Soneto de
ANÍBAL BEÇA
Manaus/ AM, 1946 – 2009
ARS POÉTICA
Nesse afago do meu fado afogado
as águas já me sabem nadador.
A rês na travessia marejada
gado da grei de um mar revelador.
Vou e volto lambendo o sal do fardo
língua no labirinto, ardendo em cor
furtiva, enquanto messe temperada,
da tribo das palavras sou cantor.
Procuro em frio exílio tipográfico
o verbo mais sonoro em melodia
o ritmo para a cal de um pasto cáustico.
Sou boi e sou vaqueiro dia a dia
no laço entrelaçado fiz-me prático
catador de capins nas pradarias.
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Poema de
SILVIAH CARVALHO
Manaus/AM
ETERNO ARGUMENTO
Já foi o refugo em minha mente
Algo ultrapassado em demasia
Que em mim aflorava livremente
Sempre que de mim, eu me perdia
Elevava-o nos pensamentos meus
Que eram Conflitantes e envolventes
Eram tudo que tinha, quando nada era teu!
Nem meu corpo, minha vida ou minha mente.
Cá estou a falar do Amor que eu maldizia
Do fiel argumento do poeta infiel
Que tira um pedaço do inferno e faz um “céu”
Cá estou a falar do que nunca entendia
Não mais o refugo, agora o bom sabor dor
Infiel e eterno argumento do poeta fiel... O amor!
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Poema de
DOMINGOS FREIRE CARDOSO
Ilhavo/ Portugal
O LIVRO ONDE SEPULTE O MEU SOFRER
(Fernandes Valente Sobrinho in "Poemas Escolhidos" p. 93)
O livro onde sepulte a minha dor
Não o lavro com lágrimas de tinta
Pois com medo que invente ou que eu lhe minta
Não achará jamais qualquer leitor.
Seria, com certeza, um fraco autor
E a minha mão de inspiração faminta
Daria, em pouco tempo, por extinta
Essa obra sem ter um editor.
Guardo em pasta de capa dura e preta
Essas folhas que fecho na gaveta
Como os mais crus e tristes documentos.
Um dia, quando o livro estiver feito
Com a pena que usei rasgo o meu peito
E essas páginas rudes solto aos ventos.
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Soneto de
AFONSO FREDERICO SCHMIDT
Cubatão/ SP, 1890-1964, São Paulo/SP
CARAS SUJAS
Ao longo destas avenidas,
Recordação de velhas lendas,
Cantam as chácaras floridas
Com suas líricas vivendas.
Lá dentro, há risos, jogos, danças,
Crástinas, módulas fanfarras,
Um pandemônio de crianças,
Um zagarreio de cigarras.
Fora, penduram-se na grade
Os pobre, como gafanhotos;
Têm dos outros a mesma idade,
Mas estão pálidos e rotos.
Chora a injustiça da cidade
Na cara suja dos garotos.
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Poema de
FILEMON MARTINS
São Paulo/ SP
AMOR
Amor de minha vida, amor ventura,
vem comigo seguir a nossa estrada,
vamos viver a vida simples, pura,
antes que o sol desfaça a madrugada.
E vou te amar assim com tal doçura,
com tanto amor serás a minha amada,
que meus versos repletos de ternura
vão se espalhar em tua caminhada.
Terei em minha vida o teu carinho
e nunca mais me sentirei sozinho
e tu terás o amor mais verdadeiro.
Quando o tempo passar, calmo e sereno,
verás que fui e sou, mesmo pequeno,
teu homem, teu poeta e seresteiro.
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Poetrix de
THOMAZ RAMALHO
Luanda/Angola
MELANCOLIA
Os cotovelos no parapeito da sacada
e o pensamento apoiado
na linha do horizonte.
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Poema de
MÁRIO A. J. ZAMATARO
Curitiba/PR
IMPOSTO
Amigo imposto?
Isso é conversa!
- de pronto, digo.
Dá até desgosto,
qual vice-versa:
imposto amigo...
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Soneto de
BENEDITA AZEVEDO
Magé/ RJ
A VERDADE
Ó querida, quem sabe neste dia
Encontrarei u’ amor que me fascine!
E talvez uma estrela que ilumine
Esta vida cruel que me iludia.
Só tu podes me dar tanta euforia,
Sem impedir, também, que raciocine,
E com meu sentimento me destine
A dor de ser um velho, mas queria...
Coragem pra buscar esta verdade
E talvez, a esperança sem vaidade
De poder te encontrar sem levar foras.
Esperando que agora possas rir
Sem ilusão, embora possas vir
Com essa liberdade, por quem choras.
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Cantiga Infantil de Roda
SERENO DA MEIA-NOITE
É uma uma roda de crianças, com uma no centro. Cantam as da roda:
Sereno da meia-noite }
Sereno da madrugada } bis
Eu caio, eu caio }
Eu caio. sereno, eu caio } bis
Responde a menina do centro:
Das filhas de minha mãe }
Sou eu a mais estimada } bis
Eu não m'importo, }
Que da amiguinha, }
Eu seja a mais desprezada } bis
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Quadra Popular de
AUTOR ANÔNIMO
Coração de sapo morto,
banana não tem caroço.
Garrafão tem fundo largo,
botija não tem pescoço.
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Poema de
VANICE ZIMERMAN
Curitiba/PR
PANDORA
Do escuro da caixa
Voam lágrimas...
Diáfana solidão,
Silencia-se
A Esperança.
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