Era uma manhã ensolarada no quartel do Exército da Vila Militar. O soldado Carlos, um jovem sempre alegre, mas que às vezes exagerava, estava se recuperando de uma leve gripe. Ele havia contatado sua mãe, Dona Edna, e comentou que não estava se sentindo bem. Preocupada, ela decidiu preparar seu famoso prato de sopa de galinha e foi direto para o quartel.
— Vou levar a sopa do meu menino! — disse Dona Edna, com um sorriso no rosto e o prato bem embrulhado em suas mãos.
Ao chegar na entrada do quartel, ela foi recebida por um soldado de plantão.
— Bom dia, senhora! O que deseja? — perguntou ele, firme.
— Bom dia! Eu sou a mãe do soldado Carlos e trouxe uma sopa para ele! — respondeu Dona Edna, com entusiasmo.
— Desculpe, senhora, mas não posso deixar você entrar! — disse o soldado, com um ar sério.
— Mas é só uma sopa! Ele não está se sentindo bem! — insistiu Dona Edna, já começando a se preocupar.
— Senhora, não posso fazer exceções. É contra as regras. — respondeu o soldado, sem mudar a expressão.
Nesse momento, o sargento Almeida passou e ouviu a conversa.
— O que está acontecendo aqui? — perguntou, franzindo a testa.
— Sargento, essa senhora quer entrar com uma sopa para o soldado Carlos — explicou o soldado, apontando para Dona Edna.
— A senhora não pode entrar — disse o sargento, tentando ser firme.
— Mas eu sou a mãe dele e estou preocupada! — Dona Edna começou a gesticular. — Ele precisa de carinho, de uma sopa quentinha!
— Senhora, eu entendo, mas regras são regras — insistiu o sargento.
Dona Edna, já irritada, decidiu que não ia se deixar abater.
— Olha aqui, meu filho está doente! Eu não vou embora sem ver o Carlos! — disse ela, cruzando os braços.
Nesse momento, o capitão Ferreira apareceu, ouvindo o barulho.
— O que está acontecendo aqui? — perguntou ele, com um ar de autoridade.
— Capitão! Esta senhora quer entrar com uma sopa! — disse o sargento, gesticulando para Dona Edna.
— Sopa? Isso é sério? — perguntou o capitão, olhando para Dona Edna. — Senhora, não podemos permitir isso. Se cada mãe trouxer sopa, vai ser uma bagunça.
— Mas é só uma sopa! — gritou Dona Edna, já começando a perder a paciência.
— Isso é uma questão de disciplina! — interveio o major Souza, que agora se juntara ao grupo.
— Disciplina? Olha, eu só quero ver meu filho e dar a ele essa sopa! — Dona Edna estava quase em lágrimas.
— Senhora, se a senhora entrar, não vai ser só a sopa. Vai ter que trazer um banquete! — disse o major, tentando manter a situação sob controle.
Dona Edna estava prestes a explodir quando Carlos decidiu intervir.
— Mãe! Eu estou aqui! Posso vê-la? — gritou ele, saindo da sala.
— Carlos! — exclamou Dona Edna, aliviada ao ver o filho.
— O que está acontecendo? — perguntou Carlos, percebendo a confusão.
— Eu só queria trazer a sua sopa! — disse Dona Edna, com a voz embargada.
— É só isso? — Carlos olhou para os oficiais, que estavam todos com expressões de cansaço da situação embaraçosa.
— Sim, e todos esses senhores não me deixam entrar! — disse Dona Edna, apontando para o sargento, o capitão e o major.
— Olha, mãe, eu aprecio sua preocupação, mas... — começou Carlos, mas foi interrompido.
— Você não pode ficar doente! — disse Dona Edna, já entrando na conversa. — Você precisa de sopa, carinho e descanso!
— E você precisa aprender a seguir as regras! — disse o major, tentando manter a ordem.
Nesse momento, Dona Edna virou-se para o major.
— E quem disse que a sopa não é uma regra? É uma regra da boa alimentação! — ela retrucou, com uma expressão determinada.
Os oficiais estavam tão cansados da discussão que começaram a olhar uns para os outros, sem saber o que fazer.
— Olhem, vamos resolver isso de uma vez por todas! — disse o capitão, já exasperado. — Carlos, você pode sair com sua mãe e levar a sopa para casa. Assim, a senhora pode cuidar de você.
— É isso mesmo! — exclamou Dona Edna, com um sorriso triunfante. — Vamos, meu filho!
— Mas, e quanto à disciplina? — perguntou o sargento, confuso.
— A disciplina pode esperar! — disse o major, já perdendo a paciência. — Todo mundo aqui já teve mãe! Deixe o soldado ir!
Carlos, aliviado, pegou a sopa de sua mãe e saiu do quartel, seguido por ela, que estava radiante.
— Obrigada, senhores! — ela gritou, enquanto se afastava. — E lembrem-se: sopa é amor!
Os oficiais, exaustos, começaram a rir da situação.
— Nunca mais vou subestimar o poder de uma mãe — disse o capitão, balançando a cabeça.
E assim, o soldado Carlos e sua mãe foram para casa, deixando para trás um quartel que nunca mais esqueceria aquela "sopa".
Fontes:
José Feldman. Labirintos da vida. Maringá/PR: Plat. Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul.
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing
Nenhum comentário:
Postar um comentário