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sábado, 22 de março de 2025
quinta-feira, 20 de março de 2025
Vereda da Poesia = 228
EDY SOARES
Vila Velha/ES
O CONJUNTO DA OBRA
Não me verão sacrificar meu texto
somente em prol da rima ou da estrutura.
Nos vincos da melhor literatura
versejo, sem alarde, sem pretexto.
Há quem compõe de forma audaz, segura,
buscando a perfeição de um anapesto
e ao se perder, contudo, no contexto
destina o seu poema à sepultura.
Há que se ater nas regras alfabéticas
e, salvo engano, as criações poéticas
exigem mais que forma e conteúdo…
Também, não se esquecer que a poesia
há de fluir com pompa e galhardia…
Formalidade é bom, mas não é tudo!
= = = = = = = = =
Quadra Popular de
AUTOR ANÔNIMO
Ao ver-te fico perdido,
mulher – onça desalmada,
sinto dor, fico ferido
vai-se ver – não tenho nada.
= = = = = = = = =
Poema de
ANTERO JERÓNIMO
Lisboa/ Portugal
A saudade
encontra sempre velhos trilhos
e deixa vestígios onde o amor
semeou a paz das margaridas
a indicar o caminho.
O tempo, impávido matreiro
assistiu ao extinguir da chama
sem manifestar qualquer emoção;
para desespero da palavra
tremendo na ausência do afago,
de um abraço sentenciado.
Que importa agora
tentar atrasar as horas?
Se os lençóis são testemunho
de que nada devolve a forma original
ao côncavo deixado na partida.
= = = = = = = = =
Poema de
DOMINGOS FREIRE CARDOSO
Ilhavo/ Portugal
E OS TEUS OLHOS FICARAM MAIS DISTANTES
(Manuel Lima Monteiro Andrade in "Mãos abertas", p. 97)
E os teus olhos ficaram mais distantes
Quando na luz da tarde se perdeu
O aceno da partida que doeu
Como nunca me tinha ferido antes.
Fiquei parado, ali, por uns instantes
Naufragando no mar que, então, desceu
Do meu olhar que a noite ao mundo deu
Habitada por gritos suplicantes.
Tu partiste e eu fiquei de mim ausente
O tempo corre e apenas sei que sinto
Que na terra já nada mais me importa,
Errante vou seguindo inconsciente
Perdido nos sopés de um labirinto
Como se em mim já fosse a vida morta.
= = = = = = = = =
Poema de
ANDRÉ GRANJA CARNEIRO
Atibaia/SP, 1922 – 2014 , Curitiba/PR
EU ESCAPO
Não tenho gravata,
o último bigode raspei em primeiro de abril
de sessenta e quatro.
Darcy menina, inventora da mini-saia
ficou com as crianças, eu fugi
na subversiva perua Volkswagem.
Tenho pudor de ser poeta,
prefiro escritor, cineasta, hipnotizador emérito,
palavras nem explicam
a economia doméstica,
amordaçam lágrimas ditas femininas,
derramadas pelo sexo másculo.
Há sempre um atrás nos versos
a libertar rostos, mostrar pegadas viscosas
em direção ao seu quarto.
Minhas balas nunca explodiram,
a navalhada espanhola é barbeador elétrico.
Tento ser eclético, abarcar o continente.
Fui Navajo no Arizona,
joguei poquer em cartas marcadas,
dou nó em pespontos,
lavo louça sem nenhum interesse.
De onde surgem estas formigas minúsculas?
Deus displicente, esmago-as sem pena,
almas sem micróbios e baratas são desprezíveis.
Do satélite, só avisto a muralha da China
e a floresta amazônica em chamas.
Meu carro tem pontos de ferrugem,
o aço se transforma em marrons abstratos,
alguns botões da camisa fecham ao contrário,
marca feminina do contraste.
Sigo cego o rumo coletivo deste ônibus.
Passam cenhos cerrados,
proíbem beijar de língua nas bibliotecas,
trocar roupas nos alpendres,
casar filhas com negros,
gargalhar no tribunal togado.
A morte vai batendo de porta em porta,
vendendo bilhetes irrecusáveis
aos guardiães da sociedade.
Eu me escondo no banheiro,
disfarço lendo histórias em quadrinhos
e escapo.
= = = = = =
Poema de
FILEMON MARTINS
São Paulo/ SP
A JANGADA
Ei-la singrando a imensidão dos mares
tão frágil, tão veloz e independente,
deixando a praia, busca outros lugares
sem medo, sem temor, inconsequente...
Lançada ao mar... As ondas pelos ares...
Vai conquistando o mar azul, fremente,
não há tristezas, dores, nem pesares...
Só a jangada deslizando à frente.
As ondas vêm e vão... E chega a tarde,
aflora um sentimento de saudade
e ela retorna cheia de emoções...
Quantos sonhos viajam na jangada?
mas ao raiar da fresca madrugada
vai para o mar repleta de ilusões!
= = = = = = = = =
Poema de
MARIA EFIGÊNIA MALLEMONT
Petrópolis/RJ
AMOR EM POESIA
Sobre a mesa,
livros, canções,
odes e sonetos,
onde me debruço,
aconchegando,
meus sonhos.
Na face da noite,
a voz do poeta,
murmurando sonhos
em meu coração deserto!
Aos seus devaneios,
me entrego invisível,
nua, sem resposta.
Deixa-me amar,
do mundo alheia,
nas frágeis torrentes
da tua poesia.
= = = = = = = = =
Soneto de
MIGUEL RUSSOWSKY
Santa Maria/RS (1923 – 2009) Joaçaba/SC
RECEITA DE SAÚDE E FELICIDADE
Não antecipe nunca o sofrimento!...
Diga “Bom Dia!” ao sol que lhe saúda.
Seja qual um discípulo de Buda:
- É mister se gozar cada momento.
No “que será...será” que não se muda,
se abrigam primaveras...(mais de um cento!)
os “depois” nem podem ser tormento
se os “agoras” lhe derem boa ajuda.
“Cara feia” - sinal de enfermidade -
com certeza, costuma sobrepor
mais pesos aos obstáculos da idade.
"Alegre-se e sorria, por favor!
Um sorrisinho dá felicidade,
pois contagia e ativa o bom humor"
= = = = = = = = =
Soneto de
PAULO VINHEIRO
Monteiro Lobato/SP
QUIMERA
Quimera, alguma esperança mantenho
Cantilena, monotônica toada trovoa
Do boi o carro carroçando vai cantando
À vera trocam letras tropeçando pedras
Escrevo sem sentidos, abstraio teus olhos
Perdoe o perverso que rabisco a toa
Enxugo lágrimas que não nasceram
Em vão de página… Quem sabe em vão
= = = = = = = = =
Poema de
DANIEL MAURÍCIO
Curitiba/PR
Índios,
Ao longo
Dos séculos
Sambaquis
De almas...
Na natureza,
A vida
Clama
Em silêncio.
= = = = = = = = =
sexta-feira, 14 de março de 2025
Vereda da Poesia = 226
Soneto de
EDY SOARES
Vila Velha/ES
MOINHOS DE VENTO
As invasões letais de ervas daninhas,
nossos rosais repletos de falenas;
saúvas temporãs cortando as vinhas...
não trazem tempos bons, eras serenas...
Poeta cônscio, em tantas entrelinhas,
versei, sem a influência dos mecenas,
e tantas vezes vi que são só minhas
as frases que aos demais são “cantilenas”.
Não quero mais falar dos caules tortos,
dos joios infestados nos trigais,
que a ação da “sarracênia” é covardia...
Melhor, talvez, que fossem todos mortos,
mas... vidas são premissas capitais...
E eu sempre fui contrário à eugenia!
= = = = = = = = =
Poema de
CARLOS LÚCIO GONTIJO
Santo Antônio do Monte/MG
FALSA RETIDÃO
Tudo o que quis ser e não fui
Hoje se dilui sobre o que sou
Em meu passo o mar do destino flui
No que não sou o pedaço do que sou está
Esquecimento faz parte da lembrança
Esperança com a desesperança convive
A vida vive em meio a muita morte
O mais forte nem sempre é valente
Pode não ser contente a pessoa feliz
Há muita presença cheia de ausência
Muita ausência que presença marca
Refletindo a fiel luz da transparência
Que reflete o ser humano em solidão
Pois que sob o pano solerte da multidão
Todos aparentam viver em retidão
= = = = = = = = =
Poema de
DOMINGOS FREIRE CARDOSO
Ilhavo/ Portugal
SÓ SE CHORA POR QUEM PARTE
(Manuel Lima Monteiro Andrade in "Mãos abertas", p. 20)
Choremos por quem parte sem voltar
A ser presença viva à nossa mesa
E desse imenso reino da tristeza
Desça à terra num raio de luar.
Ausente, para sempre, em nosso olhar
Terá em nosso peito a fortaleza
Que guarda a delicada vela acesa
Da memória que brilha em seu altar.
De saudade será a sua imagem
Que se esvai como um barco na viagem
No denso nevoeiro, rumo ao norte.
Só quando a sua face tão inteira
Não nos assomar, sem que a gente queira
Só então foi levada pela morte.
= = = = = = = = =
Poema de
LUCIANA SOARES CHAGAS
Rio de Janeiro/RJ
LUÍZA
Luíza, nome que soa como poesia,
Mulher de fé, sorriso que irradia,
Com batom suave, enfeita o dia,
Mãe, esposa, amiga, harmonia.
Tão terna e carinhosa no gesto,
Generosa alma, sempre manifesto,
Disponível ao amor, tão desmedida,
Tu és o melhor livro que já li na vida.
Avó que conta histórias com doçura,
Bisavó, um pilar de ternura,
Destemida, enfrenta cada jornada,
Com a força que só o amor embala.
Luíza, és essência, és beleza,
Um coração que vibra com pureza,
Tua luz é eterna, não se desfaz,
Um poema vivo, escrito na paz.
= = = = = =
Poema de
FILEMON MARTINS
São Paulo/ SP
INSPIRAÇÃO
Busquei a inspiração a duras penas
para escrever, com fé, este soneto,
e quero que as palavras mais amenas
sejam a Paz e o Amor, como dueto.
Que vou dizer das provações terrenas,
se o ninho é construído com graveto?
– Será melhor curar dores pequenas
e confirmar aquilo que prometo.
Mas teimo em encontrar a inspiração
que se escondeu e foge com razão,
deixando amargurado este poeta…
Clamo de novo e então ela aparece
trazendo junto aos peito farta messe
e agora, sim, a noite está completa!
= = = = = = = = =
Sextilha de
MILTON SOUZA
Porto Alegre/RS, 1945 – 2018, Cachoeirinha/RS
Ilusões, esta vida tantas deu
que eu bebi desta luz de tantas cores,
muitas delas, já mortas encontrei,
outras vivas, com brilhos multicores...
Ilusões, as mais lindas transformei
nas certezas totais dos meus amores…
= = = = = = = = =
Soneto de
MIGUEL RUSSOWSKY
Santa Maria/RS (1923 – 2009) Joaçaba/SC
SONETO CLASSE MÉDIA, BAIXA
Quando eu me aposentar… Irei morar em Vênus!…
(O I.P.T.U. de lá, é menor que o da lua.
Há descontos de lei sem qualquer falcatrua
e sem taxas de lixo embutida em terrenos).
Aposentadoria é crime?…(Mais ou menos…
se for por doença não é, mas a verdade crua,
é que os espertalhões desfilam pela rua
cheios de “ME APOSENTEI”) — Que salários obscenos!
Quando eu me aposentar…(Se eu puder, o pijama,
o radinho de pilha, o travesseiro, a cama,
nenhum deles terá um minuto de folga).
Quando eu me aposentar… Urras e Vivas! Bingo!
Os dias de semana, o sábado… o domingo…
serão todos iguais. É isto que me empolga!
= = = = = = = = =
Cantiga Infantil de Roda
SERENO DA MEIA-NOITE
É uma roda de crianças, com uma no centro. Cantam as da roda:
Sereno da meia-noite }
Sereno da madrugada } bis
Eu caio, eu caio }
Eu caio. sereno, eu caio } bis
Responde a menina do centro:
Das filhas de minha mãe }
Sou eu a mais estimada } bis
Eu não m'importo, }
Que da amiguinha, }
Eu seja a mais desprezada } bis
= = = = = = = = =
Quadra Popular de
AUTOR ANÔNIMO
Quanto a teteia abre o pico,
turva-se o tempo, meu bem;
quem tem sua dor, que gema,
que eu não sou pai de ninguém.
= = = = = = = = =
Poema de
DANIEL MAURÍCIO
Curitiba/PR
Ecoam cantigas na memória...
À sombra da árvore
Brincam de roda as targets.
Crianças traquinas...
Em movimento, mesclam-se as cores
Entre os raios do sol.
Tontos com tanta beleza
Os olhos sorriem satisfeitos
Pois brincando de roda foi o jeito
Que encontrei pra segurar as tuas mãos.
= = = = = = = = =
quarta-feira, 12 de março de 2025
Vereda da Poesia = 225
Soneto de
EDY SOARES
Vila Velha/ES
A DESCONHECIDA
De onde ela veio os riscos eram poucos;
cais de sossego e amores comedidos…
porto seguro…, mas de ouvidos moucos
aos seus anseios, sempre preteridos.
Um dia, enfim, nos descobrimos loucos,
incendiando instintos escondidos
e nos amando entre os gemidos roucos
das feras que contêm suas libidos.
Aos poucos pude ver que descobrimos
detalhes tão comuns de um sonho imenso,
motivos pelos quais nós nos unimos…
E agora a vejo triste e dividida
entre as surpresas deste amor intenso
e o porto que acolheu a nau transida!
= = = = = = = = =
Poema de
CARLOS LÚCIO GONTIJO
Santo Antônio do Monte/MG
ORAÇÃO DOS CASAIS
Meu bem, sei que Deus protege os casais
Semeia trigais de ternura na pele
Para que o amor sele as marcas da procura
Então, na hora em que a gente for dormir
Façamos jus aos cuidados do Senhor
Por favor, acenda-me quando apagar a luz!
= = = = = = = = =
Poema de
DOMINGOS FREIRE CARDOSO
Ilhavo/ Portugal
O TEU ROSTO DE SAL NA PRAIA VÃ
(José Charles González in "Cem Sonetos Portugueses", p. 148)
O teu rosto de sal na praia vã
Filtrava a luz do sol nesse cristal
E lá do sul, subindo o areal
Vinha a lua dizer que é tua irmã.
Sendo a razão de ser desta manhã
Silhueta esculpida num vitral
Serias Virgem numa catedral
Se não tivesses já coroa de romã.
És sereia que o mar azul trouxesse
Uma rosa de orvalho que amanhece
E, por milagre, a Terra iluminasse.
És aragem lembrando borboleta
Vestida de amarelo, azul, violeta
E que ao bater das asas nos deixasse.
= = = = = = = = =
Soneto de
AFONSO FREDERICO SCHMIDT
Cubatão/ SP, 1890-1964, São Paulo/SP
ROSAS LOUCAS
A rosa louca é a rosa mais singela
de todas as rosas, mas é bela
porque nasce nas cercas, nos caminhos
e conta menos flores do que espinhos.
A rosa louca é a rosa mais plebeia
dentre todas as rosas, traz à ideia
a moçoila do bairro, tão bonita
com vestidos de cor, feitos de chita.
A rosa louca é a rosa que se olha
sem tirar do pé, porque desfolha;
ela pede perdão de não ter graça;
desponta, desabrocha, encanta... e passa.
Estas rosas são breves e são poucas,
como o riso feliz em nossas bocas…
= = = = = =
Poema de
FILEMON MARTINS
São Paulo/ SP
ELOGIO AO SONETO
No meu viver de agitação, proscrito,
eu busco a paz para escrever um verso
e de alma pura, coração contrito,
procuro a melhor rima do Universo.
O desespero aperta, estou aflito…
Como escrever num mundo tão perverso?
A inspiração me acode com um grito,
e o meu soneto nasce, incontroverso…
Ao verbo de Camões me fiz escravo.
em busca da palavra me fiz bravo,
para dar ao soneto nova aurora…
Que o pavilhão tremule lá na praça,
e brilhando, qual pérola sem jaça,
reine o soneto pelo mundo afora!
= = = = = = = = =
Soneto de
MIGUEL RUSSOWSKY
Santa Maria/RS (1923 – 2009) Joaçaba/SC
ORAÇÃO DO POETA
– Que me darás, Senhor, pela jornada
de dores, privações e misereres?
– Eu te darei a noite salpicada
de estrelas e silêncio. Que mais queres?
– E para a solidão da madrugada?
– Já fiz o mundo cheio de mulheres.
procura e encontrarás a tua amada.
Faz os mais lindos versos que puderes.
– Mas como irei, Senhor, reconhecê-la?
– Há no céu, entre todas, uma estrela
que apenas tu verás. Que mais perguntas?
– E este frio e esta angústia que ora sinto?
– Quando ela penetrar em teu recinto
a primavera e a paz hão de vir juntas.
= = = = = = = = =
Cantiga Infantil de Roda
PEZINHO
Ai bota aqui
ai bota ali
o teu pezinho
O teu pezinho
bem juntinho
com o meu
Ai bota aqui ai bota ali
o teu pezinho
O teu pezinho o teu pezinho
ao pé do meu
E depois não vá dizer
que você já me esqueceu
E depois não vá dizer
que você já me esqueceu
E no chegar deste teu corpo,
uma abraço quero eu
E no chegar deste teu corpo,
uma abraço quero eu
Agora que estamos juntinhos,
da cá um abraço e um beijinho
Agora que estamos juntinhos,
da cá um abraço e um beijinho
E depois não vá dizer
que você já me esqueceu
E depois não vá dizer
que você já me esqueceu
= = = = = = = = =
Quadra Popular de
AUTOR ANÔNIMO
Teu coração bem amado,
é de tão grande doçura,
que se fosse esquartejado
parecia rapadura.
= = = = = = = = =
Poema de
VANICE ZIMERMAN
Curitiba/PR
O PORTÃO E O VENTO
Num piscar de olhos
Distancia-se o pensamento,
Busco encontrar-te
Em cada folha do Plátano
E pétalas de rosa que guardei...
Imagino que esteja próximo a esquina
Vindo em minha direção,
Mas, num piscar de olhos.
Você retorna aos meus sonhos,
E o portão abre-se com o vento...
= = = = = = = = =
segunda-feira, 10 de março de 2025
Vereda da Poesia = 224
Soneto de
EDY SOARES
Vila Velha/ES
DESALENTO
Quem vai nunca vai sozinho,
leva um pedaço da gente;
quem fica não fica inteiro;
pois, a alma fica doente.
Quem fica sente saudades,
o soluço sufoca o peito.
Quem chora apascenta a alma;
quem sorri, o faz com respeito.
Qual livro na prateleira
e conto que vai pra memória,
a saudade rasga o peito,
qual página que finda a história.
A lágrima, que lava os olhos,
não leva a dor de quem chora.
= = = = = = = = =
Poema de
SILVIAH CARVALHO
Manaus/AM
COMO SE FOSSE A ÚLTIMA VEZ!
Já era dia
Desejei tanto que fosse noite,
...E aquela noite parecia dia!
Aqueles dias infindáveis de tão grande harmonia.
Eu te amei de uma forma tamanha, estranha,
Que toda noite era dia, e o dia se aproximava,
E eu nem percebia! Queria velar teu sono,
Tocar seu rosto enquanto dormia.
Dizer-te baixinho eu amo você!
Fica mais um dia, mas se te acordasse,
Eu não me perdoaria, estava tão lindo!
Seus olhos fechados, sua boca entreaberta.
Pedia-me um beijo, eu não resistia...
Amei-te, como quem ama pela última vez.
Senti seu coração bater, Como se fossem as últimas batidas,
Senti seu calor como se fosse sentir frio o resto da vida.
E já era noite, a lua desejava ver-te,
Encantá-lo com sua beleza, talvez.
Roubá-lo de mim outra vez.
Mas um tão grande egoísmo em mim se fez,
Fechei a janela, queria tê-lo só para mim dessa vez.
E desejar que fosse dia, mesmo sendo noite.
...Como se fosse a última noite, a última vez!
= = = = = = = = =
Poema de
DOMINGOS FREIRE CARDOSO
Ilhavo/ Portugal
TUDO O QUE SOU É MENOS DO QUE EU QUERO
(José Carlos Ary dos Santos in "Cem Sonetos Portugueses", p. 146)
Tudo o que sou é menos do que eu quero
Para matar a sede em que me afogo
E acabrunhado aos pés da vida eu rogo
O fim da pequenez que não tolero.
Amarrado a um corpo que é severo
Nas margens do impossível em que eu vogo
Perplexo, pobre e puro eu me interrogo
Do modo como ser mais do que um zero.
Tem razões para estar insatisfeito
O coração que trago no meu peito
Vestindo a sua estranha condição:
Com asas de voar para se erguer
O destino o condena a padecer
E a morder esse pó que há pelo chão.
= = = = = = = = =
Soneto de
AFONSO FREDERICO SCHMIDT
Cubatão/ SP, 1890-1964, São Paulo/SP
A BELEZA
Neste crisol do coração, Beleza
Que iluminas a nossa noite escura,
És a Bondade — que se fez Grandeza
E a Dor sofrida — que se fez Doçura.
És a muda expressão da Natureza;
Beijo no amor, sorriso na candura,
Prece na morte, pranto na tristeza
E, para os poetas, mística tortura.
Ninfeia azul no pântano estagnado,
Flores brotando na aridez das lousas,
Ou mistério no páramo estrelado,
Em tudo o que nos cerca, tu repousas,
Porque a Beleza é Deus manifestado,
A nos sorrir pela expressão das cousas*.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
* cousa = a grafia correta é “coisa”. A forma ‘cousa’ era utilizada em português, mas caiu em desuso a partir da evolução da língua portuguesa moderna. Contudo, não é errado a sua utilização, tanto que a palavra ainda faz parte dos dicionários.
= = = = = =
Poema de
FILEMON MARTINS
São Paulo/ SP
COMPONDO VERSOS
Eu quisera compor uns lindos versos
que falassem do amor e da paixão,
destes sonhos antigos e dispersos
que ocuparam meu pobre coração.
Teus olhos cor de mar (quase perversos),
pousaram sobre mim, que perdição,
e meus sonhos agora estão imersos
neste mar de beleza e solidão.
Por que partiste assim, sem dizer nada,
deixando apenas tua gargalhada
que em saudade se fez e em mim convive?
Peço para que voltes, doce amada,
porque sem luz não há mais alvorada,
sem teu amor meu coração não vive!
= = = = = = = = =
Soneto de
MIGUEL RUSSOWSKY
Santa Maria/RS (1923 – 2009) Joaçaba/SC
NOITE SEM AURORA
A noite de um adeus não tem aurora
mas tem silêncios longos por recheio;
tem farpas arranhando, bem no meio...;
tem desesperos mil vagando fora...
A noite de um adeus, eu sei que chora
ao ver a sepultura de um anseio.
Não a censuro e até a manuseio
com estes versos que componho agora.
A noite de um adeus ensina a gente
ter dias sem relógio...e alguém já disse
que nunca cicatriza totalmente.
A noite de um adeus...só bem depois
expõe a solidão, numa velhice,
em que murchamos tristes nós, os dois.
= = = = = = = = =
Cantiga Infantil de Roda
A VELHA A FIAR
Estava a velha no seu lugar,
veio a mosca lhe incomodar.
A mosca na velha
e a velha a fiar.
Estava a mosca no seu lugar,
veio a aranha lhe fazer mal.
A aranha na mosca,
a mosca na velha
e a velha a fiar.
Estava a aranha no seu lugar,
veio o rato lhe fazer mal.
O rato na aranha,
a aranha na mosca,
a mosca na velha
e a velha a fiar.
Estava o rato no seu lugar,
veio o gato lhe fazer mal.
O gato no rato,
o rato na aranha,
a aranha na mosca,
a mosca na velha
e a velha a fiar.
Estava o gato no seu lugar,
veio o cachorro lhe fazer mal.
O cachorro no gato,
o gato no rato,
o rato na aranha,
a aranha na mosca,
a mosca na velha
e a velha a fiar.
Estava o cachorro no seu lugar,
veio o pau lhe fazer mal.
O pau no cachorro,
o cachorro no gato,
o gato no rato,
o rato na aranha,
a aranha na mosca,
a mosca na velha
e a velha a fiar.
Estava o pau no seu lugar,
veio o fogo lhe fazer mal.
O fogo no pau,
o pau no cachorro,
o cachorro no gato,
o gato no rato,
o rato na aranha,
a aranha na mosca,
a mosca na velha
e a velha a fiar.
Estava o fogo no seu lugar,
veio a água lhe fazer mal.
A água no fogo,
o fogo no pau,
o pau no cachorro,
o cachorro no gato,
o gato no rato,
o rato na aranha,
a aranha na mosca,
a mosca na velha
e a velha a fiar.
Estava a água no seu lugar,
veio o boi lhe fazer mal.
O boi na água,
a água no fogo,
o fogo no pau,
o pau no cachorro,
o cachorro no gato,
o gato no rato,
o rato na aranha,
a aranha na mosca,
a mosca na velha
e a velha a fiar.
Estava o boi no seu lugar,
veio o homem lhe fazer mal.
O homem no boi,
o boi na água,
a água no fogo,
o fogo no pau,
o pau no cachorro,
o cachorro no gato,
o gato no rato,
o rato na aranha,
a aranha na mosca,
a mosca na velha
e a velha a fiar.
Estava o homem no seu lugar,
veio a mulher lhe incomodar.
A mulher no homem,
o homem no boi,
o boi na água,
a água no fogo,
o fogo no pau,
o pau no cachorro,
o cachorro no gato,
o gato no rato,
o rato na aranha,
a aranha na mosca,
a mosca na velha
e a velha a fiar.
Estava a mulher no seu lugar,
veio a morte lhe levar.
A morte na mulher,
a mulher no homem,
o homem no boi,
o boi na água,
a água no fogo,
o fogo no pau,
o pau no cachorro,
o cachorro no gato,
o gato no rato,
o rato na aranha,
a aranha na mosca,
a mosca na velha
e a velha a fiar.
= = = = = = = = =
Quadra Popular de
AUTOR ANÔNIMO
Vi hoje uma árvore velha
toda coberta de flores
e me lembrei da minh’alma
carregadinha de dores.
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Poema de
VANICE ZIMERMAN
Curitiba/PR
MANDALAS DE FOLHAS
Em uma das mãos seguro
Uma folha do Plátano
Lembranças do Outono...
Na fragilidade da folha,
Ainda sinto o toque das tuas mãos,
E, de um tempo em que fazíamos
Mandalas de folhas...
E depois ficávamos juntinhos,
Observando a brisa
Acariciar as folhas,
E as cores do pôr do sol.
Não resisto e...
As lágrimas escapam.
= = = = = =
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