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quinta-feira, 31 de outubro de 2024
Carolina Ramos (Trovando) “28”
José Feldman (Pafúncio na Exposição de Quadros)
Era uma noite elegante e sofisticada no renomado Museu de Arte Moderna, onde uma exposição de quadros de artistas contemporâneos estava prestes a ser inaugurada. Pafúncio, o jornalista da revista “Fuxicos & Fofocas”, foi enviado para cobrir o evento e, claro, trazer algumas fofocas quentinhas sobre a alta sociedade local.
Vestido com um terno que parecia ter sido emprestado de um filme dos anos 80 e uma gravata estampada com desenhos de patos, Pafúncio entrou no museu com um sorriso radiante, mal sabendo que a noite se tornaria um verdadeiro desfile de trapalhadas.
Assim que chegou, Pafúncio observou as pessoas da alta sociedade conversando em pequenos grupos, todas vestidas com roupas de grife e segurando taças de champanhe. Ele, por outro lado, parecia um pato fora d’água.
“Aqui estou eu, pronto para fazer história!” ele pensou, enquanto caminhava em direção ao coquetel.
Ao se aproximar da mesa do coquetel, Pafúncio viu uma bandeja cheia de canapés e, sem pensar duas vezes, pegou um punhado deles.
“Deliciosos! Vou dar uma entrevista sobre eles!” ele exclamou, enquanto começava a mastigar e a falar com um grupo de convidados.
“Desculpe, você é…?” uma mulher bem-vestida perguntou, olhando para ele com uma expressão de confusão.
“Sou Pafúncio, da revista “Fuxico & Fofocas”! Estou aqui para cobrir a noite e descobrir os segredos da alta sociedade!” ele respondeu, com um pedaço de canapé preso entre os dentes.
Pafúncio decidiu que era hora de tirar algumas fotos. Ao tentar ajustar a câmera, ele acidentalmente esbarrou na mesa, fazendo com que uma taça de champanhe voasse pelo ar e aterrissasse bem em cima do vestido da mulher que acabara de entrevistá-lo.
“Ai!” ela gritou, enquanto todos ao redor se viravam para olhar.
“Desculpe! Era para ser uma homenagem ao seu vestido!” Pafúncio disse, tentando se desculpar, mas as pessoas apenas o encararam, perplexas.
Determinado a se recuperar, Pafúncio começou a se mover em direção aos quadros. Ele parou em frente a uma obra de arte abstrata e começou a explicar para uma pequena multidão o que achava que era a mensagem do quadro.
“Eu vejo aqui um grito pela liberdade, uma luta contra a opressão dos… das azeitonas!” ele comentou, fazendo referência a um prato que ainda estava na sua mente.
As pessoas começaram a cochichar entre si, claramente divididas entre o riso e a perplexidade.
“Quem é esse?” alguém murmurou.
Enquanto tentava tirar uma selfie com a pintura ao fundo, Pafúncio, em sua animação, deu um passo para trás e, sem querer, esbarrou na mesa de bebidas. A bandeja, cheia de copos, fez um movimento pendular e se despedaçou no chão, com um barulho estrondoso que fez todos os convidados se virarem, boquiabertos.
“Meu Deus!” gritou um dos organizadores, enquanto Pafúncio tentava ajudar a limpar a bagunça, mas acabou escorregando no líquido derramado e caindo de joelhos.
“Estou apenas testando a resistência do chão!” ele gritou, enquanto se levantava, agora com as calças molhadas.
Finalmente, chegou a hora do discurso do curador da exposição. Pafúncio, pensando que poderia ajudar a animar o ambiente, decidiu se posicionar perto do microfone.
“Eu tenho algo a dizer!” ele interrompeu, mas o curador já estava no palco.
“Por favor, não…” o curador murmurou, já prevendo o desastre.
Pafúncio puxou o microfone com tanto ímpeto que ele se soltou e fez um ruído ensurdecedor, causando um alvoroço.
“Desculpe, só queria dizer que a arte é como um… um sapato apertado! Às vezes, você só precisa tirar para se sentir livre!” ele gritou, enquanto as pessoas cobriam os ouvidos.
A essa altura, a situação era tão cômica quanto caótica. Os convidados começaram a olhar para Pafúncio com uma mistura de medo e diversão. O que ele faria a seguir? Uma mulher de um grupo próximo murmurou: “Espero que ele não derrube mais nada!”
E foi então que, ao tentar fazer uma pose engraçada para uma foto, Pafúncio decidiu subir em uma cadeira para ser mais visível. No entanto, a cadeira não aguentou o peso e se quebrou, fazendo com que ele caísse novamente, agora em uma pilha de casacos que estavam pendurados em um cabideiro.
No final da noite, enquanto todos estavam atordoados, Pafúncio, ainda tentando se recompor, levantou-se e olhou para a multidão.
Os convidados começaram a se dispersar, alguns ainda rindo, outros balançando a cabeça em incredulidade. “Quem era aquele?” alguém perguntou, enquanto Pafúncio se despedia, feliz e satisfeito por ter, de alguma forma, conseguido alguma coisa naquela noite.
Enquanto saía, ele pensou: “Talvez eu devesse fazer mais reportagens em eventos da alta sociedade.”
E assim, com sua personalidade peculiar, Pafúncio deixou sua marca — e um pouco de caos — na noite que deveria ser de arte e sofisticação.
Fonte: José Feldman. Peripécias de um jornalista de fofocas & outros contos. Maringá/PR: IA Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul, 2024.
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Meus manuscritos,
Panaceia de Textos
Eduardo Affonso (Mentiras que os donos de cachorro contam)
Ninguém é dono de ninguém, muito menos de um cachorro.
Cachorros são seres insólitos. Têm um ranço nato dos gatos, criaturas que os ignoram e cujos olhos felinos lhes dedicam, no máximo, uma mirada de indulgência. Têm inexplicável interesse por porcos espinhos, animais cujo leiaute é um cartão de visitas claríssimo: não mexa comigo. Têm fetiche por pneus, entidades que perseguem com afinco, como se cravar os dentes numa roda de borracha lhes fosse descortinar o sentido da vida.
E se afeiçoam justamente a seres humanos.
Qualquer organismo inteligente se afeiçoaria aos gatos, não aos seres humanos. Qualquer indivíduo sensato manteria dos humanos e dos porcos espinhos uma prudente distância. Qualquer entidade racional saberia que humanos e pneus não levam (metaforicamente, pelo menos) a lugar nenhum.
Pois os cachorros resolveram se afeiçoar aos seres humanos. Ignorar os alertas de perigo que os humanos emitem em cada gesto. E vivem correndo atrás de nós, seja abanando o rabo, seja cravando os dentes, como se para isso tivessem nascido.
Os “donos de cachorro” se encantam com esses paradoxos. Veem no cachorro um avatar peludo e arfante, uma versão melhorada de si mesmos. E deles se apropriam, oferecendo-lhes vacina, coleira, ração, tosa e dois passeios diários em troca do amor maior que há no mundo (mãe perde) – da mesma forma como os exploradores trocavam miçangas espelhos e quinquilharias por ouro prata terras sem fim.
Donos de cachorro mentem (mentira 2) quando dizem que vão levar os cachorros para passear.
Cachorros não passeiam. Cachorros urinam e cheiram. O passeio é um meio, o instrumento do qual o cachorro tem que lançar mão (no caso, lançar pata) para poder urinar em vários lugares e cheirar tudo que estiver no raio de alcance da guia presa à sua coleira.
O passeio é uma mentira social que o suposto “dono de cachorro” inventa para não ter que assumir que apenas se presta a viabilizar as urinadas necessárias à comunicação olfativa do cachorro.
A mentira número 3 é a de que o cachorro é educado e só faz evacua na rua. Isso não é educação: é chantagem. Uma forma que o cachorro encontra de constranger seu humano a levá-lo para urinar e cheirar em locais onde essas atividades sejam mais estimulantes que na área de serviço ou na varanda.
E cachorro não evacua na rua: faz na calçada. De preferência, nas saídas de garagem ou diante de aglomerações, de modo que o ritual de enluvar a mão no saco plástico, se agachar e catar o dito cujo sejam devidamente apreciados por quem estiver saindo de casa ou esperando o ônibus. É que o cachorro gosta de exibir o adestramento do seu “dono”, fazê-lo demonstrar suas habilidades (“Estão vendo o meu “dono”? Olhem os truques que ensinei a ele: Luvinha! Agachado! Catando caca! Carinha de nojo! Nozinho no plástico! Isso! Bom garoto!”).
Mentira 4: tratamos cachorros como filhos. Jamais. Filhos são filhos, cachorros são cachorros. Filhos saem sozinhos; cachorros, não – do cachorro a gente cuida direito e não permite que corram riscos desnecessários. Filhos um dia se casam e vão cuidar da própria vida – cachorros ficam para sempre.
Cachorros envelhecem conosco. Morrem nos nossos braços. Quando se vão, nos deixam de herança um pote vazio e uma coleira adormecida que são a própria Dor em forma de vasilha, o Desalento em fivela e fita.
A mentira 5 é a maior de todas: a do “nunca mais”. Todos dizemos “Nunca mais quero passar por isso”. “Outro cachorro, nem pensar”. E daí a pouco lá estamos nós desviando o olhar na Feira de Adoção (desviando o olhar, não o coração). E um minuto depois fazendo contato visual com um filhote, um adulto sem rabo, um ancião de focinho grisalho.
Aí lá vamos nós de novo. De novo “donos” – do Tião, da Duda, da Luna, que não são mais que novas manifestações da Bené, do Negão, do Bento, do Luke e de todas essas versões melhoradas de nós mesmos – só que com pulga e soltando pelo, que ninguém é perfeito.
[Levei Cacau para ser sacrificada. Despedimo-nos longamente. Fiz uma foto dela –a última – na maca.
Saí da clínica repetindo o mantra da mentira 5, a do “nunca mais”. Mas não custava fazer mais uma tentativa, e Cacau reagiu à medicação. Dois dias depois, fui buscá-la, e me recebeu andando com dificuldade, mas andando – ela que chegara no meu colo. O mesmo olhar, a mesma respiração ofegante, o mesmo jeito de abanar o rabo como se não houvesse amanhã. Houve amanhã.
Substituí a mentira 5 pela 1, e voltei a mentir para mim mesmo que sou “o dono da Cacau”, como um dia fui dos seus pais, Negão e Benedita.
Cachorros são seres estranhos. Ao contrário dos seus “donos”, que os levam “para passear”, “fazer cocô na rua” e os tratam “como filhos”, eles não precisam mentir. Jamais.]
Fonte: Blog do autor. 11.fev.2020
Recordando Velhas Canções (Quero morrer cantando)
Compositor: Valfrido Silva
Quero morrer cantando um samba
No meio de uma roda bamba
Quero zombar da própria morte
Cercado das pequenas
Que me deram inspiração e forte
No outro mundo
Vão me rir e caçoar
E decida se matando em trabalhar
Pensando somente na riqueza
Sendo a vida mergulhada
Mergulhada na tristeza
Quero morrer cantando um samba
No meio de uma roda bamba
Quero zombar da própria morte
Cercado das pequenas
Que me deram inspiração e forte
quarta-feira, 30 de outubro de 2024
Varal de Trovas n. 615
Caderno de Premiados dos Concursos do Blog (Download)
Os Concursos do Blog homenageando A. A. de Assis (trovas líricas/ filosóficas, tema: Poeta/s) e Therezinha Dieguez Brisolla (trovas humorísticas, tema: Pinguço/s) encerrou-se com êxito. Os diplomas foram enviados aos premiados, e o caderno de premiados enviados para os premiados e não premiados.
Caso tenha interesse em obter o caderno, pode baixar no link abaixo, em pdf, são 37 páginas.
A. A. de Assis (Um cãozinho da roça)
A semântica tem dessas coisas: todo mundo diz que o cão é o melhor amigo do homem e da mulher. Mas ninguém chama seu melhor amigo ou sua melhor amiga de cão, cachorro, cachorra, cadela… Dá dó terem dado a um animal tão querido um tão mal-escolhido epíteto. Outros bichos receberam nomes até poéticos: andorinha, ovelha, colibri, borboleta, golfinho, vaga-lume. Por que logo o cão tinha que ter esse nominho que parece xingamento?
Porém eu queria falar era de outra coisa, mais uma vez aproveitando uma dica do amigo Kaltoé, o craque do desenho. Ele sugeriu: “Faça uma crônica sobre a perda de animaizinhos de estimação. Todo mundo tem ou já teve um”. De pronto me lembrei do Rex. Vou contar.
Vivi na roça até os 8 anos, quando me mudaram para a cidade (São Fidélis-RJ) a fim de continuar os estudos iniciados numa escolinha rural. Fui morar com um irmão mais velho e três irmãs. Na roça eu tinha dois cachorros: um grande, chamado Combate, e um pequeno, Rex. Queria porque queria levar os dois comigo para a cidade. Meu pai, com paciência, me convenceu de que o cachorro grande não se adaptaria: acostumado à plena liberdade, com espaço à vontade para correr, bagunçar, caçar preás, ele sofreria demais se fosse confinado num quintal. Acabei concordando. Levei apenas o pequeno Rex.
Estava indo tudo bem, até que chegou o dia da festa do padroeiro. Conforme a tradição, a cidade foi despertada às 5 da manhã pelo desfile de alvorada da banda de música. Em meio ao alegre retumbar das tubas, tambores e trombones, pipocava um estonteante foguetório. Pra quê?… Apavorado ante aquele barulhão todo, o cachorrinho Rex, criado no sossego da roça ao som de pássaros, grilos e cigarras, começou a latir sem cessar, até que achou um buraco na cerca e se mandou na maior disparada. Até hoje não sei onde foi parar. Só sei que chorei por mais de uma semana e jurei nunca mais ter outro animal em casa.
Jurei mas não cumpri. Quando vim para Maringá morei durante alguns anos numa casa com quintal. Um dia um amigo me perguntou se eu aceitaria de presente um filhote de cachorro. Lucilla e eu pensamos bem, aceitamos. Demos-lhe o nome de King. Cresceu rápido, virou um baita cachorrão. Depois apareceu uma cachorrinha vira-lata. Demos comida a ela, a bichinha não quis mais ir embora. Para combinar com o King, demos-lhe o nome de Konga.
Numa certa manhã Konga resolveu brincar na rua em frente, passou um carro e ela foi atropelada. Corri, peguei no colo. Perna quebrada. Levei à loja veterinária do Astolfo Castanheira, ele engessou, garantiu que não era coisa grave. De fato não era. King e Konga ficaram conosco enquanto viveram. Deixaram saudade. Prometi de novo que nunca mais teria animal de estimação. Dessa vez cumpri.
Kaltoé tem razão. Perder um animalzinho querido é muito triste. Dói demais.
Melhor parar a conversa aqui.
(Crônica publicada no Jornal do Povo em 17.10.2024)
Fonte: Texto enviado pelo autor
José Feldman (Mini-contos) 6 –> 10
Durante um passeio no parque, Beatriz avistou um rapaz sentado, sozinho. O olhar dele refletia tristeza, mas ela sentiu uma conexão. Aproximou-se e ofereceu um sorriso. Eles começaram a conversar sobre livros e sonhos. Com o passar do tempo, uma amizade inesperada floresceu. Juntos, descobriram que a solidão pode ser vencida com um simples gesto de carinho.
O Último Trem
Na estação deserta, o último trem apitou. Marcos aguardava, sentindo o peso da solidão. Ao seu lado, uma senhora idosa observava a mesma cena. Eles trocaram sorrisos tímidos, e, em um instante, a conexão se formou. A conversa fluiu, e o tempo passou, esquecendo a tristeza. Quando o trem chegou, ambos embarcaram, levando consigo um pouco da luz do outro.
A Casa Vazia
A casa de Marcondes ecoava com tantas lembranças. Cada cômodo guardava risos e histórias do tempo de uma família unida. Mas agora, o silêncio era ensurdecedor. Ele olhou para as fotos na parede, sentindo o vazio do abandono. Um dia, decidiu organizar um jantar, convidando velhos amigos. A casa voltou a vibrar com risos, e a luz voltou a brilhar na casa da solidão.
O Livro Esquecido
Em uma prateleira empoeirada, havia um livro esquecido. Carina o pegou e começou a folhear suas páginas. As palavras pareciam dançar na sua frente. Cada história a transportava para mundos distantes, fazendo com que se esquecesse da solidão. Decidiu então compartilhar essas histórias em um clube de leitura. Com cada reunião, novos laços se formaram. O livro, que antes era só um objeto, tornou-se a ponte para novas amizades.
O Último Dia de Verão
O verão chegava ao fim, e com ele, a alegria das férias. Mirna sentou-se na areia, observando o pôr do sol. O mar refletia seu estado de espírito: sereno, mas melancólico. Ao seu lado, crianças brincavam, mas ela se sentia distante. Um garoto se aproximou e ofereceu uma pá para construir um castelo de areia. Juntos, construíram algo belo. Naquele momento, Mirna percebeu que a felicidade pode renascer mesmo nas despedidas.
Fonte: José Feldman. Labirintos da vida. Maringá/PR: IA Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul.
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Panaceia de Textos
Recordando Velhas Canções (Balada Triste)
(samba-canção, 1956)
Compositor: Dalton Vogeler e Esdras Silva
Balada triste
Que me faz
Lembrar alguém
Alguém que existe
E que outrora
Foi meu bem
Balada triste
Melodia do meu drama
Esse alguém já não me ama
Esqueceu você também
Não há mais nada
Foi um sonho
Que passou
Triste balada
Só você me acompanhou
Fica comigo !
Velha amiga, companheira
Quero cantar-te a vida inteira
Prá lembrar o que passou...
A Melancolia de um Amor Perdido em 'Balada Triste'
A música 'Balada Triste', é uma profunda reflexão sobre a dor e a saudade de um amor que se foi. A letra começa com a evocação de uma balada triste que traz à memória alguém especial, alguém que um dia foi muito amado. Essa pessoa, que antes era o centro do afeto do eu lírico, agora não está mais presente, e a melodia triste serve como um lembrete constante dessa ausência.
A canção é permeada por um sentimento de desilusão e resignação. O eu lírico reconhece que o amor que um dia existiu não mais o acompanha, e que a pessoa amada também o esqueceu. A repetição da frase 'não há mais nada' reforça a ideia de que tudo o que restou é a lembrança dolorosa de um sonho que acabou. A balada, descrita como uma velha amiga e companheira, é a única coisa que permanece, servindo como um consolo melancólico para o eu lírico.
A música é uma ode à memória de um amor perdido, e a decisão de cantar essa balada 'a vida inteira' mostra a profundidade do impacto que essa relação teve. A 'Balada Triste' não é apenas uma canção sobre a perda, mas também sobre a aceitação e a convivência com a dor, transformando-a em uma companheira constante.
Ângela Maria fazia uma temporada em Buenos Aires quando conheceu a canção “Balada Triste” por intermédio de seu acompanhador, o violonista Manoel da Conceição. Decidida a gravá-la o quanto antes, apressou-se em obter a permissão do autor, Dalton Vogeler, baixista do conjunto de Valdir Calmon, por coincidência, na ocasião, também em temporada na capital argentina. Daí resultou o duplo lançamento da composição — que já havia sido entregue a Agostinho dos Santos —, alcançando ambas as gravações o maior sucesso.
Bem de acordo com o título, “Balada Triste” é uma pungente canção de amor com versos e melodia impregnados de tristeza. Sem ser plágio, reproduz o clima da “Serenata” (Stãndchen) de Schubert, citada, aliás, no prólogo das gravações iniciais.
Fontes:
Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello. A Canção no Tempo - Vol.2.
https://www.letras.mus.br/agostinho-dos-santos/479709/significado.html
domingo, 27 de outubro de 2024
José Feldman (Grinalda de Versos) * 5 *
Carina Bratt (Lembranças de momentos que não vingaram)
A NOSSA VIDA cotidiana, com a sua tendência de desenhar o futuro com as cores as mais variadas, de um passado, muitas vezes um ‘ontem’ ainda recente, nos presenteia com lembranças que se entrelaçam no tempo. Em meio a uma dessas alfombras, destacaria um par de memórias que persistem até hoje, como marcas de um amor bonito, que se foi para sempre. A primeira, dá conta de um passeio pelas areias da praia da Avenida Atlântica, em Copacabana, ao tempo em que um final de tarde se engrandecia de cores as mais variadas. O sol, em seu derradeiro ato de esplendor, mergulhava, lá longe, no horizonte, como um artista que se despede de seu público. Tudo tingia o céu em tons inesquecíveis. Caminhávamos, eu e o meu amor, lado a lado, os pés na areia fria e molhada, enquanto o vento brincava com nossos cabelos.
Conversávamos sobre sonhos e medos, e um futuro incerto que, naqueles momentos, parecia repleto de possibilidades. As ondas, suaves e ritmadas, se faziam testemunhas silenciosas da nossa cumplicidade. A sensação de estar imerso naquele instante, nada mais que a plenitude, como se o tempo (o nosso tempo) tivesse decidido estancar para nos deixar aproveitar a perfeição de cada segundo. A outra lembrança, me remonta para uma noite enfeitada por um manto de estrelas que iluminava o firmamento claro e profundo. Estávamos deitados na rede da minha varanda enorme, encolhidos embaixo de um cobertor que cheirava a vinho gelado e uma porção de queijos fatiados. O Cristo do Corcovado, iluminado, parecia nos abraçar. A Borges de Medeiros gritava socorro para a Lagoa Rodrigo de Freitas, em vista dos carros que passavam buzinado num alarido incontrolável.
Conversávamos em sussurros, nosso calor corporal se misturando ao calor do ambiente. Havia uma espécie de serenidade naquele momento, tipo uma intimidade que parecia transcender as palavras. As conversas se tornavam confissões, sonhos e esperanças sussurradas aos calcanhares de nossos escutadores de novelas. O mundo exterior desaparecia, e o espaço entre nós se tornava um refúgio acolhedor e seguro. O amor, assim como essas lembranças, é efêmero e, muitas vezes não, ou seja, difícil de manter. O passeio à beira-mar e à noite, na varanda do meu "apê", apenas capítulos de uma história de amor (de amor?!), que inevitavelmente nem aconteceu e, da mesma forma, se encerraria num minuto de segundo que marquei como ‘estranho.’
Mas, mesmo após a partida dessa pessoa, esses mimos permaneceram como marcas indeléveis na minha memória. Eles são como pequenas âncoras no tempo, nos permitindo, nos revisitando num ‘ontem passado,’ onde o amor parecia eterno e incontestável. Amor? Não foi! Hoje, essas ‘quimeras', de vez em quando surgem como ecos suaves, em momentos de solitude —, ou melhor dito —, de uma completude, nos moldes de uma tapeçaria de emoções que nos lembra, em segundos de fraquezas, que apesar da transitoriedade do amor, ele deixou um rastro de beleza, mas sem nenhum significado para ser auspiciado ‘para depois.’ E assim, mesmo, após a figura se ter ido embora (eu disse amor no sentido figurado, bem entendido) essas memórias permaneceram imutáveis como testemunhas de algo verdadeiro e profundo (não —, não foi verdadeiro e menos ainda profundo).
Euzinha diria, sem medo de bater com a cabeça nos teclados do meu piano, nada além de um lembrete que, por mais breve que tenha sido o amor, ou algo parecido com ele, deixou dentro de mim... não —, não deixou porcaria nenhuma. Esse encontro foi muito rápido e rasteiro, sem banho, sem cama, sem calcinha jogada no chão, sem roupa cheirando a suor... não rolou nada na precipitação de dois ou três copos de vinho e minúsculos pedacinhos de queijos fatiados. Em seguida, nenhum telefonema, nenhum vídeo com a gravação de um ‘olá’ ao vivo, no WhatsApp. De tudo, restou por aqui a bela figura grandiosa do Cristo iluminado, a Borges de Medeiros ensurdecendo os meus tímpanos com buzinadas chatas de algum idiota e, para variar, um casal, no andar de baixo, trocando efusivos palavrões e se estapeando —, um atirando pratos e talheres no outro.
Motivo? Muitos! Vou trazer à baila, apenas o essencial. O menininho deles, um sapeca de três anos, aos cuidados de uma cadeira irresponsável e irrequieta, quase deixou que o guri se aventurasse a dar uma de Ícaro. O engraçadinho piá, ao invés de voar em direção ao Corcovado, tentava se projetar dela, se esgueirando acima do peitoril, para o precipício distanciado da calçada fria deitada ao longo da via, lá no térreo, essa via, coitada, os sentidos a mil por hora, porém, emudecida, sem ação, a língua presa, o coração a quase duzentos (calçada também tem coração) sem poder, sequer, avisar ou interfonar para os irresponsáveis pais do pestinha, o perigo iminente —, a grosso modo —, voar na jugular do seu Moacir (o nosso porteiro do turno da noite). Graças a Deus, o molequinho foi resgatado, a mãe do menino entrou no hospital da Lagoa, cheia de hematomas. A cadeira, no lixo, sem direito a reclamar seu salário e o pai, ainda no calor da contenda, aos berros, espinafrando ele mesmo e as paredes.
Fonte: enviado por Aparecido R. de Souza
José Feldman (Mini-contos) 1 –> 5
Na pequena sala, o pintor observava a tela em branco, seu único companheiro. As cores dançavam em sua mente, mas o medo da crítica o paralisava. Dias passavam, e as sombras se acumulavam.
Uma tarde, ao misturar tintas, descobriu que a solidão podia ser sua musa. Com cada pincelada, sua dor se transformou em arte. Finalmente, a tela revelou não apenas suas cores, mas sua alma.
Felicidade na Simplicidade
Certa manhã, Maria acordou com o canto dos pássaros. Decidiu preparar um café especial e sentou-se à mesa. Observou as flores pela janela e sorriu ao lembrar de momentos simples. A felicidade, pensou, não estava nas grandes conquistas, mas nas pequenas alegrias. Ao dar o primeiro gole, compreendeu que a vida era feita de detalhes. E assim, a simplicidade se tornou seu maior tesouro.
O Abandono do Cachorro
No canto da rua, um cachorro esperava. O frio da noite não o intimidava, mas a solidão do abandono o marcava. Havia sido amado um dia, mas agora, seu olhar refletia tristeza. Um menino, ao passar, parou e se agachou. Com um gesto suave, acariciou o animal e levou-o para casa. O amor resgatou o pequeno ser, e a solidão se desfez no calor de um novo lar.
Lições da Escola
Na escola, Ana se sentia invisível entre os colegas. As risadas e conversas pareciam distantes, como ecos em um túnel. Um dia, a professora pediu que escrevessem sobre um sonho. Ana, hesitante, compartilhou sua paixão por dançar. Ao final, recebeu aplausos sinceros. Naquele instante, percebeu que, mesmo na solidão, sua voz poderia ser ouvida. A escola, então, tornou-se um lugar de descoberta.
Um Dia de Chuva
A chuva caía, formando poças nas calçadas. Lucas decidiu sair, mesmo com o tempo inclemente. Cada gota que caía parecia lavar a tristeza acumulada. Ele pulava nas poças, rindo como uma criança. O som da chuva era uma sinfonia, e a solidão se dissipava. Naquele dia, aprendeu que até mesmo a chuva pode trazer alegria.
Fonte: José Feldman. Labirintos da vida. Maringá/PR: IA Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul.
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Recordando Velhas Canções (Saudade da Bahia)
(samba, 1957)
Compositor: Dorival Caymmi
Ai ai que saudade eu tenho da Bahia
Ai se eu escutasse o que mamãe dizia
“Bem não vá deixar a sua mãe aflita
A gente faz o que o coração dita
Mas esse mundo é feito de maldade e ilusão”
Ai se eu escutasse hoje eu não sofria
Ai essa saudade dentro do meu peito
Ai se ter saudade e ter algum defeito
Eu pelo menos mereço o direito
De ter alguém com que eu possa me confessar
Ponha-se no meu lugar e veja como sofre
Um homem infeliz
que teve que desabafar
Dizendo a todo mundo o que ninguém diz
Vejam que situação
E vejam como sofre um pobre coração
Pobre de quem acredita
Na glória e no dinheiro para ser feliz
A Melancolia e a Nostalgia em 'Saudade da Bahia'
A música 'Saudade da Bahia', composta e interpretada pelo icônico Dorival Caymmi, é uma expressão lírica da melancolia e da saudade, sentimentos profundamente enraizados na cultura brasileira, especialmente no que diz respeito ao apego às origens e à terra natal. A letra reflete a dor de um indivíduo que, distante de sua terra natal, a Bahia, sente um vazio emocional que é exacerbado pela distância e pela lembrança dos conselhos maternos ignorados.
A canção começa com um lamento, uma confissão de arrependimento por não ter ouvido os conselhos de sua mãe. A figura materna é apresentada como uma voz da sabedoria e da prudência, alertando sobre as maldades e ilusões do mundo. A saudade é descrita não apenas como uma falta, mas como uma condição que pode ser vista como um defeito, algo que o protagonista da canção sente que precisa confessar, como se fosse um pecado ou uma fraqueza.
A música também aborda a crítica social ao ideal de felicidade associado à glória e ao dinheiro, sugerindo que esses valores são insuficientes para preencher o vazio deixado pela ausência da terra amada. A saudade, portanto, é mais do que uma simples falta; é um estado de espírito que revela uma verdade mais profunda sobre o que realmente importa para a felicidade humana. A canção de Caymmi é um convite à reflexão sobre as escolhas de vida e sobre o que realmente nos faz felizes, além de ser um retrato da identidade cultural baiana e brasileira.
"Saudade da Bahia" nasceu numa tarde calorenta do verão de 1947. "Eu estava sozinho num bar perto de minha casa no Leblon, o Bar Bíbi, chateado com a agitação da cidade, quando me ocorreu a ideia", recorda Dorival Caymmi. "Era uma ideia tão melancólica - logo eu que sou otimista - que resolvi guardar a canção para mim, mostrando-a apenas a alguns amigos mais íntimos."
Daí se passaram dez anos até o dia em que Aloísio de Oliveira, um desses amigos, convenceu o compositor a gravar "Saudade da Bahia". Diretor artístico da Odeon na ocasião, Aloísio estava ansioso para faturar na esteira do sucesso de "Maracangalha" e, como Caymmi não tinha composições novas, sugeriu: "E por que não aquela que fala de saudades da Bahia?" Assim, programada às pressas, "Saudade da Bahia" foi gravada, batendo recordes de vendagem, o que lhe proporcionou um prêmio especial de uma cadeia de lojas de São Paulo.
Fontes:
https://www.letras.mus.br/dorival-caymmi/401202/significado.html
Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello. A Canção no Tempo - Vol. 1.
sábado, 26 de outubro de 2024
Edy Soares (Fragata da Poesia) 62: Luzes da Ribalta
José Feldman (Os caçadores das compras perdidas)
Era uma manhã ensolarada quando Epitáfio de Carvalho Troncoso, um homem de meia-idade, decidiu que era hora de fazer compras no supermercado. Sua esposa, Dona Etelvina, uma mulher de coração grande e paciência infinita, concordou em acompanhá-lo. Afinal, a última vez que Epitáfio foi ao mercado sozinho, ele trouxe para casa uma caixa de chá de hibisco, um item que ninguém lembrava de ter pedido.
Assim, armados com uma lista de compras que, segundo Dona Etelvina, era "um pouco mais longa do que o habitual", eles adentraram no supermercado. A atmosfera estava cheia de aromas de pão fresco e frutas maduras, e Epitáfio, que por anos havia se considerado um expert em compras, estava confiante.
"Vamos começar pela seção de frutas", sugeriu Dona Etelvina, já mirando as maçãs.
Epitáfio, no entanto, estava mais interessado em fazer uma competição com ele mesmo: quantas maçãs conseguiria pegar de uma vez? Ele se agachou, esticou os braços e, no meio da sua acrobacia, acabou derrubando uma maçã que rolou para longe.
"Uma já foi", ele disse, rindo.
Mas a coisa não ficou por ali. Enquanto tentava pegar a maçã perdida, ele se distraiu e, sem querer, esbarrou em uma prateleira de latas de molho de tomate, que começou a desabar como uma cascata descontrolada. Latas rolavam para todos os lados, e Epitáfio ficou paralisado por um momento, tentando avaliar a situação.
"Querido, você não acha que está exagerando?", perguntou Dona Etelvina. "Isso é um supermercado, não um circo!"
Epitáfio, em sua defesa, apenas deu de ombros e continuou a coleta das latas caídas. Ao menos algumas delas estavam intactas.
Após o "incidente do molho de tomate", eles prosseguiram para a seção de cereais. Dona Etelvina sempre dizia que era a parte mais tranquila, mas Epitáfio, que não conseguia resistir a um bom desafio, decidiu que era hora de testar a resistência dos pacotes de cereal. Ele começou a empilhar os pacotes um sobre o outro, como se estivesse construindo uma torre de Babel.
"Se essa torre cair, vai ser um desastre", alertou Dona Etelvina.
No entanto Epitáfio estava determinado. "Confie em mim, vai dar certo!"
Naquele momento, tudo parecia tranquilo, até que, em uma fração de segundo, um pacote de cereal escorregou e, como um efeito dominó, derrubou todos os outros. Cereais voaram para todos os lados, e Epitáfio estava, mais uma vez, cercado por uma cena digna de comédia pastelão.
"Você é mesmo um talento para desorganizar tudo, Epitáfio!", comentou uma senhora que passava, rindo da situação.
Epitáfio, com um sorriso amarelo, começou a juntar os pacotes, enquanto Dona Etelvina tentava ajudar. Mas na tentativa de recolher os cereais, Epitáfio começou a se irritar.
"Por que sempre eu?", ele resmungou, olhando ao redor, como se estivesse no centro de um espetáculo de teatro. "Todo mundo aqui é tão calmo, e eu sou o único que parece um maluco!"
Dona Etelvina, tentando aliviar a tensão, disse: "Querido, relaxe! Isso é só um dia de compras. Não vale a pena perder a paciência."
Finalmente, após o que parecia uma eternidade, Epitáfio e Dona Etelvina conseguiram completar a lista. Mas, ao se dirigirem para o caixa, a carrinho de compras, já cheio de itens, parecia um verdadeiro campo de batalha: frutas, cereais, e uma quantidade razoável de latas de molho de tomate estavam misturados, parecendo uma obra de arte moderna.
Assim que passaram pelo caixa, Epitáfio se distraiu novamente, olhando para uma promoção de biscoitos. E, claro, foi o suficiente para que o carrinho, que já estava em estado de colapso, cedesse. Tudo se espalhou pelo chão: biscoitos, frutas, e até um pacote de arroz que, por alguma razão, decidiu se juntar à festa.
"Não, não, não!" gritou Epitáfio, em um momento de desespero. Ele se agachou para pegar as coisas, enquanto outros clientes olhavam, divertidos.
Algum tempo depois, ele se levantou, tentando manter a dignidade, mas a cena era insustentável.
"Eu não aguento mais!", ele exclamou, olhando ao redor. "O que eu fiz para merecer isso? Até o arroz está me olhando com desprezo!"
Dona Etelvina, rindo, colocou a mão no ombro dele. "Amor, acho que precisamos de mais do que apenas compras. Precisamos de uma boa dose de calma! Vamos para casa e esquecer isso tudo."
Epitáfio, ainda um pouco frustrado, concordou.
"Ok, mas da próxima vez que você me acompanhar para o mercado, prometo não fazer mais malabarismos com as maçãs!"
E assim, com o recolhendo as compras espalhadas pelo chão, Epitáfio e Dona Etelvina deixaram o supermercado, prontos para enfrentar a próxima batalha da vida a dois: a cozinha.
Retornando para casa, foram organizar a cozinha.
Epitáfio: (segurando um pacote de arroz aberto) Olha, Etelvina, acho que esse arroz decidiu se rebelar contra nós. Está mais espalhado do que dentro da embalagem!
Dona Etelvina: (rindo) É, parece que ele queria ver o mundo. Ao menos, agora temos um "arroz à la chão".
Epitáfio: (suspirando) Se eu soubesse que ia ser assim, teria me limitado a comprar um pão e um queijo.
Dona Etelvina: Ah, vai! Você sabe que as compras nunca são só pão e queijo com você. Sempre tem uma aventura à vista!
Epitáfio: (brincando) Aventura é uma coisa. Mas eu não assinei para ser o protagonista de um filme de comédia!
Dona Etelvina: (com um sorriso) E você está se saindo muito bem na sua atuação. Olha só essa cena do arroz!
Epitáfio: (começando a rir) Verdade. Vou me candidatar ao Oscar de “Melhor Desastre em Supermercado”.
Dona Etelvina: (começando a juntar os biscoitos) A gente poderia fazer um filme sobre isso. “Os Caçadores de Compras Perdidas”!
Epitáfio: (fazendo pose) E eu seria o herói que sempre acaba se metendo em encrenca!
Dona Etelvina: (com um olhar divertido) E eu seria a heroína que tenta salvar o dia, mas acaba rindo da situação.
Epitáfio: (abrindo um armário para guardar as coisas) E o vilão? Quem seria o vilão da nossa história?
Dona Etelvina: (pensativa) Acho que seria o molho de tomate. Sempre pronto para causar uma explosão!
Epitáfio: (apontando para o chão) Ou o arroz, que decidiu se espalhar como um exército rebelde!
Dona Etelvina: (rindo) Isso! Precisamos de um grande final, com todos os ingredientes se unindo para fazer um jantar épico.
Epitáfio: (sorrindo) Que tal um arroz carreteiro? Assim, o arroz rebelde se redime!
Gato (Bolota): (entrando com um ar de desdém) E eu aqui, esperando um pouco de respeito. Esse chão não é um buffet, sabia?
Epitáfio: (surpreso) Olha quem apareceu! O nosso crítico gastronômico felino! O que você acha do nosso “arroz à la chão”, Bolota?
Bolota: (lambendo as patas) Precisamos conversar sobre a apresentação. Não é assim que se serve um prato!
Dona Etelvina: (com um sorriso) E você, o que sugere, senhor gourmet? Um prato sem arroz?
Bolota: (com um olhar arrogante) Bem, um pouco de atum na receita não faria mal. Mas, por favor, nada de bagunça!
Epitáfio: (brincando) Atum? Você não foi ao supermercado, foi? Se fosse, teria visto o que aconteceu lá!
Bolota: (com um olhar cético) Isso não é desculpa. A organização é fundamental, mesmo em meio ao caos.
Dona Etelvina: (começando a juntar os biscoitos) E você, o que vai fazer? Ficar sentado enquanto nós limpamos a cozinha?
Bolota: (dando um salto para uma prateleira) Eu estou aqui para garantir que nada do que vocês preparam venha a me incomodar. E se sobrar algum atum, eu aceito!
Epitáfio: (abrindo um armário para guardar as coisas) Olha, Bolota, se você nos ajudar, prometo que vou procurar um atum especial na próxima compra.
Bolota: (sorrindo com um ar de superioridade) Isso é um bom começo. Mas não se esqueçam da apresentação!
Dona Etelvina: (brincando) Claro! Atum em um prato bem decorado, com um toque de arroz do chão!
Epitáfio: (fazendo pose) E eu seria o herói que sempre acaba se metendo em encrenca, enquanto o gato dá as ordens!
Bolota: (com um olhar de aprovação) Finalmente, você entendeu seu papel.
Dona Etelvina: (rindo) Vamos lá, então! Com as nossas forças e a ajuda do nosso crítico felino, faremos um jantar épico.
Epitáfio: (sorrindo) Combinado! E que venha o próximo supermercado, porque com você e o Bolota, sempre há histórias para contar!
Bolota: (com um ar de sabedoria) E lembrem-se: a próxima vez, menos bagunça, mais atum!
Dona Etelvina: Perfeito! Vamos juntar nossas forças na cozinha e fazer isso acontecer. E, claro, sem mais malabarismos!
Epitáfio: (com um olhar determinado) Combinado! Agora vamos fazer esse jantar e deixar as aventuras para o próximo dia de compras!
Dona Etelvina: (com um sorriso) Isso! E que venha o próximo supermercado, porque com vocês haverão histórias para contar!
Fonte: José Feldman. Peripécias de um jornalista de fofocas & outros contos. Maringá/PR: IA Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul, 2024.
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José Luiz Boromelo (O padre, o prefeito e o delegado)
Antigamente, nas cidadezinhas do interior do País, a população reconhecia as três maiores autoridades do município: o padre, o prefeito e o delegado. Cada qual, à sua maneira, exercia influência específica sobre o comportamento das pessoas, principalmente diante de algum entrevero, que inevitavelmente exigia uma providencial interferência dessas personalidades. Fosse algo mais sério que viesse realmente ameaçar a integridade física dos envolvidos, entrava em cena o delegado “calça-curta”, agente geralmente nomeado pela administração municipal e que, de maneira peculiarmente convincente à época, acabava com as divergências num piscar de olhos.
Já o prefeito atuava nos casos em que se fazia necessário colocar cada qual em seu devido lugar, quando o assunto pendia para a área política. Naquelas paragens ele mandava e desmandava e ai de quem destoasse de sua cartilha, escrita por interesses dos mais diversos possíveis.
Ao padre recaía a responsabilidade pela preservação da moral e dos bons costumes, a propagação da fé cristã, a busca incansável pelas ovelhas desgarradas, a resistência sistemática às incontáveis tentações impudicas e ao exercício permanente do jogo de cintura, tentando agradar a gregos e troianos.
A vida seguiu seu rumo e o vilarejo encravado na mata virgem cresceu e viu o tempo transformar aquelas práticas bairristas em longínquas lembranças do passado. Pelo menos é o que imaginam os viventes do século 21 na majestosa Maringá. Mas eis que mesmo com o desenvolvimento, a modernidade e a tecnologia batendo à porta do cidadão, as folclóricas figuras de outrora, agora elitizadas e alçadas a níveis infinitamente superiores de competência e intelectualidade, se envolvem em uma pendenga pouco republicana, guardadas as devidas proporções de espaço, tempo e intenções. Seria uma reunião para se discutir os níveis de insegurança elevados, uma demanda legítima da população do típico e controverso lanche prensado parlamentar.
Da tríade benfazeja do passado, apenas o religioso não se fez presente, por motivos óbvios, ante o tema proposto. Diante da exposição pelo comandante militar dos números oficiais da criminalidade, o prefeito, exaltado, foi curto e grosso. Como toda ação provoca uma reação, o imbróglio logo se estabeleceu. Ignorando o poder das palavras, cada qual mostrou sua desaprovação com a situação, sob a ótica do cargo ora exercido. A exasperação do chefe do executivo municipal foi, evidentemente, o estopim para a defesa veemente de opiniões divergentes.
Por sua vez, a infeliz declaração da suposta degustação de pizza em casa (privilegiando a segurança familiar) teve o mesmo efeito de se tentar apagar fogo com gasolina, elevando ainda mais a temperatura do debate. Nota-se que faltou serenidade e sobrou testosterona aos protagonistas.
Para a felicidade geral da comunidade, com os ânimos amainados e as arestas aparadas (pelo menos momentaneamente), pode-se concluir que medidas efetivas certamente serão implementadas, no intuito de oferecer um pouco mais de segurança à sociedade maringaense. E aos ocupantes de cargos públicos, seria de bom alvitre que exercitem continuamente o autocontrole deixando a emoção de lado, porque absolutamente tudo se resolve na base do diálogo. Atitudes bem diferentes de outras épocas, quando mandava quem podia e obedecia quem tinha juízo. Então, senhores, muita calma nessas horas.
Fonte: Portal do Rigon. 31 de agosto de 2017
https://angelorigon.com.br/2017/08/31/o-padre-o-prefeito-e-o-delegado/
Recordando Velhas Canções (Estrada do sol)
(samba-canção, 1958)
Compositor: Tom Jobim - Intérprete: Dolores Duran
É de manhã
Vem o Sol
Mas os pingos da chuva
Que ontem caiu
Ainda estão a brilhar
Ainda estão a dançar
Ao vento alegre
Que me traz esta canção
É de manhã
Vem o Sol
Mas os pingos da chuva
Que ontem caiu
Ainda estão a brilhar
Ainda estão a dançar
Ao vento alegre
Que me traz esta canção
Quero que você
Me dê a mão
Vamos sair por aí
Sem pensar
No que foi que sonhei
Que chorei, que sofri
Pois a nossa manhã
Já me fez esquecer
Me dê a mão
Vamos sair pra ver o Sol
É de manhã
Vem o Sol
Mas os pingos da chuva
Que ontem caiu
Ainda estão a brilhar
Ainda estão a dançar
Me dê a mão
Vamos sair pra ver o Sol
Me dê a mão pra ver o Sol
Pra ver o sol, o sol, o sol
A Luz Após a Tempestade em 'Estrada do Sol'
A música 'Estrada do Sol', composta por Tom Jobim, um dos maiores expoentes da música brasileira e um dos criadores da Bossa Nova, é uma obra que transmite a sensação de renovação e esperança após momentos de tristeza. A letra utiliza a metáfora do amanhecer e do sol que surge após a chuva como uma forma de representar o fim de um período difícil e o início de um novo capítulo mais alegre na vida do eu lírico.
A repetição dos versos que descrevem os pingos da chuva ainda brilhando, mesmo com a chegada do sol, sugere que as memórias das adversidades ainda estão presentes, mas a luz do sol traz consigo uma força que convida a seguir em frente. A chuva pode ser vista como as lágrimas derramadas, e o sol, como a superação e a capacidade de encontrar beleza e alegria mesmo após a dor.
O convite para dar a mão e sair para ver o sol é um chamado para compartilhar a experiência de recomeço e apreciar a beleza da vida. A ênfase na manhã e no esquecimento do que foi sonhado, chorado e sofrido reforça a ideia de que cada novo dia traz consigo a possibilidade de deixar para trás as mágoas e viver novas experiências. A música, portanto, é um hino à resiliência e à capacidade humana de se recuperar e encontrar felicidade após os momentos de tristeza.
Interpretada por Dolores Duran, é uma ode à renovação e à esperança que a manhã traz. A letra começa com a imagem do amanhecer, onde o sol surge após uma noite de chuva. Os pingos de chuva que ainda brilham e bailam ao vento simbolizam as dificuldades e tristezas passadas, que, embora ainda presentes, são suavizadas pela luz e alegria do novo dia. Essa metáfora sugere que, mesmo após momentos difíceis, a vida continua e há sempre a possibilidade de um recomeço.
Dolores Duran, com sua voz suave e emotiva, convida o ouvinte a seguir em frente, deixando para trás os sonhos, lágrimas e sofrimentos do passado. A mão estendida é um gesto de apoio e companheirismo, indicando que não estamos sozinhos em nossa jornada. A música enfatiza a importância de viver o presente e aproveitar as novas oportunidades que surgem com cada amanhecer. A repetição da ideia de 'ver o Sol' reforça a mensagem de otimismo e a busca pela felicidade.
A simplicidade e a beleza da letra, combinadas com a interpretação sincera de Dolores Duran, fazem de 'Estrada do Sol' uma canção atemporal. Ela nos lembra que, independentemente das adversidades, sempre há um novo dia para recomeçar e encontrar a alegria. A música é um convite para abraçar a vida com esperança e coragem, valorizando os momentos de luz e superando as sombras do passado.
Fontes
https://www.letras.mus.br/tom-jobim/49039/significado.html
https://www.letras.mus.br/dolores-duran/396856/significado.html
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