Sávio Soares de Sousa nos oferece uma definição da trova
em “Argumento de Trovador” que diz o seguinte: “Queremos que a trova continue
sendo a joia que deslumbra, pelo brilho próprio, admirado por todos – mesmo que
se apresente revestida de sua simplicidade franciscana. À prova de tempo e
desmemória.”
         Quase sempre
tratamos a trova como se fosse um gênero tipicamente brasileiro. Mas não é bem
assim. Rubén Darío, o poeta nicaraguense que lançou o modernismo na literatura
hispano-americana, escrevia trovas e aqui está uma delas: 
“Juventude divino tesoro, 
ya te vas para no volver! 
Cuando quiero llorar no lloro... 
Y a veces lloro sin querer...”
         Rubén Darío
não era trovador no rigor da palavra, mas faço questão de citá-lo aqui para
provar que se o modernismo não chegou a erradicar a trova da literatura, nenhum
outro movimento poético vai poder chamá-la ultrapassada. A trova vai ter sempre
a fortaleza da poesia excelente, enquanto houver poetas capazes de expressar um
tema, um pensamento e uma inspiração em sua totalidade, em 4 versos de 7
sílabas acentuadas na terceira e sétima, com rimas consoantes alternadas. Esta
forma é uma das mais líricas existentes e de fato requer um talento nato, um
ouvido atento, um sentido estético superior, assim a inspiração de um tema que
possa valorar a forma. Nosso maior poeta em todas as idades, Carlos Drummond de
Andrade, não depreciou a trova e soube utilizá-la com a mesma destreza com que
escreveu a grande obra poética que dá honra à literatura brasileira: 
“Solidão não te mereço, 
pois que te consumo em vão. 
Sabendo-te, embora, o preço, 
calco teu ouro no chão”.
         É necessário
ter certa maturidade intelectual e destreza em compor os versos para ser
trovador. E isso vem coincidir com um tema importante na alma do poeta como o
fim da vida. Portanto, a morte vem a ser um dos tópicos à prova de bala para o
trovador. Apresento aqui os consagrados poetas no gênero da trova tratando
desse tema. Maria Thereza Cavalheiro o trata com uma boa analogia onde a vida é
uma boa analogia onde a vida é uma representação dramática que termina com o
cerrar das cortinas: 
“No palco há lágrima e riso: 
– um drama entre o Mal e o Bem.
Até que a mão, sem aviso 
desce o pano que retém.”
         Já o poeta
Silvério da Costa apresenta uma perspectiva mais real do sistema vida/morte: 
“Cuidado, não digas não 
quando podes dizer sim. 
Não percas nunca a razão, 
pois a vida tem um fim.” 
         Arlindo
Nóbrega põe o jogo da vida e da morte ao acaso: 
“Sendo a vida passageira 
há pressa no que fazer, 
pois se queira ou não se queira, 
tudo pode acontecer.”
         O poeta
Francisco Miguel de Moura apresenta um segmento de um poema que quase resultou
em trova. Embora não venha em métrica tradicional da trova, vem quatro versos e
rimas alternadas. Além disto, é um precioso poema, que insisto em citar pelo
merecimento do tema e da surpresa lírica tão poderosa como na perfeita trova: 
“A vida nasce e come 
E vive e cresce e chora 
E seca e some 
E devora...”
         Por essas
razões é que o escritor Antônio Soares, doutor em Teoria Literária e
Psicanálise Social e editor da revista CAOSÓTICA diz em um de seus tratados: “Um
poema bem elaborado, bem inspirado ou desejado, muitas vezes escrito e
reescrito, será o metapoema, o hiper-poema, o hiper-moderno, termos estes que
dizem que o ato criativo está sendo vivo, colorido, intenso, valorativo,
fazendo que a experiência tida, volvida sobre si mesma e tomada em sentimento
ou emoção avance para uma unidade cada vez maior e esta se torne poema ao ser
escrita.” 
         Antônio
Soares não faz menção de tamanho dos versos nem do poema e sim da qualidade e
das possibilidades temáticas. Também o poeta mexicano Octavio Paz, Prêmio Nobel
de Literatura, 1990, assim explica o poeta e a poesia: “O poeta fala das
coisas que são suas e de seu mundo, mesmo quando nos fala de outros mundos.”
         Entretanto
há trovadores que tratam de temas variados, porque o poeta, como um ser humano
inspirado, constrói seu pensamento e sua obra literária como um testemunho do
espaço geográfico, ecológico e histórico em que está destinado a viver. 
         Kleber Leite
é um desses trovadores excelentes em qualquer motivo que emocione sua alma, até
mesmo o trabalho de um pequeno pássaro. Suas trovas abrangem o sentimento da
solidariedade e da vida em suas celebrações: 
"João de Barro miudinho, 
que mestre de segurança! 
Nem furacão destrói o ninho 
feito de amor e esperança!"
         Anderson
Braga Horta, escritor de todos os gêneros e assuntos, publicou um livro
intitulado Signo: Antologia Metapoética, no qual estabelece no prefácio o
seguinte: "Desde muitos anos venho lançando no papel essas reflexões
acerca do fenômeno com o qual tenho convivido a existência inteira, já como
simples expectador, já como autor e ator." Cito isto para confirmar
que o escritor, principalmente o poeta inspirado na orquestra de vivência ao
seu redor, é um registrador da história emocional do mundo. Eu havia guardado
anteriormente estes quartetos nos arquivos da IWA e aproveito para citá-los
aqui: 
"Muito amor, amores poucos. 
Cem mil dores numa dor!
E beijos... Desejos loucos…
Tanto amor num só amor!
Meigas vozes, gritos roucos... 
Róseas pétalas... Multiflor!
Doce angústia... Ouvidos moucos…
Sonho, saudade, torpor..."   
         No novo
livro recolho um mais: 
"Olhos lunares, 
olhos lunares 
dai-me a pureza 
dos vossos mares."
         Vou citar
umas frases de Humberto del Maestro, o escritor de "Ditos, adágios e
aforismos", cujo livro recebi. Ele confessa, com todo seu pessimismo:
"Sou o resultado de muita filosofia barata, inclusive das minhas."
Mas antes disto dizia: "Se pudesse me despir dessas tristezas, o mundo,
por certo, seria um pouco mais feliz." 
Isto me oferece a oportunidade de lhe aconselhar: Leia e escreva mais
trovas, companheiro. Seus ditos filosóficos poderiam transformar-se em um
divertido jogo poético, de uma leitura mais positiva como o é esta  sua trova: 
"Jamais sentirei estrelas 
no toque de minha mão, 
mas poderei sempre tê-las 
no arrojo da inspiração."
         É claro que
tenho que dizer e terminar dessa maneira, pois isto é um artigo de elogio à sua
alteza, a TROVA.
_______________________
*Teresinka Pereira é escritora e
gestora cultural, preside a Associação Internacional de Escritores e Artistas -
IWA, com sede em Toledo, Ohio, nos Estados Unidos
Fonte:
Francisletras – ano 13 – n.63 – Goiânia/GO, setembro de 2012.

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