em minutos, estávamos armados com os canudos e os guardanapos como bandeiras.”
6. Troca de Expectativas
Surpreende o leitor ao subverter o desfecho esperado de uma situação.
Exemplo: “Amor”
Um homem vê uma mulher maravilhosa no trânsito e sente que é amor à primeira vista. Ele fantasia sobre como seria a vida ao lado dela, mas, quando finalmente decide segui-la, descobre que ela está dando carona para o marido.
Humor: O final inesperado quebra o clima romântico e traz o leitor de volta à realidade.
Trecho:
“Ela era perfeita, e eu já imaginava nossos filhos, nossa casa e nosso cachorro. Mas então ele apareceu, e eu me perguntei: ‘Será que o marido dela também é perfeito?’”
7. Paródias e Referências Culturais
Usa paródias para brincar com obras literárias, filmes ou eventos históricos.
Exemplo: “Romeu e Julieta às Avessas”
Ele reconta a história de Romeu e Julieta, mas com um final cômico e invertido: os dois sobrevivem e, anos depois, estão entediados no casamento.
Humor: A graça está na desconstrução de uma história clássica e no contraste entre o romance idealizado e a realidade.
Trecho:
“Romeu e Julieta sobreviveram e se casaram. Dez anos depois, Julieta gritava: ‘Deixa de ser dramático, Romeu, e vai lavar a louça!’”
8. Personagens Cômicos
Cria personagens marcantes e engraçados, como o Analista de Bagé, a Velhinha de Taubaté (que acreditava cegamente no governo) ou Ed Mort (um detetive atrapalhado).
Exemplo: “Ed Mort”
Ed Mort é um detetive particular que sempre se mete em confusões absurdas. Seu humor vem da mistura de autoconfiança e incompetência.
Humor: A graça está nas situações ridículas que Ed Mort enfrenta e na forma como ele tenta resolvê-las.
Trecho:
“Ela entrou no meu escritório com um vestido vermelho e um problema. Eu estava com fome e sem dinheiro. Era o início de um caso perfeito!”
Luís Fernando Veríssimo usava o humor de maneira inteligente e versátil, explorando ironias, exageros, diálogos bem-humorados, críticas sociais e situações do cotidiano. O segredo do seu sucesso está na leveza com que ele aborda temas sérios e banais, sempre criando identificação e risadas no leitor. Seu humor é uma aula de como usar a simplicidade para criar textos memoráveis!
Fontes:
José Feldman (org.) Como escrever? Floresta/PR: Plat. Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul.
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