DANIEL MAURÍCIO
Curitiba/PR
Poemas
são pássaros
livres,
que de vez
em quando
pousam
em nossos
corações.
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Trova de
IZO GOLDMAN
Porto Alegre/RS, 1932 – 2013, São Paulo/SP
Enquanto a guerra inundar
num dilúvio, a Terra inteira,
onde a pomba irá buscar
outro ramo de oliveira?!…
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Poema de
LUIZ POETA
(Luiz Gilberto de Barros)
Rio de Janeiro/RJ
Filigrana
Nem sempre o que sinto é o que escrevo...
Atrevo-me a pensar, perco o poeta,
Poesia é amor em alto-relevo...
Desejo é só ânsia... incompleta.
Nem sempre o que escrevo é o que eu sinto,
Não minto - todavia - as emoções,
O amor é uma taça, o vinho... tinto
É a transfusão do sangue das paixões.
Nem sempre o que me mata é o que me inspira,
Mas há, na minha dor, tanto sentido,
Que quando estou ferido, agindo a lira
Transformo em canção, o meu gemido.
Nem sempre o meu sempre é poesia,
O tempo fantasia a abstração...
O amor dilui a dor na alegria
E tudo flui em forma de emoção.
Meu sempre é ter, dentro da retina,
A luz que ilumina quem respeito...
O amor é uma doce bailarina
Que dança... cristalina... no meu peito.
O amor é sempre um sempre... e é tão bonito
Sonhar... com a ingenuidade de um menino,
Que crê que todo amigo é infinito
E é mais que um presente do destino.
Meu sempre é tão... singelo... e natural,
E o meu sorriso triste, tão... humano...
Que quando me maltrata algum... igual,
O meu amor se ri do desengano.
No fundo, tudo é fina porcelana
Que enfeita a solidão de uma estante,
O amor é muito mais que a filigrana
Que não precisa mais de um diamante.
Amar requer afeto... aceitação
E não um sentimento possessivo,
Que faz do egocentrismo, uma prisão
E a libertação me mantém vivo.
Meu sonho é real ou impreciso,
Porém nunca me encanta o desencanto...
Se choro, a semente do meu riso
Irriga-se no sal que vem do pranto.
O sempre é fugaz... o tempo corre
E escorre como o sangue em cada veia,
Mas minha esperança, que não morre,
Aguarda o diamante na bateia.
Porém o inequívoco anseio
De ter a inspiração brotando em mim,
Dilui meu sonho bom no que semeio
E afaga a brotação do meu jardim.
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Trova Premiada em Irati/PR, 2023
EDY SOARES
Vila Velha / ES
Lembrança doce e singela
enchendo o peito de afago:
eu e meu pai na pinguela,
jogando pedras no lago…
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Poema de
VANICE ZIMERMAN
Curitiba/PR
Há dias assim...
A lembrança do seu olhar,
Do perfume permanece.
A música da última dança...
E a saudade insiste!
Há dias assim
E noites também...
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Trova Popular
Eu casei-me e cativei-me,
inda não me arrependi;
quanto mais vivo contigo,
menos posso estar sem ti.
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Soneto de
RAUL DE LEONI
Petrópolis/RJ, 1895-1926
História antiga
No meu grande otimismo de inocente,
Eu nunca soube porque foi... um dia,
Ela me olhou indiferentemente,
Perguntei-lhe por que era... Não sabia...
Desde então, transformou-se, de repente,
A nossa intimidade correntia
Em saudações de simples cortesia
E a vida foi andando para a frente...
Nunca mais nos falamos... vai distante...
Mas, quando a vejo, há sempre um vago instante
Em que seu mudo olhar no meu repousa,
E eu sinto, sem no entanto compreendê-la,
Que ela tenta dizer-me qualquer cousa,
Mas que é tarde demais para dizê-la…
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Trova de
A. A. DE ASSIS
Maringá/PR
Canarinho, quando canta,
que será que o faz cantar?
– Sei lá... mas a mim me espanta
que ele cante sem cobrar...
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Sonetilho de
EUCLIDES DA CUNHA
Cantagalo/RJ, 1866 – 1909, Rio de Janeiro/RJ
Comparação
"Eu sou fraca e pequena..."
Tu me disseste um dia.
E em teu lábio sorria
Uma dor tão serena,
Que em mim se refletia
Amargamente amena,
A encantadora pena
Que em teus olhos fulgia.
Mas esta mágoa, o tê-la
É um engano profundo.
Faze por esquecê-la:
Dos céus azuis ao fundo
É bem pequena a estrela...
E no entretanto — é um mundo!
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Trova Humorística de
HELENA KOLODY
Cruz Machado, 1912 – 2004, Curitiba
Cresceu estranho tumor
no pé descalço do Zé.
Será que eu tenho, doutor,
apendicite no pé?
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Soneto de
AMILTON MACIEL MONTEIRO
São José dos Campos/SP
Pedra bruta
Pedra bruta que sou, me dá trabalho
Tirar de mim as lascas a cinzel...
Quantas vezes que eu já errei o malho,
Deixando a outra mão feito um pastel!
Quantas vezes também eu me atrapalho,
Mandando o que já fiz pro beleléu...
E o recomeço deixa-me em frangalho,
Pois bem sei eu como isto é cruel!
Já foram, assim, dez lustros de labuta,
Mas continuo ainda pedra bruta...
E mil pedaços já arranquei de mim!
Vou ter que contratar alguém bem destro
Que a essa lapidação coloque um fim,
E eu volte a trabalhar só com meu estro!
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Trova de
CLÁUDIO DE CÁPUA
São Paulo/SP, 1945 – 2021, Santos/SP
Em noite alta... madrugada,
contemplo a lua contrito:
- Barca de prata aportada
nos segredos do infinito.
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Soneto de
FLORBELA ESPANCA
(Flor Bela de Alma da Conceição Espanca)
Vila Viçosa, 1894 – 1930, Matosinhos
A um livro
No silêncio de cinzas do meu Ser
Agita-se uma sombra de cipreste,
Sombra roubada ao livro que ando a ler,
A esse livro de mágoas que me deste.
Estranho livro aquele que escreveste,
Artista da saudade e do sofrer!
Estranho livro aquele em que puseste
Tudo o que eu sinto, sem poder dizer!
Leio-o, e folheio, assim, toda a minh’alma!
O livro que me deste é meu, e salma
As orações que choro e rio e canto! …
Poeta igual a mim, ai que me dera
Dizer o que tu dizes! … Quem soubera
Velar a minha Dor desse teu manto! …
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Trova Funerária Cigana
Sempre foste minha estrela,
eu com gosto te seguia,
na tormenta te apagaste,
fiquei sozinho e sem guia.
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Poemeto de
SOLANGE COLOMBARA
São Paulo / SP
As folhagens agitadas
sentem o frescor
do crepúsculo
que vai de encontro
ao horizonte, enquanto
gaivotas repousam
no por do sol.
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Trova de
GERSON CÉSAR SOUZA
São Mateus do Sul/PR
Não julgue alguém pela imagem,
pois muitos fazem de tudo
para esconder na “embalagem”
a falta de conteúdo.
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Poema de
CATULO DA PAIXÃO CEARENSE
São Luís/MA, 1863 — 1946, Rio de Janeiro/RJ
Recorda-te de mim
Recorda-te de mim quando de tarde
Gloriosa a morrer na luz do dia
E nos seios da noite a serrania
Em candores de neve se ocultar
Recorda-te de mim nesse momento
As estrelas saudosas do penar.
Recorda-te de mim quando alta noite
Escutares um canto de tristeza
Descontando por toda a natureza
Nos formosos harpejos do luar
Recorda-te de mim quando acordares
E sentires no peito do adolescente
Um espirito em mágoa florescente
Uma hora em teu peito a suspirar.
Recorda-te de mim quando no templo
Numa prece serena, doce e fina
Sob o altar florescido de Maria
Teus segredos à Virgem confiar
Recorda-te de mim nesse momento
Para que minha dor tenha um alento
E me deixe morrer com o pensamento
De que morro feliz só por te amar.
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Trova de
MERCEDES LISBÔA SUTILO
Santos/SP
És o livro de poesias
de amor, a mim dedicadas!
Se me abraças, irradias
vida às frases arrojadas!
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Soneto do
Príncipe dos Poetas Piracicabanos
LINO VITTI
Piracicaba/SP, 1920 – 2016
Poeta à antiga
Quando o enxergam passar - passos pequenos,
a face magra, quieto, entristecido -
lançando às vezes , no ar, mudos acenos
em gestos de abraçar o indefinido;
Quando o enxergam passar(e o seu ouvido
não atende aos insultos dos terrenos)
todos, num quase acento comovido,
dizem: "deve ser louco, mais ou menos..."
Um dia (nem eu sei como se deu)
conversamos...Contou-me todo o seu
viver, cheio de angústias e revezes...
É poeta!...Arrependo-me dizê-lo
pois eu sei que dirão, agora, ao vê-lo:
-"Poeta?... Então é louco duas vezes!"
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Poetrix de
SÍLVIA MOTA
Belo Horizonte/MG
perda de tempo
de tempos em tempos
enquanto homens resmungam
renova-se o Tempo.
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Poema de
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
Itabira/MG, 1902 - 1987, Rio de Janeiro/RJ
Confidência do itabirano
Alguns anos vivi em Itabira.
Principalmente nasci em Itabira.
Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.
Noventa por cento de ferro nas calçadas.
Oitenta por cento de ferro nas almas.
E esse alheamento do que na vida é porosidade e comunicação.
A vontade de amar, que me paralisa o trabalho,
vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres e sem horizontes.
E o hábito de sofrer, que tanto me diverte,
é doce herança itabirana.
De Itabira trouxe prendas diversas que ora te ofereço:
esta pedra de ferro, futuro aço do Brasil,
este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval;
este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas;
este orgulho, esta cabeça baixa...
Tive ouro, tive gado, tive fazendas.
Hoje sou funcionário público.
Itabira é apenas uma fotografia na parede.
Mas como dói!
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Trova Humorística de
THEREZINHA DIEGUEZ BRISOLLA
São Paulo/ SP
- Vamos ao circo sozinhos
e, por favor, fiquem calmas.
E as mães dos dois mosquitinhos:
- É que o povo... bate palmas!
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Poema de
GERRIT KOUWENAAR
Amsterdam/Holanda, 1923 – 2014
É um dia claro
é um dia claro é um mundo escuro
entre a verde erva a carne é vermelha
homens deixam-se vergar por um naco de pão
é um dia escuro é um mundo claro
riem os homens e tudo é possível
percorri o caminho para colher uma maçã
mas no caminho havia uma cobra
a vida é boa mas a vida podia ser melhor
todas essas guerras entre tréguas eternas
todo esse morrer para viver ainda mais
a vida é boa mas a vida podia ser melhor
a carne é dura de roer mas mais tenra que os ossos
percorri o caminho para escapar à morte
mas no caminho havia um homem de ferro
enquanto a boca mastiga o ar rarefaz-se
enquanto o pão se digere a mão invalida-se
enquanto falamos na casa ela incendeia-se algures
é um dia escuro é um mundo escuro
os jornais noticiam como aconteceu e como não acontecerá
percorri o caminho para construir uma cidade
mas projetei torres em subterrâneos
no quadro o mestre-escola escrevia futuro amor e deus
salve a nossa pátria, e eu todo lábios e olhos
imitava-o na lousa
mas lá fora dançava a rapariga tangível
flutuando como se não houvesse leis da gravidade
percorri o caminho para encontrar o caminho
mas atrás do pudim havia um prato vazio
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Trova de
ANTONIO SALOMÃO
Altinópolis/SP, 1921 – ???, Curitiba/PR
Eu vejo a terra cansada,
a cada passo mais linda,
sofrendo golpes de enxada,
e dando frutos ainda.
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Hino de
Macaíba/RN
Foi nas margens do Rio Jundiaí
Onde o sonho de um povo começou
E nas sombras de uma palmeira
Que Fabrício seu nome elegeu
Foi na luta de gente que ama
Sua terra, seu povo, seu porto torrão;
Em batalhas e lutas ferozes
A aurora de grandes vitórias
No cultivo do chão da esperança
No horizonte queremos chegar
E agora queremos saudar
A uma terra que luta
Mas glórias terá;
Refrão
Eu te saúdo, óh Macaíba
Eu te saúdo, antiga Coité
Esperança é uma semente
Que nasce, que brota
Neste lugar;
É uma terra de gente de glórias
De Severo e o Pax seu balão
Defensores da nossa cultura
Aliados da educação
São poetas, são homens da Lei
Que viveram sonhando
Buscando ideais;
As riquezas do povo potiguar
Pelas águas do nosso rio passou
Pelas mãos desse povo valente
Que tirou o sustento do chão
E tão valioso ouro branco
De nossos engenhos da cana tirou;
Refrão
Eu te saúdo, óh Macaíba
Eu te saúdo, antiga Coité
Esperança é uma semente
Que nasce, que brota
Neste lugar.
= = = = = =
Trova de
NEIDE ROCHA PORTUGAL
Bandeirantes/PR
Sem usar o pão sobre a mesa,
eu não reclamo, porquê…
em meio a tanta pobreza
minha fortuna é você!
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Poema de
ALVES COELHO
(José Adalberto Alves Coelho)
Lisboa/Portugal
Olhos Castanhos
Teus olhos castanhos
de encantos tamanhos
são pecados meus,
são estrelas fulgentes,
brilhantes, luzentes,
caídas dos céus,
Teus olhos risonhos
são mundos, são sonhos,
são a minha cruz,
teus olhos castanhos
de encantos tamanhos
são raios de luz.
Olhos azuis são ciúme
e nada valem para mim,
Olhos negros são queixume
de uma tristeza sem fim,
olhos verdes são traição
são cruéis como punhais,
olhos bons com coração
os teus, castanhos leais.
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Trova de
RITA MARCIANO MOURÃO
Ribeirão Preto/SP
Faça do livro, criança,
a rota dos sonhadores.
O livro é o barco que alcança
o porto dos vencedores.
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Fábula em Versos de
JEAN DE LA FONTAINE
Château-Thierry/França, 1621 – 1695, Paris/França
Os dois homens e a Fortuna
Dois amigos numa aldeia
Viviam; um a cantar;
O segundo, volta e meia,
Descontente, a suspirar.
«Aqui, amigo, a abastança
Nos nega a sorte importuna;
Mas de lugar a mudança
Faz que se encontre a Fortuna.
— Não te quero dissuadir,
Vai ver mundo, vê se a apanhas,
Que eu ficarei a dormir,
À espera de que tu venhas.»
O ambicioso, neste intuito,
Lembrou-lhe a corte; partiu,
Chegou lá, procurou muito,
Mas a Fortuna não viu.
Busca monção oportuna,
Vai ao Mogol, mas em vão;
Dizem-lhe lá que a Fortuna
Se encontrava no Japão.
De novo ele sulca os mares,
E, não vendo a deusa amada,
Volta aos seus antigos lares,
Dando ao diabo a cartada.
E a Fortuna, seu castigo,
Veio encontrá-la a sorrir,
Sentada à porta do amigo,
Que dormia a bom dormir.
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