quarta-feira, 12 de fevereiro de 2025

Vereda da Poesia = 215

Soneto de
ANÍBAL BEÇA
Manaus/ AM, 1946 – 2009

PARA QUE SERVE A POESIA?

De servir-se utensílio dia a dia
utilidade prática aplicada,
o nada sobre o nada anula o nada
por desvendar mistério na magia.

O sonho em fantasia iluminada
aqui se oferta em módica quantia
por camelôs de palavras aladas
marreteiros de mansa mercancia.

De pagamento, apenas um sorriso
de nuvens, uma fatia de grama
de orvalho e o fugaz fulgor de astro arisco.

Serena sentença em sina servida,
seu valor se aquilata e se esparrama
na livre chama acesa de quem ama.
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Poema de
CÉLIA EVARISTO
Lisboa/ Portugal

“MEU”

Não estás,
mas tenho-te em mim.

Não te vejo,
mas fecho os olhos e estás aqui.

Não te toco,
mas ainda sinto o toque da tua pele.

No meu inconsciente
e na minha consciência também,
nunca te deixei ir.

Chamo-te de ”meu”,
em surdina,
nos meus sonhos mais íntimos
em que mais ninguém
me consegue ouvir.

És meu,
naquele instante,
sem pressas ou outras desculpas
que me impeçam de te ter
perto ou distante.

E mesmo que não queiras aqui estar,
não te deixo ir,
este é o teu lar.

Porque no meu coração és meu,
mesmo que não seja dona de nada,
nem de ninguém.
= = = = = = = = =  

Poema de
DOMINGOS FREIRE CARDOSO
Ilhavo/ Portugal

NOS TRISTES OLHOS MAL SUSTENHO O PRANTO
(João Xavier de Matos, in "Cem Sonetos Portugueses", p. 50)

Nos tristes olhos mal sustenho o pranto
Por ver como é tão pobre e diminuta
A alma que no peito trago enxuta
De trovas que lhe tragam novo canto.

Não tem razão de ser um tal espanto
Que ser pequeno é fado que me enluta
E, aos poucos, vai matando, qual cicuta
Que tomo pela mão do desencanto.

Ser pouco talvez tenha uma virtude
Se a alma o reconhece e não se ilude
Com sonhos de grandeza bem fadada.

No concerto do mundo todos cabem:
Mais vale o que de nós outros não sabem
Do que nós deles não sabermos nada.
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Poema de
ANTERO JERÓNIMO
Lisboa/Portugal

Meus olhos atordoados de espanto
são como janelas embriagadas de luz

Buscando um poema que fale do silêncio
enquanto percorro os caminhos da jornada

Há uma mensagem de paz implícita
no gorjeio das aves em estuário,
como se nidificassem a paz na raiz da palavra

Acalma-me o todo onde a beleza se espelha
a visão a ocidente pintada de alvos fiapos
forrando o teto deste azul que me aconchega.
= = = = = = 

Soneto de
FILEMON MARTINS
São Paulo/ SP

CONTRASTE

Tu és feliz, a vida é um paraíso,
onde há paz, ventura em profusão,
e a graça singular do teu sorriso,
– símbolo da Beleza e Perfeição!

Mas eu sou infeliz, pois já diviso
na luz do teu olhar, ingratidão,
e sem querer eu sinto que preciso
esquecer-te e viver na solidão.

Julgara que tu fosses, ó querida,
meu segredo, meu sonho, minha vida,
minha eviterna e santa inspiração…

Mas tu és assassina do meu sonho,
vives feliz e eu vivo tão tristonho,
sentindo que esta vida é uma ilusão!
= = = = = = = = =  

Poetrix de
JANAÍNA NEVES DIAS CESCATO
São Paulo/SP

CIÚME

Se nem sou mais seu lume
pra que prender num vidro
meu voo vagalume?
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Poema de
CRIS ANVAGO
Setúbal/ Portugal

Eu pensava que viver era correr
Correr para um objetivo
Mesmo não sabendo bem qual.
Depois vi que quando corremos,
Não vemos nada à nossa volta,
Nem ao nosso lado
Fica tudo veloz, desfocado…
Agora penso que viver é caminhar
E bem devagar…
Olhar os pequenos pormenores da caminhada
Sentir o cheiro das plantas
Ouvir os pássaros
Saborear os momentos…
Ver como correm ainda algumas pessoas…
Como eu já corri sem saber bem para onde…
= = = = = = 

Hino de 
UMUARAMA/ PR

I
Quando em festa o futuro chegou
Com seu canto de luz sobre a mata
Toda agreste em beleza acordou
Qual semente que em flor se desata.

Um fremir de esperança ideal
Perpassou entre as nuvens e a rama
E se ergueu para a história, afinal,
Poderosa, a sorrir, Umuarama.

Estribilho
Umuarama, para frente, com trabalho e alegria.
Há nas mãos de tua gente fé, vontade e energias.
Essa força admirável que arrancou-te do sertão
Te impulsiona, insuperável, para a glória da Nação.

II
Umuarama, teu nome altaneiro,
É amizade num clima gentil
E transforma teu solo em celeiro,
Distribuindo fartura ao Brasil.

O esplendor de que o sol te reveste,
Um clarim sobre o mundo serás.
És bandeira triunfal que no Oeste
Abre a porta do teu Paraná.
= = = = = = = = =  

Soneto de
BENEDITA AZEVEDO
Magé/ RJ

CARÍCIA

Carícia recebida com amor,
é redenção do espiritual ser,
buscando esta essência superior,
para nessa plenitude viver.

Os anseios sonhados não vividos,
recuperando a esperança, o ardil,
de muitos anos de um amor contido,
no verdor desse peito juvenil.

Pelos cuidados de uma mãe zelosa
que carícias quase não recebia
e pra os filhos seus traumas transmitia.

Aquela experiência dolorosa,
daquele amor que não lhe garantia,
toda carícia que ela merecia.
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Lengalenga de Portugal
LAGARTO PINTADO

 Lagarto pintado, 
quem te pintou?
Foi uma menina 
que por aqui passou
 
Lagarto verde, 
que te esverdeou?
Foi uma galinha 
que aqui passou
 
Lagarto azul, 
que te azulou?
Foi a onda do mar 
que me molhou
 
Lagarto amarelo, 
que te amarelou?
Foi o sol poente 
que em mim pisou
 
Lagarto encarnado, 
que te encarniçou?
Foi uma papoila 
que para mim olhou
= = = = = = = = =  

Poema de
VANICE ZIMERMAN
Curitiba/PR

ASAS DE MADEIRA

Esculpido em mogno
O dragão, aos poucos desperta
E, suavemente, move suas asas
À  espera do vento…
= = = = = = 

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