quinta-feira, 17 de abril de 2025

Asas da Poesia * 6 *


Poema de 
ANTERO JERÓNIMO
Lisboa/Portugal

De novo invoco o testemunho do tempo antigo
na ilusão de despertar um sonho adormecido

O espírito paira  na atração da vertigem
vítreo olhar incidindo na profundidade resguardada
onde só a memória mergulha com exatidão

Sem o pressentir, já habitavas em mim!

Revejo-me debaixo da frondosidade da árvore 
estendido sobre um atapetado manto de fantasia
contemplando com o olhar não empoeirado
o tempo espreguiçando-se na sua vagarosa letargia

Desconhecendo que já conhecia a paz
deixava-me livremente invadir
pelos ruídos do dia em suave orquestração
sinfonia recebendo os aplausos do sentir

Sem o pressentir, já habitavas em mim!

O pensamento retinha a inocência de cada gesto
sorriso a desabrochar em doçura de pólen
ingenuidade perante o voo sôfrego das abelhas

Uma felicidade idílica tomava conta de mim
naquele recôndito esconderijo de verdura
onde o sonho abraçava a realidade com ternura

Mesmo não o pressentindo, já habitavas em mim!
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Quadra de
FERNANDO PESSOA
(Fernando António Nogueira Pessoa)
Lisboa/Portugal, 1888 – 1935

Tens um livro que não lês, 
tens uma flor que desfolhas; 
Tens um coração aos pés 
e para ele não olhas.
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Poema de
RUDYARD KIPLING
Bombain/Ìndia, 1865 – 1936, Londres/Inglaterra

Se

Se és capaz de manter a tua calma quando
Todo o mundo ao teu redor já a perdeu e te culpa;
De crer em ti quando estão todos duvidando,
E para esses no entanto achar uma desculpa;
Se és capaz de esperar sem te desesperares,
Ou, enganado, não mentir ao mentiroso,
Ou, sendo odiado, sempre ao ódio te esquivares,
E não parecer bom demais, nem pretensioso;

Se és capaz de pensar – sem que a isso só te atires;
De sonhar – sem fazer dos sonhos teus senhores;
Se, encontrando a desgraça e o triunfo, conseguires
Tratar da mesma forma a esses dois impostores;
Se és capaz de sofrer a dor de ver mudadas
Em armadilhas as verdades que disseste,
E as coisas, por que deste a vida, estraçalhadas,
E refazê-las com o bem pouco que te reste;

Se és capaz de arriscar numa única parada
Tudo quanto ganhaste em toda a tua vida,
E perder e, ao perder, sem nunca dizer nada,
Resignado, tornar ao ponto de partida;
De forçar coração, nervos, músculos, tudo
A dar seja o que for que neles ainda existe,
E a persistir assim quando, exaustos, contudo
Resta a vontade em ti que ainda ordena: “Persiste!”;

Se és capaz de, entre a plebe, não te corromperes
E, entre reis, não perder a naturalidade,
E de amigos, quer bons, quer maus, te defenderes,
Se a todos podes ser de alguma utilidade,
E se és capaz de dar, segundo por segundo,
Ao minuto fatal todo o valor e brilho,
Tua é a terra com tudo o que existe no mundo
E – o que mais – tu serás um Homem, ó meu filho!

(Tradução de Guilherme de Almeida)
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Poema de
EDUARDA CHIOTE
Bragança/ Portugal

A Infância: Esse vazio

Não é por já saber voltar as páginas do livro
ou levar a colher à boca
que distingo, do vazio, o sobressalto.
Às vezes penso que nasces das torneiras,
e então, cúmplice dessa facilidade,
ponho-me a rodopiar
como se de água em água, meu corpo de água
em água se afogasse.
Censuras fria, docemente. Não sabes, da alegria,
o lado indiscreto da tristeza,
nem o quanto afeta
a polidez que a indiferença passa.
Entre o pesadelo de
não apareceres e o receio de partires,
onde tão atroz infelicidade?
Nenhuma previsão me é possível,
só pelo naufrágio vences
a prisão de culpas e desastres.
= = = = = = = = = 

Trova do
PROFESSOR GARCIA
Caicó/ RN

Deus - pintor da natureza,
usando a tinta mais viva:
pinta o céu, de azul-turquesa
e os mares, de verde-oliva!
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Soneto de
RAUL DE LEONI
Petrópolis/RJ, 1895-1926

Argila

Nascemos um para o outro, dessa argila
De que são feitas as criaturas raras;
Tens legendas pagãs nas carnes claras
E eu tenho a alma dos faunos na pupila…

Às belezas heroicas te comparas
E em mim a luz olímpica cintila,
Gritam em nós todas as nobres taras
Daquela Grécia esplêndida e tranquila…

É tanta a glória que nos encaminha
Em nosso amor de seleção, profundo,
Que (ouço ao longe o oráculo de Elêusis)

Se um dia eu fosse teu e fosses minha,
O nosso amor conceberia um mundo
E do teu ventre nasceriam deuses…
= = = = = = 

Trova de 
ADEMAR MACEDO
Santana do Matos/ RN, 1951 – 2013, Natal/ RN

A vida escreve-me enredos 
com finais que eu abomino. 
Meus sonhos viram brinquedos
nas mãos cruéis do destino…
= = = = = = 

Poema de 
HILDA HILST
São Paulo/SP, 1930 – 2004, Campinas/SP

Passeio

De um exílio passado entre a montanha e a ilha
Vendo o não ser da rocha e a extensão da praia.
De um esperar contínuo de navios e quilhas
Revendo a morte e o nascimento de umas vagas.
De assim tocar as coisas minuciosa e lenta
E nem mesmo na dor chegar a compreendê-las.
De saber o cavalo na montanha. E reclusa
Traduzir a dimensão aérea do seu flanco.
De amar como quem morre o que se fez poeta
E entender tão pouco seu corpo sob a pedra.
E de ter visto um dia uma criança velha
Cantando uma canção, desesperando,
É que não sei de mim. Corpo de terra.
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Trova de
IZO GOLDMAN
Porto Alegre/ RS, 1932 – 2013, São Paulo/ SP

Coração não tem idade
quando vive de lembrança;
se a lembrança tem saudade,
faz, da saudade, "esperança''!
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Poema de
RUI KNOPFLI
Inhambane/Moçambique, 1932 – 1997, Lisboa/Portugal

Princípio do dia

Rompe-me o sono um latir de cães
na madrugada. Acordo na antemanhã
de gritos desconexos e sacudo
de mim os restos da noite
e a cinza dos cigarros fumados
na véspera.
Digo adeus à noite sem saudade,
digo bom-dia ao novo dia.
Na mesa o retrato ganha contorno,
digo-lhe bom-dia
e sei que intimamente ele responde.

 Saio para a rua
e vou dizendo bom-dia em surdina
às coisas e pessoas por que passo.

 No escritório digo bom-dia.
Dizem-me bom-dia como quem fecha
uma janela sobre o nevoeiro,
palavras ditas com a epiderme,
som dissonante, opaco, pesado muro
entre o sentir e o falar.

 E bom dia já não é mais a ponte
que eu experimentei levantar.
Calado,
sento-me à secretária, soturno, desencantado.

 (Amanhã volto a experimentar).
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Hino de
MARIPÁ/ PR

Terra fértil de grande cultivo
Traz riqueza e conforto sem par
Liberdade, esperança, incentivo,
Aos teus filhos com fé vais legar

A coragem dos pioneiros valentes,
Que investiram neste sertão
Este povo plantou a semente
Germinou e floriu este chão

Maripá, Maripá, sempre frente !
Teu futuro será promissor
O progresso com força crescente
A este solo trará mais valor

Cidade das orquídeas é chamada
Flores que enfeitam as avenidas
A natureza amada e respeitada
Por teu povo que cultiva a vida

Com orgulho tua gente honraremos
Ó querida e feliz Maripá
Sob as bênçãos de Deus seguiremos
A exaltar este bom Paraná

Maripá, Maripá, sempre frente !
Teu futuro será promissor
O progresso com força crescente
A este solo trará mais valor
= = = = = = 

 Poema do Folclore Brasileiro de
JOSÉ FELDMAN
Floresta/PR

Pena Branca

Nas brisas do campo, um canto a soar,
Pena Branca, espírito que vem a guiar,
com plumas de luz, traz calma e amor,
protege os perdidos, alivia a dor.

Seu sussurro é doce, como a brisa a passar,
Nas trilhas da vida, um farol iluminando, 
em cada amanhecer, um novo despertar,
que ensina ao viajante a seguir caminhando.

É a voz da esperança, o eco da paz,
e no toque gentil, o conforto a chegar,
com ele, o coração se aquieta e se faz,
Pena Branca, ser que nos ajuda a amar.

Na dança do tempo, um bálsamo a trazer,
com sua presença, a alma a renascer.
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Trova Premiada de
RITA MARCIANO MOURÃO 
Ribeirão Preto/ SP

Este meu andar sisudo,
que modela a caminhada
já retrata quase tudo
que a vida transforma em nada!
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Poema de 
EUGÉNIO DE ANDRADE
Fundão/ Portugal, 1923 – 2005, Porto/ Portugal

Passamos pelas coisas sem ver 

Passamos pelas coisas sem as ver,
gastos, como animais envelhecidos:
se alguém chama por nós não respondemos,
se alguém nos pede amor não estremecemos,
como frutos de sombra sem sabor,
vamos caindo ao chão, apodrecidos.
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Glosa de
ALFREDO DOS SANTOS MENDES
Lagos Algarve/Portugal

A rosa

QUADRA:
A rosa que tu me deste,
Peguei-lhe, mudou de cor,
Tornou-se, de azul celeste,
Como o céu do nosso amor!
João de Deus

GLOSA:
 Muitos anos já passaram.
E muitas rosas murcharam,
Menos a que me trouxeste.
Ao vê-la tão delicada,
Penso estar enfeitiçada…
A rosa que tu me deste.
 
Tenho por ela ternura.
Pois sei que a sua frescura,
Simboliza nosso amor.
Hoje a prova me foi dada,
Por estar contigo zangada,
Peguei-lhe, mudou de cor.
 
As suas folhas mirraram.
Foram caindo e ficaram,
Perdidas no chão agreste.
Desesperada chorei.
E assim que a rosa beijei,
Tornou-se, de azul celeste.
 
Foram horas de magia.
E a partir daquele dia,
Foi-se o ciúme e a dor.
E logo nesse momento,
Ficou um céu luarento,
Como o céu do nosso amor.
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Spina de
SOLANGE COLOMBARA
São Paulo/ SP

MATURIDADE 

Minguaram algumas falas,
calaram-se várias lágrimas, 
sangraram fortes canduras.

Sorrisos dizem mais que palavras 
soltas levadas ao vento, absortos 
em lábios tristonhos, sem rasuras. 
Neste enleio, determino a bússola 
do tempo, em inúmeras molduras.
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A. A. de Assis (Quando sofrer faz bem)

Não creio que ninguém goste de sofrer. Todavia, de algum modo e em algumas  circunstâncias, o sofrimento pode fazer bem.

Tive recentemente uma experiência difícil, que envolveu hospitalização, exames laboratoriais, ultrassom, tomografia, cirurgia, UTI, injeções, uso de sonda etc.

Tendo em vista os avançados recursos da medicina moderna, meu caso nem foi dos mais graves, porém deixou marcas e lições especialmente fortes. Sobretudo me fez pensar. Comecei pensando na extrema bondade de Deus e no quanto lhe devo por todos os benefícios que me proporciona.

Em primeiro lugar pela felicidade de fazer parte de uma família unida, amorosa e solidária, que em nenhum momento me falta. É nas situações mais dramáticas que a gente melhor entende e mais valoriza esse tesouro que temos em nosso redor, incluindo (nas casas que as tenham) as funcionárias da família.

Grande felicidade, igualmente, é morar numa cidade como Maringá, que conta com serviços médicos e hospitalares da mais alta qualidade e em todas as áreas. Médicos, enfermeiras e enfermeiros (os anjos dos hospitais), laboratoristas, radiologistas e tantos outros profissionais da saúde.

Pensei também muito nessa preciosa riqueza que são os amigos. Quem os tem sente-se sempre amado e amparado. É um conforto, numa situação difícil, receber demonstrações de carinho: visitas, ofertas de ajuda, preces – centenas de amigos e amigas em correntes de orações em nossa intenção.

O sofrimento nos torna mais humildes e nos faz pensar no quanto somos dependentes de Deus, da família e de tantas outra pessoas. Sem os demais, não somos ninguém.

Tudo isso me deixou outra lição: aprendi que rezar/orar é bem mais do que fazer pedidos a meu favor ou agradecer as graças recebidas. Orar/rezar é nos irmanizarmos com as outras pessoas. Pedir a Deus por elas. Pedir que jamais lhes faltem as condições necessárias para uma vida feliz.

Aprendi, enfim, que fraternidade é viver de mãos dadas, como uma grande família, cada qual colaborando, com os seus talentos, para a formação de uma sociedade serena, amorosa, segura e livre de quaisquer carências.

Um abraço grande a todos os que de algum modo estiveram a meu lado nestas semanas de aprendizado. Paz e luz.
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Antonio Augusto de Assis (A. A. de Assis), poeta, trovador, haicaísta, cronista, premiadíssimo em centenas de concursos nasceu em São Fidélis/RJ, em 1933. Radicou-se em Maringá/PR desde 1955. Lecionou no Departamento de Letras da Universidade Estadual de Maringá (UEM), aposentado. Foi jornalista, diretor dos jornais Tribuna de Maringá, Folha do Norte do Paraná e das revistas Novo Paraná (NP) e Aqui. Algumas publicações: Robson (poemas); Itinerário (poemas); Coleção Cadernos de A. A. de Assis - 10 vol. (crônicas, ensaios e poemas); Poêmica (poemas); Caderno de trovas; Tábua de trovas; A. A. de Assis - vida, verso e prosa (autobiografia e textos diversos). Em e-books: Triversos travessos (poesia); Novos triversos (poesia); Microcrônicas (textos curtos); A província do Guaíra (história), etc.

Fontes:
Texto enviado pelo autor. 
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing 

José Feldman (À sombra do lago)

Texto construído tendo por base os versos de Edy Soares (Vila Velha/ES):
Lembrança doce e singela
enchendo o peito de afago:
eu e meu pai na pinguela,
jogando pedras no lago…
Na pequena cidade de Ribeirão Verde, havia um lago que parecia ter saído de um conto de fadas. Suas águas eram calmas e refletiam o céu azul em dias ensolarados, enquanto as árvores em volta dançavam suavemente ao vento. Era um lugar mágico, onde as crianças corriam livres e as memórias se formavam como nuvens no céu. Para Benjamim, o lago era mais do que um simples corpo de água, era um espaço sagrado, um refúgio de lembranças que guardava momentos preciosos ao lado de seu pai.

Certa tarde de verão, quando Benjamim ainda era uma criança, seu pai decidiu que era hora de o levar até a pinguela, uma pequena ponte de madeira que se estendia sobre o lago. Ele sempre dizia que aquele era o melhor lugar para jogar pedras na água e ver as ondas se espalharem como um abraço de boas-vindas. Com um sorriso no rosto, pegou sua mão e seguiram juntos pela trilha que levava ao seu destino.

A pinguela, com suas tábuas desgastadas pelo tempo, rangia sob os pés deles, mas para Benjamim era um som familiar, como uma canção que só os dois conheciam. Seu pai, com seu chapéu de palha e seu jeito despreocupado, era a personificação da alegria. Ele o ensinou a escolher as pedras mais lisas, aquelas que pulavam na superfície da água. “Olhe bem, meu filho. A pedra precisa ter o formato certo. E você deve arremessá-la com confiança”, ele dizia, enquanto Benjamim o observava com admiração.

Esse ritual de jogar pedras era mais do que uma simples brincadeira; era um momento de conexão. Cada pedra que lançavam parecia levar consigo um pedaço de suas preocupações e medos. Benjamim lembrava de como seu pai ria quando uma pedra pulava várias vezes antes de se afundar. “Veja! Essa foi uma campeã!”, ele exclamava, e o garoto ria junto, sentindo a felicidade vibrar em meu peito.

Naquele dia, enquanto jogavam pedras, ele começou a contar histórias de sua infância. Falou sobre os verões que passara pescando com seu pai e como ele mesmo tinha aprendido a escolher as melhores pedras. A cada risada, a cada história compartilhada, o coração de Benjamim se enchia de afeto. A presença do seu pai era um abrigo seguro, e nada parecia mais importante do que aqueles momentos simples à beira do lago.

Com o passar do tempo, Benjamim foi crescendo, e as responsabilidades da vida começaram a se acumular. A escola, os amigos, e mais tarde, o trabalho, foram ocupando seu tempo e sua mente. As visitas ao lago tornaram-se menos frequentes, e a pinguela, uma doce lembrança da infância, foi se tornando apenas uma imagem distante. Mas, em seu coração, ele sabia que aquelas memórias estavam guardadas como um tesouro inestimável.

Anos depois, ao receber a notícia de que seu pai não estava bem, uma onda de nostalgia o invadiu. Lembrou-se da pinguela, das pedras e das risadas. Naquele momento, percebeu que precisava voltar àquele lugar que tanto significava para eles. Assim que pode, organizou uma viagem para Ribeirão Verde.

Chegando lá, encontrou o lago como lembrava, mas a pinguela parecia ter envelhecido. As tábuas estavam mais desgastadas, e o vento parecia sussurrar histórias do passado. Com o coração apertado, se aproximou da beira da água e, por um instante, fechou os olhos. As memórias vieram à tona como se estivesse lá novamente, lançando pedras com seu pai, rindo e aprendendo sobre a vida.

Sentou-se na beira do lago, e as lágrimas escorriam pelo seu rosto. Ele sabia que precisava de um momento de conexão, mesmo que seu pai não estivesse fisicamente presente. Compreendeu que as memórias que guardava eram o verdadeiro legado dele. Com um gesto automático, pegou algumas pedras do chão e começou a jogá-las na água, como faziam antes. Cada arremesso trazia de volta um fragmento do passado, um eco das risadas e das lições.

Neste reencontro com o lago, percebeu que, embora seu pai não estivesse mais ao seu lado, ele continuava vivo nas lembranças doces e singelas que preenchiam seu peito. Ele havia lhe ensinado a importância de valorizar os momentos simples, de encontrar alegria nas pequenas coisas, e naquele dia, ao jogar pedras, ele sentia sua presença como se ele estivesse o guiando novamente.

Enquanto o sol se punha no horizonte, tingindo o céu de laranja e rosa, percebeu que a vida era feita de ciclos. Embora a dor da ausência fosse aguda, as lembranças eram um bálsamo que aliviava a saudade. Com cada pedra que lançava, Benjamim dizia um silencioso “obrigado” ao seu pai, por todas as lições e por cada momento que compartilharam.

Aquela tarde no lago lhe trouxe paz. Compreendeu que a pinguela, as pedras e o lago eram mais do que apenas um cenário, eram símbolos da relação que tiveram e do amor que ainda vive nele. Ao sair daquele lugar, Benjamim levou consigo uma nova certeza: mesmo na ausência física, as memórias permanecem vivas, e o amor nunca se apaga.

E assim, ao voltar para casa, seu coração estava mais leve. Ele sabia que, sempre que precisasse, poderia retornar àquela pinguela, onde as lembranças doces e singelas enchiam seu peito de afago, lembrando-se de que, mesmo na solidão, nunca estamos realmente sozinhos.
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JOSÉ FELDMAN nasceu na capital de São Paulo. Poeta, escritor e gestor cultural. Formado em patologia clínica trabalhou por mais de uma década no Hospital das Clínicas. Foi enxadrista, professor, diretor, juiz e organizador de torneios de xadrez a nível nacional durante 24 anos; como diretor cultural organizou apresentações musicais. Foi amigo pessoal de literatos de renome (falecidos), como Artur da Távola, André Carneiro, Eunice Arruda, Izo Goldman, Ademar Macedo, e outros. Casado com uma escritora, poetisa, tradutora e professora da UEM, mudou-se em 1999 para o Paraná, morou em Curitiba e Ubiratã, e depois em Maringá/PR desde 2011. Consultor educacional junto a alunos e professores do Paraná e São Paulo. Pertence a diversas academias de letras, como Academia Rotary de Letras, Academia Internacional da União Cultural, Confraria Brasileira de Letras, Academia de Letras de Teófilo Otoni/MG, etc, possui os blogs Singrando Horizontes desde 2007, e Pérgola de Textos, um blog com textos de sua autoria e Voo da Gralha Azul. Assina seus escritos por Floresta/PR. Publicou mais de 500 e-books. Premiações em poesias no Brasil e exterior.

Fontes: 
José Feldman. Labirintos da Vida. Maringá/PR: Plat. Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul.
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing 

Silmar Bohrer (Croniquinha) 132

Tenho estado em sintonia permanente com a frase de Aristóteles - "a vida quer movimento".  Raros momentos sou sossego, sempre buscando, auscultando, acrescentando.  A nossa organização física e mental precisa de ações para conservar e acrescentar.

São momentos de dileção com exercício nas caminhadas, olhares acostumados com o ambiente, enxergando o que muitos não veem.  Caneta, papel, efervescência nas ideias, sons e imagens dos caminhos.

Longe do burburinho os pensares sintonizando detalhes, anotando o máximo, buscando o elixir dentro de mim mesmo. A ebulição interna expande vida - alegrias, otimismo, luzes no ser.

E o que dizer da movimentação matinal dos cachorrinhos, que me fazem pular cedo da cama, no "bom dia" com a primeira baguncinha da hora.  Cadê o mau humor? E a cara feia?  Ausentes!  

Mais um dia de venturas e aventuras, justificando as palavras do filósofo grego --  façanhas, trabalho, ócio e mobilidade. Dom Theo e Dona Ísis são a leveza e a catarse de cada dia.
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Silmar Bohrer nasceu em Canela/RS em 1950, com sete anos foi para em Porto União-SC, com vinte anos, fixou-se em Caçador/SC. Aposentado da Caixa Econômica Federal há quinze anos, segue a missão do seu escrever, incentivando a leitura e a escrita em escolas, como também palestras em locais com envolvimento cultural. Criou o MAC - Movimento de Ação Cultural no oeste catarinense, movimentando autores de várias cidades como palestrantes e outras atividades culturais. Fundou a ACLA-Academia Caçadorense de Letras e Artes. Membro da Confraria dos Escritores de Joinville e Confraria Brasileira de Letras. Editou os livros: Vitrais Interiores  (1999); Gamela de Versos (2004); Lampejos (2004); Mais Lampejos (2011); Sonetos (2006) e Trovas (2007).

Fontes:
Texto enviado pelo autor.
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing  

quarta-feira, 16 de abril de 2025

Asas da Poesia * 5 *


Triversos de
LUCIAH LOPEZ
Curitiba/PR

Vesperais

I
extraindo a saudade
das varandas e alpendres
tua substância esvanece

II
no horizonte vermelho
ídolos se avizinham
fugidias são as horas

III
ázimos serão os pães
que alimentarão as bocas
ao final do dia

IV
ao entardecer
o jardim é secreto
palco de euforias

V
ao cair da tarde
despertam cigarras cantadeiras
sonora euforia
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Trova de
GERSON CÉSAR SOUZA
São Leopoldo/RS

Ator, arisco ao cabresto,
rebelde, se for preciso,
a vida escreve o meu texto
e eu teimo e sempre improviso!
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Poema de
VANICE ZIMERMAN
Curitiba/PR

Lembranças de Minas Gerais

De manhãzinha -
Janela entreaberta
À mesa de madeira
Pequenas flores perfumam
A caneca de ágata,
Recebendo os tênues raios de sol,
Enquanto o gato se espreguiça
À soleira da porta -
Distancia-se o som do trem,
Sinto o aroma de café
Que evola do antigo bule azul,
Emoldurando
O despertar da vida
Em poesias e nas alegres
Borboletinhas brancas -
Manhã de primavera
Desperta em Minas...
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Trova de
DOROTHY JANSSON MORETTI 
Três Barras/SC, 1926 – 2017, Sorocaba/SP

Guri do boné virado, 
estilingue... palavrão..., 
hoje, vigário ordenado: – 
Pax vobiscum, meu irmão!
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Poema de
DOMINGOS FREIRE CARDOSO
Ilhavo/ Portugal

Hei de render-me de braços levantados
(Mário Sousa Ribeiro, in “Textos de Amor”, p. 118)

Hei de render-me de braços levantados
Se apontares um beijo ao meu coração
E, algemados, arrastares à prisão
Estes meus olhos puros de amor armados.

Detido entre os teus braços já desfardados
Não irei implorar nada, nem perdão
E só assinarei uma confissão
A de querer os ferros eternizados.

Provo que sou culpado, sim, pela morte
Desses dias de pasmo e sinistra sorte
Que tive antes de tu bem me aprisionares.

Sei que o teu amor me salva e me redime
Mas irei cometer sempre o mesmo crime
Para nunca, nunca mais tu me soltares. 
= = = = = = = = = 

Poetrix de
REGINA LYRA
João Pessoa/PB

Harmonia

Supostas teclas
dedilham saudades.
Música que fazíamos juntos.
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Poema de
OLAVO BILAC
Rio de Janeiro/RJ, 1865 – 1918


Este, que um deus cruel arremessou à vida,
Marcando-o com o sinal da sua maldição,
- Este desabrochou como a erva má, nascida
Apenas para aos pés ser calcada no chão.

De motejo em motejo arrasta a alma ferida...
Sem constância no amor, dentro do coração
Sente, crespa, crescer a selva retorcida
Dos pensamentos maus, filhos da solidão.

Longos dias sem sol! noites de eterno luto!
Alma cega, perdida à toa no caminho!
Roto casco de nau, desprezado no mar!

E, árvore, acabará sem nunca dar um fruto;
E, homem, há de morrer como viveu: sozinho!
Sem ar! sem luz! sem Deus! sem fé! sem pão! sem lar!
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Trova de 
ADEMAR MACEDO
Santana do Matos/ RN, 1951 – 2013, Natal/ RN

Almoço e janto poesia. 
E neste meu universo, 
mastigo um pão todo dia 
amanteigado de verso.
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Poema de
HEINRICH HEINE
Alemanha, 1797 – 1856

De Manhã Cedo

Minha esposa querida e boa.
Minha bem amada esposa,
Que logo pela manhã
Negro café, branco leite,

É ela mesma quem serve!
E com que encanto, que sorriso!
Em todo o mundo de Cristo
Não há quem sorria assim.

E a flauta que é sua voz
Só entre os anjos se encontra.
Cá por baixo, quando muito,
Entre os melhores rouxinóis.

E as mãos que são como lírios
E os cabelos que entressonham
Em volta do róseo rosto!
Ah, tudo nela é perfeito!

Hoje, porém, ocorreu-me
- Não sei porquê - que um pouquinho
Mais elegante o seu corpo
Pudera ser. Um pouquinho.
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Trova de
IZO GOLDMAN
Porto Alegre/RS, 1932 – 2013, São Paulo/SP

Pergunta o padre ao noivinho: 
- "É de espontânea vontade?" 
e ele respondeu baixinho:
- "Não senhor...necessidade!...”
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Soneto de
MÁRIO QUINTANA
Alegrete/RS (1906 – 1994) Porto Alegre/RS

Eu sou aquele

Eu sou aquele que, estando sentado a uma janela,
a ouvir o Apóstolo das Gentes,
adormeci e caí do alto dela.
Nem sei mais se morri ou fui miraculado:

consultai os Textos, no lugar competente —
o que importa é que o Deus que eu tanto ansiava
como uma luz que se acendesse de repente,
era-me vestido com palavras e mais palavras

e cada palavra tinha o seu sentido...
Como as entenderia — eu tão pobre de espírito
como era simples de coração?

E pouco a pouco se fecharam os meus olhos...
e eu cada vez mais longe... no acalanto
de uma quase esquecida canção...
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Hino de
TORRES/ RS

Torres.
Tu és, cidade - menina,
A mais formosa praia sulina....
Tu és vida, luz e calor,
Tu és um poema de amor.

Entre as praias gaúchas,
Tu és a mais bela;
És uma linda aquarela.
De cor e de poesia...
És magistral sinfonia.

O teu mar de verdes águas,
Batendo contra os rochedos,
Vai cavando entre penedos
Tuas furnas deslumbrantes...

O Mampituba sereno,
A Torre Sul e a Guarita,
O Farol e a Torre Norte,
A Igrejinha tão bonita.

Recantos cheios de sonhos...
Torres : Ó praia tão sedutora,
Tens a beleza morena
Da menina sonhadora,
Da moça que devaneia
Sobre a tua areia...

Ó Torres :
Das três torres,
Tu és a rainha das praias...
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Soneto de
BENEDITA AZEVEDO
Magé/ RJ

A palavra

Palavras no contexto expressam vida
de felizes momentos ou tristezas,
de dor, condenação ou de belezas,
mas sempre vão estar em tua lida.

As decisões tratadas nas empresas,
nas escolas, na rua ou na avenida,
terão pra sempre a nota definida
pelas palavras cheias de certezas.

Mas, se a elas usamos com desprezo
transformarão aquilo que fizermos,
perderão o sentido em apalermos.

Mas se o texto estiver já bem coeso,
com a palavra usada em bom contexto
vamos, pois, escrever, não há pretexto.
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Trova Premiada de
RITA MOURÃO
Ribeirão Preto/ SP

A mulher que é mãe me encanta, 
no lar, seja aonde for.
Pois sendo mãe ela é santa 
sendo mulher é o amor.
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Poema de
ANTONIO JURACI SIQUEIRA
Belém/PA

Missão

Quando alguém te ferir,
escreve;
quando a noite chegar,
escreve;
quando a chuva cair,
escreve;
quando o sonho acabar,
escreve!

Se a tristeza se for,
escreve;
se o amor renascer,
escreve;
se a esperança se impor,
escreve;
se o jardim florescer
escreve!

E só então
terás cumprido à risca
tua missão.
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Poemeto de
SOLANGE COLOMBARA
São Paulo/SP

Ouvia-se os respingos
caindo inertes, sem emoção.
Não era chuva, orvalho,
tampouco pranto.
Somente borrifadas...
Talvez poesia,
talvez um nada no chão.
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Soneto de
EDY SOARES
Vila Velha/ES

Pedras

Depois de tantas lutas malfadadas,
de aspérrimos penhascos pela vida;
de palmilhar por todas as estradas
a fim de que a missão fosse cumprida...

Depois dessas sandálias desgastadas
num labirinto hostil e sem saída,
e as plantas dos meus pés dilaceradas,
cansado, eu resolvi pedir guarida...

Bem que eu tentei ser firme e resistente
feito o diamante, duro e reluzente,
ser fera que outros bichos não devoram...

Contudo, fortalezas se esmorecem...
Eu descobri que os fortes se enfraquecem...
Eu descobri que pedras também choram!
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Quadra de
AUTOR ANÔNIMO

Não sei se vou ou se fico,
não sei se fico ou se vou…
Se vou, eu sei que não fico,
se fico, eu sei que não vou…
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Letra de Música de
APARECIDO RAIMUNDO DE SOUZA
Vila Velha/ES

A força do amor

Eu estava perdido,
Cansado e sofrido,
Sem mais ilusão,
Descrente da vida
Vivia vagando
Sem paz no coração

(repete a partir daqui)

Mas eis que um dia
Surgiram alegrias
Em todo meu ser
Deparei com Jesus
E por caminhos de luz
Comecei a viver

Hoje sigo contente
Pois tenho presente
A sua força e calor
Sou todo universo 
Sou prosa – sou verso
Tudo em mim é amor
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