MEUS CAROS LEITORES, confesso que muitas vezes, em minha vida, me senti como se estivesse à beira de um abismo. E pior, me flagrei olhando diretamente para um fosso gigantesco com o rosto em pânico, assustado, temeroso, tudo por conta da imensidão que ele me mostrava, ou seja, um fantástico cenário que se estendia diante de meus receios com sinais tétricos e devoradores. Com isso, o amor que outrora não me sustentava a contento, de repente, do nada, me deu forças e me fez sentir vivo. Em dias de hoje, meu ontem me parece apenas uma lembrança distante. A dor da perda (não importa qual perda tenha sido) me acompanhava. Era como um peso insano que esmagava, tornando difícil as mínimas coisas, inclusive, o respirar. Nesses idos, me sentia como se estivesse, de fato, caindo, despencando sem rede de segurança, sem nada para me segurar naquele infausto mergulho.
A tal cissura se fazia de concepção profunda e escura, e eu, em certas horas, não atinava em como sair dela inteiro. Ao mesmo tempo, vejam que loucura —, me agasalhava uma estranha sensação de liberdade. Estava alforriado, e me via consciente, para escolher o meu próprio caminho e dentro dele, decidir como seguir em frente. O despenhadeiro podia ser um sujeito chato, pegajoso, fútil, maldoso, de semblante assustador, notadamente de espírito vulgar e sem precedentes, não nego, mas também, em oposto, se me apresentava como uma porta aberta e larga para o desafio. Nessas horas de puro aperreio, eu descobri que não estava sozinho. Que diabo, se não estava sozinho, com quem poderia contar? Com a minha força de superação, com a minha coragem à flor da pele, com a vontade férrea, ou com a ideia imorredoura de querer, com garra e ambição, alcançar os meus objetivos mais prementes.
Muitas pessoas, tenho conhecimento, já passaram por isso antes de mim. E sobreviveram. Se elas conseguiram, por qual motivo eu não atingiria as minhas metas? Obviamente, nessas horas amargas, não fiquei à espera de um milagre, como John Coffey, (personagem vivido pelo magnífico Michael Clarke Duncan, no filme “À espera de um milagre”). Saí, como aliás, de fato, fui em busca, à procura e à caça de meus objetivos e o mais importante, tendo plena convicção de que encontraria uma maneira de me ver salvo daqueles “desassossegos agourentos”, e, ao final, me levantaria e seguiria vitorioso. Não deu outra. A vida, bem sabemos, é cheia de altos e baixos, de momentos de alegrias e dores, de aflições e dissabores. E foi justamente no meio dessa mistura catastrófica de emoções as mais diversas e desordenadas, ou à flor da pele, que encontrei a verdadeira beleza da existência.
Eu aprendi, meus caros amigos e leitores, aliás, tomei consciência diante da imensidão do meu “abismo”, e como superei as dores e descobri as belezas plenas que ainda existiam dentro de mim. Elas (repetindo, as dores e as aflições) me subsidiaram forças hercúleas para me levantar, sacudir a poeira e marchar. Saibam que é do fundo do poço (ou do abismo) que a gente descobre a majestade e o primor do que conhecemos como “Fracasso” e diante dele, tomar controle, passar as mãos nas ferramentas, aplainar as arestas, desfazer os prós e remover os contras, superabundando os objetivos a serem englobados em nosso querer mais expressivo. E foi também na escuridão dessas horas mais tormentosas que me deparei, ou melhor dito, me encontrei tête-à-tête com a luz forte e majestosa que me guiaria (como diria Clark Kent, na pele do Superman no seriado Smallville) “Para o alto e avante”, em busca do Sucesso.
Nesse tom belo e formoso, com determinação e coragem, segui, passo a passo, pela borda do tal abismo, até encontrar o outro lado, onde a Esperança me esperava radiante e carismática, esfuziante e o melhor de tudo, de braços abertos. E a Esperança —, indagarão vocês: como veio? Sem medo de errar, sinalizaria que ela chegou como um sorriso inesperado, que quebrou, de pronto, a escuridão reinante e me trouxe à claridade ideal e no ponto certo ao “meu eu”. Uma magnitude se apossou de mim como um toque gentil que por sua vez despertou a força interior e não deixou esquecer do que eu seria capaz de superar e ultrapassar meus próprios medos e incertezas. A Esperança veio, (ou melhor me expressando) VIROU e sempre virará, haja o que houver e acontecerá como um sopro benfazejo, igual um sussurro silencioso e calmo, tranquilo e acolhedor que me dirá constantemente ao pé do ouvido “Tudo ficará bem, as dores passarão e a sua alegria voltará mais coesamente inquebrantável e indestrutível”.
Os meus amigos e leitores me perguntarão: diante desses percalços, como reconhecer esse “sussurro silencioso” ao qual me refiro? E o mais intrigante. Se esse “sussurro é silencioso,” como identificá-lo? Simples como tirar um pacotinho de balas de uma criança sentada sozinha no portão da sua casa. O “sussurro silencioso” ao qual me referi, nada mais é que um sentimento de paz que entrará em cena no “oculto”, que mora dentro de cada um de nós. Ele se fará reconhecido, lado igual, como aquele toque de paz que surgirá no ausente de barulho, ou naquele momento de clareza que iluminará as nossas sendas. Talvez seja um alegrar interior, um sentimento de confiança que emergirá do mais profundo existente dentro de nós. Talvez seja um sinal sutil, como um raio de sol que atravessará as nuvens, ou poeticamente se assemelhará ao canto de um pássaro que devorará o mavioso embutido dentro do próprio som inexistente.
Mais do que qualquer sinal externo, o “sussurro silencioso” se apresentará para nosso deleite, como um sentimento opulento que nascerá no recôndito de nosso âmago. É um saber, um sentir, um intuir anunciando que tudo ficará bem, sinalizando, outrossim, que sou forte o suficiente para superar os desafios (por maiores que sejam) e que, por fim, a tal sonhada e lúdica Esperança estará ao meu alcance. A Esperança veio, como uma brisa suave, um gesto que acariciaria a alma e iluminaria o caminho. Viria, como veio, da mesma forma, como um sorriso terno e inesperado, que quebrou, de imediato, a escuridão e trouxe a luz do Poder incandescente sobre a minha desilusão. O renovar bateu em minha porta como um toque gentil, que por seu turno despertou a força interior e me lembrou do que sou capaz de superar qualquer entrave. A esperança veio, ainda, como um presságio inconfundível que me sinalizaria que “tudo ficaria bem, que as dores passariam e que a alegria estaria sempre ao meu lado”.
O abismo, meus caros amigos, o seu abismo tanto quanto o meu, pode ser superado, não necessariamente extinguindo, mas sim atravessando, rompendo ou...fechando. Como um ponto. O abismo, em resumo, é uma parte de nós mesmos, tipo uma sombra que nos acompanha, mas não nos define. Podemos aprender a conviver com ele, a entender as suas profundezas e encontrar a força motriz para aniquilar quaisquer contratempos. Mandar o abismo para longe não é uma questão de simplesmente eliminá-lo, todavia, uma forma de aprender a lidar com sua presença, a encontrar a incandescência da Paz que abarca as suas profundezas e descobre as raridades nostálgicas e “sempiternais” (tempos eternos) que se escondem em suas entranhas e sombras. É um processo de autoconhecimento, de cura e de transformação. Por isso, quando olho para o meu antigo abismo (quando ele teima em se fazer presente) com coragem e convicção, descubro, deslumbrado, que ele não é tão profundo e denso como parece, ou quando penso, sobretudo, passo a entender que o Foco de energia que emerge de dentro dele, (ou em outras palavras), de dentro de nós, é capaz de iluminar (e, de fato ilumina) até as sombras mais impertinentes e sisudas.
Em resumo, o que fazer diante do abismo que comumente nos encara? Conviver com ele, sem perder a noção do tempo, da vida e das coisas boas. O abismo, caros amigos e leitores, em repeteco, pode ser visto como uma metáfora para a profundidade e a complexidade da alma humana. Sua presença em nossa vida representa os momentos de crise, de desespero ou de perda, quando nos sentimos à beira de um precipício, (como eu descrevi no presente texto), sem saber como prosseguir. No cotidiano, o abismo se refere a uma formação geológica profunda e íngreme, como um “cânion ou uma fossa oceânica”. Esses locais podem ser impressionantes e intimidantes, mas também podem ser “habitats” e, de fato são, únicos e fascinantes para diversas espécies. Como sair deles? Acreditando piamente na “Força” e na “Fé” interiores que estão presente em cada um de nós.
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Aparecido Raimundo de Souza, natural de Andirá/PR, 1953. Em Osasco, foi responsável, de 1973 a 1981, pela coluna Social no jornal “Municípios em Marcha” (hoje “Diário de Osasco”). Neste jornal, além de sua coluna social, escrevia também crônicas, embora seu foco fosse viver e trazer à público as efervescências apenas em prol da sociedade local. Aos vinte anos, ingressou na Faculdade de Direito de Itu, formando-se bacharel em direito. Após este curso, matriculou-se na Faculdade da Fundação Cásper Líbero, diplomando-se em jornalismo. Colaborou como cronista, para diversos jornais do Rio de Janeiro e Minas Gerais, como A Gazeta do Rio de Janeiro, A Tribuna de Vitória e Jornal A Gazeta, entre outras. Hoje, é free lancer da Revista ”QUEM” (da Rede Globo de Televisão), onde se dedica a publicar diariamente fofocas. Escreve crônicas sobre os mais diversos temas as quintas-feiras para o jornal “O Dia, no Rio de Janeiro.” Acadêmico da Confraria Brasileira de Letras. Reside atualmente em Vila Velha/ES.
Fontes:
Texto enviado pelo autor.
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing
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