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sexta-feira, 1 de agosto de 2025
Guirlanda de Versos * 39 *
Renato Frata (Final de semana)
É sexta-feira, passa das cinco, minha vista se turva diante de um sol que tremelica enquanto pende a se esconder. Então, comparo-o com meu estado de resistência e vejo que sua aparência como a minha, é de cansaço.
Hora de arriar as velas, depor as tralhas e sossegar, afinal, nem o sol é de ferro. Ambos passamos o dia trabalhando.
Ele vagueando à potência máxima de iluminação e eu, por ter me atido às coisas da profissão e da família, em busca do necessário. A bem da verdade, admiro-o pela compostura séria, ereta, resistente, persistente, renhida com que tenta vencer todo o expediente sem demonstrar a indisposição do cansaço que sinto num fim de tarde, especialmente numa sexta.
Disfarça-se bem. Eu, já não consigo.
Porém, ao se enfiar no horizonte, noto que sua figura escurecida deixa a entender que o tremor da luz, ao se despedir, cobra-o de certa forma pelo esforço dispendido, o que torna, também, ao que parece, seu caminhar mais lento. Tal como o meu que a essa hora age como se eu tivesse acumulado gotinhas de chumbo nos pés, uma porção delas no arcar das costas e outras pela dificuldade de as venezianas dos olhos reterem o ardor emanado.
Olhos em brasa sem estar de fogo. Pode? A tela do computador fala que sim.
Olhando-o, porém, com esse enlevo pela visão displicentemente dirigida ao céu, noto que procura abrigo para se aninhar, e o faz sem pressa de indicar exatamente onde se encolherá, mas sabidamente num colo de montanha acinzentada, perdida pelo horizonte. E dali, como que em posição fetal, submergirá envolvido pelo vermelho enegrecido, a lhe servir de manto.
Magistralmente, nesse exato instante, a noite, a seu modo, assume o lugar espalhando raios lunares, e resplandece a paz que da lua brota.
céu da sexta ganha um brilho especial porque ela, lua, na sua magnificência elementar, simplesmente clareia sem nos perguntar se estamos cansados ou não e, como tivesse mãos mágicas, põe em nossos pés vitalidade, nas costas o conforto, e congraçamento nos olhos a nos fazer de novo descansados para mais uma jornada, essa de lazer; afinal, sexta não é para se ficar em casa.
Não é sempre que aproveitamos a oportunidade de bisbilhotar o céu nesses tempos loucos em que o relógio obriga a que olhemos sem enxergar, sem distinguir contornos, saliências, reentrâncias e nuanças. Nesse caso, com ou sem lua, hibernamos, e não damos conta de que perdemos horas preciosas da vida que segue... sem que ocasiões retornem.
Perder a sexta é perder a semana.
A pressa que damos à vida, agindo como se disputássemos um lugar junto ao próprio sol procurando mais sombra, tira-nos a certeza de que teremos o sábado e o domingo para guardarmos nossa armadura, banhá-la, lustrá-la e deixá-la pronta até a próxima segunda quando poderemos, de novo, seguir o astro nas suas andanças livres, soltas e belas e fazer dos dias da semana a espera pela próxima sexta.
* * * * * * * * * * * * * * * * * * * * *
Renato Benvindo Frata nasceu em Bauru/SP, radicou-se em Paranavaí/PR. Formado em Ciências Contábeis e Direito. Professor da rede pública, aposentado do magistério. Atua ainda, na área de Direito. Fundador da Academia de Letras e Artes de Paranavaí, em 2007, tendo sido seu primeiro presidente. Acadêmico da Confraria Brasileira de Letras. Seus trabalhos literários são editados pelo Diário do Noroeste, de Paranavaí e pelos blogs: Taturana e Cafécomkibe, além de compartilhá-los pela rede social. Possui diversos livros publicados, a maioria direcionada ao público infantil.
Fontes:
Renato Benvindo Frata. Crepúsculos outonais: contos e crônicas. Editora EGPACK Embalagens, 2024. Enviado pelo autor.
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing
Tércia Montenegro (O Vendedor de Judas)
A cidade era outra. Pequena, habitantes escassos. Uma igrejinha só. Duas praças, a lagoa sinuosa e o casarão dos políticos. Não havia cadeia, que o povo era manso. Briga de desonra se resolvia entre famílias; com o boato fervilhando, tudo se ajeitava de pronto. Os crimes de faca nunca aconteciam antes da Serra Branca, fronteira a mais de légua.
Ele chegou; apeou-se. Janelas abriram-se, curiosas, a ver quem surgia de onde e para quê neste fim de mundo. As informações saíam lentas, cheias de reticências, com gosto de pergunta:
– Olhe… hotel aqui… O senhor só acha a pensão da Malvina. Naquela esquina, sabe? Pode ir que tem vaga. Quase ninguém aparece visitando este canto… Sabe?
Ele saiu no rumo indicado. Admiravam-lhe o cavalo de pelo marrom. Algumas mocinhas vieram à calçada, desfazendo tranças.
De manhã, D. Malvina a custo conseguiu atravessar a rua. A cidade inteira parecia rodeá-la, com vozes atabalhoadas de anseio. Quase gritou:
– Mas já disse que não sei de nada! O homem veio, trancou-se no quarto, jantou por lá mesmo. E acorda agorinha, se vocês não me param com esta zoeira!
Um mulato arriscou, por detrás de umas senhoras:
– E a mala? Um malão daquele tamanho! Ele disse o que tem dentro?
D. Malvina ia aborrecer-se; hesitou. A multidão eriçava com a pergunta. Mais um pouco e os ânimos subiriam à rebeldia.
– Disse que era coisa para vender. – E completou rapidamente: – Não faço ideia do que seja.
Alguns se dispersaram, satisfeitos com a dúvida. A maioria ainda quis acompanhar por uns metros a dona da pensão. O prefeito apareceu, voz grossa sob o farto bigode. Ordem geral: todos para seus afazeres e ele próprio para casa, indagar da esposa se ela adivinhava os detalhes do que já se fazia mistério.
O desconhecido continuou a provocar assunto, suscitar apostas. A hora do almoço no bar do Rufino era o momento mais esperado, tanto pelos homens, que lá iam tentar o fio da prosa com o forasteiro, como pelas jovens casadoiras, que arrastavam olhares e vestidos do lado de fora.
Ao fim de três dias, a notícia, dada pelo dito-cujo, ele mesmo, frente a várias testemunhas:
– Sou vendedor. Fabrico judas. É trabalho de ano inteiro. Antes de chegar a Páscoa, saio vendendo o estoque por esse interior. Cada boneco, uma cidade.
Decepção. Aquilo já era conhecido: a festa da queima do apóstolo traidor. Há décadas o velho Aníbal costurava uns espantalhos forrados de palha e os doava, simplesmente, para serem amarrados nas árvores. Agora teriam de comprar judas? Melhor não haver festa; Judas nunca valeu tostão furado.
O desconhecido parecia esperar aquela reação. Pediu que o acompanhassem ao hotel (assim ele chamava a pensão) para mostrar o produto de seus dons artísticos; obra-prima sempre destruída, no final das contas.
Maravilharam-se. O boneco era perfeito, de feições nítidas, esculpidas na madeira clara. Olhos e sobrancelhas eram pintados; o cabelo vinha em peruca, sem falha ou emenda. O judas se vestia com um paletozinho cáqui muito jeitoso, flor de plástico na lapela. Até sapatos tinha.
Daquele jeito, haveria de custar fortuna. O forasteiro explicou que fazia os bonecos em série – e mostrou outros dois, igualmente trabalhados –, o que barateava a compra de matéria-prima. Além disso, utilizava madeira oca e frequentemente apodrecida, com revestimento de pano. Tudo na aparência belo, mas, em verdade, feito para acabar numa só noite.
E mais um tanto de palavreado. O quarto sufocante; uma dúzia de homens. Quando o preço foi mencionado, não causou grande espanto. Pediriam fundos à prefeitura; afinal, era uma festa popular, para todo mundo. Devia ser bem comemorada.
O Sábado de Aleluia amanheceu em alvoroço. Grupos de mulheres congestionavam a praça, examinando o judas dependurado no cajueiro. Os homens repetiam as explicações do vendedor, gesticulando muito. Apareceu o velho Aníbal, cara fechada, acompanhando o prefeito. Deu umas apalpadelas no ventre do boneco. Comentou, na estranheza:
– Não está certo.
O prefeito assentiu, nariz torcido sobre o bigode.
– Também acho. Desperdício comprar um troço desses, tão bem-feito, justo para a fogueira.
Aníbal nem escutou. Cheirava a roupa do judas, batia-lhe com os nós dos dedos no corpo de madeira clara. Sacudiu o boneco; o galho ameaçou se quebrar. Alguns protestaram:
– Ó velho, cuidado! Desse jeito estraga o serviço.
Não adiantou tentar explicações. Em pouco tempo, todos levantaram a voz ao antigo vendedor, que este ano guardara os judas, rejeitados, de palha. Praticamente o expulsaram da praça:
– Vá, seu despeitado!
Aníbal desertou, olhos baixos. Ruminava para si, para seus pés cobertos de poeira:
– Não está certo… Não.
E, após o "Ite missa est", quando todos corriam de tochas acesas, o velho foi o único a ver, perto da Serra Branca, a minúscula figura do homem montado num cavalo marrom. Ia embora, à procura de outra cidade, que esta – ouvia-se pelo estrondo – explodia em nuvens de pólvora, guardadas no ventre de um boneco traidor.
* * * * * * * * * * * * * * * * * * * * *
TÉRCIA MONTENEGRO nasceu em Fortaleza, Ceará, em 1976. Tem graduação em Letras, mestrado em Literatura Brasileira e doutorado em Linguística pela Universidade Federal do Ceará. Publicou os livros de contos O Vendedor de Judas (1998), que recebeu o prêmio Funarte, e Linha Férrea (2001), que recebeu a Bolsa para Escritores Brasileiros da Biblioteca Nacional e venceu o Prêmio Redescoberta da Literatura Brasileira, promovido pela Revista Cult, em 2000. Escreveu ainda o ensaio biográfico Oliveira Paiva (2003) e participou das antologias 25 mulheres que estão fazendo a nova literatura brasileira (2004), Contos Cruéis (2006) e Quartas Histórias – contos baseados em narrativas de Guimarães Rosa (2006). O livro de contos “O resto de teu corpo no aquário”, recebeu o Prêmio Secretaria da Cultura do Estado do Ceará em 2004. Em 2005, recebeu os prêmios Osmundo Pontes e Fran Martins, pela Academia Cearense de Letras. Tem dois livros infantis, Um pequeno gesto (2006) e O gosto dos nomes (2006).
Fontes:
MACIEL, Nilto. In Literatura sem fronteiras.
Biografia = http://contosbrasileiros.blogspot.com/. Acesso 16;11.2009 (blog removido)
Celia Musilli (Nas alturas)
Os aviões são meu sonho de Ícaro, as asas metálicas que tomo por empréstimo.
Por um destes acasos que não se explicam, sempre morei em locais que são rotas dos aviões. Em dois bairros onde vivi era assim e agora ouço os jatos logo de manhã, entre 7 horas e 8h30, vindos dos lados da UEL em direção ao aeroporto.
Adoro aviões e sei que muita gente tem medo de viajar neles. Eu não, considero este risco uma experiência necessária, uma aventura necessária, como o amor. Alguém aí tem cem por cento de segurança em matéria de voo? Alguém aí tem cem por cento de segurança em matéria de amor? Em qualquer um dos casos, decolem.
Os aviões são meu sonho de Ícaro, o transporte que me leva às nuvens, as asas metálicas que tomo por empréstimo como se eu mesma voasse. Porque voar pra valer não consigo e não teria despojamento nem coragem de me meter com asas-delta, porque nelas sim me sentiria vulnerável, sem o anteparo das paredes e das janelas, dos outros passageiros logo ali ao lado, das simpáticas aeromoças que perguntam: ”Água, suco ou refrigerante?” Não tive a felicidade de beber champanhe indo a Paris. Quem me dera. Mas cruzei céus indo a Manaus e Belo Horizonte, São Paulo, Curitiba, Rio, Fortaleza e São Luís do Maranhão. E, no litoral, a visão do mar dá a impressão de estarmos sobrevoando o paraíso, porque o paraíso, na minha cabeça, é líquido e azul. Se não líquido, pelo menos úmido e transparente.
Lá de cima, em vez de anjos, vemos os recortes das matas, das praias, das montanhas e isto basta para que a gente acredite em Deus. Alguém já disse que não vemos Deus, mas o sentimos. Eu sou do tipo que acredita muito mais no que sente, do que naquilo que vê, as imagens nos iludem.
Os aviões me lembram a ousadia de Santos Dumont, que não sei como teve a coragem de entrar naquele 14 Bis, tão frágil que até parecia um origami. Um origami voador, vejam só. Mas foi ele, um brasileiro, quem deslumbrou Paris quando deu a volta à Torre Eiffel para realizar o sonho de Ícaro sem queimar as asas. Construiu desta forma uma espécie de imortalidade, sendo, antes de tudo, um sonhador. Um sonhador que realizava.
Gosto das músicas que falam em avião, algumas falam também de amor: ”Foi por medo de avião, que eu segurei pela primeira vez a sua mão.” Lembram?
Mas de vez em quando, os acidentes aéreos nos assustam, colocando todo mundo em pânico, porque pra este tipo de acidente não tem saída, não tem meio termo, não tem volta. Raramente alguém sobrevive, só um em mil, então as pessoas sentem-se mais seguras nas rodovias do que no ar. Mas vou confessar uma coisa a vocês: me apavoram muito mais as estradas cheias, aqueles caminhões-tanque, os motoristas imprudentes, sobretudo nesta época do ano, quando todo mundo quer chegar ou partir, sabe-se lá pra onde e por que têm tanta pressa.
Sinto-me muito mais segura no ar, apesar dos acidentes sem volta. Porque morte por queda de avião é coisa rápida e urgente. Além disso, lá em cima as aeronaves raramente se chocam, ninguém derrapa na curva, ninguém compete em velocidade. Lá em cima, as nuvens parecem um colchão macio ou um rebanho de carneirinhos que só se insinuam e, um minuto depois, se desmancham. Então, que coisa mais lúdica e linda é estar entre as nuvens. Muito melhor do que respirar óleo diesel, sentir as freadas, revoltar-se com as imprudências, errar o caminho, não ver as placas.
Gosto de acordar ouvindo os aviões que decolam ou aterrissam, alguns passam até bem perto da minha janela, enquanto durmo ou agora, enquanto escrevo, porque assim também me sinto no ar. Estar no ar, além do sonho de Ícaro, é sonho de poeta, sonho de maluco, sonho de quem não vê Deus, mas o sente, e acredita Nele, lá nas alturas. E acho que assim o avião não cai.
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CÉLIA MUSILLI nasceu em Cornélio Procópio/PR em 1957 e reside em Londrina/PR. Graduou-se em Comunicação Social-Jornalismo pela Universidade Estadual de Londrina em 1988 e tornou-se mestre em Teoria e História Literária pela Universidade Estadual de Campinas em 2014. É jornalista e editora de Cultura da Folha de Londrina, tem textos, crônicas e poemas publicados nas revistas Agulha, Coyote, Celuzlose, Germina, Diversos e Afins, Jornal Cândido, Oceano de Letras, Poesia Sempre, InComunidades (Portugal), Revista da Biblioteca Nacional, etc. Publicou o livro Londrina Puxa o Fio da Memória, em parceria com Maria Angélica Abramo, e o livro de poesias Sensível Desafio (AtritoArt, 2006) e edita o blog de mesmo nome.
Fontes:
Folha de Londrina. Folha 2. 6 de dezembro de 2009. p.4
Dados biográficos = Universidade Estadual de Maringá
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing
Aparecido Raimundo de Souza (O que fazer diante do abismo que nos encara com olhos devoradores?)
MEUS CAROS LEITORES, confesso que muitas vezes, em minha vida, me senti como se estivesse à beira de um abismo. E pior, me flagrei olhando diretamente para um fosso gigantesco com o rosto em pânico, assustado, temeroso, tudo por conta da imensidão que ele me mostrava, ou seja, um fantástico cenário que se estendia diante de meus receios com sinais tétricos e devoradores. Com isso, o amor que outrora não me sustentava a contento, de repente, do nada, me deu forças e me fez sentir vivo. Em dias de hoje, meu ontem me parece apenas uma lembrança distante. A dor da perda (não importa qual perda tenha sido) me acompanhava. Era como um peso insano que esmagava, tornando difícil as mínimas coisas, inclusive, o respirar. Nesses idos, me sentia como se estivesse, de fato, caindo, despencando sem rede de segurança, sem nada para me segurar naquele infausto mergulho.
A tal cissura se fazia de concepção profunda e escura, e eu, em certas horas, não atinava em como sair dela inteiro. Ao mesmo tempo, vejam que loucura —, me agasalhava uma estranha sensação de liberdade. Estava alforriado, e me via consciente, para escolher o meu próprio caminho e dentro dele, decidir como seguir em frente. O despenhadeiro podia ser um sujeito chato, pegajoso, fútil, maldoso, de semblante assustador, notadamente de espírito vulgar e sem precedentes, não nego, mas também, em oposto, se me apresentava como uma porta aberta e larga para o desafio. Nessas horas de puro aperreio, eu descobri que não estava sozinho. Que diabo, se não estava sozinho, com quem poderia contar? Com a minha força de superação, com a minha coragem à flor da pele, com a vontade férrea, ou com a ideia imorredoura de querer, com garra e ambição, alcançar os meus objetivos mais prementes.
Muitas pessoas, tenho conhecimento, já passaram por isso antes de mim. E sobreviveram. Se elas conseguiram, por qual motivo eu não atingiria as minhas metas? Obviamente, nessas horas amargas, não fiquei à espera de um milagre, como John Coffey, (personagem vivido pelo magnífico Michael Clarke Duncan, no filme “À espera de um milagre”). Saí, como aliás, de fato, fui em busca, à procura e à caça de meus objetivos e o mais importante, tendo plena convicção de que encontraria uma maneira de me ver salvo daqueles “desassossegos agourentos”, e, ao final, me levantaria e seguiria vitorioso. Não deu outra. A vida, bem sabemos, é cheia de altos e baixos, de momentos de alegrias e dores, de aflições e dissabores. E foi justamente no meio dessa mistura catastrófica de emoções as mais diversas e desordenadas, ou à flor da pele, que encontrei a verdadeira beleza da existência.
Eu aprendi, meus caros amigos e leitores, aliás, tomei consciência diante da imensidão do meu “abismo”, e como superei as dores e descobri as belezas plenas que ainda existiam dentro de mim. Elas (repetindo, as dores e as aflições) me subsidiaram forças hercúleas para me levantar, sacudir a poeira e marchar. Saibam que é do fundo do poço (ou do abismo) que a gente descobre a majestade e o primor do que conhecemos como “Fracasso” e diante dele, tomar controle, passar as mãos nas ferramentas, aplainar as arestas, desfazer os prós e remover os contras, superabundando os objetivos a serem englobados em nosso querer mais expressivo. E foi também na escuridão dessas horas mais tormentosas que me deparei, ou melhor dito, me encontrei tête-à-tête com a luz forte e majestosa que me guiaria (como diria Clark Kent, na pele do Superman no seriado Smallville) “Para o alto e avante”, em busca do Sucesso.
Nesse tom belo e formoso, com determinação e coragem, segui, passo a passo, pela borda do tal abismo, até encontrar o outro lado, onde a Esperança me esperava radiante e carismática, esfuziante e o melhor de tudo, de braços abertos. E a Esperança —, indagarão vocês: como veio? Sem medo de errar, sinalizaria que ela chegou como um sorriso inesperado, que quebrou, de pronto, a escuridão reinante e me trouxe à claridade ideal e no ponto certo ao “meu eu”. Uma magnitude se apossou de mim como um toque gentil que por sua vez despertou a força interior e não deixou esquecer do que eu seria capaz de superar e ultrapassar meus próprios medos e incertezas. A Esperança veio, (ou melhor me expressando) VIROU e sempre virará, haja o que houver e acontecerá como um sopro benfazejo, igual um sussurro silencioso e calmo, tranquilo e acolhedor que me dirá constantemente ao pé do ouvido “Tudo ficará bem, as dores passarão e a sua alegria voltará mais coesamente inquebrantável e indestrutível”.
Os meus amigos e leitores me perguntarão: diante desses percalços, como reconhecer esse “sussurro silencioso” ao qual me refiro? E o mais intrigante. Se esse “sussurro é silencioso,” como identificá-lo? Simples como tirar um pacotinho de balas de uma criança sentada sozinha no portão da sua casa. O “sussurro silencioso” ao qual me referi, nada mais é que um sentimento de paz que entrará em cena no “oculto”, que mora dentro de cada um de nós. Ele se fará reconhecido, lado igual, como aquele toque de paz que surgirá no ausente de barulho, ou naquele momento de clareza que iluminará as nossas sendas. Talvez seja um alegrar interior, um sentimento de confiança que emergirá do mais profundo existente dentro de nós. Talvez seja um sinal sutil, como um raio de sol que atravessará as nuvens, ou poeticamente se assemelhará ao canto de um pássaro que devorará o mavioso embutido dentro do próprio som inexistente.
Mais do que qualquer sinal externo, o “sussurro silencioso” se apresentará para nosso deleite, como um sentimento opulento que nascerá no recôndito de nosso âmago. É um saber, um sentir, um intuir anunciando que tudo ficará bem, sinalizando, outrossim, que sou forte o suficiente para superar os desafios (por maiores que sejam) e que, por fim, a tal sonhada e lúdica Esperança estará ao meu alcance. A Esperança veio, como uma brisa suave, um gesto que acariciaria a alma e iluminaria o caminho. Viria, como veio, da mesma forma, como um sorriso terno e inesperado, que quebrou, de imediato, a escuridão e trouxe a luz do Poder incandescente sobre a minha desilusão. O renovar bateu em minha porta como um toque gentil, que por seu turno despertou a força interior e me lembrou do que sou capaz de superar qualquer entrave. A esperança veio, ainda, como um presságio inconfundível que me sinalizaria que “tudo ficaria bem, que as dores passariam e que a alegria estaria sempre ao meu lado”.
O abismo, meus caros amigos, o seu abismo tanto quanto o meu, pode ser superado, não necessariamente extinguindo, mas sim atravessando, rompendo ou...fechando. Como um ponto. O abismo, em resumo, é uma parte de nós mesmos, tipo uma sombra que nos acompanha, mas não nos define. Podemos aprender a conviver com ele, a entender as suas profundezas e encontrar a força motriz para aniquilar quaisquer contratempos. Mandar o abismo para longe não é uma questão de simplesmente eliminá-lo, todavia, uma forma de aprender a lidar com sua presença, a encontrar a incandescência da Paz que abarca as suas profundezas e descobre as raridades nostálgicas e “sempiternais” (tempos eternos) que se escondem em suas entranhas e sombras. É um processo de autoconhecimento, de cura e de transformação. Por isso, quando olho para o meu antigo abismo (quando ele teima em se fazer presente) com coragem e convicção, descubro, deslumbrado, que ele não é tão profundo e denso como parece, ou quando penso, sobretudo, passo a entender que o Foco de energia que emerge de dentro dele, (ou em outras palavras), de dentro de nós, é capaz de iluminar (e, de fato ilumina) até as sombras mais impertinentes e sisudas.
Em resumo, o que fazer diante do abismo que comumente nos encara? Conviver com ele, sem perder a noção do tempo, da vida e das coisas boas. O abismo, caros amigos e leitores, em repeteco, pode ser visto como uma metáfora para a profundidade e a complexidade da alma humana. Sua presença em nossa vida representa os momentos de crise, de desespero ou de perda, quando nos sentimos à beira de um precipício, (como eu descrevi no presente texto), sem saber como prosseguir. No cotidiano, o abismo se refere a uma formação geológica profunda e íngreme, como um “cânion ou uma fossa oceânica”. Esses locais podem ser impressionantes e intimidantes, mas também podem ser “habitats” e, de fato são, únicos e fascinantes para diversas espécies. Como sair deles? Acreditando piamente na “Força” e na “Fé” interiores que estão presente em cada um de nós.
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Aparecido Raimundo de Souza, natural de Andirá/PR, 1953. Em Osasco, foi responsável, de 1973 a 1981, pela coluna Social no jornal “Municípios em Marcha” (hoje “Diário de Osasco”). Neste jornal, além de sua coluna social, escrevia também crônicas, embora seu foco fosse viver e trazer à público as efervescências apenas em prol da sociedade local. Aos vinte anos, ingressou na Faculdade de Direito de Itu, formando-se bacharel em direito. Após este curso, matriculou-se na Faculdade da Fundação Cásper Líbero, diplomando-se em jornalismo. Colaborou como cronista, para diversos jornais do Rio de Janeiro e Minas Gerais, como A Gazeta do Rio de Janeiro, A Tribuna de Vitória e Jornal A Gazeta, entre outras. Hoje, é free lancer da Revista ”QUEM” (da Rede Globo de Televisão), onde se dedica a publicar diariamente fofocas. Escreve crônicas sobre os mais diversos temas as quintas-feiras para o jornal “O Dia, no Rio de Janeiro.” Acadêmico da Confraria Brasileira de Letras. Reside atualmente em Vila Velha/ES.
Fontes:
Texto enviado pelo autor.
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing
Nery de Mello (O Poste)
Você já reparou aquele poste? Já observou suas utilidades? Caso não tenha feito te convido a não só observa-lo, mas também admira-lo. Sabe porque? Poste de concreto ou madeira, fixado no solo rochoso ou arenoso, não importa, ele está ali. Na esquina, vinte ou trinta metros um após outro, em fila lá está o poste. Poste grande ou pequeno ele é o poste. Ereto; 45 ou 180 graus para a esquerda ou para a direita não importa ele é o poste. Quem diria, ele foi instalado com dois objetivos: sustentar a rede elétrica e proporcionar iluminação pública. Dois objetivos? Estamos enganados! A sua majestade o poste me faz lembrar um velho ditado popular: “Fazer o bem sem olhar a quem”. E é verdade. Raciocine comigo.
Além de iluminar nossos passos na penumbra da noite, o poste mantém as linhas de energia esticadas para diversas direções. Os benefícios não são somente humanos, valem também para aves que aproveitam a estrutura para a construção de seus ninhos que vai de pequenos galhos e plumas até a sofisticação da casa de barro.
Imagine também que o poste tem um cheiro medicinal. Já reparou esta “qualidade”? Serve como alívio para a bexiga dos cães. Eles se aproximam…Dão uma cheirada…E fazem xixi. Recomendações não valem para os humanos. Mas se estiver apertado, fazer o que!
Faça chuva ou faça sol o poste está ali cumprindo seu ofício.
Contraria a lei da gravidade quando serve de refúgio para o desesperado felino que perseguido vê no poste o melhor amigo. Ufa!
Boêmios também reconhecem a qualidade do poste que por diversas vezes foram “socorridos” pelos tais. O benfeitor é até alvo de piada. Um desavisado caminhava pela calçada quando colidiu contra o poste e completou dizendo: “Meia noite não é hora de poste andar na rua”!
O poste é fonte de inspiração. Um jovem subiu até o topo do poste e lá colou um bilhete. Uma segunda pessoa foi tomada pela curiosidade e depois de alguns esforços chegou até lá para conferir a mensagem que dizia: “Fim de poste”!
Mas, tem mais. Recentemente testemunhei um fato envolvendo um veículo e um poste onde naquela situação inesperada o motorista engatou a marcha á ré e chocou-se com um poste. De quem é a culpa? Do poste! Disparou o condutor. Coitado do poste indefeso.
E saber que num passado bem recente ele andou ameaçado pelo apagão. Se a moda pegasse seria o fim dos dias do poste. Ou não.
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NERY DE MELO nasceu em Francisco Beltrão/PR, em 1970. Iniciou sua carreira na Rádio Cristal de Marmeleiro, em 1986 e trabalhou nas seguintes emissoras de rádio: São João, em São João/PR; Entre Rios, de Santo Antônio do Sudoeste; Princesa AM e FM de Francisco Beltrão/PR; Continental FM e Educadora AM de Francisco Beltrão/PR; Celinauta e TV Sudoeste e Rede Celinauta de Educação de Pato Branco/PR. É apresentador do programa. Plantão Parangolé. pela TV Sudoeste, desde 1996, de segunda a sexta feira. Membro da Academia Palmense de Letras e 1º Orador do Centro de Letras de Francisco Beltrão. Membro da Academia de Letras e Artes de Pato Branco (cadeira n.9). Colunista do Jornal de Beltrão; das Revistas Gente do Sul e Air Press, Revista de Paraquedismo com sede em São Paulo e circulação na América Latina. Cursou jornalismo na Faculdade de Pato Branco/PR.
Fontes:
Academia de Letras e Artes de Pato Branco. http://www.alap.org.br/
Imagem = http://www.opatifundio.com/
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