sábado, 22 de março de 2025

Vereda da Poesia = 229


Soneto de
EDY SOARES
Vila Velha/ES

PARAFRASEANDO BILAC

Ouvem estrelas, falam com as flores,
e tantas vezes sofrem dores vãs;
dizem sentir o cheiro das manhãs... 
Haverá loucos, aonde quer que fores!

Fazem dos versos, sempre, os seus divãs,
falam de tédio, mortes, desamores...
e tantas vezes atribuem cores 
aos quadros de floradas temporãs.

São sensacionalistas desvairados
buscando, na poesia os verdes prados,
o bucolismo, a paz o, amor profundo...

Podem pensar que somos masoquistas
ou legião de loucos alquimistas...
Mas os poetas vão salvar o mundo!
= = = = = = = = =  

Quadra Popular de
AUTOR ANÔNIMO

O teu rosto de morena
levemente tem a cor;
para poder compará-lo
não encontro uma só flor.
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Poema de
ANTERO JERÓNIMO
Lisboa/ Portugal

MÁSCARA

Maquilha a preceito os traços do seu rosto invisível
para cada ocasião há sempre uma máscara disponível
Frente ao toucador ilude na displicência
sabe embelezar-se com finas vestes d'aparência
Surge em palco, glamorosa! Não tem hora marcada
dispensa convite e não precisa ser anunciada
Conhece de cartilha os dotes da insinuação
assemelha-se à verdade pela força da convicção
Bamboleando-se audaz observa os presentes
vai distribuindo vénias e olhares reluzentes
O sorriso é fácil, a confusão o seu sustento
é exímia a eleger o espectador mais desatento
Pompa, circunstância, a festa vai no seu apogeu
focam-se as atenções na realidade que se esqueceu
Continua a menear-se, coreografia mil vezes ensaiada
tropeça, cai a máscara, foge em debandada
Cessam os aplausos, pois a festa já terminou
falsas vestes em beco escuro alguém abandonou.
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Haicai do
PROFESSOR GARCIA
Caicó/RN

A luz do luar,
vejo arabescos na areia
de espumas do mar!
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Poema de
DOMINGOS FREIRE CARDOSO
Ilhavo/ Portugal

QUE NEM UM RASTO FIQUE NO CAMINHO
(Manuel Lima Monteiro Andrade in "Mãos abertas" p. 122)

Que nem rasto fique no caminho
Por onde me perdi, errando os passos
E os meus pés possam ter deixado traços
Quando avançavam sós e em desalinho.

Por mim acompanhado andei sozinho
Com glória diminuta e bens escassos
Cingi os grandes nadas com meus braços
Plantei agrura e quis colher carinho.

Em vão tentei encher meu ser de bem
Degustar o melhor que a vida tem
Mas o meu peito a graça não achou.

Fugaz e pouca foi a rainha vida
Uma estrela cadente que, perdida
Riscou o céu e logo se esfumou...
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Poema de
ANDRÉ GRANJA CARNEIRO
Atibaia/SP, 1922 – 2014 , Curitiba/PR

QUÂNTICA REALIDADE

Na pequena morte
ressuscito o mundo estranho
da minha cabeça.
Sou o mandarim no sonho da borboleta.
Vivo a irrealidade dos fatos
sem a memória acordada.
Neste próximo milênio
faço 15 bilhões de anos.
Ainda tenho na ponta do dedo
um átomo girando do big-bang.
A cobra,
desesperada
com a falta dos braços,
abraça Eva com o corpo inteiro.
Os avós peixes não se lembram
quando saíram da água.
Não há mais opostos:
real e imaginário,
passado e futuro,
vida e morte.
As palavras caíram
no lago global do esquecimento,
a quântica relatividade dança conosco
no espaço curvo deste planeta redondo.
= = = = = = 

Poema de
FILEMON MARTINS
São Paulo/ SP

COISAS DE AMOR

É noite calma. A lua está brilhando,
namorados passeiam pela rua,
enquanto aqui a sós fico sonhando,
- como dói no meu peito a ausência tua.

Quisera, nesta noite, estar amando
tranquilo a contemplar a luz da lua
e seguirmos, unidos, procurando
novos sonhos, que a vida continua...

Meu coração, porém, desconfiado,
parece reviver triste passado,
— não acredita mais nesta emoção. '

Se a vida não perdeu o encantamento
desse sonho de amor, desse momento,
— coisas de amor não têm explicação.
= = = = = = = = =  

Poema de
THEREZINHA DIEGUEZ BRISOLLA
São Paulo/SP

A IDADE DO OLHAR

O teu olhar me convida
ao amor... e, ainda que evite,
no meu delírio, atrevida,
eu aceito o teu convite.

O olhar de espanto
diante do mundo.
O primeiro brinquedo, Papai Noel, a escola...
A vida correndo sem parar
e eu a brincar
indiferente...
Meu tempo é o presente.

O olhar sem medo
diante do mundo.
O primeiro amor, a faculdade, o emprego...
Em busca dos sonhos, o adeus, o desapego.
Vencendo distâncias, transpondo fronteiras
eu procuro...
Meu tempo é o futuro.

O olhar sereno
diante do mundo.
Os primeiros sonhos sendo refeitos...
Sobre o livro de orações, os óculos
e sobre a folha de papel, em branco, a caneta
à espera da inspiração para a poesia.
A visita, a carta, o telefone,
o enfado...
Meu tempo é o passado.
= = = = = = = = =  

Soneto de
MIGUEL RUSSOWSKY
Santa Maria/RS (1923 – 2009) Joaçaba/SC

JOIA MAIOR!…

Começo por supor, nos ares, o desenho
De um verso magistral procurando agasalho.
Cabe a mim (sou poeta) encontrar um atalho
Para vê-lo nascer nos recursos que tenho.

Com as rimas gentis nas estrofes, me empenho
Em ser original, (Poucas vezes eu falho),
Já nem ouso explicar se é prazer ou trabalho
Exibir ao leitor as farturas do engenho.

O esmeril dá-lhe o brilho e lhe poda as arestas…
Assim é que se faz um soneto bonito,
Para ser declamado em saraus ou em festas.

Ninguém pode dizer o valor de uma joia,
Se polida não foi pela mão do perito.
É na lapidação que a beleza se apoia.
= = = = = = = = =  

Poema de
SEBAS SUNDFELD
Pirassununga/SP, 1924 – 2015, Tambaú/SP

DEVANEIO

Sua imagem visita
a madrugada do meu sonho.
Recebo-a com a carícia da saudade,
A penumbra da sala
tem o aconchego do seu abraço
e as rosas ainda guardam
o perfume do seu corpo.
Reclino lembranças
sobre a almofada de veludo,
onde nossas mãos se encontraram
ainda há pouco,
no adeus das nossas esperanças.
Para brindar sua presença
retida em meus sentidos,
experimento o sabor de beijos
no vinho que você deixou
na taça de cristal.
E o silêncio dos meus lábios
recita a poesia do seu nome,
= = = = = = = = =  

Poema de
LUCIANA SOARES CHAGAS
Rio de Janeiro/RJ

O VENTO

O vento canta entre as árvores,
seu som desliza sobre as folhas,
o mar sereno, em ondas calmas,
enquanto a lua acende a noite.

A chuva cai sem pressa,
beija o chão em gotas frias,
desenha rios nos caminhos,
abraça o tempo sem destino.

O sol desperta em luz dourada,
veste o dia em fogo e sombra,
banha rostos, veste sonhos,
espalha vida pelo ar.

Um olhar faceiro brilha leve,
segue o vento em seus mistérios,
folhas dançam nos cabelos,
o silêncio esconde um susto breve.

No horizonte, o dia espera,
o tempo e o vento são passagem,
o vestido da moça esvoaça,
mostrando as curvas... da paisagem.
= = = = = = = = =  

POEMA DE
APARECIDO RAIMUNDO DE SOUZA
Vila Velha/ES

DECISÃO

Parei de correr atrás da saudade
que ficou de você...
Agora não me acho em mim
Acredite! É a mais pura verdade…
= = = = = = = = =  

 Poetrix de
REGINALDO COSTA DE ALBUQUERQUE
Campo Grande/ MS

Príncipe moderno

Na dúvida,
anunciou o sapatinho de cristal
nos classificados do jornal.
= = = = = = = = =  

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