Antero Jerónimo
Lisboa/Portugal
Joga borda fora os desejos sem rumo
o marasmo dessa vontade à deriva
com que renuncias às coisas simples do mundo.
Vive o momento…
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Trova de
Georgina Ramalho
Rio de Janeiro/RJ
Que bela nossa existência
a correr, pipa empinando...
Nossa alma é, na essência,
uma criança brincando.
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Poema de
Fernando Pessoa
Lisboa/Portugal, 1888 – 1935
Todas as cartas de amor…
Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.
Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.
As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.
Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.
Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.
A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.
(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)
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Trova de
Ercy Maria Marques de Faria
Bauru/SP
Renúncia é uma ponte estreita,
onde das extremidades,
pode-se ouvir sempre à espreita,
chorando duas saudades...
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Soneto de
João Batista Xavier Oliveira
Presidente Alves/SP, 1947 – 2025, Bauru/SP
O bem maior
Entre nós uma lança em duas pontas
voltadas bem direto a nosso peito,
porém compreensão com o respeito
são atributos de insondáveis montas.
Na conta permanente do direito
espaços dão às asas, sempre prontas,
os ares das visões do preconceito
e afastam as algemas tão medrontas.
É assim que um grande amor entre pessoas
atrai as vibrações das almas boas
com a esperança de um mundo melhor.
Respeito o teu espaço em todo meio
assim como respeitas meu passeio.
Nosso trabalho ao bem é bem maior!!
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Trova de
Maria Aparecida F. de Vasconcelos
Santos/SP
A essência do trovador
está na sua humildade
de lindas trovas compor
com amor e humanidade.
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Soneto de
Castro Alves
Freguesia de Muritiba (hoje, Castro Alves)/BA (1847 – 1871) Salvador/BA
Último Fantasma
Quem és tu, quem és tu, vulto gracioso,
Que te elevas da noite na orvalhada?
Tens a face nas sombras mergulhada...
Sobre as névoas te libras vaporoso...
Baixas do céu num voo harmonioso!...
Quem és tu, bela e branca desposada?
Da laranjeira em flor a flor nevada
Cerca-te a fronte, ó ser misterioso!...
Onde nos vimos nós?... És doutra esfera?
És o ser que eu busquei do sul ao norte...
Por quem meu peito em sonhos desespera?...
Quem és tu? Quem és tu? — És minha sorte!
És talvez o ideal que est'alma espera!
És a glória talvez! Talvez a morte!…
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Trova de
Rita Mourão
Ribeirão Preto/SP
Para ter felicidade,
ao buscá-la eu pressuponho,
que seja qual for a idade
felicidade é ter sonho.
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Soneto de
Aníbal Beça
Manaus/ AM, 1946 – 2009
Simples soneto
Desejado soneto este que é escrito
sem as firulas graves do solene,
que leva na palavra o simples rito
da fala cotidiana. Não condene
no entanto, a falta de um estro especioso,
nem de brega rotule esse meu vezo.
Apenas sinta o som oco e poroso
do fundo mar de anêmonas, o peso
rarefeito das algas nos peraus.
Essa cantiga filtra nossos medos,
as culpas e os tabus, e dá-me o aval
para buscar o simples e em querê-lo
ornamento de estética espartana
na faxina ao supérfluo que se espana.
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Trova de
Zaé Júnior
Botucatu/SP, 1929 – 2020, São Paulo/SP
Brancas, rubras, amarelas,
de rosas colho um balaio!
Mas te ofereço as mais belas,
as rosas rosas de maio!
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Poema de
Silviah Carvalho
Manaus/AM
A súplica do beija-flor
...Quanto a mim, da solidão me vesti,
Vi sangrar o meu coração sem paz,
A segredar à noite tudo que vivi,
Reluto sozinha, não volto atrás.
O sossego das noites não refrigera meus dias,
Poeta beija-flor... Perdi essa identidade!
Exilada morro aos poucos e comigo a poesia,
Tantos “não” que do “sim”, sinto saudades.
Quisera ressuscitar-me, não mais amar...
Já não percebo do amor o fulgor,
Só o silencio que sua ausência deixou.
Eu preciso me redescobrir no teu olhar,
Voar na essência e sabor do seu vasto jardim,
Alimenta esse beija-flor, traga néctar pra mim...
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Trova de
Raymundo de Sales Brasil
Santo Amaro/BA
A cor dos teus olhos faz
o que só fazem os vinhos:
Me embriaga e é bem capaz
de embriagar os vizinhos.
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Poema de
Domingos Freire Cardoso
Ilhavo/ Portugal
Enerva-me esta chuva impertinente
(Fernandes Valente Sobrinho in "Poemas Escolhidos", p. 127)
Enerva-me esta chuva impertinente
Que tomba lá dos céus feitos de breu
E as gotas são o pranto que nasceu
De nuvens que tivessem dor de gente.
O vento ainda faz mais repelente
Cada pingo que o meu rosto ofendeu
Lágrima que do ar se desprendeu
Como um cristal da mágoa que alguém sente.
A chuva tudo alaga, tudo invade
Deixando o fino véu dessa umidade
Caído pelo chão, pênsil dos ramos.
E sobe uma revolta ao meu olhar;
Por que há de a Natureza assim chorar
Do modo como nós também choramos?
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Trova de
Ana Maria Guerrize Gouveia
Santos/SP
Desperta-me a Paz de um grito:
quando os sonhos são diversos...
rebuscando no infinito,
o amor com Chuva de Versos!!!
(dedicado ao Almanaque Chuva de Versos, de josé Feldman)
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Poema de
Afonso Frederico Schmidt
Cubatão/ SP, 1890-1964, São Paulo/SP
Os pequenos varredores
Pela escura avenida arborizada,
ninguém. Lá para cima,
escuta-se um rumor que se aproxima,
nuvens rolando pelo chão, mais nada...
Depois, enche-se a noite de pavores,
há risos, pragas, uivos;
dançam, ao longe, contra o vento, ruivos
de poeira, pequeninos varredores.
De ombros estreitos e de faces cavas,
lutam com seus destinos,
nas horas em que todos os meninos
dormem e sonham com princesas flavas.
Há, entre eles, alguns que são precoces,
fumam e bebem. Vários,
transitam para a noite dos ossários,
têm o pulmão comido pelas tosses.
Arrastando o esqualor destas sarjetas,
dirão, olhos em brasa,
que é melhor acabar na Santa Casa
do que viver assim, como grilhetas.
E lá se vão. A nuvem se adelgaça;
um senhor, na alameda
sem luz, toma do lenço, que é de seda,
tapa o nariz, inclina a fronte, e passa…
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Trova de
Carolina Ramos
Santos/SP
Pequenino grão latente,
que brota e aos poucos se expande,
criança é humana semente,
na conquista de ser grande.
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Soneto de
Filemon Martins
São Paulo/ SP
Garimpando a felicidade
Vou garimpando pela vida afora
a lição de Humildade que conforta
e traz ao coração a Luz da aurora,
mesmo que a crença já pareça morta.
De solo em solo, busco sem demora
o cascalho do Amor que aduba a horta.
Busco a pedra da Fé, que revigora
e prepara o caminho abrindo a porta.
Não quero, meu amigo, andar a esmo,
minha sorte depende de mim mesmo,
que a vida pode ser melhor assim.
E se meus passos forem tão errantes,
buscando joias, pedras, diamantes,
- não haverá felicidade em mim!
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Poetrix de
Geraldo Trombin
Americana/SP
Fundo musical
Pisou fundo no acelerador,
Bateu de frente com o infortúnio.
Marcha fúnebre!
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Cantiga Infantil de Roda
Rock Do Ratinho
(Cyro de Souza)
Era uma vez um ratinho pequenino
que namorava uma ratinha pequenina
e os dois se encontravam todo dia
num buraquinho na esquina
rock rock rock rock rock
é o rato e a ratinha namorando
rock rock rock rock rock
é o rato e a ratinha se beijando
o ratinho lhe trazia todo dia
um pedaço de toucinho fumeiro
um tiquinho de manteiga, um queijinho
e um pouquinho de manteiga no focinho
rock rock rock rock rock
é o sino da igreja badalando
rock rock rock rock rock
é o ratinho e a ratinha se casando…
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Quadra Popular
Na rua não sei de onde
puseram não sei que santo,
pra rezar não sei o quê,
e ganhar não sei lá quanto.
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Poema de
Vanice Zimerman
Curitiba/PR
Janela de sonhos...
A janela entreaberta
Ainda à espera
Dos sons da tua volta...
Há tanto silêncio
Em tua ausência,
Que inquieta a alma...
Busco teu olhar, tuas mãos
E não as encontro,
Encontro à saudade
Que se despe
Das rendas tecidas de poesias
E deságua
Em lágrimas…
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Poetrix de
Anthero Monteiro
São Paio de Oleiros, Santa Maria da Feira/Portugal
Morte
uma cadeira vazia na alameda
sentada numa tarde de outono
a olhar o meu ponto de fuga
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Soneto de
Jerson Brito
Porto Velho/RO
Alforria!
Os meus devaneios perfumas, adoças
Fervente desejo se alastra, domina
Persigo no sonho essa boca ferina
Procuro o sabor das carícias tão nossas
Não deixes sedentas de amor belas taças
Permitas que o mel do prazer entre em cena
Não prives de luz e esplendor minha pena
Injusto é manter nestes versos mordaças
Aflige-me tanto esperar outra chance
De ver vicejando o gostoso romance
Repleto de cores, fulgor, alegria
Revolta-se o canto sem ter alimento
Em vão é conter tal impulso... Nem tento!
As letras suplicam sem pejo: "alforria!"
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Trova de
José Kalil Salles
Barbacena/MG
Amor é brasa vibrante
no peito dos sonhadores,
dos poetas, dos amantes
e também dos trovadores.
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Folclore Brasileiro em Versos de
José Feldman
Floresta/PR
O Boto cor de rosa
Em um rio profundo, um encanto a surgir,
é o Boto, o sedutor nas noites de luar,
com seu corpo elegante e brilhante olhar,
transforma-se em homem… com o amor a emergir.
As moças encantadas ao som do seu cantar,
sentem seu perfume, a volúpia despertando,
mas ao amanhecer é um mistério pairando,
o Boto desaparece deixando a saudade a flutuar.
Ele é o amante das águas serenas,
com segredos guardados, e histórias amenas.
Na dança das marés, um sonho a vagar,
e enquanto a lua reflete no rio,
os corações pulsando um doce desafio,
na lenda do boto, a vida a se propagar.
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Trova de
Janske Niemann Schlenker
Curitiba/PR
Minha tristeza é tão linda
(não dói e não me angustia).
Uma tristeza bem-vinda
quando se torna Poesia!
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Soneto de
Alfredo Santos Mendes
Lisboa/Portugal
Plagiadores
Há poetas que sabem enganar.
Pois nasceram eternos fingidores!
E fingem serem grandes escritores,
Mas palavras de outros, vão buscar!
Já dissera Pessoa, a versejar:
Que chegava a fingir que suas dores,
Das quais ia sentindo seus horrores,
Eram dores, que fingia acreditar!
Por isso muita gente anda a fingir,
Que escreve nos poemas seu sentir,
E orgulhoso os lê, à descarada!
O seu fingir é forte, tem poder!
Que consegue a si próprio fazer crer,
Que não é poesia plagiada!
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Trova de
Roza de Oliveira
Curitiba/PR
Quando o infortúnio surgir,
tenha calma, muita calma!
Que gigante há de ferir
esse Davi de sua alma?
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Soneto de
Frei Agostinho Da Cruz
Ponte da Barca/Portugal, 1540 – 1619, Setúbal/Portugal
À coroa de espinhos
A que vindes, Senhor do Céu à terra,
Terra que sendo vossa vos enjeita,
E que tanto vos honra e vos respeita,
Que em não vos receber insiste e emperra?
Ah! Quanta ingratidão nela s’encerra!
Quão mal de vossa vinda se aproveita!
Pois se põe a tomar-vos conta estreita,
Mais brada contra vós, quanto mais erra.
E vós de vosso amor puro forçado
Os malditos espinhos lhe pisais,
Dos quais ainda sendo coroado,
A maldição antiga lhe trocais
Na bênção, que lhe dais crucificado,
Quando morto d’amor, d’amor matais.
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Trova de
Roberto Tchepelentyky
São Paulo/SP
À noite, em frente á TV,
a vovó e o manto dela...
Ela dorme e nada vê,
o manto assiste à novela...
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Spina de
Solange Colombara
São Paulo / SP
Ode a São Paulo
Cidade de encantos
em cantos boêmios
ou versos cantados
pelo poeta, em teus anseios.
Em tuas esquinas há poesia,
em teus becos, ecos falados
em rimas. Teus nobres tons,
eternizam a vida em legados.
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Trova de
Rodolpho Abbud
Nova Friburgo/RJ (1926 – 2013)
Contemplo o céu para vê-las
com um respeito profundo,
pois na raiz das estrelas
eu vejo o dono do mundo.
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Soneto de
Amilton Maciel Monteiro
São José dos Campos/SP
Meu anjo amigo
Quando voltar a minha inspiração,
que tirou férias longas, pelo jeito,
vou ter o que preciso bem à mão,
para acabar com a dor deste meu peito!
Em versos vou dizer da ingratidão
que suporto calado e contrafeito,
dês que meu bem negou-me o seu perdão,
com enfado deste amor não tão perfeito!
Hoje a tristeza é dona de minha alma...
Roubou-me a voz e a minha velha calma!
E fez o amor virar meu inimigo!
Se agora, então, também meu estro falha,
com quê me salvarei nesta batalha?
- Volta, ó poesia, ó vem, meu anjo amigo!
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Trova de
A. A. de Assis
Maringá/PR
A mais bonita homenagem,
concede-a Deus, qual troféu,
a quem completa a viagem,
sem mancha, do berço ao céu!
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Poema de
Yolanda Marazzo
São Vicente/Cabo Verde
Derrocada
A asa de um morcego transparente
e no canto um olho descaído
de pestanas longas espreitando
o ácido viscoso da loucura
escorrendo pelos telhados do mundo
Viajante incansável do pasmo
no silêncio das órbitas vagabundas
dos mares-mortos delírio-espasmo
do cansaço mole das brisas vazias
que do nada se afirmam nas florestas
do ódio de gigantes e anões liliputianos
Blocos monolíticos tristes quedos
imagens-desespero cancerosos
miasmas-visco cobras moribundas
agonizando em convulsões de magma
lanças setas envenenadas dirigidas
ao coração das virgens e crianças
Sombra parda pálida acutilante
teu vulto de insônia transparente
boia nas trevas flutuantes
da noite dos espiões pelas estradas
das feras que matam as ovelhas
e apunhalam pastores no caminho
Sombra feroz invernal medonha
destroços e cadáveres pútridos
sugando o seio das madonas
e acalentando monstros nas cavernas
pelas horas taciturnas do medo dos teus passos.
= = = = = =
Haicai de
Guilherme de Almeida
Campinas/SP, 1890-1969, São Paulo/SP+
Pescaria
Cochilo. Na linha
eu ponho a isca de um sonho.
Pesco uma estrelinha.
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Soneto de
Jerónimo Baía
Coimbra/Portugal, 1620/30 – 1688, Neiva/Portugal)
Falando com Deus
Só vos conhece, amor, quem se conhece;
Só vos entende bem quem bem se entende;
Só quem se ofende a si, não vos ofende,
E só vos pode amar quem se aborrece.
Só quem se mortifica em vós floresce;
Só é senhor de si quem se vos rende;
Só sabe pretender quem vos pretende,
E só sobe por vós quem por vós desce.
Quem tudo por vós perde, tudo ganha,
Pois tudo quanto há, tudo em vós cabe.
Ditoso quem no vosso amor se inflama,
Pois faz troca tão alta e tão estranha.
Mas só vos pode amar o que vos sabe,
Só vos pode saber o que vos ama.
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Trova de
Renato Alves
Rio de Janeiro/RJ
Quem não tem medo da morte,
quem nunca faz nada em vão,
quem, antes de tudo é um forte...
Este é o homem do sertão!
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