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quarta-feira, 15 de outubro de 2025
Chafariz de Trovas * 28 *
Leonardo da Vinci (A navalha)
Era uma vez uma navalha de excelente qualidade, que morava numa barbearia. Um dia em que a loja estava vazia ela resolveu dar uma voltinha. Soltou-se do cabo e saiu para apreciar o lindo dia de primavera.
Quando a navalha viu o reflexo do Sol em si mesma, ficou surpresa e encantada. A lâmina de aço lançava uma luz tão brilhante que, subitamente, com excessivo orgulho, a navalha disse a si mesma:
- E eu vou voltar para aquela loja de onde acabei de fugir? É claro que não! Os deuses não podem querer que uma beleza tal como a minha seja desonrada desta maneira. Seria loucura ficar aqui cortando as barbas ensaboadas daqueles camponeses, repetindo sem cessar a mesma tarefa mecânica! Será que minha beleza foi realmente feita para um trabalho desses? Certamente não! Vou esconder-me num local secreto e passar o resto da vida em paz.
E em seguida foi procura um esconderijo onde ninguém a visse.
]Passaram-se meses. Um dia a navalha teve vontade de respirar ar fresco. Saiu cautelosamente de seu refúgio e olhou para si mesma. Ai, que acontecera? A lâmina estava horrorosa, parecendo uma serra enferrujada, e não refletia mais a luz do Sol.
A navalha ficou muito arrependida pelo que havia feito, e lamentou amargamente a irreparável perda, dizendo:
- Oh, como teria sido melhor se eu tivesse conservado em forma a minha linda lâmina, cortando barbas ensaboadas! Minha superfície teria permanecido brilhante e minha borda afiada! Agora aqui estou eu, toda corroída e coberta de uma horrível ferrugem! E não há nada a fazer!
Moral da Estória:
O triste fim da navalha é o mesmo que sucede às pessoas inteligentes que preferem ser preguiçosas a usar seus talentos. Essas pessoas, assim como a navalha, perdem o brilho e a parta afiada de seu intelecto, sendo logo corroídas pela ferrugem da ignorância.
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Leonardo de Ser Piero da Vinci nasceu em 1452 na Itália e morreu em 1519, na França, era para seus contemporâneos um personagem discutido e controvertido. Como pintor era mal visto, porque jamais terminava as obras iniciadas; como escultor despertou suspeitas por não ter forjado em bronze o monumento equestre a Francisco Sforza; como arquiteto era perigosamente ousado; como cientista era de fato um louco. Sobre um ponto, no entanto, seus contemporâneos viam-se obrigados a concordar: Leonardo era um argumentador fascinante, um polido conversador, um contador de histórias “mágico” e fantástico, um gênio da palavra acompanhada da mímica. Falando da ciência, fazia calar os cientistas; argumentando sobre filosofia, convencia os filósofos; inventando fábulas e lendas, conquistava os favores e a admiração das cortes. Sempre, e em qualquer lugar, Leonardo era o centro das atenções. E jamais decepcionava seu auditório porque tinha sempre, alguma história nova para contar. As fábulas e lendas de Leonardo têm um objetivo e finalidade moral, algumas foram traduzidas por Bruno Nardini e publicadas no Brasil em 1972. O único personagem constante dessas fábulas e lendas é a natureza: a água, o ar, o fogo, a pedra, as plantas e os animais têm vida, pensamento e palavras. O homem, pelo contrário, aparece como instrumento inconsciente do destino, e sua ação, cega e implacável, destrói vencidos e vencedores.
“O homem é o destruidor de todas as coisas criadas”, escreveu Leonardo no “Livro das Profecias”; e nunca, como hoje em dia, na longa história de nosso planeta, uma asserção foi mais verdadeira e tão tragicamente atual..
Fontes:
Biografia = Coisinha Literária. 14.08.2020
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Carina Bratt (O Tempo e o Agora)
Homenagem especial ao ilustre amigo Dr. José Feldman e seu inimitável texto ‘O tempo e o Agora’ publicado aqui em seu blog em 10 e agosto de 2025. Vale a pena conferir: https://singrandohorizontes.blogspot.com/2025/08/jose-feldman-o-tempo-e-o-agora.html
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EM SEU TEXTO simples e singelo, bucólico e pastoril, o escritor José Feldman sinaliza que o relógio marca a hora, cada instante é um agora... A vida não demora. O relógio marca a hora, e, com cada tique-taque, somos lembrados de que a vida é feita de instantes. Em um mundo que parece acelerar a cada dia, é fácil nos perdermos na correria. Voamos a mil para o trabalho, de igual forma para os compromissos, também para a rotina que nos consome parte da saúde. Mas a poesia nos lembra: cada instante é um agora.
Quantas vezes deixamos de apreciar o que está diante de nós? O cheiro do café fresco pela manhã, o sorriso de um amigo, a luz do sol mavioso filtrando pelas folhagens. Esses momentos, muitas vezes simples, são os que realmente compõem a tapeçaria da nossa existência. A vida não demora, ela tem pressa, embora seja feita de sutilezas que muitas vezes nos passam despercebidas. A verdade é que o tempo é um mestre implacável. Ele não espera. O que temos é este agora, e é nele que devemos encontrar significado.
A vida não se mede apenas em grandes eventos, mas nas pequenas alegrias do dia a dia. Cada risada, cada conversa, cada instante vivido intensamente é um lembrete de que estamos aqui, presentes. Vale a pena parar e refletir. O que fazemos com nosso agora? Estamos realmente vivendo, ou apenas existindo? O relógio continua a marcar as horas, e a vida não espera. Não dá trégua. Não estanca. Por isso, vamos aprender com a lição simplória de José Feldman, a valorizar com garra cada momento, a respirar fundo e a sentir com determinação a beleza do presente.
O presente é um amanhã que não retorna. No final, o que levará a nossa história não serão apenas os grandes feitos, mas as memórias construídas em cada agora. Nesse pé, ao invés de correr, que possamos caminhar, apreciar e amar. A vida é curta, é pequena, minúscula, e breve, E o tempo, esse sempre fiel companheiro, todavia, nos mostra a cada minuto, a cada segundo, a cada piscar de olhos, que o agora é tudo o que realmente temos. De fato, esse texto, ou melhor a poesia englobada nele, nos chama a atenção para algo tão essencial, mas frequentemente esquecido: o valor de cada momento presente, de cada pequena coisa que deixamos de lado.
A vida, acredite, é mesmo feita desses instantes únicos que, juntos e irmanados num só objetivo, tecem a história que vivemos. O escritor José Feldman indiretamente destacou (sem dizer) a simplicidade das pequenas alegrias — tipo o cheiro do café fresco, o brilho do sol... Tudo isso é um lembrete poderoso de que há beleza em tudo ao nosso redor, se apenas nos permitirmos perceber. A dança silenciosa do tempo cada vez mais veloz, não pede licença. Empurra a porta do já e entra.
Em cada batida suave do relógio, somos envolvidos pela melodia do agora. Há uma urgência serena, um desespero impiedoso que nos sussurra a toda hora nos ouvidos: ‘a vida não espera.’ Perdidos no frenesi da rotina, é fácil esquecer que os instantes simples carregam a essência do existir. O cheiro reconfortante de café recém passado, por exemplo, atrelado ao calor de um abraço genuíno, a luz do dia filtrando por entre as folhas — cada pequeno detalhe é um poema não escrito, entretanto, esperando para ser sentido e o melhor de tudo, vivido.
O tempo, imparcial e incansável, segue seu curso. Ele não se detém para ninguém, mas oferece a todos um presente inestimável: “o agora, o já, o aqui.” Não há promessa para amanhã, nem controle sobre o ontem. Apenas a vastidão do momento presente nos pertence, e, dentro dele, a chance única de viver plenamente. José Feldman na sua simplicidade de menino criança, nos ensina que a vida nos convida a desacelerar, a tirar o pé do freio, a ouvir atentamente o coração que bate em sincronia com a realeza e com os segundos que passam.
Em contrapartida, nos ensina também, a encontrar a beleza no que é passageiro e sublime. Que sejamos (diante dessa pureza nascida do interior do coração desse escritor magnânimo), que sejamos, meu Deus, que sejamos capazes de transformar a correria em contemplação, a contemplação em distração, a distração em presença, e o melhor de tudo: a existência em vivência. E sobretudo, para finalizar, a vivência, no “hoje agora”, no “agora, já”.
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CARINA BRATT nasceu em Curitiba/PR. Secretária particular e assessora de imprensa em Vila Velha/ES. Escreve crônicas em uma coluna denominada "Danações de Carina" para um site de Portugal.
Fontes:
Texto enviado pela autora,
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Célio Simões (O nosso português de cada dia) “Do Arco-da-Velha”
Atualmente essa expressão serve para qualificar uma narrativa ou alguma coisa que é extemporânea, absurda, improvável, extraordinária e que não parece verdadeira. Quem não conhece as histórias do “arco-da-velha” ou as coisas do “arco-da-velha", para indicar algo remoto, muito antigo, do tempo do ronca. Mas como surgiu essa expressão tão corriqueira?
Ainda do século XIX, “arco-da-velha” era empregado para descrever o arco-íris. E a própria Bíblia narra como surgiu o primeiro arco-íris. Em Gênesis 9:16, Deus afirma que o arco-íris “serve como lembrança de uma aliança feita por Deus com o homem, aliança que indicava que Ele não voltaria a enviar um dilúvio para destruir a vida na Terra”.
E “velha”, qual seria o motivo? O que uma senhora em idade provecta tem a ver com esse fenômeno meteorológico? Ainda é a Bíblia que subentende que o termo “velha” representa a velha e indissolúvel aliança que Deus firmou com o homem, razão pela qual o arco-íris também é conhecido como arco-da-aliança.
Em suas origens portanto, “arco-da-velha” não queria dizer que algo ou um episódio é muito antigo, mas que é incrível, fantástico, surreal, pois abstraindo sua explicação bíblica, o arco-íris, com sua incrível e multifária (multiforme) beleza, sempre se cercou de fabulações delirantes, como a do pote de ouro, ou que ele está bebendo água - quando seus extremos tocam a superfície do mar, de um rio ou de um lago - ou até a suposta e fantasiosa mudança instantânea de sexo de quem o vê bem de perto, resultando dessa última assertiva, sua utilização como símbolo mundialmente aceito das opções sexuais do ser humano.
Há quem especule no sentido de que o correto seria “arca-da-velha” porque “arca” e “baú” possuem o mesmo significado, bastando lembrar que nossas avós e bisavós guardavam seus pertences, suas relíquias e os seus tesouros pessoais ou familiares em suas arcas de madeira, “fechadas a sete chaves”.
Uma história do arco-da-velha seria, portanto, uma narrativa tirada “do baú de uma anciã”. O conhecido “conto da carochinha” era usado com essa mesma intenção, neste caso, derivado de “carocha”, expressão do regionalismo português que significa feiticeira, uma mulher velha e assustadoramente feia. Daí o sentido de muito antigo, com que se invoca “Arco-da-Velha”, que oscila entre a Bíblia e o paganismo, sem que se possa atribuir a sua origem a um, com exclusão completa do outro. Mas é induvidoso que ambas as fontes contribuíram no decorrer do tempo, para o absoluto sucesso dessa expressão.
Existe uma copiosa produção literária, principalmente de livros infantis, contando as histórias do “arco-da-velha”, sendo uma das mais antigas o livro editado em 1913 pela Quaresma e Cia. Livreiros Editores, do escritor Viriato Padilha, assim como denominações em músicas, livrarias, brechós, antiquários, cafés e demais estabelecimentos comerciais onde se vendem antiguidades, encontrados em qualquer cidade brasileira.
Arco da Velha dá nome a uma das melhores bandas de fado portuguesas e isso demonstra a popularidade da expressão, aqui e na terra de Camões. Mas o que melhor se extrai da expressão são mesmo as muitas histórias “do arco-da-velha” que contam por aí, algumas com pouca ou nenhuma verossimilhança com a realidade.
Quem já foi a Caxias do Sul teve a possibilidade de visitar a excelente Livraria e Café “Do Arco da Velha” um local muito bonito, famoso pelo atendimento impecável e pela infinita variedade de livros, temas e gêneros, tudo isso com a possibilidade de saborear um excelente café, desses ambientes acolhedores e convidativos, onde o cliente é capaz de passar o dia todo.
Na música, o Grupo Arco da Velha é um sucesso com seu repertório de consagrados cantores da MPB com o CD do mesmo nome e a playlist da Kboing com famosos interpretes internacionais. É algo que vale a pena ouvir. Finalmente, o livro infantil da escritora Elida Ferreira denominado “Histórias do arco-da-velha” (Bagaço, 3.ª edição, ano 2019), ricamente ilustrado, dá conta que dona Iaiá, que transformava tudo que chegava às suas mãos em brinquedo, encantava a todos contando lindas e antigas histórias. Quem de nós não ouviu tantas delas, na nossa saudosa infância?
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CÉLIO SIMÕES DE SOUZA é paraense, advogado, pós-graduado em Direito e Processo do Trabalho, escritor, professor, palestrante, poeta e memorialista. É membro da Academia Paraense de Letras, membro e ex-presidente da Academia Paraense de Letras Jurídicas, fundador e ex-vice-presidente da Academia Paraense de Jornalismo, fundador e ex-presidente da Academia Artística e Literária de Óbidos, membro da Academia Paraense Literária Interiorana e da Confraria Brasileira de Letras (Floresta/PR). Foi juiz do TRE-PA, é sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Pará, sócio correspondente do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós, fundador e membro da União dos Juristas Católicos de Belém e membro titular do Instituto dos Advogados do Pará. Tem seis livros publicados e recebeu três prêmios literários.
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Texto enviado pelo autor.
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Sopa de Letras
Dicas de escrita para escritores, pelos famosos (Luís Fernando Veríssimo)
Luís Fernando Veríssimo, renomado escritor, cronista e humorista brasileiro, é conhecido por sua escrita leve, criativa e cheia de humor. Embora não tenha um manual formal para novos escritores, suas entrevistas, textos e obras oferecem lições valiosas para quem está começando na escrita. Aqui estão algumas dicas extraídas do estilo e das ideias de Veríssimo, com base em sua abordagem literária:
1. Leia muito e de tudo
Veríssimo frequentemente destaca a importância da leitura como base para a escrita. Ele é um leitor ávido e diversificado, o que enriquece sua obra.
Leia autores diferentes, de gêneros variados, para expandir seu vocabulário, seu estilo e sua visão criativa.
“A leitura é essencial. Não há escritor que não seja antes de tudo um leitor.” (LFV)
2. Escreva sobre o que você conhece
Ele acreditava que escrever sobre o que você conhece (seja experiências, comportamentos ou situações) torna o texto mais autêntico e envolvente. Ele usava muito do cotidiano em suas crônicas.
Observe pessoas, situações e diálogos reais ao seu redor. Transforme o comum em algo interessante.
“O humor está no cotidiano, no que vivemos todos os dias. Basta saber olhar.” (LFV)
3. Use o humor como ferramenta
O humor é a marca registrada dele. Ele usava o humor para criticar, questionar e até emocionar. O humor não precisa ser escancarado; pode ser sutil ou irônico.
Experimente inserir humor em situações inesperadas, como em uma conversa banal ou em um momento de tensão.
“O humor é uma forma de olhar o mundo. Às vezes, ele é o único jeito de suportá-lo.” (LFV)
4. Seja simples e direto
Veríssimo evitava floreios desnecessários. Sua escrita é clara, acessível e fluida, o que o torna compreensível para leitores de todas as idades.
Evite palavras complicadas ou frases muito longas. Priorize a clareza e a naturalidade.
“O mais difícil é escrever simples.” (LFV)
5. Observe e capture o comportamento humano
Muitas das histórias e crônicas de Veríssimo são baseadas no comportamento humano, com descrições precisas e engraçadas de situações do dia a dia.
Preste atenção em como as pessoas falam, se movem e reagem. Isso pode inspirar personagens e diálogos autênticos.
“O ser humano é fascinante, porque ele é previsível e imprevisível ao mesmo tempo.” (LFV)
6. Experimente diferentes gêneros e formatos
Sua escrita transita entre crônicas, contos, romances, quadrinhos e roteiros. Essa versatilidade o ajudou a alcançar públicos diferentes.
Se você escreve contos, experimente crônicas. Se escreve prosa, tente poesia. Expandir suas habilidades pode surpreender você.
“Eu gosto de experimentar. Às vezes funciona, às vezes não. Mas o importante é tentar.” (LFV)
7. Não se leve tão a sério
Veríssimo acreditava na leveza e no prazer de escrever. Ele não tentava ser pretensioso ou “literário” demais.
Escreva com naturalidade, sem se preocupar excessivamente com perfeição. Divirta-se no processo.
“Escrever é como contar uma boa piada: tem que fluir, senão perde a graça.” (LFV)
8. Cultive a curiosidade
Ele era curioso por natureza e usava isso para criar histórias e personagens. Ele observava o mundo com olhar atento e questionador.
Pergunte-se “e se?” com frequência. Por exemplo: “E se esse vizinho estranho fosse um espião?” ou “E se o mundo acabasse amanhã?”
“A curiosidade é o que move o escritor.” (LFV)
9. Não tenha medo de reescrever
Ele mencionava que reescrever faz parte do processo de escrita. Nem sempre o primeiro rascunho será perfeito.
Depois de escrever, deixe o texto descansar. Volte a ele com um olhar crítico e faça ajustes.
“Escrever é reescrever.” (LFV)
10. Seja um observador do tempo em que vive
Veríssimo usava suas crônicas para refletir sobre questões sociais, políticas e culturais. Ele transformava o contexto em ficção ou humor.
Olhe ao redor e escreva sobre o que está acontecendo no mundo – com crítica, ironia ou emoção.
“A crônica é um reflexo do tempo em que vivemos.” (LFV)
11. Não tenha pressa para encontrar sua voz
Segundo Veríssimo, o estilo de um escritor surge com o tempo e a prática. Não se preocupe em ser original no início; a autenticidade virá.
Escreva todos os dias, mesmo que seja apenas um parágrafo. Aos poucos, você encontrará seu próprio jeito de contar histórias.
“O estilo é uma consequência, não um objetivo.” (LFV)
12. Divirta-se escrevendo
Acima de tudo, ele acreditava que a escrita deve ser prazerosa, tanto para o autor quanto para o leitor.
Escreva sobre temas que você gosta ou que o divertem. Isso transparecerá no texto e cativará o leitor.
“Se você não se diverte escrevendo, o leitor não vai se divertir lendo.” (LFV)
Resumo das dicas de Luís Fernando Veríssimo
- Leia muito e observe o mundo ao seu redor.
- Escreva com simplicidade, autenticidade e leveza.
- Inclua humor e ironia sempre que possível.
- Reescreva e experimente novos formatos.
- Não tenha pressa: a prática e a consistência são essenciais.
Essas lições mostram que a escrita é tanto uma arte quanto um ofício – e, como Veríssimo demonstrava em sua obra, ela pode ser ao mesmo tempo inteligente e divertida.
Luís Fernando Veríssimo é mestre em usar o humor em suas crônicas para criticar, refletir ou simplesmente entreter. Seu estilo é marcado por uma combinação de ironia, observações do cotidiano, diálogos engraçados e situações aparentemente banais que ele transforma em algo hilário. Aqui estão alguns exemplos de como ele usa o humor em suas crônicas, com explicações sobre as técnicas empregadas:
1. Observação do Cotidiano
Veríssimo transforma situações comuns em algo cômico ao destacar o absurdo ou a ironia escondida no dia a dia.
Exemplo: “A Dieta”
Nesta crônica, Veríssimo brinca com a obsessão por dietas e o comportamento contraditório das pessoas que tentam emagrecer. Ele narra a história de alguém que segue uma dieta rigorosa durante o dia, mas à noite devora um bolo inteiro escondido na cozinha.
Humor: A graça está no exagero e na identificação do leitor com o comportamento descrito. Quem nunca tentou enganar a própria dieta?
Trecho:
“A dieta é questão de honra. Você toma só suco no café da manhã, come só salada no almoço, recusa a sobremesa, mas, à noite, o bolo de chocolate começa a cochichar seu nome na cozinha.”
2. Humor Autodepreciativo
Ele usa a si mesmo ou narradores fictícios como alvos da piada, criando empatia com o leitor.
Exemplo: “Academia”
O narrador conta sua experiência desastrosa ao entrar em uma academia de ginástica, fazendo piada sobre a falta de preparo físico e o desconforto em meio a pessoas saradas.
Humor: A graça está no contraste entre o narrador comum (fora de forma) e os frequentadores da academia, além da ironia com a própria situação.
Trecho:
“Eu sabia que estava fora de forma, mas não sabia que a forma era tão fora de mim. No primeiro exercício, quase desmaiei. No segundo, desmaiei mesmo.”
3. Diálogos Bem-Humorados
Cria diálogos rápidos e engraçados, muitas vezes absurdos ou carregados de ironia.
Exemplo: “O Analista de Bagé”
O Analista de Bagé, um dos personagens mais famosos de Veríssimo, é um psicanalista gaúcho que mistura o rigor da análise freudiana com a rusticidade e a franqueza típicas do interior do Rio Grande do Sul.
Humor: O contraste entre o cenário sofisticado da psicanálise e a simplicidade gaudéria cria situações hilárias.
Trecho:
Paciente: “Doutor, eu tenho um problema com a minha mãe...”
Analista: “Problema com a mãe? Pois te atira de joelhos no chão e pede perdão pra velha, tchê!”
Paciente: “Mas ela está morta!”
Analista: “Então pede perdão mais alto, que ela há de ouvir, vivente!”
4. Ironia e Crítica Social
Usa o humor para criticar comportamentos, preconceitos ou aspectos da sociedade, mas de forma leve e acessível.
Exemplo: “A Mulher Ideal”
Ele descreve o que seria a mulher ideal de acordo com os padrões absurdos da sociedade, brincando com os estereótipos de beleza e comportamento.
Humor: A ironia está em exagerar os padrões irreais, tornando-os absurdos e, portanto, engraçados.
Trecho:
“A mulher ideal é aquela que acorda maquiada, tem o corpo de atleta olímpica, nunca reclama e ainda acha graça das piadas do marido. Em resumo, não existe.”
5. Exagero e Situações Surreais
Veríssimo leva situações cotidianas ao extremo para torná-las cômicas.
Exemplo: “A Guerra do Lanche”
A crônica narra uma discussão entre amigos sobre quem vai pagar a conta de um lanche, que acaba escalando para uma guerra literal, com batalhas e exércitos.
Humor: O exagero transforma algo trivial (dividir a conta) em uma situação épica e absurda.
Trecho:
“No início, era só um argumento: ‘Eu pago.’
Depois, começaram os insultos: ‘Você pagou da última vez, então deixa que eu pago agora!’
Em minutos, estávamos armados com os canudos e os guardanapos como bandeiras.”
6. Troca de Expectativas
Surpreende o leitor ao subverter o desfecho esperado de uma situação.
Exemplo: “Amor”
Um homem vê uma mulher maravilhosa no trânsito e sente que é amor à primeira vista. Ele fantasia sobre como seria a vida ao lado dela, mas, quando finalmente decide segui-la, descobre que ela está dando carona para o marido.
Humor: O final inesperado quebra o clima romântico e traz o leitor de volta à realidade.
Trecho:
“Ela era perfeita, e eu já imaginava nossos filhos, nossa casa e nosso cachorro. Mas então ele apareceu, e eu me perguntei: ‘Será que o marido dela também é perfeito?’”
7. Paródias e Referências Culturais
Usa paródias para brincar com obras literárias, filmes ou eventos históricos.
Exemplo: “Romeu e Julieta às Avessas”
Ele reconta a história de Romeu e Julieta, mas com um final cômico e invertido: os dois sobrevivem e, anos depois, estão entediados no casamento.
Humor: A graça está na desconstrução de uma história clássica e no contraste entre o romance idealizado e a realidade.
Trecho:
“Romeu e Julieta sobreviveram e se casaram. Dez anos depois, Julieta gritava: ‘Deixa de ser dramático, Romeu, e vai lavar a louça!’”
8. Personagens Cômicos
Cria personagens marcantes e engraçados, como o Analista de Bagé, a Velhinha de Taubaté (que acreditava cegamente no governo) ou Ed Mort (um detetive atrapalhado).
Exemplo: “Ed Mort”
Ed Mort é um detetive particular que sempre se mete em confusões absurdas. Seu humor vem da mistura de autoconfiança e incompetência.
Humor: A graça está nas situações ridículas que Ed Mort enfrenta e na forma como ele tenta resolvê-las.
Trecho:
“Ela entrou no meu escritório com um vestido vermelho e um problema. Eu estava com fome e sem dinheiro. Era o início de um caso perfeito!”
Luís Fernando Veríssimo usava o humor de maneira inteligente e versátil, explorando ironias, exageros, diálogos bem-humorados, críticas sociais e situações do cotidiano. O segredo do seu sucesso está na leveza com que ele aborda temas sérios e banais, sempre criando identificação e risadas no leitor. Seu humor é uma aula de como usar a simplicidade para criar textos memoráveis!
Fontes:
José Feldman (org.) Como escrever? Floresta/PR: Plat. Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul.
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segunda-feira, 13 de outubro de 2025
Asas da Poesia * 111 *
DANIEL MAURÍCIO
Curitiba/PR
Quem nasceu
Pirilampo
Não precisa que ninguém
Lhe segure a lanterna.
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Poema de
LUIZ POETA
(Luiz Gilberto de Barros)
Rio de Janeiro/RJ
Quando a alma voa, há um poeta dentro dela
A dor insiste, mas o amor não se perverte,
sonhos convertem solidões em paraísos.
Se cada guizo é uma serpente que adverte,
o amor diverte-se com os sonhos imprecisos.
Uns se dedicam à própria sobrevivência,
outros descobrem o tempo da rebeldia,
e quem desfia os novelos da ciência,
adia o tempo infeliz que o desafia.
O amor resiste e se junta à fantasia,
chama a alegria que completa os sentimentos,
nesse momento se sublima a ousadia,
à revelia do que sinta o sofrimento.
Se do lamento, se compõe a melodia,
a harmonia organiza novos tons
e se os neons têm o amor por moradia,
é no sonhar que o coração produz neons.
Tanto poeta se completa num amigo...
quando há abrigo, nem se sente a tempestade,
na amizade, me abençoas e eu bendigo
o que só possa te trazer felicidade.
A dor insiste, mas a alma é passarinho,
cujo caminho é o céu mais azulado.
Pobre coitado que só quer voar sozinho,
quando o amigo lhe oferece um ombro... alado.
Pois que se viva cada instante e que se creia
que a vida é cheia de momentos tão felizes,
que até a dor transfunde amor na própria veia,
quando ela anseia libertar os infelizes.
Em cada flash, uma história é recontada,
alicerçada na pureza da amizade,
assim, no enredo de uma vida abençoada,
o amor insiste em pôr a dor em liberdade.
Quem pinta aquilo que não vê, faz um rascunho
de próprio punho, da revolta que o irrita,
porém, se a dor constrói um falso testemunho,
o amor maltrata-se na dor que nele habita.
Que tu resistas, coração ao que magoa...
quando a alma voa, há um poeta dentro dela
e se a sequela de uma dor não te abençoa,
o amor ecoa na emoção que te revela
= = = = = =
Poema de
VANICE ZIMERMAN
Curitiba/PR
A Janela e o Tempo
Da janela, vejo a rua,
Observo o tempo de cada pessoa que passa...
O tempo das flores renascerem lindas!
O tempo das folhas de Ipê caindo na calçada...
Da janela, vejo o portão,
sinto o vento, a chuva e sonho...
Espero você chegar,
de uma longa viagem...
= = = = = =
Quadra Popular
Eu amava-te, ó menina,
se não fora um só senão:
seres pia de água benta
onde todos põe a mão.
= = = = = =
Soneto de
RAUL DE LEONI
Petrópolis/RJ, 1895-1926
Crepuscular
Poente no meu jardim... O olhar profundo
Alongo sobre as árvores vazias,
Essas em cujo espírito infecundo
Soluçam silenciosas agonias.
Assim estéreis, mansas e sombrias,
Sugerem à emoção com que as circundo
Todas as dolorosas utopias
De todos os filósofos do mundo.
Sugerem... Seus destinos são vizinhos:
Ambas, não dando frutos, abrem ninhos
Ao viandante exânime que as olhe.
Ninhos, onde vencidas de fadiga,
A alma ingênua dos pássaros se abriga
E a tristeza dos homens se recolhe...
= = = = = =
Soneto de
ANTERO DE QUENTAL
Ponta Delgada/Portugal, 1842 – 1891
Noturno
Espírito que passas, quando o vento
Adormece no mar e surge a Lua,
Filho esquivo da noite que flutua,
Tu só entendes bem o meu tormento...
Como um canto longínquo - triste e lento-
Que voga e sutilmente se insinua,
Sobre o meu coração que tumultua,
Tu vestes pouco a pouco o esquecimento...
A ti confio o sonho em que me leva
Um instinto de luz, rompendo a treva,
Buscando. entre visões, o eterno Bem.
E tu entendes o meu mal sem nome,
A febre de Ideal, que me consome,
Tu só, Gênio da Noite, e mais ninguém!
= = = = = =
Soneto de
AMILTON MACIEL MONTEIRO
São José dos Campos/SP
O sabiá
Em minha casa tem um sabiá
Que canta sempre, desde manhãzinha,
Escondido em um lindo jatobá
Que fica logo atrás de minha cozinha.
Nem os gritos do forte carcará,
À cata de indefesa andorinha,
Na luta para ver quem vencerá,
Sobrepujam essa minha avezinha!
O seu cantar anima a minha vida,
Que vai chegando ao fim de sua corrida,
Pois apesar de triste, é uma doçura...
E consegue alegrar os dias meus!
Creio até que seu canto de ternura
Não mereço, mas ganho de meu Deus!
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Poema de
ISABELA REGINA NASCIMENTO
Ponta Grossa/PR
Fantasia perfumada
A poesia e a mulher se encontram
Palavra feminina forte
Como música suave que toca
Em sinfonia de almas
Fêmeas arteiras, escrevem
Fantasias perfumadas
Saborosas como frutos
Impressos em tinta
Desenhados no papel da vida
Cada verso, um traço
Instantâneos de emoções
Rastros de sentimentos
Coloridos, vibrantes
Riscos que escrevem
Palavras que nascem
Do coração de quem cria
Do mundo de quem sente
É a música dos versos
Corre viva, pulsante
A fotografia da alma
Impressa na página da vida
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Trova Funerária Cigana
Quando morreu minha Rosa,
o mundo ficou sem luz,
porém ficou minha mãe
pra carregar minha cruz.
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Poemeto de
SOLANGE COLOMBARA
São Paulo / SP
Lágrimas Sombrias no Vento
Sou no ar frio do outono
sentimento alvorecendo,
a procura da guarida
em caquinhos coloridos,
os raios da tempestade
tecendo gritos em ecos
Sou no ar frio do outono
a leveza em benquerer,
o olhar na sombra perdida,
distante em silencioso
pranto, a prece aquecendo
corações em cacarecos.
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Poema de
NÉLIO CHIMENTO
Rio de Janeiro/RJ
Não sei se vou bem ou mal
Mas vou dando o meu jeito
Para não fazer tudo sempre igual.
Levo sonhos no pensamento,
Esperanças no peito
E o sentimento
De que não sou perfeito,
Mas tenho o entendimento
De que o tropeço é natural
No processo de crescimento.
Não posso é parar no tempo
Para lamentar o contratempo
E parar no que já foi feito.
Tento ser como o rio
Que contorna as pedras do leito
Com a força de seu caudal
Para chegar ao mar, seu destino final.
Vou vivendo e aprendendo
Com o calor da luta,
Com o frio do desafio,
Aproveitando a hora boa,
Superando o trajeto sombrio,
Caminhando na paz de Deus
E corrigindo os defeitos meus.
Quem sabe,
Ao atravessar a minha ponte,
Reconheça a fonte
Que me fez alma serena,
Ao olhar para trás
E dizer: valeu a pena!
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Soneto do
Príncipe dos Poetas Piracicabanos
LINO VITTI
Piracicaba/SP, 1920 – 2016
"In fine"
Para trás, pela rua do Passado,
foram ficando angústias e alegrias,
na mentira sonâmbula dos dias
feita de um grande sonho espedaçado
Em cada hora , um sonho massacrado,
pelas mãos das mais fundas nostalgias!
E a cada passo, as agulhadas frias
dos sofrimento caminhando ao lado.
Um ano se despede, vem outro ano,
sobraçando esperanças e ilusões
com que mima o teimoso ser humano.
É assim a vida: um ajuntar de dores,
um receber feridas e empurrões,
um triturar de mágoas e de amores…
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Poetrix de
RICARDO ALFAYA
Rio de Janeiro/RJ
exposição
enxugo dilemas
no varal, toalhas
manchadas de poemas.
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Poema de
LUÍSA DUCLA SOARES
Lisboa/Portugal
Um amigo para falar comigo.
Um navio para viajar
Um jardim para brincar
Uma escola para levar debaixo do braço
Livro um abraço para além do tempo e espaço.
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Poema de
JOÃO PEDRO MÉSSEDER
Porto/Portugal
Um Livro
Levou-me um livro em viagem
não sei por onde é que andei.
Corri o Alasca, o deserto
andei com o sultão no Brunei?
Pra falar verdade, não sei.
Com um livro cruzei o mar,
não sei com quem naveguei.
Com marinheiros, corsários,
tremendo de febres e medo?
Pra falar verdade não sei.
Um livro levou-me pra longe
não sei por onde é que andei.
Por cidades devastadas
no meio da fome e da guerra?
Pra falar verdade não sei.
Um livro levou-me com ele
até ao coração de alguém
e aí me enamorei –
de uns olhos ou de uns cabelos?
Pra falar verdade não sei.
Um livro num passe de mágica
tocou-me com o seu feitiço:
Deu-me a paz e deu-me a guerra,
mostrou-me as faces do homem
– porque um livro é tudo isso.
Levou-me um livro com ele
pelo mundo a passear.
Não me perdi nem me achei
– porque um livro é afinal…
um pouco da vida, bem sei.
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Hino de
Ivaiporã/PR
No cenário que a mata se inclina
Ante a força, a coragem e o amor,
Vive em paz, sob a graça divina,
Todo um povo, em ardente labor.
Rio imenso, de rara beleza
Que ao indígena outrora encantou,
Beija e embala a ideal natureza
Que recanto ideal batizou.
Ivaiporã!
Com orgulho e devoção
Repetimos teu nome querido
Que é uma esplendida oração
Sobre o altar deste solo florido.
Ivaiporã!
Tua estrela benfazeja
Para o mundo amanhã mostrará
O tesouro que viceja
No coração do Paraná!
Antevemos teu nobre porvir
No milagre que a terra produz,
Os cereais em contínuo florir
Sobre os Vales, nas ondas da luz.
Cada gota de suor dos teus filhos
Se reflete na grande torrente
Das douradas espigas de milho
Que os caminhos têm à frente.
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Poema de
WALLACE STEVENS
Reading/ Pensilvânia, 1879 – 1955, Hartford/Connecticut
A casa estava quieta e o mundo calmo
A casa estava quieta e o mundo calmo.
Leitor tornou-se livro, e a noite de verão
Era como o ser consciente do livro.
A casa estava quieta e o mundo calmo.
Palavras eram ditas como se livro não houvesse,
Só que o leitor debruçado sobre a página
Queria debruçar-se, queria mais que muito ser
O sábio para quem o livro é verdadeiro
E a noite de verão é como perfeição da mente.
A casa estava quieta porque tinha de estar.
Estar quieta era parte do sentido e da mente:
Acesso da perfeição à página.
E o mundo estava calmo. Em mundo calmo,
Em que não há outro sentido, a verdade
É calma, é verão e é noite, a verdade
É o leitor insone debruçado a ler.
(Tradução: Paulo Henriques Britto)
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Fábula em Versos de
JEAN DE LA FONTAINE
Château-Thierry/França, 1621 – 1695, Paris/França
O leão namorado
Leão de alta prosápia*
Passando por um prado,
Certa zagaia viu mui de seu gosto
E esposa foi pedi-la.
Quisera o pai menos feroz o genro.
Bem duro lhe era o dar-lhe:
Mas também o negar-lhe mal seguro;
E que ainda a ser possível
Negar-lhe, é de temer não venha a lume
Clandestino consórcio;
Que amava os valentões a mocetona.
De grado se encasquetam
As moças, de estofadas cabeleiras.
O pai, que não se atreve
A despedir o amante tanto às claras:
«Minha filha é mimosa,
E vós podeis, entre esponsais carícias,
Arranhá-la com as unhas:
Consenti um cerceio em cada garra,
E em cada dente a lima,
Porque os beijos lhe sejam menos ásperos,
E a vós mais voluptuosos.
Que, sem tais sustos, há de a minha filha
Prestar mais meiga a boca.»
Consente o leão: desmantelada a praça,
Falto de unhas e dentes,
Lançam-lhe os cães, vai-se o leão. Sem unhas
Como há de resistir-lhes?
Quando, Amor, nos agarras, bem podemos
Dizer: «Adeus prudência!»
* * * * * * * * * * * * *
* Prosápia = linhagem.
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