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domingo, 15 de junho de 2025

Benedita Azevedo (Ondas de Haicais) 1


1
À beira do rio
Embelezando o remanso -
Aguapés floridos.
2
Descem pelo caule
carambolas bem maduras -
Festa de sanhaços.
3
Férias de verão -
Barraca armada na praia,
hora do cochilo.
4
Em meio à conversa,
a poeta tenta ouvir
Canto da cigarra.
5
Dia de faxina -
Deixem! Deixem o casulo
pendurado na estante.
6
Manada sedenta
só encontra lama no açude.
Longa estiagem.
7
Na lama do rio
menino cata minhoca -
Pescaria à noite.
8
Pé de cambuci -
Reflexos dourados do sol
na fruta madura.
9
Na roça de arroz,
bando de pássaros-pretos -
Lavrador vigia.
10
Amendoim… um real.
Nos corredores dos ônibus
gritam vendedores.
11
Vestida pra festa -
Uma pequena cantárida
no braço da moça.
12
Amendoim na praia -
O ambulante deixa amostra
na barriga da moça.
13
Beirando a calçada
as romãs pendem do galho -
Sementes à mostra;
14
Pendente de um galho
o passante puxa a rama 
da bucha madura.
15
Poluição na festa -
A fumaça dos cigarros
paira sobre as mesas.
16
No meio da roça 
o leito do rio minguante -
Peixes encalhados.
17
Reunião de amigos
durante a festa no clube -
Aquecedor central.
18
Invasão no sítio -
Nas adocicadas nêsperas
o interesse de todos.
19
Sob a chuva fria
no estreito vão entre barracas
a moça caminha.
20
Vacina da gripe -
Tantas cabecinhas brancas
na fila do posto!
21
Gritos no portão -
Crianças correm atrás
da pipa que cai.
22
Cintilando ao sol
as bolhas de sabão
caem na varanda.
* * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * 
Benedita Silva Azevedo, nasceu em Magé/RJ. Radicada no Rio de Janeiro, desde 1987, mudou-se para a praia do Anil, Magé/RJ em 1990. Educadora, poeta, escritora e animadora cultural. Formada em Letras, especialista em educação e pós-graduada em Linguística. Membro efetivo da Academia Mageense de Letras, da Academia Pan-Americana de Letras e Artes, do Instituto Brasileiro de Culturas Internacionais, da Antologia Virtual de Letras Luso-Brasileira, do Grêmio  Haicai Sabiá e do Grêmio Haicai “Águas de Março’. Patronesse da Academia Virtual Sala de Poetas e Escritores. É haicaista premiada em vários concurso nacionais. Publicou vários  livro individuais. Organizou algumas antologias. Tem participação em revistas, jornais e sites. Participou de mais de 20 antologias.

Fontes:
Benedita Azevedo. Rumor das Ondas: haicais. Curitiba: Auraucária Cultural, 2010. Livro enviado pela autora.
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing  

quarta-feira, 24 de abril de 2024

Professor Garcia (Álbum de Haicais) – 2


A luz do luar,
vejo arabescos na areia
de espumas do mar!
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A noite me aquece;
e eu, sem dormir um segundo,
o dia amanhece!
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A noite sem sono
e, a lua cheia de luz,
sozinha no abandono!
= = = = = = = = = 

Aos raios, o orvalho,
é o pranto cristalizado
no olhar do espantalho!
= = = = = = = = = 

Aquele sem teto,
que tem a noite por leito,
precisa de afeto!
= = = = = = = = = 

 A velha candeia,
piscava quase sem luz;
ó, que noite feia!
= = = = = = = = = 

Cai a tarde mansa.
No por do Sol, no poente,
sombras de esperança!
= = = = = = = = = 

Folhas pelo chão,
São meus sonhos que se arrastam
cheios de ilusão!
= = = = = = = = = 

Longe dos meus campos,
das outonais primaveras,
não há pirilampos!
= = = = = = = = = 

Minha mãe, de joelhos,
com o velho terço entre os dedos,
pede a Deus, conselhos!
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Nas brisas serenas,
no sopro de um vento brando,
a voz das camenas*!
= = = = = = = = = 
* Camenas = musas
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No botão da flor,
depois da explosão da rosa,
os lábios do amor!
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No esplendor das matas,
há mil cantos seresteiros
na voz das cascatas!
= = = = = = = = = 

No livro do adeus,
conto as mesmas digitais
desses dedos seus!
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Ó, destino meu!
Nunca me carregue um sonho
que a sorte me deu!
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Ouço a voz do mar;
mesmo quando o mar se alteia,
é o mesmo cantar!
= = = = = = = = = 

Passa a multidão;
no meio dessa fanfarra,
segue a solidão!
= = = = = = = = = 

Pousou na janela,
meu bem-te-vi cantador;
que linda aquarela!
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Que lindo arrebol:
Todo o meu jardim se abrindo,
aos raios do sol!
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Se chove lá fora,
ficamos nós dois a sós,
e assim, ninguém chora!
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Seresta na rua?
bandolins e violões
violando a lua!
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Sonho que se sonha,
se for um sonho de amor
não nos envergonha!
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Sozinho no mundo,
pisando em terras estranhas,
sou qual vagabundo!
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Surge a luz do sol;
e uma auréola de luz
brilha no arrebol!
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Teu choro foi tanto,
que deixou teus pés e os meus,
cobertos de pranto!
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Fonte> Professor Garcia. Poemas do meu cantar. Natal/RN: Trairy, 2020. 
Enviado pelo autor.

quinta-feira, 21 de março de 2024

Professor Garcia (Álbum de Haicais) – 1


O Haicai também se escreve Haiku e Haikai, é um poema de origem japonesa que por definição traduz-se como brincadeira graciosa e harmoniosa. Essa forma poética foi criada no século XVI e tornou-se muito popular pelo mundo afora. No Brasil temos muitos concursos de Haicais anualmente, difundindo esse gênero poético por todos os recantos do nosso país, onde há valorosos e espetaculares haicaístas.
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A bênção de Deus
nos traz os sonhos da paz;
são os sonhos meus!
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As flores se vão;
a primavera se foi,
mas meus sonhos, não!
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As folhas se vão;
mortas, secas, já sem vida,
no fim da estação!
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A lua no lago,
de repente ela se assusta
tremendo de frio!
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A noite trevosa,
ao ver a luz das estrelas,
finge-se nervosa!
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A tarde compõe
um cenário assustador,
cheio de saudade!
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Duas rubras rosas:
Ao nascer e ao por do sol,
como são formosas!
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Esses teus perfumes,
trazem-me encantos do amor
cheios de ciúmes!
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Estrela-do-mar,
sinto-me feliz ao vê-la,
comigo a sonhar!
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Já velha e cansada,
a abelha sobre a colmeia,
triste e abandonada!
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Leitura é magia;
quem lê, dá asas aos sonhos
de paz e alegria!
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Linda flor do campo,
o vento que te balança,
rouba teu perfume!
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Nas conchas do mar,
ouço sussurros, lamentos,
de alguém a chorar!
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Na tarde dengosa,
uma nuvem cachimbando
muda a rubra rosa!
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O livro te espera
sempre de braços abertos
para te abraçar!
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O orvalho da rosa,
é qual lágrima que cai
dos olhos do céu!
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Os livros abertos,
são convites para a paz
nos dias incertos!
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O sol vagabundo,
de manhã cedo, bem cedo,
sorri para o mundo!
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Roseiras do amor,
tens os teus lábios beijados
por vento impostor!
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Seguem dois velhinhos,
na solidão, de mãos dadas,
por velhos caminhos!
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Senhor, quem há de,
embalar meus velhos sonhos,
cheios de saudade?!
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 Sonhos que se vão:
ao longe um carro de boi
lembra o meu sertão!
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Velho calendário,
encurtas dia após dia,
nosso itinerário!
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Velho carrilhão,
tu tens em tuas batidas
paz e solidão!
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Vê nos arrebóis
que, o Sol não muda a rotina.
Somos como os Sóis!
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Violão a sonhar,
de boca aberta cantando
odes ao luar!
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Fonte> Professor Garcia. Poemas do meu cantar. Natal/RN: Trairy, 2020. Enviado pelo autor.