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quinta-feira, 14 de agosto de 2025

Nei Garcez (A Música no tempo)


Deus criando a terra – Alteza -
fê-la, em música, ao cantá-la
entre os sons da natureza,
para os homens imitá-la!

Desde Arezzo à Renascença,
desde a Grécia até Jesus,
sempre a música é presença
dos espíritos de luz.

E por não ter contratempo
entre as línguas das nações,
eis que a música no tempo
une todas gerações.

Com as letras da magia,
que nos dá, o compositor,
a música é a poesia
vestida em traje a rigor!

Musicando, entre outros nomes,
feliz o país que tem 
Villa-Lobos, Carlos Gomes,
compondo, ao mundo também!
* * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * 
Nei Garcez, poeta e trovador, nasceu em 1944, em Curitiba/PR. Formado em Direito, trabalhou como consultor em assuntos relacionados à legislação farmacêutica; depois, por concurso público, foi perito oficial da Secretaria de Segurança Pública do Paraná. Para um projeto para alunos do Ensino Fundamental, produziu trovas pedagógicas: "A Trova em Sala de Aula". Autor do Hino da Polícia Científica do Paraná, foi premiado em vários concursos de trovas no Brasil.
Fontes:
Enviado pelo autor.
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing  

sábado, 5 de julho de 2025

Sammis Reachers (Nau de Versos) – 2


202x

há rachaduras no fortim do azul 
cicatrizes nascidas antes do talho

já não há asas no pégaso 
nem canto na sereia

a própria morte 
nega seu beneplácito
= = = = = = = = =  

Adverbários

As maiores aventuras da Água 
são contadas pelo Fogo 
em noites de bebedeira
= = = = = = = = =  

Paz para praticar meu perenal ofício

Visto este andrajo de leão lá fora
Simulo humores em que ajo e interajo
E suores realizo, rito no qual contas quito.

Chegar em casa é meu fulcral laurel.
Revolucionário, mestre, pregador, menestrel?
Sou o que disso vai no interstício.

Sarau, academia, sodalício? Solitude almejo.
Cego, só por livros vejo: sou tatu cavoucando
Paz para praticar meu perenal ofício.
= = = = = = = = =  

mandibular

Há quem, no entretecido 
Das trevas,
Logre ver a luz.

Há ainda quem, 
Sequioso, 
A toque.

Há mesmo quem, 
Ferido de Deus, 
A reflita.

E há quem a mastigue: 
Este, símile dum cão, 
É poeta.
= = = = = = = = =  

poema é poeta após aventurado

o que o poeta é em potência
o poema é em ato
poeta a reticência
poema o espalhafato
= = = = = = = = =  

Aldra via

palavras
me 
aconteceram:
estradas 
de 
mim.
= = = = = = = = =  

Nos corres de Calebe, o rapaz do café

No corre de pagar boletos 
Quem ‘guenta’ performar?

Atarefado em varrer o chão 
Ninguém salta do sexto andar

Não faz guilda com morcegos 
Quem tem hora pra acordar

Nem anda só & cheio do cão 
Quem tem Deus em seu lugar
= = = = = = = = =  

Dia do Senhor, dia de milagres

O sol que nasce 
A dália que se abre
Eu não ter sido fulminado à porta
* * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * 
Sammis Reachers Cristence Silva nasceu em 1978, em Niterói/RJ, mas desde sempre morador de São Gonçalo/RJ, ambos municípios fluminenses. Sammis é poeta, escritor, antologista e editor. Membro da Confraria Brasileira de Letras. Licenciado em Geografia atua em redes públicas de ensino de municípios fluminenses. É autor de dez livros de poesia, três de contos/crônicas e um romance, e organizador de mais de cinquenta antologias.  Aos 16 anos inicia seus escritos e logo edita fanzines, participando do assim chamado circuito alternativo da poesia brasileira, com presença em jornais e informativos culturais. Possui contos e poemas premiados em concursos do Brasil, bem como textos publicados em antologias e renomadas revistas de literatura.

Fontes:
Sammis Reachers. Primeiressências. São Gonçalo/RJ: Edição do autor, 2025.. Enviado pelo poeta.
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing

segunda-feira, 30 de junho de 2025

Leandro Silva (A vida me quebrou)


NÃO FOI de uma vez — foi aos poucos.

Fui me rachando em silêncios não ouvidos, em promessas quebradas, em noites longas sem respostas.

As rachaduras começaram como pequenas linhas no reboco da alma.

Quase invisíveis.

Mas profundas demais para serem ignoradas.
 
E eu? Eu era como um muro.
Feito para proteger.
Feito para sustentar.
Feito para ser firme.
 
Mas que começou a ceder com o tempo… com o peso… com a chuva.
 
No começo, eu temi as rachaduras.
Achei que eram sinal de fraqueza.
Achei que significavam o fim da minha força.
 
Mas o que eu não sabia…
É que através delas, a luz começou a entrar.
 
Aquelas fissuras viraram janelas para a esperança.
O sol passou a bater onde antes era sombra.
Pássaros fizeram ninho nas fendas que o tempo abriu.
Aqueles pequenos — os que ninguém vê — encontraram abrigo em mim.
E, quando percebi, flores começavam a nascer ali.
 
Não flores raras, nem premiadas.
Mas flores reais, como a erva-de-passarinho ou a samambaia-de-muro,
que se agarram às fendas, se enraízam nos espaços tortos
e ajudam o muro a respirar, a sustentar-se de novo,
a reencontrar equilíbrio com a própria imperfeição.
 
“O Senhor está perto dos que têm o coração quebrantado
e salva os de espírito abatido.”
(Salmo 34:18)
 
A vida me quebrou…
Mas não me derrubou.
Porque Deus me fez assim:
com estrutura de barro,
mas fundamento de graça.
 
Foi ali — no concreto rachado da alma — que descobri um Deus que não me reconstruiu de imediato,
mas me deixou florescer primeiro.
Me ensinou que algumas flores nascem justamente onde ninguém esperava beleza.
 
E se hoje alguém olhar para mim e disser:
“Você está cheio de marcas.”
Eu respondo:
Sim. Mas estou de pé.
E minhas rachaduras contam história.
Histórias de luta, de acolhimento, de transformação.
Histórias de um muro que não caiu.
Histórias de quem aprendeu que há vida —
até mesmo onde a estrutura parecia ruir.
 
Hoje entendo:
Deus não usou cimento pra me tampar.
Ele usou flores, ninhos e luz.
Porque Ele sabia que a reconstrução mais sólida
é aquela feita de dentro pra fora.
 
Se você se sente rachado, inseguro, instável…
Não desanime.
Flores podem nascer aí também.
Deus ainda usa muros marcados para proteger.
E rachaduras… para semear graça.
 
A vida me quebrou…
Mas eu floresci nas rachaduras.
E hoje, sou abrigo.
Sou muralha viva.
Sou testemunho.
* * * * * * * * * * * * * 
Leandro Silva é de Vila Velha/ES

Fontes:
Enviado por Aparecido Raimundo de Souza
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing  

sábado, 21 de junho de 2025

Sammis Reachers (Nau de Versos) – 1


NA MORTE EM QUE FUI MANOEL BANDEIRA

Brincando de cabra-cega 

Nas ruas de Tróia
Expus meu coração à intempérie:

Sakura solar, nênia de plástico, 
Lótus anárquica
Encontrei-a e a perdi 
Num (p)único mês

Que outro (re)curso contra aquele lábio, 
Aquele olhar eluardiano?

Meu pétreo ódio pela poesia
Essa maldição dos tísicos
Ei-lo no pódio-coração litografado: 
Tatuagem interna, 
Tebas de Anfíon, Chuva de flechas, 
Heitor despedaçado.
= = = = = = = = =  = = = = = = = = =  = = = = 

RIO BONITO

A vida, inclemente, flui compromissada 
E calma, o poeta e o demônio em seu bojo.

Num repente, numa das curvas do pequeno centro 
Um casarão antigo, um quintal fundeado:

Era a Melancolia me roubando um beijo.
= = = = = = = = =  = = = = = = = = =  = = = = 

A ORDEM

Seja forte, não importa quantas vezes o caos

Sustenha a alegria, não importa
Vezes quantas o caos

Compartilhe e ampare com a sua coragem, 
Não importa quantas vezes o caos
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CAQUI

Pomo de outono
Dulçor em revolução
Fruto proibido do mandarim 
Pelo mundo em lusas naus 
Disseminado

Coisa de explodir contra o dentro das bocas 
Ente todo-fruta, carcaça de mel
Beijo tenro, rublo rio
Cio, cicio, vício paradisíaco
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REINAÇÕES

Era outubro, mês revel, mas um outubro setembrino, 
com seu ar veloz, feliz

Obriguei-me, numa quina de rua
ao simulacro ou pretensão de liberdade de um poema

Um poema!, veja você
obriguei-me a um poema
ao invés de deitar-me no chão ou seguir minha vida
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NÃO É UM POEMA SOBRE GÊNEROS

o Ódio é um país
limitado a Norte, Sul,
Leste e Oeste 
pelo Ódio.

o Amor é cisfronteira:
um pé na porta, uma flor na lapela 
um disparate uma parteira
nascido
um minuto antes de nascer o Universo
= = = = = = = = =  = = = = = = = = =  = = = = 

OS LÍRIOS DE KIERKEGAARD

Tu, ex-refém da urgência competitiva
cujas células agora se esparramam sem controle 
deserda os leitos e jardins cuidados e restritos 
vai às flores do campo,
abandonadas na rusticidade,
virgens de mãos de jardineiro

Funda teu acampamento e observa-as,
a sol e chuva, a suportarem o tempo em cumplicidade 
vá, citadino, até que a luz
tenha parto e teus olhos tenham cura,
e possas entender – a tempo, isso
que a todo tempo finda –
que elas têm um Jardineiro
feito de sempres e de serenidades

Entrega, enfim, teus dias em Suas mãos, 
e furta irmandade às flores
                                              e à eternidade
= = = = = = = = =  = = = = = = = = =  = = = = 

DISCIPULADO

Incapazes de desvendá-lo, 
o tomamos como fruição:
e é sempre o mar que nos desvenda.
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KAFKA

Naquele dia, não foi o seu castelo que desabou. 
Eram aqueles tijolos, as peças do quebra-cabeça 
Finalmente se encaixando.
Você nunca foi (aquelas) paredes.
= = = = = = = = =  = = = = = = = = =  = = = = 

ZERO A ZERO

Ei, e aí?
Você já fez a soma 
daqueles que 
nunca somaram?
Não sabe a fórmula? 
Decomponha
              perdoe2 
                              subtraia.
* * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * 
Sammis Reachers Cristence Silva nasceu em 1978, em Niterói/RJ, mas desde sempre morador de São Gonçalo/RJ, ambos municípios fluminenses. Sammis é poeta, escritor, antologista e editor. Membro da Confraria Brasileira de Letras. Licenciado em Geografia atua em redes públicas de ensino de municípios fluminenses. É autor de dez livros de poesia, três de contos/crônicas e um romance, e organizador de mais de cinquenta antologias.  Aos 16 anos inicia seus escritos e logo edita fanzines, participando do assim chamado circuito alternativo da poesia brasileira, com presença em jornais e informativos culturais. Possui contos e poemas premiados em concursos do Brasil, bem como textos publicados em antologias e renomadas revistas de literatura.

Fontes:
Sammis Reachers. Primeiressências. São Gonçalo/RJ: Edição do autor, 2025.. Enviado pelo poeta.
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing  

domingo, 15 de junho de 2025

Benedita Azevedo (Ondas de Haicais) 1


1
À beira do rio
Embelezando o remanso -
Aguapés floridos.
2
Descem pelo caule
carambolas bem maduras -
Festa de sanhaços.
3
Férias de verão -
Barraca armada na praia,
hora do cochilo.
4
Em meio à conversa,
a poeta tenta ouvir
Canto da cigarra.
5
Dia de faxina -
Deixem! Deixem o casulo
pendurado na estante.
6
Manada sedenta
só encontra lama no açude.
Longa estiagem.
7
Na lama do rio
menino cata minhoca -
Pescaria à noite.
8
Pé de cambuci -
Reflexos dourados do sol
na fruta madura.
9
Na roça de arroz,
bando de pássaros-pretos -
Lavrador vigia.
10
Amendoim… um real.
Nos corredores dos ônibus
gritam vendedores.
11
Vestida pra festa -
Uma pequena cantárida
no braço da moça.
12
Amendoim na praia -
O ambulante deixa amostra
na barriga da moça.
13
Beirando a calçada
as romãs pendem do galho -
Sementes à mostra;
14
Pendente de um galho
o passante puxa a rama 
da bucha madura.
15
Poluição na festa -
A fumaça dos cigarros
paira sobre as mesas.
16
No meio da roça 
o leito do rio minguante -
Peixes encalhados.
17
Reunião de amigos
durante a festa no clube -
Aquecedor central.
18
Invasão no sítio -
Nas adocicadas nêsperas
o interesse de todos.
19
Sob a chuva fria
no estreito vão entre barracas
a moça caminha.
20
Vacina da gripe -
Tantas cabecinhas brancas
na fila do posto!
21
Gritos no portão -
Crianças correm atrás
da pipa que cai.
22
Cintilando ao sol
as bolhas de sabão
caem na varanda.
* * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * 
Benedita Silva Azevedo, nasceu em Magé/RJ. Radicada no Rio de Janeiro, desde 1987, mudou-se para a praia do Anil, Magé/RJ em 1990. Educadora, poeta, escritora e animadora cultural. Formada em Letras, especialista em educação e pós-graduada em Linguística. Membro efetivo da Academia Mageense de Letras, da Academia Pan-Americana de Letras e Artes, do Instituto Brasileiro de Culturas Internacionais, da Antologia Virtual de Letras Luso-Brasileira, do Grêmio  Haicai Sabiá e do Grêmio Haicai “Águas de Março’. Patronesse da Academia Virtual Sala de Poetas e Escritores. É haicaista premiada em vários concurso nacionais. Publicou vários  livro individuais. Organizou algumas antologias. Tem participação em revistas, jornais e sites. Participou de mais de 20 antologias.

Fontes:
Benedita Azevedo. Rumor das Ondas: haicais. Curitiba: Auraucária Cultural, 2010. Livro enviado pela autora.
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing  

domingo, 4 de maio de 2025

João Batista Xavier Oliveira (1947 – 2025) Haicais, Trovas e Poemas

 

João Batista Xavier Oliveira nasceu em Presidente Alves/SP em 16 de junho de 1947, e faleceu em Bauru/SP, em 27 de abril de 2025. Aos onze meses sofreu poliomielite (numa época que não tinha vacina), porém, com muito empenho dos seus pais, teve uma vida normal, sem traumas. Em 1958 concluiu os estudos primários e, em 1965, concluiu a quarta série ginasial. Em 1968 formou-se técnico em contabilidade. Eleito vereador em 1968, porém, por motivo de mudança, assumiu o seu suplente. A partir de janeiro de 1970, assumiu profissionalmente no Banco Bradesco, Cidade de Deus. Na juventude em Presidente Alves, trabalhou de 1964 a 1967 na Exatoria Federal; de 1968 a 1969 na Coletoria Estadual; no escritório de contabilidade. Casou-se em 1977. Na vida profissional teve sete promoções, chegando a gerente executivo, cargo no qual aposentou-se em 1991 por motivo de saúde. Quanto à poesia, esta despertou a ele a partir de 1961, porém, ficou um longo período sem compor, pois a dedicação ao trabalho profissional ocupava muito tempo. A partir de 1998 dedicava-se à poesia, ganhando inúmeros prêmios de trovas em vários estados, inclusive em Portugal.

HAICAIS

1
Abelhas procuram
nas moradas dos jardins
doçura dos favos.
2
Aponta no céu
pontos de constelação.
Ponte para Deus.
3
A prisão vazia
anuncia que a alegria
bateu suas asas.
4
Arrastão de flores
invade o bosque inocente.
Tela colorida.
5
Arrebol agreste
abrindo ou fechando o dia.
Sino dos portais.
6
Arrebol ecoa
na despedida da noite
o canto de pássaros.
7
A voz da manhã
no acalanto das roseiras:
adejar dos pássaros.
8
Brisa em acalanto
ao passar a tempestade.
Novas esperanças.
9
Buris naturais
patenteiam ao jardim
joias lapidadas.
10
Canário da terra
olha o canário do reino
que olha a liberdade.
11
Casulo se rompe
no festival colorido.
Linda borboleta.
12
Chuva tecelã.
Tapetes esverdeados
aplaudem com flores.
13
Dança vespertina
no palco da natureza.
Bando de andorinhas.
14
Dupla cancioneira
caramanchão e varanda.
Sombra alvissareira.
15
Espumas rendadas
enfeitando toda praia.
Canções a bailar.
16
Estrelas festejam
arpejos do trovador.
Notas luminosas.
17
É um prazer olhar
o mar acolhendo o rio
em ciclo divino.
18
Floresta segura.
Machados distanciados...
curupira dorme.
19
Lar do joão de barro
destruído na queimada.
Colheita de prantos.
20
Lírios a bailar
nos vergéis de chão agreste.
Brisa matutina.
21
Luar sem fronteiras
representa na aquarela
farol das estrelas.
22
Na moldura azul
figuras esvoaçantes
inspiram pincéis.
23
No canto de outono
em hino de primavera...
calor para o inverno
24
Olhares de estrelas
desenhados no infinito
buscam mãos unidas.
25
O som campesino
na madrugada solene
é o canto do galo.
26
Os verdes dos montes
parecem dedos pintados
apontando o azul.
 27
O vento remove
nuvens cinzas nordestinas.
Rezas atendidas.
28
Pirilampo luz
na esteira da lua cheia.
Esmeralda-prata.
29
Veredas maternas.
O casal de sombra e sol
alimenta as fontes.
30
Violeiro alegre
tangendo com grossas mãos
suaviza a noite.

TROVAS

1
A essência da liberdade
todo ser pode senti-la:
o fluido do amor invade
a consciência tranquila.
2
A fé tem luz invisível
que brilha no coração
iluminando o possível
no caminho da oração.
3
Amor, dádiva Divina,
semente humilde e perfeita;
a luz que nos ilumina
pela caminhada estreita!
4
A vida é maravilhosa;
divina luz que nos traz
com a beleza da rosa
meros eflúvios de paz!
5
Bandeiras em mãos amigas
seguindo ao mesmo portal
revelam o fim de intrigas
consagrando paz mundial !
6
Como sou tão distraído!
Após você ir embora
notei quem tinha fugido:
eu de mim... somente agora!
7
Coração desiludido
não culpe ninguém por isso;
se agora vive esquecido
é porque já foi omisso!
8
Cultivar rosas consiste
em saber do espinho oculto.
A ilusão dorida existe
na vida envolta num vulto.
9
Dinheiro não cai do céu
e de pedra não sai leite.
Quem espera sempre ao léu
não passa de um mero enfeite!
10
Diógenes, hoje em dia,
alerta à corrupção,
a lanterna acenderia:
- os honestos, onde estão?
11
Do além cantos eu ouvi
em tons de grande emoção
ao receberem CAUBY
nos braços de "Conceição
(Homenagem a Cauby Peixoto)
12
Façam o povo feliz:
a mente aberta é capaz
de saber o que se diz
por saber o que se faz!
13
Foi excesso de cautela
a causa do meu tormento:
guardei o retrato dela
dentro do meu pensamento!
14
Nas noites esperançosas
meu sonho... apenas um vulto...
é um jardineiro entre as rosas
nos seus espinhos oculto!
15
Oxalá flores nascentes
em vergéis adormecidos
despertem as novas mentes
aos caminhos coloridos.
16
Para segui-la de fato
livrando-me dos abrolhos
vou tirá-la do retrato
e guardá-la nos meus olhos!
17
Pés na calçada da fama,
mãos abanando fortuna...
porém sua alma reclama
na solidão que importuna!
18
Por que o poeta é sensível
de tal forma a sofrer tanto?
- Seus olhos, em qualquer nível,
represam dor... flui o pranto!
19
Pranto, rio que desliza
em pedras, curvas, escolhos
às carícias de uma brisa
que externa o brilho dos olhos!
20
Quanto mais a idade avança
mais minha alma se aprimora;
meu coração de criança
brinca de saudade agora!
21
Se palavras são em vão
ao amigo, no fracasso,
externo toda emoção
no silêncio de um abraço!
22
Teatral, muito fagueira,
a trova não é pequena:
representa a peça inteira
em uma única cena!
23
Um dos milagres celestes
que a nossa vida germina
é a nossa mãe com as vestes
da providência divina!
24
Volto a crer no amor... senti-lo;
bastou o exemplo que ouvi
partindo de um simples grilo
o estridular: - CRI! CRI! CRI!

POEMAS

A morte do poeta

Fenece o poeta na paz da poesia.
Os ares dos cantos, calados, sentidos,
acenam tristezas nos vagos ouvidos;
o sol perde o brilho no pranto do dia.

Um misto de dores e versos não lidos
acena sem cena à linha vazia-
num gesto de pautas à vã melodia-
um canto no canto dos temas queridos.

Às rimas no templo sagrado, converso
silêncio das flores de triste universo.
Poeta parece que ouve o lamento...

no alto da estrofe gravada na mente
cantiga do tempo que faz permanente
a bênção divina no lar, firmamento.
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Primeiro de maio

Olhando o calendário fico pasmo:
Que maravilha de nação feliz!
...E ao ver as folgas com entusiasmo
lembro das malas: nossa! Nem desfiz!

E num enlevo a remedar orgasmo
vou planejando: e agora, meu país?
Em qual lugar eu vou curtir marasmo
longe da lida que nada condiz?

Conto nos dedos os dias faltantes.
Se é feriado na terça ou na quinta
falto na sexta ou segunda e bem antes

Que outro espertinho na frente desminta
fico doente de espirro por nada.
Vejo-me a postos: mais uma jornada!!
= = = = = = = = =  = = = = = = = = =  = = = = 

Deixe-me viver
(Poema contra o aborto)

Mamãe, eu quero viver;
pedi para retornar
e procurar evolver
no seio de um simples lar.

Não se culpe constrangida
por um ato intempestivo;
o mais importante é a vida;
eu, no seu útero vivo!

Sinta com delicadeza
no seu ventre o movimento
e agradeça à natureza
esculpir o seu rebento.

É uma dádiva divina
ter minha vida em você.
Não descarte na latrina
um ser que sente... que vê...

Imagine o meu futuro
a seu lado, vencedor,
com seu caminhar seguro
cumprindo a sina do amor!

Pense em seu corpo cansado
precisando de um abraço;
eu caminhando a seu lado
a proteger o seu passo.

Mamãe, alimente a aurora
em mim tão frágil, indefeso,
para quando for embora
não carregar nenhum peso!
= = = = = = = = =  = = = = = = = = =  = = = = 

Monólogo do bastidor

Sou a ferida exposta acobertada
por mentes que dominam consciências;
cinismo onde plateia entusiasmada
entorpecida perde referências.

Caráter e vaidade sem decência
abarcam teoria distanciada
na prática sem ética... ciência...
sem brio que ao vazio leva ao nada.

O aqui e agora são mais importante; 
lá fora o vento sopra bem distante.
Eu sou o cerne que requer destreza,

porém pressinto tempos exigentes,
sentimentos puros, transparentes ,
num palco pelas artes da certeza!
= = = = = = = = =  = = = = = = = = =  = = = = 

O caminho da rosa

Se cada um fizer a sua parte
não sobra parte para repartir;
não sobra aparte que preocupe a arte...
mundo destarte só resta sorrir.

Se cada um plantar uma roseira
a vila inteira será um jardim;
não sobra beira à espinhosa asneira...
dessa maneira é sorriso sem fim.

Se cada um olhar-se na verdade
fraternidade romperá vereda;
o pensamento terá mais espaço

e minha parte será rosa e há de
ser a verdade daquele que ceda
do seu caminho todo seu abraço!
= = = = = = = = =  = = = = = = = = =  = = = = 

Fontes:
Versos enviados pelo poeta
Montagem da Imagem por JFeldman

terça-feira, 4 de março de 2025

Paulo R. O. Caruso (Cordel de aprendizado)


Quando eu era criancinha,
aprendi uma lição:
eu poderia plantar 
um pezinho de feijão 
num copinho de café,
mostrando ali minha fé
no Senhor, com gratidão. 

O grãozinho de feijão 
com água e algodãozinho
com o tempo despertou
do delicado soninho,
abriu braço, espreguiçando-se
e foi logo então mostrando-se
verdejante bebezinho.

Os meus olhos de criança 
mal podiam ver então 
um broto pequenininho
num tiquinho de algodão,
uma base ao crescimento
e com água e sentimento
ter uma suave explosão!

Depois do braço miúdo
que cresceu e se mostrou 
ser o caule de uma planta 
uma folhinha brotou 
como espinafre, verdinha,
alegrando a criancinha,
dando um baita sorrisão!

Claro, por falta de espaço,
e por ser experiência
com algodão e não terra,
o pé demonstrou carência
e de fato não vingou,
o que então me demonstrou
biologia em excelência.

Mais tarde tive um canário
que nem chegou a durar 
um mês na “sua” gaiola,
vindo o tal a então tombar 
com um mês de aprisionado
sob um facho acalorado
do sol do seu libertar...

Logo depois um coleiro 
eu ganhei de um primo meu
e fiquei muito feliz,
pois nova vida se deu 
lá em casa, na gaiola:
um coleirinho de gola
filhotinho se prendeu...

Eu ainda era criança
e de fato não sabia 
que tristeza era manter
uma ave qualquer dia 
na gaiola, aprisionada;
mantive então a empreitada
e segui com alegria.

O bichinho tinha um canto
alto e forte toda vida!
Parecia um tenorzinho 
com a voz fortalecida 
pelo alpiste e pela água,
não mostrando muita mágoa
por ter a vida apreendida...

Claro, o bicho nem lembrava 
a vida fora das grades!
Quando vira aprisionadas
todas as suas verdades, 
ele era um filhotinho 
frágil e muito novinho,
sem conhecer liberdades...

Porém, ele foi crescendo
sem carinho pela mão 
que sempre o alimentava,
tentando com atenção 
bicá-la sem demonstrar 
qualquer remorso ao tocar,
não aceitando perdão.

Quando eu tirava a banheira
para pôr água limpinha,
ele voava pra longe,
ao teto da gaiolinha,
tentando fugir de mim,
do monstro de carmesim 
que ia contra a sua vidinha...

Quando eu tirava seu forro
de jornal para trocar
por um limpo e higienizado,
ele seguia a voar 
para o teto da gaiola
nada feliz, nem gabola,
até tudo se findar. 

O jiló eu descascava,
e não satisfeito ainda,
deixava à mostra sementes
para a criatura linda
logo bicar e encontrar 
muitas sem nem precisar 
se sentir numa berlinda!

Eu ficava imaginando 
como ele se sentia
ao saber que passarinhos
voavam à luz do dia 
para todo e qualquer canto
e tinham no bico o canto
de estar livre em alegria!

Justo quando eu fui crescendo
percebi que o passarinho
não teria namorada, 
nem ao menos o seu ninho 
com filhotes para amar,
o que me fez enxergar
não ser bom o seu caminho.

Mas como é que eu poderia
libertá-lo da prisão,
se ele já praticamente 
lá nascera sem senão?
O coitado morreria 
no escuro ou à luz do dia
sem defesa e sem perdão!
 
Era um animal herbívoro
que se tornaria caça
de algum gato ou de coruja,
de algum rato ou de trapaça
que o levaria de novo 
a outra gaiola, meu povo!
Tudo na cabeça passa!

Os anos foram passando
somente comendo alpiste
e jiló na tal gaiola,
o que me deixava triste 
por ele jamais poder 
deixar a prisão e ver
o que de mais belo existe!

No final da sua vida,
nos poleiros não subia,
ficando só lá no fundo 
da gaiola e já não via 
nada à volta, só “sentava”
quieto e velho e esperava 
o fim da sua agonia. 

Três dias longos assim
se passaram ao coitado,
que num sábado morreu
e por mim foi enterrado
na calçada de uma escola
de minha infância gabola.
Foi o fim deste pecado.

Eu vi o pranto incontido
de minha mãe e minha irmã,
mas eu só senti alívio
naquela dita manhã,
pois não mais iria ver 
aquele imenso sofrer
que não era o meu afã. 

Nós pusemos logo fora 
aquela podre prisão 
para nunca mais mantermos 
qualquer ave sem razão
encarcerada a sofrer 
e sua beleza perder 
por tristeza e depressão. 

O que ganhamos em troca
Minha irmã, minha mãe e eu
Foi algo nunca pensado
Que do nada aconteceu
E pode sempre ocorrer 
Quando quiser vir nos ver!
Eu te conto o que se deu.

O que ganhamos então
eu te digo já risonho:
uma coruja aparece 
lá em casa (não em sonho!) 
sempre que lhe dá na telha,
mostrando que a casa velha
não é um lugar medonho!

E a cada vez que observo 
uma gaiola a ostentar 
uma criatura indefesa, 
um passarinho a cantar
fico triste de repente 
por saber que a dita gente 
ainda ama aprisionar.  
 
Um recado que aqui deixo 
é que não prendas ninguém
numa gaiola apertada,
mas sim faças sempre o bem
de tão somente aplaudir 
do que é belo o ir e vir 
livre, não sendo refém! 

Outro recado bem simples 
é que procures plantar 
uma árvore na vida,
porque Deus vai se orgulhar,
como um ipê que eu plantei
quando um dia me lembrei 
do feijão a não vingar.

Fontes:
Enviado pelo autor.
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing