domingo, 20 de outubro de 2024

Vereda da Poesia = 138 =


Poema de
DANIEL MAURÍCIO
Curitiba/PR

Ela 
Dizia que era Maria 
E eu,
De que era José.
Mas o que ela
Mesmo queria,
Tinha um nome
Qualquer.
= = = = = = 

Trova de
IZO GOLDMAN
Porto Alegre/RS, 1932 – 2013, São Paulo/SP

Depois que tu foste embora,
no meu peito, o desencanto
não desabafa nem chora,
não tem voz e não tem pranto...
= = = = = = 

Soneto de
LUIZ POETA
(Luiz Gilberto de Barros)
Rio de Janeiro/RJ

Doce fantasia

Quando toco tuas mãos... que não mais vejo
... e as beijo com meu pranto mais sentido,
Meu olhar... que sempre foi tão colorido,
Redescobre o quanto é vão o meu desejo.

Entretanto, cada lágrima vertida
Dá mais vida ao meu jardim de abstrações
E, assim, cultivo flores e emoções,
Celebrando a minha dor mais... colorida.

Não te foste e nem te vais... eu te eternizo...
Sem aviso tu retornas quando queres
E eu apenas te recebo no impreciso,

Tomo um drinque... um brinde à tua companhia!
... volta sempre, meu amor, quando puderes
Despertar minha mais doce fantasia.
= = = = = = 

Trova Premiada em Irati/PR, 2023
SÉRGIO FONSECA 
Mesquita / RJ

Tolera ofensa, ameaça
e tudo o mais que se vingue
quem, antes de ser vidraça
já foi pedra de estilingue.
= = = = = = 

Poema de
VANICE ZIMERMAN
Curitiba/PR

Gotas de Emoção

Em cada lágrima, retratos de emoção...
Em cada retrato:
um rosto, lembranças e sonhos,
desenhados pela saudade:
nas telas pequenas  e mágicas das lágrimas...
= = = = = = 

Trova Popular

Lá vai uma ave voando
com as penas que Deus lhe deu,
contando pena por pena,
mais penas padeço eu.
= = = = = = 

Soneto de
RAUL DE LEONI
Petrópolis/RJ, 1895-1926

Ingratidão

Nunca mais me esqueci!... Eu era criança
E em meu velho quintal, ao sol-nascente,
Plantei, com a minha mão ingênua e mansa,
Uma linda amendoeira adolescente.

Era a mais rútila e íntima esperança...
Cresceu... cresceu... e, aos poucos, suavemente,
Pendeu os ramos sobre um muro em frente
E foi frutificar na vizinhança...

Daí por diante, pela vida inteira,
Todas as grandes árvores que em minhas
Terras, num sonho esplêndido semeio,

Como aquela magnífica amendoeira,
Eflorescem nas chácaras vizinhas
E vão dar frutos no pomar alheio...
= = = = = = 

Trova de
A. A. DE ASSIS
Maringá/PR

Brincante como um garoto, 
planas no espaço sem fim... 
– Só o poeta, irmão piloto, 
consegue voar assim! 
= = = = = = 

Sonetilho de
THALMA TAVARES
São Simão/SP

Das certezas

Conhecer-se a si mesmo e ter certeza
de que Deus nos ampara com firmeza
e nos conhece a todos sem enganos;

saber que a morte não põe termo à vida,
que é passagem apenas, concedida
para nova existência noutros planos;

amar a Deus mais que às coisas do mundo
e ao próximo querer como a si mesmo,

são sinais de entender quanto é profundo
viver no mundo sem viver a esmo.
= = = = = = 

Trova Humorística de
CÉSAR TORRACA
Rio de Janeiro/RJ

Ela é nova e ele velhinho...
e veio um par de rebentos...
- curioso é que, ao vizinho,
não faltaram cumprimentos...
= = = = = = 

Soneto de 
AMILTON MACIEL MONTEIRO
São José dos Campos/SP

Água

Oh, abençoada água que sacia
a sede natural das criaturas,
não falte nunca em nosso dia a dia,
nas suas fontes mil que jorram puras!

Reconhecendo a sua cortesia,
não iremos manchar o que depuras;
jamais seremos causa de avaria
ao bem que a todos nós só traz venturas!

Aos jovens prometemos ensiná-los
que sejam sempre seus fiéis vassalos
em uso altamente consciencioso.

E assim os homens, plantas e animais,
nosso planeta, enfim, terá jamais
um final triste, por demais sequioso!
= = = = = = 

Trova do
Príncipe dos Trovadores
LUIZ OTÁVIO
Rio de Janeiro/RJ, 1916 – 1977, Santos/SP

Busquei definir a vida,
não encontrei solução,
pois cada vida vivida
tem uma definição...
= = = = = = 

Soneto de
FLORBELA ESPANCA 
Vila Viçosa, 1894 – 1930, Matosinhos

Charneca em Flor

Enche o meu peito, num encanto mago,
O frêmito das coisas dolorosas...
Sob as urzes queimadas nascem rosas...
Nos meus olhos as lágrimas apago...

Anseio! Asas abertas! O que trago
Em mim? Eu ouço bocas silenciosas
Murmurar-me as palavras misteriosas
Que perturbam meu ser como um afago!

E nesta febre ansiosa que me invade, 
Dispo a minha mortalha, o meu burel,
E, já não sou, Amor, Sóror Saudade...

Olhos a arder em êxtases de amor, 
Boca a saber a sol, a fruto, a mel:
Sou a charneca rude a abrir em flor!
= = = = = = 

Trova Funerária Cigana

Não são as galas do mundo,
nem os ricos mausoléus.
São a virtude, a constância,
que levam almas aos céus.
= = = = = = 

Poemeto de 
SOLANGE COLOMBARA
São Paulo / SP

Expresso com poesia
as emoções ilusórias
alvoroçadas no vento,
acolhidas no baú do tempo.
Em meus versos sou rimas,
a brisa girando o catavento.
Demonstro na poesia, a flor
do beija-flor em sutil alento.
= = = = = = 

Trova de 
GLÓRIA TABET MARSON
São José dos Campos/SP

Buscando tecnologia,
o mundo, de hoje, se esquece
que a família em harmonia
tem o amor que nos aquece!
= = = = = = 

Poema de 
ÓGUI LOURENÇO MAURI
Catanduva/SP

Lua Cheia, a do Brasil!
 
Meu Brasil tropical vive esta luta,
"Brilho do sol versus clarão da lua".
Entendo que a noite ganha a disputa,
é o que a massa romântica insinua.
 
Como é lindo o luar de minha terra
nas noites de brisa primaveril!
Lua cheia em seu esplendor encerra
toda a magia dos céus do Brasil!
 
Encanta-me o panorama estelar,
de lua cheia fazendo clarão;
passo muitas horas a contemplar
tal obra divina na imensidão.
 
Chego ao êxtase com tanta beleza
das noites de celestial aquarela.
Sem a luz do sol, vejo a natureza
sob lua cheia, alumbrada por ela.
 
Lua cheia, no Brasil, traz saudade,
emoção que só nosso idioma explica.
Machuca o coração de quem se evade
e estilhaça o coração de quem fica.
= = = = = = 

Trova de
JOANA D’ARC DA VEIGA
Nova Friburgo/RJ

Na gaveta da memória,
guardados que me comovem,
vão guardando a minha história
nas histórias que se movem.
= = = = = = 

Soneto do
Príncipe dos Poetas Piracicabanos
LINO VITTI
Piracicaba/SP, 1920 – 2016

Velho casarão

Casarão - mausoléu glorificado-
a entesourar recordações mediúnicas.
Rotas paredes - testemunhas únicas -
da história milenar do seu passado.

Solitário solar de horror povoado,
de duendes e fantasmas de alvas túnicas.
O chão ressuma ainda ondas budúnicas
e há um cavo estalar de ossos no assoalhado.

No silêncio da noite o casarão
revive pelos velhos aposentos
os dramalhões brutais da escravidão.

E quando entre os desvãos do amplo telhado
ganem soturnamente, os longos ventos
são gemidos de um negro chicoteado.
= = = = = = 

Poetrix de
SILVANA GUIMARÃES 
Belo Horizonte/MG

oh jardineira

eu vou te contar um caso:
o vaso ruim quebrou,
mas sobrou eu, seja como flor.
= = = = = = 

Soneto de
CAMILO PESSANHA
Coimbra, 1867 — 1926, Macau/China

Caminho (I)

Tenho sonhos cruéis: na alma doente
sinto um vago receio prematuro.
Vou a medo na aresta do futuro,
embebido em saudades do presente...

Saudades desta dor que em vão procuro
do peito afugentar bem rudemente,
devendo, ao desmaiar sobre o poente,
cobrir-me o coração de um véu escuro!...

Porque a dor, esta falta d’harmonia,
toda a luz desgrenhada que alumia
as almas doidamente, o céu d’agora,

sem ela o coração é quase nada:
um sol onde expirasse a madrugada,
porque é só madrugada quando chora.
= = = = = = 

Trova Humorística de
THEREZINHA DIEGUEZ BRISOLLA
São Paulo/ SP

Querendo ver o acidente,
ele abriu caminho a murro...
Foi dizendo: "Sou parente"...
Mas quem morreu foi um burro!
= = = = = = 

Poema de 
ANTÓNIO FLORÊNCIO FERREIRA
Lisboa/Portugal, 1848 – 1914

VIII

Meu coração foi sangrado;
Já se não usa a sangria…
Por isso, caso hoje raro,
Ele sangra noite e dia.

Foi operante… quem amo;
A lanceta… o seu olhar;
A ligadura… seus beijos,
Que não tardei a furtar.

E assim ele está gemente,
O meu pobre coração,
Á espera de que mais beijos
O estanquem e ponham são!
= = = = = = 

Trova da
Princesa dos Trovadores
CAROLINA RAMOS
Santos/SP

Eu vejo a terra cansada,
a cada passo mais linda,
sofrendo golpes de enxada,
e dando frutos ainda.
= = = = = = 

Hino de 
Bagé/RS

I
Dos teus campos a linda verdura
Mostra a força, a grandeza, a pujança,
E na guerra, demonstra bravura
O teu filho, empunhando uma lança!
Ribombou no teu seio o canhão
Dos combates gravados na História!...
Revivemos, da glória, a canção.
Sons de sinos dobrando vitória

II
Estribilho
Em teu seio nasceram heróis
Que souberam honrar ao Brasil!
A grandeza da Pátria constróis,
Minha Terra, Bagé Varonil.

III
Junto ao cerro das bandas do Sul,
Tu te estendes alegre, garrida,
Minha terra, de céu tão azul,
Sentinela da Pátria querida!...
És rainha, sustentas a palma
De que tanto me orgulho e me ufano!
Retempero meu corpo e minh'alma
Ante o sopro feroz do minuano! ...

IV
Estribilho
Em teu seio nasceram heróis
Que souberam honrar ao Brasil!
A grandeza da Pátria constróis,
Minha Terra, Bagé Varonil.
= = = = = = 

Trova Premiada no Japão
MERCEDES LISBÔA SUTILO
Santos/SP

Abençoada esta terra
que alvissareira recebe
o migrante, pois, sem guerra,
a paz em todos percebe!
= = = = = = 

Poema de 
ROBERTO PINHEIRO ACRUCHE
São Francisco de Itabapoana/RJ

Ela

Se ela soubesse
que a minha poesia
é inspirada em sua beleza,
que tenho por ela
uma paixão louca
que me invade o peito
e faz ferver o coração,
que me encanto com seu olhar,
presença e jeitinho de caminhar,
que ela é, aparência única
em meus sonhos
que transcendem
as minhas ilusões,
que só em pensar
nos seus beijos
acentuam os meus desejos
que tomam
completamente meu ser,
certamente perceberia
porque todos os dias
estou no mesmo lugar
e no horário que ela passa!
= = = = = = 

Trova Premiada de
RITA MARCIANO MOURÃO 
Ribeirão Preto/SP

Nas serestas da lembrança
onde o orvalho enfeita a tela,
a minha ilusão te alcança,
mas a razão diz:- Cautela!!!
= = = = = = 

Fábula em Versos de
JEAN DE LA FONTAINE
Château-Thierry/França, 1621 – 1695, Paris/França

Aviso de Sócrates

Sócrates fez umas casas
De Atenas em certa rua,
Para nelas habitar
Com a pouca família sua.

Que eram baixas uns diziam,
E outros bastante elevadas,
E em suma convinham todos
Em que eram muito apertadas.

«São apertadas, é certo
— Disse o sábio; — mas eu sei
Que de amigos verdadeiros
Cheias jamais as verei.»

É mais raro do que a Fénix
Um amigo verdadeiro:
Não há nome tão sagrado,
Que seja mais corriqueiro.

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