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quarta-feira, 22 de janeiro de 2025

Silmar Bohrer (Croniquinha) 127

É certo que a poesia e a musicalidade permeiam, volitam e persuadem pessoas com seus eflúvios e sonoridades . Poemas e letras de músicas põem corações a recordar e vibrar. 
    
Mais do que verdadeiro que o  Brasil é um ninho imenso de musicalidade associada com poesia, e então temos os nacos, lampejos, pedacinhos que são verdadeiros quase-poemas das músicas do sul da pátria.  Fragmentos  preciosos.  Como estes :

Sem ternura as almas morrem de fome.
Linda vertente das minhas lembranças.
A solidão é uma tapera.
Sina estradeira  faz trocar de rincão.
Na alma do poeta uma rima sonolenta. 

Tristezas são sementes não nascidas.
A constância inconstante das estradas.
O rancho pariu silêncios.
Sou um cais navegando a procurar teu navio.
Lembranças castigam como açoite. 

Dois olhos de coruja num castiçal de moirão.
Há um ar de brisa cálida no teu rosto.
Lembranças de um tempo de adoça a alma.
Sinto teu cheiro na baeta do meu corpo.
O que restou foi sonho e o rancho vazio.
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Silmar Bohrer nasceu em Canela/RS em 1950, com sete anos foi para em Porto União-SC, com vinte anos, fixou-se em Caçador/SC. Aposentado da Caixa Econômica Federal há quinze anos, segue a missão do seu escrever, incentivando a leitura e a escrita em escolas, como também palestras em locais com envolvimento cultural. Criou o MAC - Movimento de Ação Cultural no oeste catarinense, movimentando autores de várias cidades como palestrantes e outras atividades culturais. Fundou a ACLA-Academia Caçadorense de Letras e Artes. Membro da Confraria dos Escritores de Joinville e Confraria Brasileira de Letras. Editou os livros: Vitrais Interiores  (1999); Gamela de Versos (2004); Lampejos (2004); Mais Lampejos (2011); Sonetos (2006) e Trovas (2007).

Fontes: 
Texto enviado pelo autor. 
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing 

José Feldman (A História de uma Cadela)

Olá, humanos! Meu nome é Laila, e sou uma cadela que tem muito a contar. Minha vida começou em uma manhã ensolarada, mas, como vocês sabem, nem sempre o sol brilha para todos. Eu nasci em uma caixa de papelão, em um canto esquecido de uma rua movimentada. Minha mãe, uma cadela corajosa, tentou me proteger, mas o mundo lá fora era difícil, e logo ela se foi nem sei porquê, deixando eu e meus irmãos sozinhos.

Os primeiros dias da minha vida foram cheios de barulhos estranhos e cheiros intensos. Havia pessoas passando, mas ninguém parecia notar a gente. Eu e meus irmãos nos aconchegávamos juntos, tentando manter o calor e a esperança. Mas, ao longo do tempo, um a um, eles foram desaparecendo. O medo e a solidão começaram a ser meus companheiros.

Eu ainda me lembro do dia em que a caixa foi descoberta. Um grupo de crianças a abriu, e eu, com meu pequeno corpo trêmulo, tentei abanar o rabo. 

“Olha! Um filhote!” gritou uma delas. 

Mas logo as risadas se transformaram em gritos de desespero. As crianças começaram a chorar quando perceberam que não podíamos ficar. E assim, eu fui deixada para trás, sozinha novamente.

A vida na rua era dura. Eu procurava comida entre os restos dos lanches e tentava me esconder do frio à noite. Aprendi a evitar os humanos que passavam apressados, e a me manter distante dos carros que zuniam. A cada dia, eu me tornava mais cautelosa, mas a esperança de um lar nunca me abandonou. Sonhava com um lugar quentinho, onde pudesse dormir em paz.

Certa vez, enquanto procurava comida, conheci outros cães. Eles eram mais velhos e tinham histórias próprias. Um deles, um vira-lata chamado Rufus, me ensinou a caçar migalhas e a encontrar abrigo. 

“Você precisa ter cuidado”, dizia ele, com seu olhar sábio. “A vida na rua pode ser cruel, mas somos sobreviventes.”

Foi em um dia qualquer, em que o sol brilhava intensamente, que tudo mudou. Eu estava encolhida em um canto, quando um homem apareceu. Ele não parecia apressado como os outros. Ele tinha uma expressão gentil e um olhar que transmitia calma. Quando se aproximou, meu coração disparou. 

“Oi, pequena”, disse ele, agachando-se. “Você está sozinha?”

Naquele momento, algo dentro de mim despertou. Eu sabia que ele era diferente. Ele me ofereceu um pedaço de pão e, com a barriga roncando, não consegui resistir. Depois de comer, eu me aproximei dele, hesitante, mas ele estendeu a mão e acariciou minha orelha. Era o toque mais suave que eu já havia sentido.

Ele decidiu me levar para casa. O caminho foi uma mistura de emoções: medo, alegria e incredulidade. Quando cheguei ao seu apartamento, percebi que era um lugar acolhedor, cheio de cheiros que pareciam prometer conforto. Ele me deu um nome: Laila, e desde então, minha vida começou a mudar.

Nos primeiros dias, eu era tímida e desconfiada. Mas ele, com muita paciência, foi me mostrando que eu estava a salvo. Ele me chamava de “irmã”, e isso fez meu coração se aquecer. “Você é parte da minha família agora”, dizia ele, enquanto me oferecia carinho e um cobertor quentinho para dormir.

Os dias se passaram, e eu fui descobrindo o que era ser amada. Ele me levava para passear no parque, onde eu corria livre, sentindo a grama fresca sob minhas patas. O cheiro das flores e o canto dos pássaros eram um verdadeiro banquete para os sentidos. Eu nunca havia experimentado tanta alegria.

Ele sempre falava comigo, contando suas histórias, e eu me sentia como se estivesse entendendo tudo. “Hoje, irmã, vamos fazer um piquenique!”, ele dizia, e eu pulava de felicidade. Eu adorava quando ele preparava sanduíches e levava biscoitos para mim.

Às vezes, enquanto observava os outros cães brincando, eu me lembrava da vida na rua. O medo, a solidão e o desamparo. Mas agora, eu tinha um lar, e isso me fazia sentir que tudo tinha valido a pena. Cada dificuldade que enfrentei me trouxe até ele, e eu não trocaria isso por nada.

“Você sabe, Laila”, ele dizia em um tom contemplativo, “a vida é cheia de altos e baixos, mas sempre devemos olhar para frente.” 

E eu, com a cabeça apoiada nas pernas dele, sentia que, ao seu lado, eu poderia enfrentar qualquer coisa.

Hoje, continuo a viver com meu humano, que se tornou meu melhor amigo e protetor. Ele cuida de mim com tanto amor, e eu retribuo com minha lealdade e carinho. Juntos, exploramos novos lugares, vivemos aventuras e criamos memórias que ficarão para sempre em nossos corações.

A cada dia, agradeço por ter encontrado um lar e uma família. A vida pode ser cheia de surpresas, e a minha, que começou com abandono, agora é uma história de amor e superação. 

Eu sou Laila, a cadela que encontrou seu lugar no mundo, e sempre vou lembrar que, por mais difícil que seja a jornada, o amor pode transformar tudo.
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JOSÉ FELDMAN nasceu na capital de São Paulo. Formado em patologia clínica, não concluiu o curso superior de psicologia. Foi enxadrista, professor, diretor, juiz e organizador de torneios de xadrez a nível nacional durante 24 anos; como diretor cultural organizou apresentações musicais; trovador da UBT São Paulo e membro da Casa do Poeta “Lampião de Gás”. Foi amigo pessoal de literatos de renome (falecidos), como Artur da Távola, André Carneiro, Eunice Arruda, Izo Goldman, Ademar Macedo, e outros. Casado com a escritora, poetisa e tradutora professora Alba Krishna mudou-se em 1999 para o Paraná, morou em Curitiba e Ubiratã, radicou-se definitivamente em Maringá/PR em 2011. Consultor educacional junto a alunos e professores do Paraná e São Paulo. Pertence a diversas academias de letras e de trovas, como Academia Rotary de Letras, Academia Internacional da União Cultural, Academia de Letras Brasil-Suiça, Academia de Letras de Teófilo Otoni, Confraria Brasileira de Letras, Confraria Luso-Brasileira de Trovadores, Academia Virtual Brasileira de Trovadores, União Brasileira dos Trovadores, etc, possui o blog Singrando Horizontes desde 2007, com cerca de 20 mil publicações. Atualmente assina seus escritos por Campo Mourão/PR, onde pertence a entidades da região. Publicou mais de 500 e-books. Dezenas de premiações em trovas e poesias.
Fontes:
 José Feldman. Labirintos da vida. Maringá/PR: Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul.
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing 

Nilto Maciel (O Sonho do Meliante Guimarães)

Acordo sempre suado, o coração fogoso, gritando pela mulher, como se ela pudesse me acudir e evitar minha queda. Ela se revira, me chama de danado, foge de minhas mãos trêmulas, pula da cama, acende a luz, chora e berra. É sempre madrugada, tem chovido fininho e faz um frio bom para se dormir.

– Como foi o sonho? Você sonhou comigo, Guimarães?

Perco o medo, sento-me, olho para aquela mulher comum e enjoada, e conto tintim por tintim o sonho.

Da primeira vez fiz um barulho medonho. Gritei feito um doido e ela só começou a entender o desastre depois que me viu estatelado no chão.

– Caiu da cama?

Nunca fui besta para dormir junto ao penico. E por que caí? Ela era burra, uma pedra. Ainda tive coragem de medir as frases, escolher as palavras, essa mania de querer ser mais inteligente do que ela, humilhá-la, deixá-la de queixo caído, fazendo perguntas.

Muito alto, quase os píncaros do céu. Meus cabelos se confundiam com as nuvens e as fumaças das fábricas. De repente, anoiteceu e meus olhos brilharam como estrelas e em minha boca despontou uma lua negra e do fundo da goela saltou uma labareda, que só faltava queimar o caixão onde você dormia desgrenhada. Besteira sua, pois a subida era íngreme e por pouco a cama não despencou lá de cima com você e tudo, apesar de minhas patas peludas se agarrarem aos buraquinhos da parede. Embaixo, multidões berravam e erguiam os braços, à moda muçulmana, como querendo nos aparar. Eu não entendia tanto delírio e ora chamava aquela malta de fascistas, ora me apiedava deles, crente de que nos invejavam, impossibilitados de deixar o chão.

Não sei mais direito a ideologia da história, mas posso ainda engendrá-la à custa de uns apontamentos feitos horas após o sonho. Além disso, no momento em que o narrava à mulher, perdi o fio da meada e, para não demonstrar incapacidade, inventei outros enredos. Eu era uma enorme aranha que carregava às costas um caixão e dentro dele a mulher nua e dormida, fugia de uma catástrofe, os prédios ruíam, o povo arribava para as montanhas e, ao ver a aranha abalando no rumo dos cimos gelados, além de onde voavam as espaçonaves, punha-se a jogar grandes anzóis para o alto, picaretas que feriam o calcário, na tentativa de salvação. No entanto, a pedra poucas vezes agarrava a isca, e a maioria daquele povo desesperado deixava de lançar seus instrumentos, embora continuasse a olhar na direção do inseto, a erguer os braços e a blasfemar, rogando a Deus que escorregássemos e caíssemos em seus tentáculos. Queriam meu sacrifício, para depois me sepultar aos pés da parede.

Na segunda noite, o sonho se encheu de detalhes e simbologias. Eu via a aranha escalando o muro e ao mesmo tempo eu era o bicho.

– Homem-aranha – arengou a mulher.

– Muito horrível, você entende?

Ela não entendia. Apenas me achava para lá de doente, mais feio, sujo e cabeludo.

– Essa sua barba suja de baba vai me emporcalhar toda.

Eu pedia: traga o médico, e ela me falava de dificuldades. Onde iria procurá-lo? Melhor irmos os dois aos hospitais, às clínicas, aos apartamentos, aos clubes, aos estádios, às ruas. Impossível achá-lo por acaso. Ao me virem naquele estado, os moleques iriam me atirar pedras, laranjas podres, ovos de galinha. No tumulto, a polícia terminaria me levando preso, me espancando, talvez me assassinando.

Passava os dias enfurnado em casa, procurando aranhas pelos quatro cantos, para matá-las e queimá-las com cigarro aceso.

Agravava-se meu estado e terminei procurando o psiquiatra. Toquei com as pontas dos dedos peludos a maciez do divã e me arrepiei. Melhor ficar de pé.

– Aranha não se senta em divã, doutor.

Fez-me contar um a um os sonhos. Queria tudo detalhado, límpido. E tomava notas com a mãozinha vermelha. Ao final, achou-me perfeitamente são, normal, pronto para voltar ao trabalho e ao convívio social.

– Eu mesmo sonho sempre fazendo amor com uma egípcia, no alto da Torre Eiffel.

Procurei um padre. Só não suportava ouvir histórias bíblicas. Ele sorriu, benzeu-se e quis me tocar. Tive medo e me afastei.

– Qual é o seu pecado, filho?

Fez-me perguntas e mais perguntas. O que eu sonhava, se eram imoralidades, se com outra mulher ou algum homem. Perdoava-me, se reconhecesse que o muro alcançava a Casa Eterna.

Não sei quem deu início ao processo. A prisão será o pior, porque estarei sonhando perpetuamente. Melhor a pena de morte. Assim, não mais sonharei, nem chegarei ao fim da escalada.

– Punição para o meliante Guimarães – estão gritando.
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NILTO MACIEL nasceu em Baturité/CE em 1945. Formou-se na Faculdade de Direito da Universidade Federal do Ceará. Em parceria com outros escritores, no ano de 1976 criou a revista Saco. Transferiu-se no ano seguinte para Brasília, trabalhando na Câmara dos Deputados, Supremo Tribunal Federal e Tribunal de Justiça do DF. Em 2002 foi para Fortaleza/CE onde residiu até a sua morte em 2014. Venceu inúmeros concursos literários, e escreveu diversos livros, tendo contos e poemas publicados em esperanto, espanhol, italiano e francês. Além de contos e romances publicados, também Panorama do Conto Cearense, Contistas do Ceará, Literatura Fantástica no Brasil. Alguns livros publicados: Contos Reunidos vol. I, são os 66 contos escritos por Nilto em seus livros Itinerário (1974 a 1990), Tempos de Mula Preta (1981 a 2000) e Punhalzinho cravado de ódio (1986). O volume II conta com 122 contos dos livros As Insolentes patas do cão (1991), Babel (1997) e Pescoço de Girafa na Poeira (1999). 
“Nilto possui esta capacidade de fazer com que nossas almas percorram desde um estado de profunda tristeza ao de êxtase. Não é apenas um escritor, são muitos escritores dentro de um só. A cada conto terminado, aflora o anseio pelo próximo. Aonde Nilto nos conduzirá agora? Cada conto é um conto, que faz com que nossa imaginação nos leve às vezes a adentrar dentro dele e participar, deixando que nos levemos pelo seu encanto, pela sua linguagem simples e deliciosa.” (José Feldman, em Nilto Maciel, o mago das almas, 18/12/2010)

Fontes:
Nilto Maciel. Punhalzinho Cravado de Ódio, contos. Secretaria da Cultura do Ceará, 1986.
Enviado pelo autor.
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing 

Aparecido Raimundo de Souza (Cardápio difícil)

NA LANCHONETE a garota pede a lista com a relação das guloseimas disponíveis para serem oferecidas aos clientes. A garçonete imediatamente a atende com um sorriso largo no rosto de princesa:

— Boa noite. Seja bem-vinda. — O que vai ser?

— Antes, me responda algumas perguntas. 

— Pois não. 

— O que vem no hambúrguer simples?

— A garçonete mostra o cardápio sobre a mesa. 

— Veja aqui. Leia junto comigo. No hambúrguer simples: pão, duas carnes, alface, tomate, batata palha e molho... 

— Legal. E no cachorro quente na chapa?

— Pão, salsicha, queijo, milho, batata palha e molho...

— Sério?

A garota não parece satisfeita. Insiste:

— E na porção de batatas fritas vem alguma coisa?

— Sim.

— E no filé mignon? 

— Nesse filé mignon vem cebola, pimentão, farofa e se a senhorita quiser podemos acrescentar tomates.

— Cá entre nós. É filé mignon mesmo?

— Pode ter certeza. Fazemos com todo gosto e carinho.

— Tem certeza de que não é carne de segunda?

— De forma alguma.

— Nem de lombo de cavalo?

— Senhorita, nossa lanchonete é honesta e séria.

— Acredito.

— Então, o que vai ser?

— Sem querer ser desagradável. E a omelete de frango?

— O que tem minha jovem?

— É de frango mesmo?

— Claro.

— E o frango é novo ou velho?

A garçonete ri, embora por dentro esteja com vontade de explodir e mandar a cliente para o raio que a parta: 

— Novo. Nossos frangos são de primeira. Saem direto da granja do meu patrão. Então, posso fazer o pedido?

— Pode.

— E o que vai ser?

— Me traga um copo vazio e um palito...

— Fala sério, moça. Tenho outros clientes para atender...

— Ok. Me prepara um cachorro quente simples, com duas salsichas.

Vinte minutos depois o lanche chega no capricho. 

— Aqui, senhorita. Bebe alguma coisa?

— Sim. 

— E o que você tem geladinho?

— Todos os refrigerantes que imaginar. 

— Você tem Coca ou guaraná? 

— Sim. 

— Tem aquela coca sem açúcar?

— Claro. Posso lhe trazer uma?

— Tem cerveja? 

— Da marca que escolher.

— Não, agradeço. Eu não bebo. 

— E o que vai querer para acompanhar seu cachorro quente?

— Como você me atendeu bem, deixo a seu critério. 

— Iria sugerir um guaraná.

— Não.

— Suco. Temos suco.

— De quê? 

— Manga, uva, laranja, abacate, melancia, limão...

—Tem de graviola?

—Também... posso mandar vir o de graviola?

— Calma. Estou pensando... 

A pior parte foi terrível.  Final de alguns minutos, a inoportuna, no maior deboche, se abre numa cara de poucos amigos e manda bala:

— Olha, minha fofa. Me traga urgente um copo de água natural sem açúcar. Água natural, em garrafa. Por favor, não é da torneira. E com muito gelo. Estou faminta e seca de sede.
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Aparecido Raimundo de Souza, natural de Andirá/PR, 1953. Aos doze anos, deu vida ao livro “O menino de Andirá,” onde contava a sua vida desde os primórdios de seu nascimento, o qual nunca chegou a ser publicado. Em Osasco, foi responsável, de 1973 a 1981, pela coluna Social no jornal “Municípios em Marcha” (hoje “Diário de Osasco”). Neste jornal, além de sua coluna social, escrevia também crônicas, embora seu foco fosse viver e trazer à público as efervescências apenas em prol da sociedade local. Aos vinte anos, ingressou na Faculdade de Direito de Itu, formando-se bacharel em direito. Após este curso, matriculou-se na Faculdade da Fundação Cásper Líbero, diplomando-se em jornalismo. Colaborou como cronista, para diversos jornais do Rio de Janeiro e Minas Gerais, como A Gazeta do Rio de Janeiro, A Tribuna de Vitória e Jornal A Gazeta, entre outras.  Hoje, é free lancer da Revista ”QUEM” (da Rede Globo de Televisão), onde se dedica a publicar diariamente fofocas.  Escreve crônicas sobre os mais diversos temas as quintas-feiras para o jornal “O Dia, no Rio de Janeiro.” Acadêmico da Confraria Brasileira de Letras. Reside atualmente em Vila Velha/ES.

Fontes:
Texto enviado pelo autor.
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing 

terça-feira, 21 de janeiro de 2025

José Feldman (Trovas & Textos) Mais um adeus

Texto construído tendo por base a trova de Eliana Palma (Maringá/PR)

Adeus com dores combina,
adeus inspira piedade.
Adeus de amor, triste sina
de quem vive de saudade!

O sol estava se pondo em Maringá, tingindo o céu de laranja e rosa, como se o próprio dia estivesse se despindo para dar lugar à noite. As ruas começavam a se esvaziar, e o movimento frenético do centro da cidade diminuía, dando espaço a um silêncio que parecia carregar a melancolia de tantos “adeus” que haviam sido ditos ao longo dos anos. Em cada esquina, um pedaço de história, um resquício de amor ou amizade, ecoava na memória dos que por ali passavam.

Naquela tarde, Maria, uma jovem de cabelos cacheados e olhos brilhantes, caminhava pela Avenida XV de Novembro. Seu coração pulsava descompassado. Ela sabia que estava prestes a se despedir de Humberto, seu primeiro amor, que decidira se mudar para outra cidade em busca de novas oportunidades. O anúncio da partida havia caído sobre ela como uma tempestade de verão: repentino e avassalador.

"Quando você vai embora mesmo?", ela perguntou, tentando esconder a tristeza na voz. Humberto, com um sorriso nostálgico, respondeu que partiria na manhã seguinte. O que era uma nova chance para ele, tornava-se um abismo para ela. O amor, que havia sido uma doce melodia, agora era um lamento que ecoava pelas ruas de Maringá.

Enquanto Maria caminhava, lembranças dançavam em sua mente. O primeiro encontro no Parque do Ingá, com suas árvores majestosas e o perfume das flores. As tardes passadas em um banco à sombra, onde eles trocavam promessas e risadas, como se o mundo ao redor não existisse. E agora, todas aquelas memórias pareciam pesadas, como se cada risada carregasse um peso insuportável.

O "adeus" que se aproximava era uma verdadeira sina. Maria sentia o coração apertar ao pensar nas despedidas que já havia vivido — a partida do pai para o exterior, a saída da melhor amiga que se mudara para a capital, as idas e vindas da vida. Cada adeus trazia consigo um rastro de saudade, e ela se perguntava se um dia aprenderia a lidar com isso.

Na esquina da Avenida XV com a Avenida São Paulo, um grupo de amigos se despedia. Riam e se abraçavam, mas Maria percebia que, por trás das risadas, havia um fundo de tristeza. O “adeus” sempre vinha acompanhado de uma sombra. "Adeus com dores combina, adeus inspira piedade", pensou. As despedidas em Maringá eram como melodias que se repetiam, sempre com a mesma harmonia triste.

Com o coração pesado, ela decidiu encontrar Humberto uma última vez. Dirigiu-se ao café onde costumavam ir, um pequeno lugar aconchegante, com mesas de madeira e um cheiro inconfundível de café fresco. Ao entrar, avistou Humberto na mesa do canto, olhando pela janela. Ele parecia distante, perdido em pensamentos, e Maria percebeu que ele também estava sentindo o peso da partida.

— Oi, você veio! — Ele sorriu, mas a alegria não alcançou seus olhos.

— Precisamos conversar — disse Maria, sentando-se à sua frente. 

O clima estava carregado, e as palavras pareciam não querer sair. O garçom trouxe os pedidos, mas o café esfriou enquanto eles trocavam olhares que falavam mais do que mil palavras.

— Eu não sei como vou lidar com isso — ela finalmente desabafou. — Vai ser tão difícil te ver partir.

— Eu também não sei, Maria. É como se estivéssemos vivendo um sonho e agora temos que acordar. — ele hesitou. — Mas isso não significa que o que tivemos não foi real.

A conversa fluiu entre risos nervosos, lembranças e promessas de que tudo ficaria bem. Mas, no fundo, ambos sabiam que a vida os levaria por caminhos diferentes. O café esvaziou-se em suas xícaras enquanto as horas passavam, e o sol começava a se esconder, deixando uma sombra sobre a cidade.

Quando finalmente se levantaram para sair, Maria sentiu que aquele momento se tornaria mais uma memória, mais um “adeus” a ser guardado na caixa de saudades. Eles caminharam lado a lado, sem saber se deveriam se abraçar ou apenas se despedir com um aceno. O medo da dor os impedia de se aproximar.

Na porta do café, Humberto parou e, em um gesto inesperado, puxou Maria para perto. O abraço foi apertado, cheio de sentimentos não ditos. Era um “adeus” que transbordava dor, mas também gratidão. Um “adeus” que, mesmo triste, celebrava o que haviam vivido juntos.

— Adeus, Maria. Cuide-se! — ele disse, com a voz embargada.

— Adeus. E não se esqueça de mim — respondeu ela, enquanto as lágrimas escorriam pelo rosto. 

O “adeus” ecoou, pesado e doce como um canto de despedida, deixando no ar a promessa de que, apesar da distância, as memórias permaneceriam.

Enquanto ele se afastava, Maria ficou ali, observando o homem que um dia fora seu amor. O céu estava agora escuro, e as luzes da cidade começavam a brilhar. Em cada ponto luminoso, ela via uma lembrança, uma risada, um abraço.

E, assim, em Maringá, onde os adeus são sempre acompanhados de saudade, Maria aprendeu que a vida segue, mesmo entre dores e despedidas. O amor se transforma, mas nunca desaparece completamente. E, ao final, cada “adeus” traz consigo a semente de um novo “olá”, mesmo que, por ora, a saudade seja a única companhia.
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JOSÉ FELDMAN nasceu na capital de São Paulo. Formado em patologia clínica, não concluiu o curso superior de psicologia. Foi enxadrista, professor, diretor, juiz e organizador de torneios de xadrez a nível nacional durante 24 anos; como diretor cultural organizou apresentações musicais; trovador da UBT São Paulo e membro da Casa do Poeta “Lampião de Gás”. Foi amigo pessoal de literatos de renome (falecidos), como Artur da Távola, André Carneiro, Eunice Arruda, Izo Goldman, Ademar Macedo, e outros. Casado com a escritora, poetisa e tradutora professora Alba Krishna mudou-se em 1999 para o Paraná, morou em Curitiba e Ubiratã, radicou-se definitivamente em Maringá/PR em 2011. Consultor educacional junto a alunos e professores do Paraná e São Paulo. Pertence a diversas academias de letras e de trovas, como Academia Rotary de Letras, Academia Internacional da União Cultural, Academia de Letras Brasil-Suiça, Academia de Letras de Teófilo Otoni, Confraria Brasileira de Letras, Confraria Luso-Brasileira de Trovadores, Academia Virtual Brasileira de Trovadores, União Brasileira dos Trovadores, etc, possui o blog Singrando Horizontes desde 2007, com cerca de 20 mil publicações. Atualmente assina seus escritos por Campo Mourão/PR, onde pertence a entidades da região. Publicou mais de 500 e-books. Dezenas de premiações em trovas e poesias.

Fontes:
 José Feldman. Labirintos da vida. Maringá/PR: Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul.
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing 

José Deolindo Albuquerque da Silva “Caiçara” (A Lenda do Sol e da Lua)

Certa vez, há muito tempo atrás, num lugar muito distante onde só havia os verdadeiros brasileiros habitando o Brasil, e ali por muito tempo permaneceram até que com a colonização apareceram os homens brancos, que a todo custo queriam dominar as riquezas do país e, sem escrúpulos, iam se embrenhando e dominando os habitantes que ali viviam.

Chegando nesse lugar, que vou chamar de lugar desconhecido, e que era habitado por muitas tribos o homem branco, que se dizia civilizado, começou o conflito com as tribos que sempre  habitaram naquele lindo lugar, preservando a natureza, os animais, os pássaros, os peixes, as caças, os minerais, enfim, preservando tudo que Deus havia lhes deixado. Mas o homem branco, sem escrúpulos, começou a destruir as árvores, a tirar os minérios, a depredar os rios e igarapés, afugentando e matando a caça e o peixe que era a fonte de sobrevivência dos índios. Então, o tuxaua da tribo Pauxis muito triste com aquela situação, chamou dois habitantes da tribo que eram um menino e uma menina e lhes deu uma missão dizendo: “Olhem meus dois jovens, vocês estão vendo a situação em que estamos vivendo. O homem branco destruindo o nosso habitat desordenadamente, e nós que, por todos esses anos, vínhamos a preservar. Pois bem, o que lhes devo dizer, é que nós aqui ficaremos e lutaremos pelo que é nosso, mas não sabemos o que pode acontecer, por isso a missão que lhes confio é bastante difícil, mas não impossível de realizar. Eu quero que vocês saiam daqui e escolham um lugar, não importa a distância, mas quero que sigam o nosso lema. Esse lugar tem que ser preservado a todo custo, pois só assim vocês estarão cumprindo a missão que lhes confio.”

Então, os dois jovens Pauxis despediram-se do tuxaua, prometendo a ele que fariam tudo para cumprir com o que lhes era determinado, e saíram em sua canoa rio abaixo, rio acima, e, durante muitas luas, seguiram em busca desse lugar tão sonhado e sempre cantando assim:

Trá-lá-lá-lá-lá-lá-lá vamos juntos viajar;
Rumo à terra prometida, onde tem muita beleza;
Onde a preservação, nós iremos encontrar;
Onde o lema é plantar e cuidar da natureza;
Onde o Uirapuru encanta, onde canta o sabiá;
Trá-lá-lá-lá-lá-lá-lá.

Em uma bela manhã, quando eles seguiam em um lindo rio, hoje denominado Rio Amazonas, ficaram deslumbrados com um dos mais belos amanheceres de suas vidas! O sol vinha raiando por de trás de uma montanha, e seus raios dourados refletiam um brilho encantador, os dois olharam-se  e falaram: - Ali está a terra prometida o lugar que iremos zelar e ficar eternamente.

A montanha que eles avistaram hoje é chamada de Serra da Escama. E ao chegarem mais próximos, depararam também com um maravilhoso lago onde encontraram muitos peixes e pássaros das mais variadas espécies, onde havia  com abundância a vitória-régia, o murerú, os belos anhingais, enfim; tudo o que eles precisavam para sobreviver. Esse lago recebeu o nome de lago Pauxis em homenagem aos primeiros habitantes deste lugar, que aqui formaram família e povoaram esta terra e que por muitos anos foi habitada por eles, sempre acreditando e cumprindo a missão que lhes foi confiada que era somente trabalhar na terra com respeito e usar os lagos e a mata para tirar apenas o seu sustento, não derrubando árvores desordenadamente, não fazendo queimadas, não poluindo os rios, lagos e igarapés, sempre preservando a natureza.

Mas com a chegada do homem branco, eles, reviveram o pesadelo de seus antepassados e aí o homem branco, que sempre se diz civilizado, invadiu o espaço dos Pauxis, e, com o seu espírito de destruição, começou a devastar a floresta desordenadamente, afugentando e até matando muitos índios que eram os verdadeiros habitantes desse lugar. Mas mesmo muito tristes, o Sol e a Lua como eram chamados os dois primeiros habitantes da tribo Pauxis, resolveram ficar e lutar pela preservação, principalmente da Serra e do Lago, e, por muitos anos, ali permaneceram, até que em um determinado tempo o homem não conformado só com a destruição da mata e da caça, resolveram  a acabar com que lhes era mais precioso; o belo Lago, o qual foi cruelmente destruído, ficando assim sem os aningais, sem os pássaros, sem os peixes, sem os animais que dele sobreviviam. O belo Lago foi transformado apenas numa lagoa a céu aberto, onde a vida já não mais existia, e além disso, o próprio homem começou a poluí-lo desordenadamente.

Então o Sol e a Lua inconformados com tanta destruição, só faziam chorar, e em uma noite de lua, eles saíram meio que enlouquecidos de tanta tristeza e caminharam até onde hoje é o porto de cima, e ao chegarem bem no alto da barreira, olhando para o céu e pediram: - Ho mãe Lua nós te imploramos que nos liberte desse sofrimento, pois não queremos sair deste lugar, mas não aguentamos ver tanta destruição, por isso, gostaríamos que acabasse com o nosso sofrimento. 

Então, a mãe lua, compadecida  e ouvindo o clamor dos dois, os encantou no alto da barreira, e ali eles permanecem para sempre, preservando assim a raiz de origem dos Pauxis. Diz a lenda que no local do encante, próximo ao pingo d’água no porto de cima, as pessoas que por ali passam sempre percebem umas gotas de água que surgem cristalinas do alto da barreira, e que são as lágrimas dos dois que continuam a chorar por ver tanta destruição da natureza.

Segundo os sábios, dizem que quem passar no local onde a água fica pingando, e pegar alguns desses pingos e fizer uma cruz do lado esquerdo do peito, é tocado pelo espirito do Sol e da Lua, e para sempre será um preservador da Natureza.
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JOSÉ DEOLINDO ALBUQUERQUE DA SILVA "Caiçara" nasceu em 1958, em Óbidos/PA. Formado em administração. Durante a sua vida de estudante já gostava de escrever. Em 2003, escreveu uma biografia do saudoso pai que faleceu em Setembro de 2000, e junto com a biografia escreveu algumas “presepadas” dele, muito conhecidas pelos os obidenses,  como: O Homem de Fibra. O Carrinho de Mão, Plainada Brasileira,  Piranhas Buxudas, Paulada Escabriativa, as quais foram divulgadas em Óbidos para alguns amigos. Em junho de 2004, ano do Sesquicentenário, escreveu sobre Óbidos, como diz ele, “ minha terra tão amada”, então escreveu poesias que  falam de pontos históricos e culturais. Escreveu como uma forma de demonstrar a sua gratidão e o seu amor a terra  que lhe serviu de berço.

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segunda-feira, 13 de janeiro de 2025

Renato Frata (Depois da chuva)

A chuva caía fininha, fininha, que parecia não molhar de tão fina, e era tão silenciosa e sorrateira a lamber folhas e flores que nem parecia chuva, mas névoa que o sol recém-nascido, ainda não amornara. E o chão, com a garganta aberta a recebia como esponja, a ponto de não formar enxurrada como nas outras chuvas ásperas e volumosas em que, não suportando seus espessos volumes, escorrem fazendo buracos, enchem os rios que invadem as margens, alagam ruas e casas. Um desespero.
  
Caiu e caiu tanto durante a noite que nem os ponteiros do relógio que só giravam buscando o sol, conseguiram fazê-la parar, e ficaram só acompanhando sua caída. Até que um vento, não sei saído de onde, soprou a nuvem que já devia estar magrinha de chover e a levou para longe e, se abrindo, possibilitou a que o sol aparecesse.

E aí aconteceu algo especial: o sol, feliz por poder olhar para baixo, desenhou no céu com seus lápis de cor um arco-íris tão grande, mas tão grande, que as pernas dele abraçaram o mundo. E ficou assim, desenhado com sete cores enfeitando o dia.

Uma lindeza de ver e de sentir, até que o girassol que se abrira e olhava bem na cara do sol para se esquentar, pediu:

- Ei sol, me passe ao menos uma dessas cores do arco-íris aí, qualquer uma, olha, pode ser o vermelho, o laranja, o verde, o azul, o anil, o violeta... menos o amarelo que esse eu já tenho... - e complementou: - Não acha que é muita cor para um só arco-íris?

Então, o arco-íris ouvindo o despropósito, respondeu antes que o sol falasse:

- Qual é, cara, tem vergonha não? Pensa que minhas cores são figurinhas que se podem dar, vender ou trocar? Fazem parte de mim, como as suas pétalas. Se eu pedisse essas suas pétalas para me cobrir, você daria?

- Acho que não... ia me sentir pelado!

- Comigo é assim, também. Como sou apenas um arco luminoso de luz refletida em gotículas na atmosfera e tenho uma vida efêmera de pouco mais de uma hora, e você, uma planta enraizada que nasceu de semente, cresceu, floriu, que amanhã virará outras sementes e adubo e tem vida de mais de cem dias, que tal me dar a lindeza desse amarelo forte que tem nas pétalas? Pode ser apenas a cor, para que eu possa enfeitar um outro arco. Veja, você poderá ficar com as pétalas para que não se sinta nu, mas me passe sua cor. O que acha dessa proposta?

- Por que faria isso? Sem cor eu ficaria desmilinguido e ninguém me reconheceria como girassol. Eu perderia a identidade; afinal, a cor faz a flor, sabe desse ditado?

- Tá vendo? Nem tudo que é bom para um pode sê-lo para outro, razão de não poder lhe dar qualquer das minhas... Eu deixaria de ser arco-íris, se não tivesse sete cores, entendeu?

- Ah, bom! Desculpe-me: confesso que quando o vi radiante, resplandecendo no céu e chamando à atenção de tanta gente que se deslumbrava com sua beleza, senti uma pontinha de inveja...

- Sim, pensa que não percebi? Quando eu ouvi você pedir ao sol, já pressenti que se tratava disso... a inveja castiga! Ela é arma dos fracos e você, amigo girassol, não é fraco e, se permitir, gostaria de lhe explicar. Posso?

- Claro, ouvirei com atenção.

- Isso só acontece quando nos deixamos levar por sentimentos impuros e não nos damos o real valor que temos. Julgamo-nos menos inteligentes, menos bonitos, ou menos felizes que os demais. Sim, mas é uma questão fácil de resolver. Basta que nos amemos e nos respeitemos pelo que e do jeito que somos, porque pode alguém ser até mais alto que nós, ou mais magro, ou mais cabeludo, ou ter mais coisas, que nada disso nos obriga a sentir inveja dele. Sabe por quê? Porque ele também terá suas fraquezas... Esse mal que nos leva a nos menosprezar é reflexo de que não avaliamos bem o nosso valor, a nossa autoestima e o nosso autorrespeito, e acabamos por ficar nos sentindo diminuídos perante qualquer coisa que sintamos ou achemos bonita, mas que pertence a outro.

– Rapaz, você tem razão...

 Mais uma coisa, amigo; temos nossa vida para cuidar, não é? Para isso, basta que nos esforcemos. Olhemos para a abelha, por exemplo, que aerodinamicamente não foi feita para voar, mas por inspiração, voa para todos os lugares e produz o que você conhece, um dos melhores alimentos que é o mel.

- É...

-Aproveite a vida, girassol, porque eu estou aproveitando a minha. Entre outras coisas belas que enxergo, essa vista linda da terra molhada pela chuva fininha, por exemplo, cuja umidade lhe dá força para germinar sementes, criar beleza e conforto. Precisa de outros? Olhe, daqui a pouco eu desaparecerei; afinal, não passo de um simples reflexo em gotículas, mas só o encantamento que consegui colocar nos olhos das pessoas que me olharam e se gratificaram com a visão, a ponto de lhes arrancar suspiros de alma e de agradecimento pela oportunidade, posso dizer que o quanto de tempo que vivi, valeu pela minha vida precoce.

- Você é espetacular...

- Estou a aproveitar o que a Natureza me deu, só isso. Então, viva! Aja com coragem e destemor, realce-se com a beleza também da plantação que o acolhe, você está entre irmãos aí, veja ao seu lado quantos outros pés de girassol a lhe fazer companhia. Sugiro que se dê bem com quem. o cultiva e trate de produzir boas semente para a posteridade, e se guarde, girassol, para que a massa de sua carne sirva de bom adubo a terra que ora lhe dá vida, ajude-a para que produza outros girassóis tão lindos e esbeltos como você. Aproveite! Enquanto minha vida é tão efêmera e a sua é de mais de cem dias, faça como eu, dê aos olhos humanos a beleza que possui, eles irão agradecer por tê-lo visto. Esse é o segredo para fazer da vida, o melhor!

- Espere...

- Tchau, amigo, não tenho mais tempo, já vou apagar... e não se esqueça, faça das suas dificuldades o seu sucesssssssoooooooooo!

- Tchau... Ué, cadê o Arco-íris? Ah! Ele se foi. Que pena que não teve tempo de conversar mais, esperarei a próxima chuva quando ela nascerá de novo... para lhe dizer que sim, que tem razão; a vida vale por sua intensidade, não pela sua extensão.
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Renato Benvindo Frata nasceu em Bauru/SP, radicou-se em Paranavaí/PR. Formado em Ciências Contábeis e Direito. Professor da rede pública, aposentado do magistério. Atua ainda, na área de Direito. Fundador da Academia de Letras e Artes de Paranavaí, em 2007, tendo sido seu primeiro presidente. Acadêmico da Confraria Brasileira de Letras. Seus trabalhos literários são editados pelo Diário do Noroeste, de Paranavaí e pelos blogs:  Taturana e Cafécomkibe, além de compartilhá-los pela rede social. Possui diversos livros publicados, a maioria direcionada ao público infantil.

Fontes:
Renato Benvindo Frata. Crepúsculos outonais: contos e crônicas.  Editora EGPACK Embalagens, 2024. Enviado pelo autor.
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Aparecido Raimundo de Souza (Pedágios)

MINHA MÃE (que Deus a tenha!), dizia sempre: “Filho, não deixe de colocar seus joelhos no chão e rezar pedindo proteção ao seu Anjo da Guarda. Não se esqueça, jamais, de agradecer por estar vivo, por ter a chance contínua e durável de acordar todas as manhãs e enxergar o mundo que Deus preparou para você. Clame por segurança, brade em alto e bom som agradecendo, ponha as mãos para cima e ore. Dê graças. Suplique ao Criador para que novos caminhos apareçam trazendo horizontes benfazejos, e portas se abram à sua frente, com perspectivas infindáveis de sucessos e brilhanturas”.

Eu seguia seus conselhos à risca. Rezava antes de sair do meu quarto, orava compenetrado, implorando ao céu que me desse um dia venturoso e afortunado, um dia de realizações flóreas e plenas, e que ao sair depois do breakfast, voltasse inteiro e ileso, sem um arranhão no final da tarde e pudesse pegar no colo meus filhos, um por um, e beijar, e abraçar a minha mulher e a minha mãe, que ficavam acenando da janela da sala. 

A nossa casa, apesar de se posicionar numa rua sem saída, morria, por conta disso, em nosso portão. A alvenaria do “tempo do ronca” (muito antigo), não tinha os privilégios dos ricos, nem ostentava as riquezas soberbas das outras construções próximas. A sua estrutura se fazia de edificação modesta e simples. 

Havia um alpendre enorme que circundava todo o seu entorno e lembro que as paredes dessa varanda envelheciam a cada dia, desprovidas de reparos, sem reboco, os tijolos expostos às intempéries e aos bochornos (calor causticante) duros do tempo inexorável. A cobertura também se sustentava nas asas do precário. Existia um monte de telhas quebradas carentes de serem trocadas. 

Quando chovia, ainda que por pouco tempo, precisávamos correr contra os relâmpagos e as trovoadas. Tamponar ligeiro os móveis, e eletrodomésticos, vedando com plásticos enormes para que não fossem atingidos pelos pingos que pareciam brotar de todos os lugares como minúsculos olhinhos de nascentes, gotejando das cantoneiras e dos caibros velhos e cheios de teias de aranha. 

As minhas implorações, acreditem, por incrível que pareçam, davam certo. Na verdade, confesso, deu no ponto exato por todos esses anos. Graças a minha fé no Anjo da guarda e, claro, atento aos ensinamentos sábios de mamãe, grudado em suas leis e preceitos internos advindos de uma alma boa e sem máculas, consegui atravessar por esse mundo de loucos e birutas e chegar íntegro e perfeito até onde estou agora. Uma glória digna de ser contada e comemorada. 

Do alto da fortaleza que me sustenta, ao olhar longamente para trás, consigo contemplar, vitorioso, mais de meio século de existência. E faço consciente do dever cumprido, sem ter deixado mágoas e dissabores pelas mais diversas sendas que cruzei. Está certo que nem tudo se fez um mar de flores. Paguei taxas e contribuições caras às autarquias e concessionárias por pecados cometidos ao longo dessas décadas. Urrei pelas transgressões que, de certa forma, chegaram a pesar nos meus costados, açoitando, como fardos enormes em lombos de burros envelhecidos. 

Muitos desses deslizes, pasmem, eu confesso, cometi por vontade própria! Outros tantos, por pura bobeira ou ignorância e desconhecimentos da vida. Os aprendizados do cotidiano, nós todos, só conseguimos com o decorrer do tempo que nos é concedido. O mundo é a melhor escola para nos tornarmos melhores e mais humanos. O fato é que, apesar dos pesares e equívocos, aceitei a tudo numa boa. Não tenho, pois, do que reclamar. 

Meu trilhar sempre se mostrou pontilhado por trancos e barrancos, altos e baixos. Atravessei anos ruins e desastrosos, cruzei noites claras e escuras, me vi frenteado às esquinas mais diversas, com fantasmas iracundos assustando meus medos e covardias, desbrios e horrores, sem me darem trégua e um minuto, sequer de paz. 

Foi, entretanto, tirando fora as absurdidades e alogias (despropósitos), um tempo bom. Um tempo excelente, sem dores maiores, sem machucados que se negassem a cicatrizar. Todas as minhas feridas restaram curadas, sem deixarem indícios ou abalos morais. Por sorte, do Pai Maior colhi igualmente tempos de calmarias e bonanças, sem doenças letais ou irremediáveis. 

Hoje, fazendo uma introspecção de todo meu tempo percorrido, percebo que essas primaveras vividas, dia após dia, em nenhum momento se mostraram cruéis e desumanas, celeradas ou bárbaras demais. Apagar um amontoado de velinhas não é coisa para qualquer um. Tornou-se um dote, para mim, particularmente, um apanágio, uma regalia, um dom. 

Quero crer, e creio piamente, somente chegam a este número de janeiros acumulados, pessoas com a patente carimbada no DNA, com as peculiaridades dos que nasceram privilegiados, criaturas que, de alguma forma, se tornaram escolhidas a dedo, pelo Criador. 

Eu estou feliz, realizado, satisfeito, jubiloso e exultante. Todavia, quieto no meu cantinho. Contente com meu destino, em festividade constante com a minha vida, mais ainda com o meu passado. Enfim, com a minha sorte, com a minha auriflama empunhada, com meu estandarte às vistas de todos, porque na verdade, na verdade, eu fui, de fato, eu fui não, eu sou, por tudo o que passei, eu sou um escolhido e, como tal, me sinto, de certa forma, um álacre literalmente iluminado. Reparem todos: aqui estou, firme e forte, forte e firme, a viver e gozar os meus trebelhos.
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Aparecido Raimundo de Souza, natural de Andirá/PR, 1953. Aos doze anos, deu vida ao livro “O menino de Andirá,” onde contava a sua vida desde os primórdios de seu nascimento, o qual nunca chegou a ser publicado. Em Osasco, foi responsável, de 1973 a 1981, pela coluna Social no jornal “Municípios em Marcha” (hoje “Diário de Osasco”). Neste jornal, além de sua coluna social, escrevia também crônicas, embora seu foco fosse viver e trazer à público as efervescências apenas em prol da sociedade local. Aos vinte anos, ingressou na Faculdade de Direito de Itu, formando-se bacharel em direito. Após este curso, matriculou-se na Faculdade da Fundação Cásper Líbero, diplomando-se em jornalismo. Colaborou como cronista, para diversos jornais do Rio de Janeiro e Minas Gerais, como A Gazeta do Rio de Janeiro, A Tribuna de Vitória e Jornal A Gazeta, entre outras.  Hoje, é free lancer da Revista ”QUEM” (da Rede Globo de Televisão), onde se dedica a publicar diariamente fofocas.  Escreve crônicas sobre os mais diversos temas as quintas-feiras para o jornal “O Dia, no Rio de Janeiro.” Acadêmico da Confraria Brasileira de Letras. Reside atualmente em Vila Velha/ES.

Fontes:
Texto enviado pelo autor. 
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domingo, 12 de janeiro de 2025

Monteiro Lobato (História dos dois ladrões)

Era uma vez um boiadeiro lá do sertão, que tinha cara de bobo e fumaças de esperto. Um dia veio ao Rio de Janeiro gastar os cobres de uma boiada. Logo que desceu do trem e ia se encaminhando para um hotelzinho próximo, foi abordado por um homem de cara ainda mais boba que a sua.
 
— Boa noite, meu senhor! — saudou o homem humildemente.

O boiadeiro respondeu com um "boa noite" desconfiado, e foram andando juntos. O homem começou a contar uma história muito comprida. Disse que era da roça e estava completamente zonzo naquela capital. Não conhecia ninguém, não sabia tomar bondes, atrapalhava-se com qualquer coisinha — e o pior de tudo era o medão de ser roubado.

— Isto aqui — disse ele — é gatuno de todos os lados. Ninguém pode confiar em ninguém. Os piratas não dormem. Se a gente está com dinheiro no bolso, eles conhecem pelo cheiro — e tanto fazem que deixam uma pessoa limpa.

— Se o senhor tem tanto medo, é sinal de que está empatacado — disse o boiadeiro.

O homem correu os olhos, com desconfiança, dum lado e doutro; depois respondeu quase num cochicho:

— O senhor adivinhou. Todo o meu medo vem de trazer no bolso um pacote de notas no valor de dez mil cruzeiros, que lá na minha terra me encarregaram de entregar à Santa Casa. Mas não sei onde é a Santa Casa. Se pergunto, ensinam-me errado — ou então desconfiam de que estou com dinheiro...

E deu um suspiro. Depois continuou:

— Aquela gente lá da roça não imagina o que é isto aqui. Nem eu imaginava coisa nenhuma. Se soubesse, não vê que não me encarregava deste maldito dinheiro. Dez mil cruzeiros! Se perco o pacote, ou se algum pirata me passa a perna, vão dizer por lá que roubei — e fico desacreditado.

— E que pretende fazer? — indagou o boiadeiro.

— Minha ideia é descobrir um homem de bem que queira encarregar-se da entrega do dinheiro. Mas não acho esse homem. As caras desta terra não me inspiram a menor confiança. Só a sua. Assim que vi o senhor, tive um pressentimento no coração: "Aquele, sim, aquele tem cara de homem de bem." Por isso me aproximei.

O boiadeiro ficou muito lisonjeado com a boa impressão que o homem fazia dele.

— Lá isso, sou. Graças a Deus tenho um nome limpo. Quem quiser tratar com pessoa séria, me procure.

O homem do pacote suspirou.

— Deus seja louvado! Custou, mas achei. Meu coração não nega. Quando o vi descendo esta rua; palpitei cá comigo: "Meu salvador vai ser aquele homem..."

— Mas de que maneira acha que eu possa servi-lo? — perguntou o boiadeiro.

— De um modo muito simples. Eu lhe dou o pacote dos dez mil cruzeiros e o senhor faz a entrega à Santa Casa.

Os olhos do boiadeiro brilharam.

— Pois estou às suas ordens! — disse ele. — Neste mundo um tem de servir o outro. Já que lhe inspiro tanta confiança, disponha dos meus préstimos.

— Ora graças! — suspirou o homem, tirando o pacote do bolso. Era um pacote de notas graúdas, muito bem amarrado, com uma de cem cruzeiros em cima.

— Pois aqui está o pacote, meu senhor. E eu fico imensamente agradecido da sua bondade, Ah, nem imagina o peso que me tira do coração! Uf! Esse dinheiro estava me deixando doido...

O boiadeiro pegou no pacote e foi abrindo a mala para guardá-lo.

— Espere! — disse o homem. — Eu tenho no senhor a mais absoluta confiança, mas sempre é bom que me dê uma garantiazinha — aí um dinheirinho qualquer, porque afinal de contas eu acabo de lhe entregar dez mil cruzeiros. Dez mil cruzeiros é uma fortuninha...

O primeiro ímpeto do boiadeiro foi restituir o pacote. Depois mudou e disse, pondo a mão no bolso:

— Serve uma garantia de mil e quinhentos cruzeiros? É todo o dinheiro que tenho no bolso.

O homem cocou a cabeça vacilante. Afinal resolveu:

— Serve. É pouco, mas serve...

O boiadeiro puxou os cobres e deu a de mil e quinhentos cruzeiros.

Despediram-se cada qual seguindo numa direção.

— Dez mil cruzeiros! — foi murmurando o boiadeiro. — Dez mil cruzeiros! Para que precisa a Santa Casa de tanto dinheiro? Muito melhor eu distribuir isto lá pelos pobres da minha terra — pelo menos metade. É justo que a outra metade fique comigo, em pagamento do trabalho...

No hotel pediu um quarto, onde se fechou para contar o dinheiro. Só encontrou aquela nota de cem cruzeiros. O resto era papel de jornal…
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José Bento Renato Monteiro Lobato nasceu em 1882, em Taubaté/SP, e faleceu em 1948, em São Paulo. Foi promotor, fazendeiro, editor e empresário. Apesar de também escrever para adultos, ficou mais conhecido por causa dos seus livros infantis. Faz parte do pré-modernismo e escreveu obras marcadas pelo realismo social, nacionalismo e crítica sociopolítica. Já seus livros infantis da série Sítio do Picapau Amarelo possuem traços da literatura fantástica, além de apresentarem elementos folclóricos, históricos e científicos. Em 1900, ingressou na Faculdade de Direito de São Paulo. Em 1903, se tornou um dos redatores do jornal acadêmico O Onze de Agosto. Escreveu também para periódicos como Minarete, O Povo e O Combatente. Se formou em Direito no final do ano de 1904. Em 1908, se casou com Maria da Pureza. Com a morte do avô, em 1911, o escritor recebeu como herança algumas terras. Assim, decidiu morar na fazenda do Buquira. Ele passou a ser conhecido quando, em 1914, sua carta “Uma velha praga” foi publicada n’O Estado de S. Paulo. Em seguida, o autor criou o personagem Jeca Tatu. Três anos depois, desistiu da vida de fazendeiro e se mudou para São Paulo. Nesse ano, publicou o polêmico artigo Paranoia ou mistificação?, que critica as tendências modernistas. No ano seguinte, comprou a Revista do Brasil. Em 1920, fundou a editora Monteiro Lobato & Cia. Cinco anos depois, vendeu a Revista do Brasil para Assis Chateaubriand (1892–1968) e decretou a falência da editora Lobato & Companhia, que, a essa altura, já se chamava Companhia Gráfico-Editora Monteiro Lobato. Ele se tornou sócio da Companhia Editora Nacional. Se mudou para o Rio de Janeiro, em 1925. Dois anos depois, foi para Nova York, onde assumiu o cargo de adido comercial. Em 1929, devido à crise econômica, vendeu suas ações da Companhia Editora Nacional. No final de 1930, quando Getúlio Vargas (1882–1954) subiu ao poder, o escritor perdeu seu cargo de adido comercial. Retornou ao Brasil no ano seguinte. Em 1932, foi um dos fundadores da Companhia Petróleo Nacional. Anos depois, em 1941, o autor ficou preso, durante três meses, por fazer críticas ao regime ditatorial de Getúlio Vargas. Se tornou sócio da Editora Brasiliense, em 1946, ano em que decidiu morar na Argentina, onde foi um dos fundadores da Editorial Acteón. Voltou ao Brasil em 1947 e fez críticas ao governo de Eurico Gaspar Dutra (1883–1974). Em 1922, decidiu concorrer à cadeira número 11 da Academia Brasileira de Letras. Porém, desistiu da candidatura por não querer “implorar votos”. Já em 1926, voltou atrás e, novamente, concorreu a uma vaga na ABL, mas não foi eleito. Por fim, em 1944, recusou indicação para a Academia, em protesto por Getúlio Vargas ter sido eleito à Academia Brasileira de Letras em 1941

Fontes: 
Monteiro Lobato. Histórias de Tia Nastácia.  Publicado originalmente em 1937.
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