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quinta-feira, 31 de outubro de 2024

Recordando Velhas Canções (Quero morrer cantando)


(samba, 1934)

Compositor: Valfrido Silva

Quero morrer cantando um samba
No meio de uma roda bamba
Quero zombar da própria morte
Cercado das pequenas
Que me deram inspiração e forte

No outro mundo
Vão me rir e caçoar
E decida se matando em trabalhar
Pensando somente na riqueza
Sendo a vida mergulhada
Mergulhada na tristeza

Quero morrer cantando um samba
No meio de uma roda bamba
Quero zombar da própria morte
Cercado das pequenas
Que me deram inspiração e forte

quarta-feira, 30 de outubro de 2024

Recordando Velhas Canções (Balada Triste)

(samba-canção, 1956)


Compositor: Dalton Vogeler e Esdras Silva

Balada triste 
Que me faz
Lembrar alguém  
Alguém que existe
E que outrora
Foi meu bem 

Balada triste 
Melodia do meu drama
Esse alguém já não me ama
Esqueceu você também 

Não há mais nada 
Foi um sonho
Que passou
Triste balada
Só você me acompanhou 

Fica comigo !
Velha amiga, companheira
Quero cantar-te a vida inteira
Prá lembrar o que passou...

A Melancolia de um Amor Perdido em 'Balada Triste'
A música 'Balada Triste', é uma profunda reflexão sobre a dor e a saudade de um amor que se foi. A letra começa com a evocação de uma balada triste que traz à memória alguém especial, alguém que um dia foi muito amado. Essa pessoa, que antes era o centro do afeto do eu lírico, agora não está mais presente, e a melodia triste serve como um lembrete constante dessa ausência.

A canção é permeada por um sentimento de desilusão e resignação. O eu lírico reconhece que o amor que um dia existiu não mais o acompanha, e que a pessoa amada também o esqueceu. A repetição da frase 'não há mais nada' reforça a ideia de que tudo o que restou é a lembrança dolorosa de um sonho que acabou. A balada, descrita como uma velha amiga e companheira, é a única coisa que permanece, servindo como um consolo melancólico para o eu lírico.

A música é uma ode à memória de um amor perdido, e a decisão de cantar essa balada 'a vida inteira' mostra a profundidade do impacto que essa relação teve. A 'Balada Triste' não é apenas uma canção sobre a perda, mas também sobre a aceitação e a convivência com a dor, transformando-a em uma companheira constante.

Ângela Maria fazia uma temporada em Buenos Aires quando conheceu a canção “Balada Triste” por intermédio de seu acompanhador, o violonista Manoel da Conceição. Decidida a gravá-la o quanto antes, apressou-se em obter a permissão do autor, Dalton Vogeler, baixista do conjunto de Valdir Calmon, por coincidência, na ocasião, também em temporada na capital argentina. Daí resultou o duplo lançamento da composição — que já havia sido entregue a Agostinho dos Santos —, alcançando ambas as gravações o maior sucesso.

Bem de acordo com o título, “Balada Triste” é uma pungente canção de amor com versos e melodia impregnados de tristeza. Sem ser plágio, reproduz o clima da “Serenata” (Stãndchen) de Schubert, citada, aliás, no prólogo das gravações iniciais. 

Fontes:
Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello. A Canção no Tempo - Vol.2.
https://www.letras.mus.br/agostinho-dos-santos/479709/significado.html

domingo, 27 de outubro de 2024

Recordando Velhas Canções (Saudade da Bahia)

(samba, 1957)


Compositor: Dorival Caymmi

Ai ai que saudade eu tenho da Bahia
Ai se eu escutasse o que mamãe dizia
“Bem não vá deixar a sua mãe aflita
A gente faz o que o coração dita
Mas esse mundo é feito de maldade e ilusão”

Ai se eu escutasse hoje eu não sofria
Ai essa saudade dentro do meu peito
Ai se ter saudade e ter algum defeito
Eu pelo menos mereço o direito
De ter alguém com que eu possa me confessar

Ponha-se no meu lugar e veja como sofre
Um homem infeliz  
que teve que desabafar
Dizendo a todo mundo o que ninguém diz
Vejam que situação
E vejam como sofre um pobre coração
Pobre de quem acredita
Na glória e no dinheiro para ser feliz

A Melancolia e a Nostalgia em 'Saudade da Bahia'
A música 'Saudade da Bahia', composta e interpretada pelo icônico Dorival Caymmi, é uma expressão lírica da melancolia e da saudade, sentimentos profundamente enraizados na cultura brasileira, especialmente no que diz respeito ao apego às origens e à terra natal. A letra reflete a dor de um indivíduo que, distante de sua terra natal, a Bahia, sente um vazio emocional que é exacerbado pela distância e pela lembrança dos conselhos maternos ignorados.

A canção começa com um lamento, uma confissão de arrependimento por não ter ouvido os conselhos de sua mãe. A figura materna é apresentada como uma voz da sabedoria e da prudência, alertando sobre as maldades e ilusões do mundo. A saudade é descrita não apenas como uma falta, mas como uma condição que pode ser vista como um defeito, algo que o protagonista da canção sente que precisa confessar, como se fosse um pecado ou uma fraqueza.

A música também aborda a crítica social ao ideal de felicidade associado à glória e ao dinheiro, sugerindo que esses valores são insuficientes para preencher o vazio deixado pela ausência da terra amada. A saudade, portanto, é mais do que uma simples falta; é um estado de espírito que revela uma verdade mais profunda sobre o que realmente importa para a felicidade humana. A canção de Caymmi é um convite à reflexão sobre as escolhas de vida e sobre o que realmente nos faz felizes, além de ser um retrato da identidade cultural baiana e brasileira.

"Saudade da Bahia" nasceu numa tarde calorenta do verão de 1947. "Eu estava sozinho num bar perto de minha casa no Leblon, o Bar Bíbi, chateado com a agitação da cidade, quando me ocorreu a ideia", recorda Dorival Caymmi. "Era uma ideia tão melancólica - logo eu que sou otimista - que resolvi guardar a canção para mim, mostrando-a apenas a alguns amigos mais íntimos."

Daí se passaram dez anos até o dia em que Aloísio de Oliveira, um desses amigos, convenceu o compositor a gravar "Saudade da Bahia". Diretor artístico da Odeon na ocasião, Aloísio estava ansioso para faturar na esteira do sucesso de "Maracangalha" e, como Caymmi não tinha composições novas, sugeriu: "E por que não aquela que fala de saudades da Bahia?" Assim, programada às pressas, "Saudade da Bahia" foi gravada, batendo recordes de vendagem, o que lhe proporcionou um prêmio especial de uma cadeia de lojas de São Paulo.

Fontes:
https://www.letras.mus.br/dorival-caymmi/401202/significado.html
Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello. A Canção no Tempo - Vol. 1.

sábado, 26 de outubro de 2024

Recordando Velhas Canções (Estrada do sol)

(samba-canção, 1958)

Compositor: Tom Jobim - Intérprete: Dolores Duran

É de manhã
Vem o Sol
Mas os pingos da chuva
Que ontem caiu
Ainda estão a brilhar
Ainda estão a dançar
Ao vento alegre
Que me traz esta canção

É de manhã
Vem o Sol
Mas os pingos da chuva
Que ontem caiu
Ainda estão a brilhar
Ainda estão a dançar
Ao vento alegre
Que me traz esta canção

Quero que você
Me dê a mão
Vamos sair por aí
Sem pensar
No que foi que sonhei
Que chorei, que sofri
Pois a nossa manhã
Já me fez esquecer
Me dê a mão
Vamos sair pra ver o Sol

É de manhã
Vem o Sol
Mas os pingos da chuva
Que ontem caiu
Ainda estão a brilhar
Ainda estão a dançar
Me dê a mão
Vamos sair pra ver o Sol
Me dê a mão pra ver o Sol 
Pra ver o sol, o sol, o sol

A Luz Após a Tempestade em 'Estrada do Sol'
A música 'Estrada do Sol', composta por Tom Jobim, um dos maiores expoentes da música brasileira e um dos criadores da Bossa Nova, é uma obra que transmite a sensação de renovação e esperança após momentos de tristeza. A letra utiliza a metáfora do amanhecer e do sol que surge após a chuva como uma forma de representar o fim de um período difícil e o início de um novo capítulo mais alegre na vida do eu lírico.

A repetição dos versos que descrevem os pingos da chuva ainda brilhando, mesmo com a chegada do sol, sugere que as memórias das adversidades ainda estão presentes, mas a luz do sol traz consigo uma força que convida a seguir em frente. A chuva pode ser vista como as lágrimas derramadas, e o sol, como a superação e a capacidade de encontrar beleza e alegria mesmo após a dor.

O convite para dar a mão e sair para ver o sol é um chamado para compartilhar a experiência de recomeço e apreciar a beleza da vida. A ênfase na manhã e no esquecimento do que foi sonhado, chorado e sofrido reforça a ideia de que cada novo dia traz consigo a possibilidade de deixar para trás as mágoas e viver novas experiências. A música, portanto, é um hino à resiliência e à capacidade humana de se recuperar e encontrar felicidade após os momentos de tristeza.

Interpretada por Dolores Duran, é uma ode à renovação e à esperança que a manhã traz. A letra começa com a imagem do amanhecer, onde o sol surge após uma noite de chuva. Os pingos de chuva que ainda brilham e bailam ao vento simbolizam as dificuldades e tristezas passadas, que, embora ainda presentes, são suavizadas pela luz e alegria do novo dia. Essa metáfora sugere que, mesmo após momentos difíceis, a vida continua e há sempre a possibilidade de um recomeço.

Dolores Duran, com sua voz suave e emotiva, convida o ouvinte a seguir em frente, deixando para trás os sonhos, lágrimas e sofrimentos do passado. A mão estendida é um gesto de apoio e companheirismo, indicando que não estamos sozinhos em nossa jornada. A música enfatiza a importância de viver o presente e aproveitar as novas oportunidades que surgem com cada amanhecer. A repetição da ideia de 'ver o Sol' reforça a mensagem de otimismo e a busca pela felicidade.

A simplicidade e a beleza da letra, combinadas com a interpretação sincera de Dolores Duran, fazem de 'Estrada do Sol' uma canção atemporal. Ela nos lembra que, independentemente das adversidades, sempre há um novo dia para recomeçar e encontrar a alegria. A música é um convite para abraçar a vida com esperança e coragem, valorizando os momentos de luz e superando as sombras do passado.

Fontes
https://www.letras.mus.br/tom-jobim/49039/significado.html 
https://www.letras.mus.br/dolores-duran/396856/significado.html

quinta-feira, 24 de outubro de 2024

Recordando Velhas Canções (Chega de saudade)

(bossa nova, 1958)
Compositores: Tom Jobim e Vinicius de Moraes


Vai minha tristeza e diz a ela
Que sem ela não pode ser
Diz-lhe numa prece que ela regresse
Porque eu não posso mais sofrer
Chega de saudade,
A realidade é que sem ela não há paz,
Não há beleza, é só tristeza
e a melancolia que não sai de mim
Não sai de mim, não sai

Mas se ela voltar, se ela voltar,
Qua coisa linda,  que coisa louca
Pois há menos peixinhos a nadar no mar
Do que os beijinhos que eu darei na sua boca

Dentro dos meus braços os abraços
hão de ser milhões de abraços
Apertado assim, calado assim, colado assim
Abraços e beijinhos e carinhos sem ter fim
Que é prá acabar com esse negócio
de você viver sem mim

A Melodia da Saudade
A canção "Chega de Saudade", é um marco na história da música brasileira, sendo considerada por muitos como o ponto de partida do movimento Bossa Nova. A letra da música expressa um sentimento profundo de saudade e o desejo ardente pelo retorno de um amor ausente. A tristeza é personificada e enviada para convencer a amada da necessidade de seu regresso, destacando a dor e o vazio deixados por sua falta.

A repetição do verso "Chega de saudade" ressalta o limite da tolerância do eu lírico para com a ausência da pessoa amada, enquanto a descrição da realidade sem ela é pintada como desprovida de paz e beleza, repleta apenas de tristeza e melancolia. Essa intensidade emocional é característica das composições de Jobim, que frequentemente explorava temas de amor e natureza em suas obras.

A música também utiliza metáforas, como a comparação dos beijos que serão dados com a quantidade de peixes no mar, para ilustrar a imensidão do amor que o eu lírico sente. A promessa de abraços e carinhos sem fim reforça a ideia de um reencontro apaixonado e a necessidade de pôr um fim à distância que separa os amantes. A canção é um apelo emocional que reflete a universalidade do sentimento de saudade e a esperança de reencontro.

Embora considerada o marco zero da bossa nova, “Chega de Saudade” não é na opinião de Tom Jobim uma composição bossa nova. Em depoimento ao jornalista Tárik de Souza (para o livro Tons sobre Tom), ele esclareceu: 

“Minha mãe criou uma menina, que também se chamava Nilza (nome da mãe do Tom) e me pediu para comprar um método de violão para ela, que tinha boa voz. Comprei o método do Canhoto que trazia (...) aquele sistema antigo (de acordes) primeira, segunda, terceira. (...)

Fui obrigado a explicar para ela naquele método (...) e acabei me envolvendo com aquela sequência de acordes, completamente fáceis. Inventei uma sucessão de acordes, que é a coisa mais clássica do mundo, e botei ali uma melodia.

Mais tarde, Vinícius colocou a letra. De certa forma, sentindo a novidade da bossa nova, do João Gilberto e daquele meio em que a gente vivia, talvez Vinicius tenha sido levado a intitular a música ‘Chega de Saudade’. (...) Esse título é engraçado porque a música tem algo de saudade desde a introdução. Lembra aquelas introduções de conjuntos de violão e cavaquinho, tipo regional. (...).

Na segunda parte, passa para maior (modo maior). Acontecem todas aquelas modulações clássicas que você encontra na música antiga. Isso cria um absurdo: o ‘Chega de saudade’ já é uma saudade jogando fora a saudade!”.

Realmente, a bossa nova de “Chega de Saudade” está quase toda na harmonia, nos acordes alterados, pouco utilizados por nossos músicos da época, e na nova batida de violão executada por João Gilberto. A novidade rítmica fica muito clara, especialmente sob os versos “dentro dos meus braços os abraços / hão de ser milhões de abraços / apertado assim...”, com o violão indo na contramão da forma institucionalizada de se tocar samba. Aliás, a inovação já está presente na gravação de Elizeth Cardoso, a primeira de “Chega de Saudade”, feita para o elepê Canção do amor demais, que tem a participação de João Gilberto como violonista.

Esse disco, lançado pela pequena marca Festa, do produtor Irineu Garcia, é considerado por Tom Jobim (em depoimento a Zuza Homem de Mello, em outubro de 68) “um marco, um ponto de fissão, de quebra com o passado”. No dia 10.7.58, seis meses depois da gravação da Elizeth, aconteceu a do João, naturalmente repetindo a mesma batida de violão e apresentando o seu estilo bossa nova de cantar.

Este disco histórico, que traz na outra face o baiãozinho “Bim-Bom” (classificado no selo como samba), provocaria a pitoresca e mal-humorada reação de Álvaro Ramos, gerente das Lojas Assunção, quebrando o disco, indignado com o que o Rio lhe mandava. Atribuída no anedotário da bossa nova a Osvaldo Gurzoni, diretor de vendas da Odeon em São Paulo (que também não gostara do disco), a verdadeira identidade do autor da façanha (Ramos) seria revelada por Ruy Castro no livro Chega de saudade. Esse episódio aconteceu em São Paulo, em agosto de 58, às vésperas do lançamento do disco de 78 rotações, que precedeu em alguns meses o elepê homônimo.

Fontes: 
Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello. A Canção no Tempo. vol.2.
https://www.letras.mus.br/tom-jobim/49028/significado.html

quarta-feira, 23 de outubro de 2024

Recordando Velhas Canções (Samba de Orfeu)

(samba, 1959)
Compositor: Luiz Bonfá e Antonio Maria


Quero viver,    
quero sambar 
Até sentir a essência da vida 
me falta ar 
Quero sambar 
quero viver  
Depois do samba, ta bem 
Meu amor, posso morrer 

Quero viver,    
quero sambar 
Até sentir a essência da vida 
me falta ar 
Quero sambar quero viver  
Depois do samba, ta bem 
Meu amor, posso morrer 

Quem quiser gostar de mim 
Se quiser vai ser assim 
Vamos viver 
vamos sambar  
Se a fantasia rasgar  
Meu amor 
eu compro outra  

Vamos sambar, vamos viver  
O samba é livre,  
Eu sou livre também até morrer.

A Liberdade e a Alegria no 'Samba de Orfeu'
A música 'Samba de Orfeu', é uma celebração da vida e da liberdade através do samba. A letra expressa um desejo profundo de viver intensamente e aproveitar cada momento, mesmo diante das adversidades. A repetição da frase 'quero viver, quero sambar' reforça a ideia de que a vida e o samba estão intrinsecamente ligados, sendo o samba uma metáfora para a alegria e a liberdade de viver.

A menção à fantasia que pode se perder, mas que pode ser comprada novamente, simboliza a resiliência e a capacidade de se reinventar. A fantasia, no contexto do samba, representa a alegria, a criatividade e a expressão pessoal. Mesmo que a vida apresente desafios e perdas, a música sugere que é possível recuperar a alegria e continuar a dançar, a viver. A liberdade é um tema central, destacada na frase 'o samba é livre, e eu sou livre até morrer', indicando que a liberdade é um valor inalienável e essencial para a existência plena.

Além disso, a música aborda a aceitação e a autenticidade nas relações pessoais. A linha 'quem quiser gostar de mim, se quiser vai ser assim' sugere que a aceitação deve ser incondicional, sem tentar mudar a essência do outro. 'Samba de Orfeu' é, portanto, uma ode à vida, à liberdade e à autenticidade, celebrando o samba como uma expressão máxima desses valores.

segunda-feira, 21 de outubro de 2024

Recordando Velhas Canções (As Laranjas da Sabina)

 (lundu/tango, 1902)
Compositor: Artur de Azevedo


Sou a Sabina, sou encontrada
Todos os dias lá na calçada
Lá na calçada da Academia
Da Academia de Medicina

Um senhor subdelegado
Moço muito restingueiro
Ai, mandou, por dois soldados
Retirar meu tabuleiro, ai...

Sem banana macaco se arranja
E bem passa monarca sem canja
Mas estudante de medicina
Nunca pode passar sem a laranja
A laranja, a laranja da Sabina.

Os rapazes arranjaram
Uma grande passeata
Deste modo provaram
Quanto gostam da mulata, ai

Sem banana macaco se arranja

Na manhã de 25 de julho de 1889, um grupo de estudantes da Imperial Escola de Medicina uniu-se em uma inesperada passeata pelas ruas do centro do Rio de Janeiro. O motivo: Sabina, uma baiana vendedora de laranjas, havia sido proibida de armar seu tabuleiro em frente à faculdade, na Rua da Misericórdia. A decisão de expulsá-la, anunciada pelo subdelegado da área, provocou imediata reação dos alunos. Por onde passava, o cortejo ganhava mais adeptos e recebia aplausos de uma multidão entusiasmada. Bem-humorados, os estudantes carregavam uma coroa feita de bananas e chuchus e uma faixa criticando a autoridade, a quem chamaram de “O eliminador das laranjas”. Passaram também pelas redações dos principais jornais da cidade denunciando a arbitrariedade, o que renderia grande repercussão para o caso.

“Um viva aos rapazes, que acabam de escrever a melhor cena das próximas futuras revistas de ano”, publicava a Gazeta de Notícias três dias depois. O jornal estava sendo profético. As “revistas de ano” eram peças teatrais cômicas e musicadas, nas quais desfilavam os eventos tidos como mais importantes do ano anterior. Daí sua denominação: era o momento de passar um ano inteiro em revista. Em 1890, os irmãos escritores Artur e Aluízio Azevedo encenaram sua revista de ano, A República, e Sabina foi uma das personagens mais comentadas. Noite após noite, os cariocas corriam até o Teatro Variedades Dramáticas só para ouvir a canção As laranjas da Sabina. Sabina era interpretada por uma bela atriz grega, Ana Menarezzi, bem diferente da idosa rechonchuda retratada pela imprensa.

Em 1902, quando a indústria fonográfica chegou ao Brasil, As Laranjas da Sabina foi gravada ainda no sistema de cilindros pelo cantor Cadete e já em disco por Bahiano, ainda nesse mesmo ano. Em 1906, a atriz Pepa Delgado gravou o lundu.

Os anos passavam, mas quem disse que Sabina era esquecida? No início do século XX, as agremiações carnavalescas mantinham grupos formados por homens que, nos dias de folia, saíam às ruas fantasiados de baianas e mulatas. Numa homenagem à velha quitandeira da porta da Escola de Medicina, eles eram chamados, no grupo Kananga do Japão, de “Sabinas da Kananga”. Na sociedade dos Fenianos, eram conhecidos simplesmente como “Sabinas”.
Fonte:
https://cifrantiga3.blogspot.com/2013/08/as-laranjas-da-sabina.html

domingo, 20 de outubro de 2024

Recordando Velhas Canções (Na casa branca da serra)

(Modinha, 1880)
Compositores: Guimarães Passos e Miguel E. Pestana


Na casa branca da serra
Onde eu ficava horas inteiras
Entre as esbeltas palmeiras
Ficaste calma e feliz
Tudo em meu peito me deste
Quando eu pisei na tua terra
Depois de mim te esqueceste
Quando eu deixei teu país.

Nunca te visse oh! formosa
Nunca contigo falasse
Antes nunca te encontrasse
Na minha vida enganosa
Por que não se abriu a terra
Por que os céus não me puniram
Quando os meus olhos te viram
Na casa branca da serra.

Embora tudo bendigo
Desta ditosa lembrança
Que sem me dar esperança
De unir-me ainda contigo
Bendigo a casa da serra
Bendigo as horas fagueiras
Bendigo as belas palmeiras
Queridas da tua terra.

Saudade e Melancolia na Casa Branca da Serra
A música 'Na casa branca da serra', é uma canção que exala saudade e melancolia. A letra descreve um lugar específico, a casa branca da serra, onde o eu lírico passou momentos felizes e tranquilos. As palmeiras esbeltas e a calma do ambiente são elementos que evocam uma sensação de paz e nostalgia. No entanto, essa tranquilidade é contrastada com a dor da separação e o esquecimento por parte da pessoa amada.

O eu lírico expressa um profundo arrependimento por ter conhecido a pessoa amada, desejando nunca tê-la encontrado para evitar o sofrimento subsequente. A dor é tão intensa que ele questiona por que os céus não o puniram ou por que a terra não se abriu quando seus olhos encontraram os dela. Essa hipérbole enfatiza a profundidade do seu sofrimento e a intensidade de seus sentimentos.

Apesar da dor, o eu lírico ainda bendiz as lembranças da casa na serra, as horas felizes e as palmeiras queridas. Isso mostra uma dualidade de sentimentos: a dor da perda e a gratidão pelos momentos felizes vividos. Cascatinha e Inhana, conhecidos por suas canções que frequentemente abordam temas de amor e saudade, conseguem transmitir essas emoções de maneira tocante e poética, fazendo com que o ouvinte sinta a profundidade do lamento e da nostalgia presentes na música.

Segundo Almirante "se há uma modinha que se possa considerar tradicional no Brasil, esta é chamada “Na Casa Branca da Serra”, da autoria de Miguel Emílio Pestana, com versos de Guimarães Passos. Há dezenas de anos que “Na Casa Branca da Serra” tem sido ao mesmo tempo do repertório dos seresteiros de rua como das mais graciosas senhoritas nos elegantes saraus, já em desuso" (O Pessoal da Velha Guarda, 14-12-1950).

Fontes:
https://cifrantiga3.blogspot.com/2006/04/na-casa-branca-da-serra.html
https://www.letras.mus.br/cascatinha-e-inhana/565140/significado.html

sábado, 19 de outubro de 2024

Recordando Velhas Canções (Se todos fossem igual a você)


(samba canção, 1957)

Compositores: Tom Jobim e Vinícius de Moraes

Vai tua vida,
Teu caminho é de paz e amor
Vai tua vida é uma linda canção de amor
Abre os teus braços
E canta a última esperança
A esperança divina de amar em paz

Se todos fossem iguais a você
Que maravilha viver
Uma canção pelo ar,
Uma mulher a cantar
Uma cidade a cantar,
A sorrir, a cantar, a pedir
A beleza de amar
Como o sol,
Como a flor,
Como a luz
Amar sem mentir,
Nem sofrer

Existiria verdade,
Verdade que ninguém vê
Se todos fossem no mundo iguais a você

A Utopia do Amor e da Paz em 'Se Todos Fossem Iguais a Você'
A música 'Se Todos Fossem Iguais a Você', de Vinicius de Moraes, é uma ode à paz, ao amor e à esperança. A letra começa com um convite à vida, destacando que o caminho a ser seguido é de paz e amor. Vinicius sugere que a vida é uma linda canção de amor, e que devemos abrir nossos braços e cantar a última esperança, que é a esperança divina de amar em paz. Essa introdução estabelece um tom otimista e idealista, onde o amor é visto como a solução para os problemas do mundo.

No refrão, Vinicius imagina um mundo onde todos fossem iguais à pessoa amada. Ele descreve esse mundo como um lugar maravilhoso para se viver, onde a música e a alegria estariam presentes em todos os lugares. A imagem de uma cidade inteira cantando e sorrindo reforça a ideia de uma sociedade harmoniosa e feliz. A beleza de amar é comparada a elementos naturais como o sol, a flor e a luz, simbolizando pureza e verdade. Amar sem mentir nem sofrer é apresentado como um ideal a ser alcançado.

A música também aborda a questão da verdade, sugerindo que a verdade que ninguém vê existiria se todos fossem iguais à pessoa amada. Isso implica que a falta de amor e compreensão é o que impede a verdade de ser percebida. Vinicius de Moraes, conhecido por suas poesias e canções que exploram temas de amor e existencialismo, utiliza essa música para expressar uma visão utópica de um mundo melhor. A simplicidade e a beleza da letra refletem a profundidade dos sentimentos humanos e a busca por um ideal de vida baseado no amor e na paz.

Em meados de 56, Vinícius de Moraes estava com a peça "Orfeu da Conceição" pronta, faltando somente conseguir um compositor para musicá-la e, se possível, orquestrá-la. Achava Vinicius que o nome ideal para a tarefa seria o de Vadico (Osvaldo Gogliano), parceiro de Noel Rosa que, convidado não aceitou.

Atendendo, então, a uma sugestão do crítico musical Lúcio Rangel, o poeta convidou Antônio Carlos Jobim, na época um jovem compositor e arranjador ainda pouco conhecido.

Começava assim a parceria Tom/Vinicius, uma das mais importantes da música brasileira, juntando o talento de um grande músico ao de um poeta consagrado e que deu como primeiro fruto "Se Todos Fossem Iguais a Você". Romântica, requintada, até com uma certa tendência para o monumental, "Se Todos Fossem Iguais a Você" é a melhor composição do repertório criado para a peça. Lançada por Roberto Paiva no final de 56 chegaria ao sucesso no ano seguinte, quando recebeu várias outras gravações.

Fontes:
Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello, A Canção no Tempo. vol. 1. 1997.
https://www.letras.mus.br/vinicius-de-moraes/49284/

sexta-feira, 18 de outubro de 2024

Recordando Velhas Canções (Eu não existo sem você)

(samba-canção, 1958)


Compositores: Vinícius de Moraes e Tom Jobim

Eu sei e você sabe,
já que a vida quis assim
Que nada nesse mundo
levará você de mim
Eu sei e você sabe
que a distância não existe
Que todo grande amor
só é bem grande se for triste

Por isso, meu amor, não tenha medo de sofrer
Pois todos os caminhos me encaminham prá você

Assim como o oceano só é belo com o luar
Assim como a canção só tem razão se se cantar
Assim como uma nuvem só acontece se chover
Assim como o poeta só é grande se sofrer
Assim como viver sem ter amor não é viver
Não há você sem mim e eu não existo sem você

A Intensidade do Amor em 'Eu Não Existo Sem Você'
A música 'Eu Não Existo Sem Você', é uma expressão lírica da intensidade e da profundidade do amor romântico. A letra transmite a ideia de que o amor verdadeiro é tão essencial à existência dos amantes que um não pode viver sem o outro. Através de comparações poéticas, Vinicius de Moraes enfatiza que a vida sem o ser amado é incompleta, assim como a canção precisa da voz para existir ou o oceano precisa da lua para ser belo.

O poeta também aborda a inevitável presença da tristeza no amor, sugerindo que o sofrimento é um componente natural e até mesmo necessário para que o amor seja grandioso. A aceitação da dor como parte do amor é um convite para enfrentar os desafios sem medo, pois todos os caminhos levam ao encontro do ser amado. A música reflete a visão de Vinicius de que o amor é um sentimento sublime, capaz de transcender distâncias e adversidades.

A canção é um clássico da música popular brasileira e reflete o estilo lírico e emocional de Vinicius de Moraes, que era conhecido como 'o poeta do amor'. Suas obras frequentemente exploram os temas do amor, da paixão e da saudade, e 'Eu Não Existo Sem Você' é um exemplo marcante dessa temática, ressoando com ouvintes que se identificam com a experiência universal do amor profundo e suas complexidades.
Fonte: https://www.letras.mus.br/vinicius-de-moraes/49268/

quinta-feira, 17 de outubro de 2024

Recordando Velhas Canções (Duas contas)

(samba-canção, 1955)


Compositor: Garoto

Teus olhos
São duas contas pequeninas
Qual duas pedras preciosas
Que brilham mais que o luar

São eles
Guias do meu caminho escuro
Cheio de desilusão
E dor

Quisera que eles soubessem
O que representam pra mim
Fazendo que eu prossiga feliz
Ai amor
A luz dos teus olhos
 
A Luz dos Olhos em 'Duas Contas'
A música 'Duas Contas' é uma bela e poética declaração de amor, onde o artista utiliza metáforas para expressar a importância dos olhos da pessoa amada em sua vida. Os olhos são comparados a 'duas contas pequeninas' e 'pedras preciosas', destacando seu valor e brilho. Essa comparação não só exalta a beleza física dos olhos, mas também sugere que eles possuem um valor inestimável para o eu lírico.

Os olhos da pessoa amada são descritos como guias no 'caminho escuro' do eu lírico, que está cheio de desilusão e dor. Essa metáfora indica que, apesar das dificuldades e tristezas enfrentadas, a presença e o olhar da pessoa amada trazem luz e direção, proporcionando esperança e felicidade. A música, portanto, fala sobre a capacidade do amor de transformar e iluminar a vida, mesmo nos momentos mais sombrios.

Utiliza uma linguagem simples, mas profundamente emotiva, para transmitir a mensagem de 'Duas Contas'. A repetição da ideia de que os olhos da pessoa amada são uma fonte de luz e felicidade reforça a centralidade desse sentimento na vida do eu lírico. A canção é uma celebração do amor e da importância de pequenos gestos e detalhes, como um olhar, que podem ter um impacto profundo e duradouro.
Fonte: https://www.letras.mus.br/toquinho/1206287/

quarta-feira, 16 de outubro de 2024

Recordando Velhas Canções (Incelença do Amor Retirante)


Compositor: Elomar Figueira Melo 

Vem amiga visitar
A terra, o lugar
Que você abandonou
Inda ouço murmurar
Nunca vou te deixar
Por Deus Nosso Senhor
Pena cumpanheira agora
Que você foi embora

Na vida fulorô
Ouço em toda noite escura
Como eu a tua procura
Um grilo a cantar
Lá no fundo do terreiro
Um grilo violeiro
Inhambado a procurar
Mas já pela madrugada
Ouço o canto da amada
Do grilo cantador
Geme os rebanhos na aurora
Mugindo cadê a senhora
Que nunca mais voltou

Faz um ano em janeiro
Que aqui pousou um tropeiro
O cujo prometeu
De na derradeira lua
Trazer notícia tua
Se vive ou se morreu
Derna aquela madrugada
Tenho os olhos na istrada
E a tropa não voltou
Ao sinhô peço clemença
Num canto de incelença
Do amor que ritirou

A Dor do Amor Perdido em 'Incelença Pro Amor Retirante'
A música 'Incelença Pro Amor Retirante' de Elomar Figueira Melo é uma obra poética que retrata a dor e a saudade de um amor que se foi. A letra é rica em imagens e metáforas que evocam a solidão e a espera interminável por notícias da pessoa amada. Desde o início, o eu lírico convida a amiga a visitar o lugar que ela abandonou, revelando um sentimento de abandono e perda. A promessa de nunca deixar o outro, feita em nome de Deus, contrasta com a realidade da separação, intensificando a dor sentida pelo eu lírico.

A presença de elementos da natureza, como o grilo cantador e os rebanhos que gemem na aurora, serve para ilustrar a solidão e a busca incessante pelo amor perdido. O grilo, que canta na escuridão, simboliza a esperança e a procura constante, enquanto os rebanhos mugindo representam a ausência e a saudade. A música também faz referência a um tropeiro que prometeu trazer notícias da amada, mas que nunca voltou, aumentando a sensação de desespero e incerteza sobre o destino do amor.

Elomar, conhecido por sua habilidade em mesclar elementos da cultura sertaneja com uma linguagem poética sofisticada, utiliza a 'incelença' – um canto fúnebre tradicional do sertão – para expressar a dor do amor retirante. A música é uma lamentação profunda, um pedido de clemência ao Senhor pela ausência da amada. A 'incelença' finaliza a canção, reforçando o tom de tristeza e resignação diante da perda irreparável. A obra de Elomar é um testemunho da riqueza cultural do sertão brasileiro e da universalidade dos sentimentos humanos.
Fonte: https://www.letras.mus.br/elomar/376570/ 

domingo, 13 de outubro de 2024

Recordando Velhas Canções (O ‘x’ do problema)

 (samba, 1936) 
Compositor: Noel Rosa

Nasci no Estácio, fui educada na roda de bamba
E fui diplomada na escola de samba
Sou independente, conforme se vê

Nasci no Estácio, o samba é a corda
Eu sou a caçamba
E não acredito que haja muamba
Que possa fazer eu gostar de você  

Eu sou diretora da escola do Estácio de Sá
      E felicidade maior neste mundo não há   
             Já fui convidada para ser estrela
Do nosso cinema
Ser estrela é bem fácil
Sair   do Estácio é que é     
O 'x'    do problema 

Já fui convidada para ser estrela
Do nosso cinema
Ser estrela é bem fácil
Sair   do Estácio é que é     
O 'x'    do problema

Você    tem vontade que eu abandone 
O Largo do Estácio
Pra ser a rainha de um grande palácio
E dar um banquete uma vez por semana

Nasci no Estácio
Não posso mudar minha massa de sangue
Você pode crer que palmeira do Mangue
Não vive na areia  de Copacabana

Eu sou diretora da escola do Estácio de Sá
      E felicidade maior neste mundo não há   
             Já fui convidada para ser estrela
Do nosso cinema
Ser estrela é bem fácil
Sair do Estácio é que é     
O 'x' do problema 

Já fui convidada para ser estrela
Do nosso cinema
Ser estrela é bem fácil
Sair do Estácio é que é     
  O 'x' do problema

A Essência do Estácio: Identidade e Pertencimento em 'O X do Problema'
A música 'O X do Problema', de Noel Rosa, é uma celebração da identidade e do pertencimento ao bairro do Estácio, no Rio de Janeiro. Noel Rosa, um dos maiores compositores da música popular brasileira, utiliza a letra para expressar o orgulho de suas raízes e a importância da cultura do samba em sua vida. A personagem da canção, que se identifica como uma mulher nascida e criada no Estácio, destaca sua formação na roda de bamba e na escola de samba, elementos centrais da cultura local.

A letra também aborda a questão da autenticidade e da resistência às mudanças impostas por pressões externas. A personagem recusa a ideia de abandonar o Estácio para viver em um grande palácio, mesmo que isso signifique uma vida de luxo e glamour. Ela enfatiza que sua essência está profundamente enraizada no Estácio, e que mudar de ambiente seria como tentar fazer uma palmeira do mangue viver na areia de Copacabana. Essa metáfora reforça a ideia de que certas identidades são intransferíveis e que o verdadeiro valor está em ser fiel a si mesmo e às suas origens.

Além disso, a música reflete sobre a felicidade e o sucesso sob uma perspectiva diferente da convencional. Para a personagem, ser diretora da escola de samba do Estácio de Sá é a maior felicidade que ela poderia alcançar, mais do que ser uma estrela de cinema. Isso sublinha a importância da comunidade e da cultura local como fontes de realização pessoal e coletiva. Noel Rosa, com sua habilidade lírica, consegue capturar a essência do Estácio e transmitir uma mensagem poderosa sobre identidade, pertencimento e autenticidade.
Fonte: https://www.letras.mus.br/noel-rosa-musicas/862749/significado.html

sábado, 12 de outubro de 2024

Recordando Velhas Canções (Rasguei minha fantasia)


(marcha/carnaval, 1935) 

Compositor: Lamartine Babo

Rasguei a minha fantasia
O meu palhaço
Cheio de laço e balão
Rasguei a minha fantasia
Guardei os guizos no meu coração

Fiz palhaçada
O ano inteiro sem parar
Dei gargalhada
Com tristeza no olhar
A vida é assim...
A vida é assim...
O pranto é livre
Eu vou desabafar

Tentei chorar
Ninguém no choro acreditou
Tentei amar
E o amor não chegou
A vida é assim...
A vida é assim...
Comprei uma fantasia de pierrô

A Melancolia por Trás da Fantasia
A música 'Rasguei a Minha Fantasia', de Lamartine Babo, é uma obra que explora a dualidade entre a alegria aparente e a tristeza interior. A letra começa com o eu lírico declarando que rasgou sua fantasia de palhaço, um símbolo de alegria e diversão. No entanto, ao rasgar essa fantasia, ele revela que guardou os 'guiços' (sinos) no coração, sugerindo que a tristeza e a melancolia ainda estão presentes, mesmo que escondidas.

O segundo verso aprofunda essa dualidade ao descrever como o eu lírico fez palhaçadas o ano inteiro, mas com tristeza no olhar. Essa imagem é poderosa, pois mostra como muitas vezes as pessoas escondem suas verdadeiras emoções atrás de uma máscara de felicidade. A frase 'A vida é assim!' é repetida, enfatizando a resignação do eu lírico diante das dificuldades e desilusões da vida. Ele tenta chorar, mas ninguém acredita em seu choro, e tenta amar, mas o amor não chega. Essas tentativas frustradas reforçam a sensação de isolamento e incompreensão.

Por fim, a música termina com o eu lírico comprando uma nova fantasia de pierrô, outra figura tradicionalmente associada à tristeza e à melancolia. Isso sugere que, apesar de tentar se livrar da fantasia de palhaço, ele ainda está preso em um ciclo de tristeza e desilusão. A escolha do pierrô como nova fantasia é significativa, pois essa figura é conhecida por sua expressão de tristeza e solidão, contrastando com a imagem alegre do palhaço. Assim, 'Rasguei a Minha Fantasia' é uma reflexão profunda sobre a complexidade das emoções humanas e a dificuldade de encontrar verdadeira felicidade e compreensão.
Fonte: https://www.letras.mus.br/lamartine-babo/1877876/significado.html