sexta-feira, 18 de julho de 2025

Asas da Poesia * 52 *


Trova de
SARAH MARIANI KANTER
São Paulo/SP

A saudade é luz de vela
iluminando o que eu sou:
descolorida aquarela
que uma renúncia pintou.
= = = = = =

Poema de 
LUCIANA SOARES CHAGAS
Rio de Janeiro/RJ

A cadeira

Você cria histórias em um lugar só seu 
E tem apenas uma vida para se encontrar. 
São saudades de conversas na varanda, 
Que trazem memórias junto ao mar.

A cadeira na varanda, os quadros na parede, 
As redes balançando, o sol, dias felizes. 
O cheiro de café, o bolo de laranja na mesa, 
Lembranças surgem, uma lágrima escorre...
Ah pai, nosso amor não morre.

Recordo-me de seu carinho, a mão em minha cabeça, 
Um gesto tão seu, cheio de ternura. 
Levantava-se da cadeira, ia à cozinha, 
Para se deliciar com as guloseimas que adorava.

Será que esses tempos bons vão voltar? 
Acredito que sim, de algum jeito, enfim... 
Mesmo que você não esteja mais presente, 
A cadeira de balanço ainda está aqui, 
Permanece no mesmo lugar, junto a mim.
= = = = = = 

Poetrix de
ALICE DANIEL
Porto Alegre/RS

achados & perdidos
 
revirando minha vida
achei alma e coração
ambos feridos
= = = = = = 

Poema de
APARECIDO RAIMUNDO DE SOUZA
Vila Velha/ES

Em vão

Vivo a procura de mim 
dentro de você...
numa busca interminável; 
nunca lhe encontro!

Tenho a impressão
que afinal, 
como se fosse um castigo
chegou de mansinho o  meu fim...

em igual sentido, ingrata reprimenda segue 
aumentando a minha solidão
e me torturando o coração 
simplesmente... simplesmente assim...
= = = = = = 

Trova de
APARÍCIO FERNANDES
Acari/RN, 1934 – 1996, Rio de Janeiro/RJ

Desta saudade infinita
não guardo mágoas, porque
foi a coisa mais bonita
que me ficou de você!
= = = = = = 

Soneto de
THALMA TAVARES
São Simão/SP

O anjo e o fauno

Por que tenho de ser de dois extremos feito?...
De um extremo, o melhor, vem a luz que me eleva.
Mas se às vezes sou luz, outras vezes sou treva,
que me impede enxergar o que é certo e direito.

Do outro extremo, o pior, eu direi contrafeito
que há um fauno viril que à luxúria me leva,
contra o qual, com razão, a razão se subleva
e me faz explodir a revolta no peito.

Quantas vezes me ergui do meu lado mais nobre
como quem, com a luz, de pureza se cobre
e a seguir, sem razão, deixa tudo sombrio.

Entre um anjo e um fauno eu passo a vida assim
a suplicar aos céus que afugentem de mim
o lascivo animal que anda sempre no cio.
= = = = = = = = = 

Trova de
PROFESSOR GARCIA
Caicó/RN

Cada tropeço me ensina
que a vida é eterno sonhar.
Na vida nada termina,
muda de forma e lugar.
= = = = = = 

Poema de 
IRENE LISBOA
(Irene do Céu Vieira Lisboa)
Arruda dos Vinhos/Portugal, 1892 – 1958, Lisboa/Portugal

Jeito de Escrever 

Não sei que diga.
 E a quem o dizer?
 Não sei que pense.
 Nada jamais soube.  

 Nem de mim, nem dos outros.
 Nem do tempo, do céu e da terra, das coisas...
 Seja do que for ou do que fosse.
 Não sei que diga, não sei que pense.  

 Ouço os ralos queixosos, arrastados.
 Ralos serão?
 Horas da noite.
 Noite começada ou adiantada, noite.
 Como é bonito escrever!  

 Com este longo aparo, bonitas as letras e o gesto - o jeito.
 Ao acaso, sem âncora, vago no tempo.
 No tempo vago...
 Ele vago e eu sem amparo.
 Piam pássaros, trespassam o luto do espaço, 
este sereno luto das horas. 
Mortas!  

 E por mais não ter que relatar me cerro.
 Expressão antiga, epistolar: me cerro.
 Tão grato é o velho, inopinado e novo.
 Me cerro!

 Assim: uma das mãos no papel, dedos fincados,
 solta a outra, de pena expectante.
 Uma que agarra, a outra que espera...

 Ó ilusão!
 E tudo acabou, acaba.
 Para quê a busca das coisas novas, à toa e à roda?  

 Silêncio.
 Nem pássaros já, noite morta.
 Me cerro.
 Ó minha derradeira composição! 
Do não, do nem, do nada, da ausência e
 solidão.

 Da indiferença.
 Quero eu que o seja! da indiferença ilimitada.
 Noite vasta e contínua, caminha, caminha.
 Alonga-te.
 A ribeira acordou.
= = = = = = 

Trova de 
WANDA DE PAULA MOURTHÉ
Belo Horizonte/MG

Disse pra linda tainha
o peixe, muito gamado:
– Casa comigo, peixinha,
que eu estou “apeixonado!”
= = = = = = 

Soneto de 
AMILTON MACIEL MONTEIRO
São José dos Campos/SP

Seu sorrir

Eu fico tão feliz com seu alô,
por carta, viva voz, ou celular,
que até me esqueço que sou bisavô,
deixo a bengala e quero saltitar!

Do jeito como estou, borocoxô;
só faço versos para me animar,
passo calado o dia em meu bistrô,
bolando assunto para me inspirar...

Assim, quando você reaparece,
com seu alô gostoso de se ouvir,
minha alegria nesse instante cresce!

Sinto a felicidade bem de perto,
pois sei que o seu alô traz seu sorrir,
que é tudo o que eu preciso. Estou bem certo!
= = = = = = 

Trova de
ZAÉ JÚNIOR
Botucatu/SP, 1929 – 2020, São Paulo/SP

Velho em plena mocidade,
sem alma, sem ideais,
que faço desta saudade,
se nem ela me quer mais?
= = = = = = 

Hino de
SANTANA DO SERIDÓ/RN

Santana és orgulho do teu povo
Teus campos e serras me fascinam
Teu céu azul, salpicado de estrelas
Em noites de verão, o luar te ilumina.

Tuas ruas verdejadas de algarobas
Acácias, pés de fícus, flamboyants
A igreja guarda tuas tradições
Que o tempo solidificou.

Eu agradeço a Deus eternamente
Por ter nascido em Santana do Seridó
Pequena mas tão bela, 
Minha terra mãe gentil
De um povo varonil.

Do velho casarão sinto saudades
Perfil de nossa colonização
Do cruzeiro lá no pátio da capela
E dos campos alvejados de algodão.

A agricultura, a mineração e a pecuária
Ajudaram a esculpir a tua história
Desejamos de todo coração
Que o teu futuro seja de vitórias.

Santana do Seridó
Teu pavilhão queremos reverenciar
Teu povo com heroísmo e vigor
Com muita luta o teu solo desbravou
Vamos saudar, 9 de abril 
Oh! Terra querida 
Iremos sempre te exaltar.
= = = = = = 

Trova de
RITA MOURÃO 
Ribeirão Preto/SP

Quando uma ofensa me oprime
em silêncio enfrento tudo.
Qualquer grito se redime
ante meu protesto mudo.
= = = = = = 

Recordando Velhas Canções
NOSSA CANÇÃO 
(canção, jovem guarda, 1966) 
Luiz Ayrão

Olha aqui, preste atenção
essa é a nossa canção
vou cantá-la seja onde for
para nunca esquecer o nosso amor,
nosso amor

Veja bem, foi você
a razão e o porquê
de nascer essa canção assim
pois você é o amor 
que existe em mim    

Você partiu
e me deixou
nunca mais você voltou
pra me tirar da solidão
e até você voltar
meu bem eu vou cantar
essa nossa canção
= = = = = = = = = 

Trova de 
BARRETO COUTINHO
Limoeiro/PE (1893 – 1975) Curitiba/PR

Destino é força que esmaga.
Credor austero, tremendo,
manda a conta e a gente paga 
sem saber que está devendo…
= = = = = = = = =

Quadrão à Beira-Mar de
FRANCY FREIRE
Assaré/CE

Meu amor vai na garoa
Remando em sua canoa
Cantando uma rima boa
Pra solidão espantar.
E eu fico aqui tão sozinha,
Levando a mesma vidinha,
Da sala para a cozinha
No quadrão a beira-mar.
“Beira mar, beira mar,
O quadrão só é bonito
Quando é feito a beira mar”
= = = = = = = = =

Trova de
SÉRGIO BERNARDO
Nova Friburgo/RJ

Na aurora, à luz do arrebol,
quando o céu mais cores ganha,
Deus ergue a hóstia do Sol
por sobre o altar da montanha!
= = = = = = = = =

Soneto de
EDY SOARES
Vila Velha/ES

Máquina do tempo

Vou inventar a máquina do tempo.
Vou voltar e fazer tudo outra vez.
Quero ter certeza de que meus erros e acertos
Foram os alicerces da minha lucidez.

Não repudio um só minuto vivido.
Não tenho dúvidas de que tenho muito a caminhar,
Mas cada pedra, que lapidei com tropeços,
Foram as mesmas que pisei pra escalar.

A montanha é íngreme. Eu bem sei,
Que chegarei lá no topo, nunca duvidei!
Cicatrizes nos punhos e pés vão ficar.

Mas se os rumos que tomei foram incertos,
Se, troquei águas claras por oásis no deserto,
Faria tudo de novo, se tivesse que recomeçar. 
= = = = = = = = =

Trova Humorística de
IZO GOLDMAN
Porto Alegre/RS (1932 – 2013) São Paulo/SP

Minha sogra está doente
e o diabo, apavorado:
- se ela morre de repente,
ele está desempregado!...
= = = = = = = = =

Poema de
ELISA ALDERANI
Ribeirão Preto/SP

Mulher

Não importa a cor dos seus cabelos,
Loira, morena ou ruiva.
Não importa seu nome:
Leila, Maria, Iara, Lúcia, ou Sofia.
De qualquer nacionalidade ou raça.
É mulher!
Pelos poetas românticos é cantada,
Em prosa em versos idolatrada.
É mulher amada.
Você pode ser traída ou traidora,
Solteira, viúva, amante ou esposa.
Você pode ser poderosa.
É mulher!
Ser fada bonita, ou piloto, tanto faz.
Mulher corajosa, anjo do lar,
Companheira amorosa e prestimosa,
Sensível e audaciosa,
Sensual e conquistadora.
É mulher!
Homem nenhum pode viver, sem você,
Ele precisa de mulher para ser forte.
Quando fraco vai ficar na sorte.
Sem você mulher ele não avança,
Precisa do seu amor, como alavanca.
É mulher!
Mãe faz-se partilha, e o amor sempre cresce,
A vida floresce.
Briga, chora e canta, trabalha no lar e fora.
Mulher inteligente,
Sempre consegue conciliar amor e sentimento.
Um dia, os filhos tomam o rumo da vida,
Muitas vezes sozinha ela fica.
Embala sonhos, brinca com netos torna-se criança.
E a vida segue serena a sua dança!
= = = = = = = = =

Quadra Popular

Quem inventou a partida
não sabia o que era amar;
quem parte sem vida,
quem fica, fica a chorar.
= = = = = = = = =

Soneto de
AUTA DE SOUZA
Macaíba/RN, 1876 – 1901, Natal/RN

Lágrimas

Eu não sei o que tenho... Essa tristeza
Que um sorriso de amor nem mesmo aclara,
Parece vir de alguma fonte amara
Ou de um rio de dor na correnteza.

Minh' alma triste na agonia presa,
Não compreende esta ventura clara,
Essa harmonia maviosa e rara
Que ouve cantar além, pela devesa.

Eu não sei o que tenho... Esse martírio,
Essa saudade roxa como um lírio,
Pranto sem fim que dos meus olhos corre,

Ai, deve ser o trágico tormento,
O estertor prolongado, lento, lento,
Do último adeus de um coração que morre...
= = = = = = = = =

Quadra Humorística de
IDEL BECKER
Porto Casares/ Argentina (1910 – 1994) São Paulo/SP

Todo sujeito sensato
sabe a verdade de cor:
A mulher bela, de fato,
sem fato fica melhor.
= = = = = = = = = 

Poema de 
HILDEMAR CARDOSO MOREIRA
São Mateus do Sul/PR, 1926  – 2021, Contenda/PR

Saudade imensa
                                       (À Neusa)

Que saudade, meu Deus, mas que saudade
Eu sinto de você minha querida.
Palmilhamos nossa estrada nos amando,
Éramos então vivendo enamorados
Como dois pombos enfrentando a vida.
Jamais pensando vivermos separados.
Mas você teve sua missão cumprida
E Deus veio buscar-lhe faz um ano.
E eu não pude lhe beijar na despedida,
Selei um beijo já em seu rosto inerte,
Molhando com lágrimas sua face linda.
Hoje não sinto seu calor humano,
Mas lhe sinto presente em toda a vida
E mesmo sem lhe ver é mais querida.
= = = = = = = = =

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