LUIZ POETA
(Luiz Gilberto de Barros)
Rio de Janeiro/RJ
De - sen - velhecer
Desenvelheço toda vez que me retoco
E a maquiagem que me dou, não me desmente,
Ela é o presente de um passado que eu evoco,
Quando meu foco é viver mais intensamente.
Rejuvenesço quando pinto meus cabelos
Mas alguns pelos denunciam minha idade,
Minha saudade nunca cede aos meus apelos...
Sem atropelos, chega com suavidade.
É impressionante essa leveza cristalina
Que as retinas não contêm, quando algum pranto
Faz meu encanto mais feliz dobrar a esquina,
Mas me deixar algumas notas de acalanto.
Que bom cantar... toda canção tem o poder
De me fazer amar o tempo em que a poesia
Sempre se alia à energia de viver
E compreender o meu amor com alegria.
Minto e desminto minha dor mais escondida
E enquanto há vida num canto da solidão,
A pulsação do meu amor sempre revida,
Quando, atrevida, a dor convida-me à razão.
Desenvelheço ao zombar do meu espelho,
Quando um joelho me impede de levantar...
O meu olhar vê, nos meus olhos, o fedelho
Que eu sempre fui, vendo um espelho se quebrar.
Sorrir me leva ao que me enleva e me abençoa,
Minha alma voa, pois é preciso sonhar
E para amar é só criar um sonho à toa,
Pois é tão boa a sensação de não chorar.
Rejuvenesço, eu mereço este momento
De ver o vento expondo as pétalas no ar,
Pois toda vez que o vento cria outro rebento,
Eu polinizo um novo tempo em meu olhar.
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Soneto de
JOSÉ MARIA GOULART DE ANDRADE
Maceió/AL, 1881 – 1936, Rio de Janeiro/RJ
Soneto
Nave de catedral esta alma: — Nela
Outrora silenciosa, ressuscito
Por ti, a adoração de estranho mito...
E o hinário soa, o incenso se enovela!
Enche-a toda de clarões aquela
Macia luz que nos teus olhos fito,
Quando me vês, em teu altar, contrito,
Queimando o coração que se desvela...
Novo surto de vida ora me invade,
E esta alma, quase fria, quase morta,
Vibra de novo em comoção fecunda!
Tão penetrado estou nesta verdade,
Como o silêncio quando um grito o corta,
E a escuridade quando a luz a inunda!
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Trova Popular
Triste sou, triste me vejo
sem a tua companhia;
tão triste, que nem me lembro
se alegre fui algum dia.
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Poema de
APARECIDO RAIMUNDO DE SOUZA
Vila Velha / ES
Prelúdio 5
O céu, a terra, o mar,
tornaram-se-me
tão incomuns;
tão pequeninos;
tão sem destinos,
como se tivessem perdido a cor.
Foi depois que vi
e senti,
a luz dos meus olhos
grudada nos olhos
do teu amor!...
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Poema de
CRIS ANVAGO
Lisboa/ Portugal
O teu encanto
Tudo em ti é beleza
mesmo nas horas de tristeza
és um ser simples e natural
Fazes tudo com paixão
Tens uma força visceral
que me arranca o coração
Já não és só poema és canção!
Deslumbras quem te conhece e,
sem saberes, até parece que és tu
que todos queres conhecer
Tens ímã no sorriso
e a luz nos teus olhos
são botões de rosa
que espalhas aos molhos
pelos que por ti passam
nem tens noção do bem que fazes
e, quando te elogiam
ficas sem saber qual a razão
Quando falas, as tuas palavras
são gotas de água fresca
que caem em cascata
refrescam a mente mais sombria
Tu nunca és noite és sempre dia
Sempre motivas quem se cruza contigo
És conselho sem saber e abrigo
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Soneto Livre de
JOSÉ FELDMAN
Floresta/PR
Saudade (1)
Na sombra do passado, a saudade,
vagueia como um sonho que não vem,
percorre em cada canto, a verdade
de amores que se foram, um desdém.
Nos olhos, a memória faz-se mar,
um vasto horizonte que não cede,
e em cada onda, um suspiro a pesar,
na areia da lembrança que se mede.
Mas há beleza na dor que se sente,
um doce amargo que nos traz calor,
na saudade, o amor é presente,
transforma a dor em eterna flor.
E mesmo na tristeza, é envolvente,
pois sempre se recorda um grande amor.
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Trova de
FERNANDO PESSOA
Lisboa/Portugal, 1888 – 1935
Cantigas de portugueses
são como barcos no mar —
Vão de uma alma para outra
com riscos de naufragar.
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Soneto de
AMILTON MACIEL MONTEIRO
São José dos Campos/SP
Areias
Areias do meu tempo de criança
é mais do que saudade... é só doçura...,
é algo que me alegra com lembrança
que não se apaga mais, nem desfigura!
Os casarões por toda a vizinhança,
recordavam os tempos de fartura...
Seu povo, apesar da vida mansa,
sonhava com evolução futura...
E foi assim, que após setenta anos
de a ter deixado, com meus desenganos,
fui revê-la e... qual minha surpresa!
Enquanto fiquei velho e já alquebrado...
Areias remoçou por todo lado
e está quase vibrante. E uma beleza!
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Poema de
ANTONIO JURACI SIQUEIRA
Belém/PA
Nado Interior
No espelho do poema
eu me reflito
metáfora de mim:
anjo & demônio
Diante do poema
eu me desnudo:
retrato em preto & branco
do que sou
No ventre do poema
eu me traduzo
diluído em palavra:
imagem & som
No escuro do poema
eu me procuro
e encontro sempre alguém
que jamais fui
Nos braços do poema
eu desfaleço
e acordo renovado:
seiva & flor.
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Trova Funerária Cigana
Como as aves que vagueiam
no seio da noite escura,
assim serão meus suspiros
sobre a tua sepultura.
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Soneto de
EZEQUIAS DA ROCHA
Major Izidoro/ AL
O elogio de nós três
Eu sou tu. Tu és eu. Nós dois, portanto,
somos, seremos uma só pessoa,
de forma que, quando algo te magoa
meu coração magoa-se outro tanto.
Se está cheia de um céu tua alma boa,
que ri se rio, ou chora com o meu pranto,
a vida é para mim um doce encanto,'
- um paraíso o peito me povoa.
E todas essas coisas que sentimos,
nosso Fernando, em quem nos confundimos,
sente-as , mais do que nós, logo depois;
é que o nosso bom filho, sem defeito,
perfeito como tu, como eu, perfeito,
é a soma certa, exata, de nós dois.
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Poema de
SONINHA PORTO
(Sônia Maria Ferraresi)
Cruz Alta/RS
Redesenhos
Deitada na fina malha
que aquece o corpo
redesenho a noite e você
marcados por carícias revoltas
envoltos no fogo do desejo
são apenas suaves lembranças
que me invadem e padeço
porque a elas falta o ardor
falta olhos para perceber.
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Soneto de
FRANCISCO NEVES DE MACEDO
Natal/RN, 1948 – 2012
…E o amor se fez soneto
Sono esquecido, a acolho, nos meus braços,
ouço o teu respirar, lindo, ofegante,
nos seus carinhos, mil beijos e amassos,
instante lindo, não mais que um instante!
Tomo-te, assim, vasculho teus espaços,
orgasmos loucos, sonhos fascinantes!
Por tudo que fizemos, os cansaços,
se fazem adrenalina nos amantes.
Respiração… A voz que enleva a gente,
agora se faz terna, mas, ardente.
Voz que em louco prazer se faz dueto.
Onde estiver, é certo estar presente,
cada suspiro, que trará na mente,
este momento, que se fez soneto!
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Soneto de
DARLY O. BARROS
São Francisco do Sul/SC, 1941 - 2021, São Paulo/SP
Estrela cadente
O palco é o céu que a vista descortina
em seu passeio, quando, de repente,
depara-se com bela bailarina,
a deslizar, esguia, reluzente…
A lua, por um palmo de cortina,
também a espia e então, infelizmente,
desaparece a etérea peregrina
que já não baila mais, à minha frente…
Para onde foi? Que fim levou a estrela?
indago de mim mesmo, sem revê-la,
frustrado e, além de tudo, arrependido
por não lhe ter de todo deslumbrado
com ela e a perfeição do seu bailado
feito, naquele instante, o meu pedido…
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Hino de
Ibititá/BA
Salve Ibititá, terra querida
Do tupi é teu nome derivado
Amada, abençoada toda vida
Suspenso num rochedo empolgado
Avante, Ibititá, para o progresso
Que o seu sucesso medra o teu vigor
Que o grande arquiteto do Universo
A ilumine, oh Nosso Senhor
Brava gente de sangue forte
Benquista terra, amado torrão
Tu és linda do sul ao norte
Extensa plaga, belo rincão
Salve, Ibititá, salve bandeira
Içada num mastro em apogeu
Tremulando alegre e altaneira
Acenando para o filho teu
Rochedo é o teu nome primitivo
Nenhum cativo aqui jamais passou
Liberdade e amor é o lenitivo
De um povo que na paz te consagrou
Unidos, festejemos sua história
Coesos, marchemos fielmente
Com um grito clamando em sua glória
Viva sempre, sempre alegremente.
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Poema de
ALCI SANTOS VIVAS AMADO
Mimoso do Sul/ES
Será que sou trovador?
Será que sou trovador?
Se papel e lápis na mão
eu na hora da inspiração
não anotar, fica no peito uma dor.
E se anotar... dias depois
O delinear encontrar…
Fico em dúvida ao repor:
Será eu, dessa trova o autor?
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Fábula em Versos de
JEAN DE LA FONTAINE
Château-Thierry/França, 1621 – 1695, Paris/França
A andorinha e a filomela*
Progne, a andorinha singela,
Foi ter, deixando a cidade,
A um bosque onde habitava a Filomela.
«Irmã, diz Progne, estimo vê-la bem.
Há mil anos talvez, oh! que saudade!
Desde a Trácia, que não a vê ninguém.
Pensa acaso em ficar
Neste ermo triste? — Ah! onde o encontrar
Mais grato? — Pois o encanto
Do teu divino canto
Vais consagrá-lo aos brutos animais
Ou aos rudes campónios? Ermos tais
Não são para talentos como o teu.
Volta para a cidade,
Onde luzem tuas graças imortais.
Além de que, desse feroz Tereu,
Que num ermo violou tua beldade,
Não vem este ermo a afronta recordar-te?
— Oh! não! — a Filomela respondeu.
Não! é a lembrança dessa injúria acerba
O que me impede, irmã, de acompanhar-te...
A presença dos homens a exacerba!»
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* Filomela = nome poético do rouxinol.
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