DANIEL MAURÍCIO
Curitiba/PR
A partida
de um pai
por mais
esperada
que seja,
arde
e machuca
demais
o inconsolável
coração
de quem ama.
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Trova de
IZO GOLDMAN
Porto Alegre/RS, 1932 – 2013, São Paulo/SP
És um arbusto florido...
Eu sou o vento que passa,
e, num delírio atrevido,
te despe e depois... te abraça…
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Soneto de
LUIZ POETA
Rio de Janeiro/RJ
Testamento
Chegou o tempo inevitável da lembrança
...de repensarmos o que foi a nossa vida.
Se a mesma dor bate no amor, ele revida
com um sorriso necessário... de criança.
Doces memórias nos impelem a passados
...dourados... livres... onde os voos da inocência
ignoravam os arroubos da ciência
e preocupavam-se em criar sonhos alados.
Como brincávamos!!! ...tudo era tão bonito
movido apenas pela nossa ingenuidade
e hoje, imersos na leveza da saudade,
reinventamos nosso amor mais... infinito.
Na previsão de um infarto fulminante
ou de um mal súbito iminente e sem aviso,
nosso sorriso idiota e... tão preciso
ainda teima em enfeitar o nosso instante.
Nós insistimos em criar nossas gravuras
mais pueris... mais inocentes... caricatas,
que apenas contam histórias que nem têm datas,
mas apresentam seus momentos... de ternuras.
São versos... esse é o derradeiro patamar
mais expressivo... são os túneis de memórias,
para que alguém, ao estudar nossas histórias
entenda, ao menos, nosso tempo de sonhar.
As forças faltam, nossos corpos cambaleiam,
Mas nossas mãos ainda insistem: digitamos
Ou escrevemos e, assim, reeditamos
O que sonhamos, esperando que nos leiam.
Que tolos somos! Quem se importa com vivências?
...nossa aparência é um retrato desfocado
De um novo tempo que despreza o passado
Abominando nossas vãs experiências.
Nosso legado? Um objeto precioso,
algum dinheiro, um imóvel, a mobília,
Um carro novo, algum tesouro... e uma família
Tão dividida, querendo o mais valioso.
Noras e genros, retirando suas capas,
Filhos e netos, disputando, após o choro,
O que deixamos... cada um criando num coro
Traçando planos sórdidos, criando mapas.
É inevitável percebermos nossas lutas
Por um futuro mais feliz e promissor,
Mostrando tudo que ensinamos sobre o amor,
Findar em cenas lamentáveis de disputas.
Melhor seria procurarmos a alegria
Na fantasia e só deixarmos aos parentes,
Nossas histórias infantis e adolescentes,
E alguns romances.... fragmentos de poesia.
Quem sabe, um neto ou um filho mais sensato
E mais sensível compreenda, de verdade,
Que a nossa vida só buscou felicidade
Na liberdade mais feliz de cada fato?
Quem sabe, um deles, nos pesquise mais a fundo,
E estude a história de cada antepassado
E compreenda que a memória é o legado
Mais importante e verdadeiro que há no mundo.
E que os desejos pessoais e as manias
Naturalmente humanas e mais prazerosas
Não sejam teses imbecis, pecaminosos,
Dos que acusam com cruéis hipocrisias!
Que nossas mãos ganhem asas de passarinhos
E haja carinho em nosso último estertor,
Para que alguém encontre o mapa desse amor
Que cultivamos na rudeza do caminho.
Que nos editem... não há outra alternativa
Que imortalize nossos modos de sonhar
E que respeitem nosso jeitinho de amar
Para que nossa liberdade sobreviva.
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Trova Premiada em Irati/PR, 2023
CIPRIANO FERREIRA GOMES
São Paulo / SP
Da pedra bruta aos brilhantes,
mãos calejadas, fiéis,
servem às mãos elegantes
a vaidade dos anéis.
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Poema de
VANICE ZIMERMAN
Curitiba/PR
Livros e Saudade
Três quadros encostados na parede...
Em cima da mesa, desenhos por terminar.
Na estante, próxima à janela,
entre os livros, a saudade a espreitar...
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Trova Popular
Meu amor, vai pelo mundo:
ir pelo mundo é um bem;
o mundo também é regra
para aqueles que a não têm.
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Soneto de
RAUL DE LEONI
Petrópolis/RJ, 1895-1926
Mefisto
Espírito flexível e elegante,
Ágil, lascivo, plástico, difuso,
Entre as cousas humanas me conduzo
Como um destro ginasta diletante.
Comigo mesmo, cínico e confuso,
Minha vida é um sofisma espiralante;
Teço lógicas trêfegas e abuso
Do equilíbrio na Dúvida flutuante.
Bailarino dos círculos viciosos,
Faço jogos sutis de ideias no ar
Entre saltos brilhantes e mortais,
Com a mesma petulância singular
Dos grandes acrobatas audaciosos
E dos malabaristas de punhais…
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Trova de
A. A. DE ASSIS
Maringá/PR
Acaso fizeste a Lua?
Acaso fizeste a rosa?
Então que ciência é a tua,
tão solene e presunçosa?…
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Poema de
PAULO WALBACH PRESTES
Curitiba/PR, 1945 – 2021
Menino Ilha
Como uma ilha deserta, desperto no meio do mar...
Distante, sem eira e nem beira, mal posso sonhar.
O mar, quase amante com ondas infindas, constantes,
que vêm e que vão;
E todas melosas, molhadas me beijam, me afogam e voltam bailar.
O sol escaldante de dia me aquece, me queima, me atenta
e me faz flutuar...
E um solitário coqueiro com seus leques abertos
me dão o frescor no leve roçar...
E a sombra me cobre, se esquiva, vai embora,
sumindo no ar.
A noite silente, estrelas luzentes palpitam, desejam, rodeiam a ilha
num doce velar...
Vaidosa a lua me sonda, me espia; se olha, se mira no espelho do mar.
E eu tal uma ilha envolto em letras, que voam, saltitam na noite perdido
num mar de ilusão...
Palavras se juntam, ideias benditas me vêm à cabeça mas logo se vão.
Pensamentos acendem faíscas ligeiras, palavras arteiras...
Meu estro acorda, me deixa sonhar.
Sou ilha, sou homem, menino, poeta... Quem sou?...
Sou eu pequenino... no universo, um anão...
sou sol ou sou ilha... sou mar, sou luar, sou eu, sou você...
sou só...
Solidão!
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Trova Humorística de
IDEL BECKER
Porto Casares/ Argentina, 1910 – 1994, São Paulo/SP
Eu recuso mulher nova,
que é espelho dos enganos.
Quero uma velha bem velha
de vinte, ou vinte e dois anos.
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Soneto de
AMILTON MACIEL MONTEIRO
São José dos Campos/SP
Amor sem jaça
Nem pense em me deixar! Eu enlouqueço,
ou vou, por certo, entrar em depressão...
Não saberei viver sem tanto apreço,
com que você prendeu meu coração.
Por isso eu peço aos céus que, a qualquer preço
nos livre de qualquer separação,
que me poria num torpor espesso,
exterminando a minha inspiração!
Também jamais veria no futuro
alguma graça para o meu viver,
pois existir sem estro eu esconjuro!
Assim, meu bem, evite tal desgraça;
jamais me deixe só! Você vai ver
que é todo seu o meu amor sem jaça!
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Trova do
Príncipe dos Trovadores
LUIZ OTÁVIO
Rio de Janeiro/RJ, 1916 – 1977, Santos/SP
Contradição singular
que angustia o meu viver:
a ventura de te achar
e o medo de te perder.
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Soneto de
FLORBELA ESPANCA
(Flor Bela de Alma da Conceição Espanca)
Vila Viçosa, 1894 – 1930, Matosinhos
O fado
Corre a noite, de manso num murmúrio,
Abre a rosa bendita do luar....
Soluçam ais estranhos de guitarra....
Ouço, ao longe, não sei que voz chorar...
Há um repouso imenso em toda terra,
Parece a própria noite a escutar....
E o canto continua mais profundo
Que uma página sentida de Mozart!
É o fado. A canção das violetas:
Almas de tristes, almas de poetas,
Pra quem a vida foi uma agonia!
Minha doce canção dos deserdados,
Meu fado que alivias desgraçados,
Bendito sejas tu! Ave Maria!…
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Trova Funerária Cigana
Nem mesmo sei o que sou
pela dor que sinto agora.
Bem pareço a sombra escura
de um ser que viveu outrora.
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Poemeto de
SOLANGE COLOMBARA
São Paulo / SP
Ouvia-se os respingos
caindo inertes, sem emoção.
Não era chuva, orvalho,
tampouco pranto.
Somente borrifadas...
Talvez poesia,
talvez um nada no chão.
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Trova Humorística de
CÁSSIO MAGNANI
Santa Bárbara/MG, 1921 – 1990, Nova Lima/MG
Madama vai ao peixeiro:
– A senhora quer Robalo?
Ela, mostrando o dinheiro:
– Não, senhor, quero comprá-lo!
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Poema de
MOEMA TAVARES
Rio de Janeiro/RJ
Lágrimas
Correm como um rio
E me afogam...
Gota a gota me descem pela face
Gota a gota formarão um lago, um rio
Cada lágrima é uma gota de aflição,
de saudade de algo que não aconteceu,
de desejos não realizados,
de sonhos apenas sonhados,
não vividos...
As lágrimas inundam o presente
porque não posso esquecer o passado
Idealizado, sonhado...
= = = = = =
Trova de
ORLANDO WOCZIKOSKY
Curitiba/PR, 1927 – 2019
A mulher é diferente
no terreno da emoção:
- O homem diz sim e consente,
ela consente e diz não!
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Soneto de
LUCÍLIA ALZIRA TRINDA DECARLI
Bandeirantes/PR
Maravilha natural
Da lenda, a qual explica a sua origem,
um trecho sobre o amor malsucedido...
“Teve, um casal, seu plano interrompido:
- fratura em rochas... águas com vertigem!...”
Vindas da serra as águas se dirigem
ao cânion, onde o rio está estendido.
Cada turista observa, embevecido,
as gigantescas quedas, que coligem!
Nosso Brasil tem belas cachoeiras,
águas cantantes pelas ribanceiras,
e, cristalinas, vistas a olho nu...
Ressalto, aqui, aquelas impactantes,
maravilhosas, densas, sons vibrantes:
- As Cataratas (plenas) do Iguaçu!
(1° lugar no Concurso Literário-2023, pela Academia Literária do Oeste do Paraná)
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Poetrix de
JUCINEIA GONÇALVES
Belo Horizonte/MG
descompasso
meus caminhos
não singram mares
ah, essa minha continentalidade!
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Soneto de
TOMÁS ANTÔNIO GONZAGA
Porto/Portugal, 1744 – 1810, Moçambique
Marília de Dirceu: Soneto II
Num fértil campo de soberbo Douro,
dormindo sobre a relva descansava,
quando vi que a Fortuna me mostrava
com alegre semblante o seu Tesouro.
De uma parte, um montão de prata e ouro
com pedras de valor o chão curvava;
aqui um cetro, ali um trono estava,
pendiam coroas mil de grama e louro.
Acabou (diz-me então) a desventura:
De quantos bens te exponho qual te agrada,
pois benigna os concedo, vai, procura.
Escolhi, acordei, e não vi nada:
comigo assentei logo que a ventura
nunca chega a passar de ser sonhada.
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Trova Humorística de
THEREZINHA DIEGUEZ BRISOLLA
São Paulo/ SP
Chega tarde, o companheiro
e ao ver tanta grana, exclama:
- Como ganhaste o dinheiro ?!
Passas o dia na cama!!!
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Poema de
YORGOS SEFERIS
Esmirna/Grécia, 1900 – 1971
A Folha do Choupo
Tremia tanto que o vento a levou
tremia tanto como não a levaria o vento
lá longe
um mar
lá longe
uma ilha ao sol
e as mãos apertando os remos
morrendo no momento em que o porto apareceu
e os olhos fechados
em anêmonas do mar.
Tremia tanto tanto
procurei-a tanto tanto
na cisterna com os eucaliptos
na primavera e no verão
em todas as nuas florestas
meu Deus procurei-a.
(tradução: Joaquim Manuel Magalhães e Nikos Pratisinis)
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Trova da
Princesa dos Trovadores
CAROLINA RAMOS
Santos/SP
Na penumbra, o berço é um templo,
ajoelho e em ternura enorme,
entre rendas eu contemplo
meu pequeno deus que dorme!
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Hino de
Arara/PB
Inspirada em uma ave
A tua história surgiu
A pujança de teus filhos
O teu nome difundiu
Reservando o teu espaço
Na História do Brasil.
Arara amada
terra querida
Confio a ti a minha vida.
O teu passado sofrido
Teu presente de certeza
É o prenuncio já vivido
De um futuro de grandeza
Terra plácida e venturosa
Dádiva da mãe natureza.
Arara amada
terra querida
Confio a ti a minha vida.
A tua fé incessante
Sempre enérgica e cristalina
Fruto do teu patriarca
O apóstolo Ibiapina
Faz superar obstáculos
Toda provação domina.
Arara amada
terra querida
Confio a ti a minha vida.
Dezembro mês escolhido
Para ser também o teu Natal
Harmonia, independência
Marcas do teu ideal
Trabalho e crescimento
Tua face natural.
Arara amada
terra querida
Confio a ti a minha vida.
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Trova Premiada no Japão
VANDA FAGUNDES QUEIROZ
Curitiba/PR
Se algum motivo incessante
sopra luz em tons diversos...
é a musa que vem, migrante,
pedir pouso em nossos versos!
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Poema de
PEDRO DU BOIS
Passo Fundo/RS, 1947 – 2021, Balneário Camboriú/SC
Nudez
Desnuda-te
demonstra
tua humanidade
na beleza
em claves
e palavras
onde mostra
aos tolos
que esperam
de ti o golpe
no movimento
de teu corpo nu
teu o arcabouço
no nascimento
e no abandono
no reencontro do corpo
ao encontro de outro
corpo nu como o teu.
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Trova Premiada de
RITA MARCIANO MOURÃO
Ribeirão Preto/SP
Nos meus embates medonhos
sempre enfrento os desafios,
quando a vida tece sonhos
e o tempo desfaz os fios.
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Fábula em Versos
adaptada das Fábulas de Monteiro Lobato
JOSÉ FELDMAN
Campo Mourão/PR
Fábula do Urso e do Coelho
Um urso forte, de grande tamanho,
encontrou um coelho, com jeito de estranho.
“Eu sou o rei, não tenha medo!”
Disse o urso, com ar de enredo.
O coelho, esperto, logo respondeu:
“Reis são muitos, mas amigos são poucos, eu sou seu!”
E assim, com risos, se tornaram aliados,
mostrando que a amizade é o maior dos legados.
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