José Corrêa da Silva Júnior
(Pilar/ AL, 22 janeiro 1893 – Santos/SP, 9 setembro 1972).
" PUDOR “
Ama-me assim, sem ânsias nem clamores,
sem amostras no olhar de coisa alguma,
num silêncio feliz, num gesto, em suma,
furtivo às aparências exteriores.
Deixa que o teu amor a paz resuma
essas noites propícias aos amores,
em que os gritos das luzes e das cores
ficam velados através da bruma.
Ama-me assim, como se as nossas vidas
duas árvores fossem diferentes,
por desiguais radículas nutridas...
E como se a alegria que abafamos
amargasse nos frutos renascentes
e entristecesse os pássaros nos ramos. . .
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Corrégio de Castro
(sem dados biográficos)
" FLOR DO HELIANTO (GIRASSOL) "
Conheces, certo, aquela flor dourada
que volta a face para o sol nascente
e, tendo a face para o sol voltada,
constante o segue, desde a aurora ao poente.
E já notaste que, se anuviada
a esfera de turquesa não consente
se perceba o astro louro, a flor amada
mesmo sem vê-lo, segue o sol ausente?
Também minha alma é como a flor do helianto.
Desde o instante feliz em que te vi
como tocada de um suave encanto,
- não sei que força estranha que senti -
pois em riso ela esteja, esteja em pranto,
trago-a sempre voltada para ti!
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Cruz e Souza
João da Cruz e Souza,
(Florianópolis/SC, 24 novembro 1862 – Antonio Carlos/MG, 19 março 1898)
" CORPO "
VII
Pompas e pompas, pompas soberanas
Majestade serene da escultura
A chama da suprema formosura,
A opulência das púrpuras romanas.
As formas imortais, claras e ufanas,
Da graça grega, da beleza pura,
Resplendem na arcangélica brancura
Desse teu corpo de emoções profanas.
Cantam as infinitas nostalgias,
Os mistérios do Amor, melancolias,
Todo o perfume de eras apagadas...
E as águias da paixão, brancas, radiantes,
Voam, revoam, de asas palpitantes,
No esplendor do teu corpo arrebatadas!
ENCLAUSURADA
Ó Monja dos estranhos sacrifícios.
Meu amor imortal! Ave de garras
e asas gloriosas, triunfais, bizarras,
alquebradas ao peso dos cilícios.
Reclusa flor que os mais revéis flagícios
abalaram com as trágicas fanfarras,
quando em formas exóticas de jarras
teu corpo tinha a embriaguez dos vícios.
Para onde foste, ó graça das mulheres,
graça viçosa dos vergéis de Ceres,
sem que o meu pensamento te persiga?!
Por onde eternamente enclausuraste
aquela ideal delicadeza de haste,
de esbelta e fina ateniense antiga?!
" MAGNÓLIA DOS TRÓPICOS "
À Araújo Figueredo
Com as rosas e o luar, os sonhos e as neblinas,
Ó magnólia de luz, cotovia dos mares,
Formaram-te talvez os brancos nenúfares
Da tua carne ideal, de correções felinas.
O teu colo pagão de virgens curvas finas
É o mais imaculado e flóreo dos altares,
Donde eu vejo elevar-se eternamente aos ares
Viáticos de amor e preces diamantinas.
Abre, pois, para mim os teus braços de seda
E do verso através a límpida alameda
Onde há frescura e sombra e sol e murmurejo;
Vem! com a asa de um beijo a boca palpitando,
No alvoroço febril de um pássaro cantando,
Vem dar-me a extrema-unção do teu amor num beijo.
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Cruz Oliveira
(Júlio Auto da Cruz Oliveira)
(Maceió/ AL, 5 dezembro 1880 – ????)
" OLHOS "
Olhos! Tantos amei quantos me abandonaram. . .
Tantos cobri de bens, de inefáveis ternuras,
quantos me querem mal, que em lugar me deixaram
de minhas ilusões, desilusões bem duras.
E dizer que os perdoei: que mau grado amarguras
de que venho de encher dias que se passaram,
só lhes desejo o bem das carícias mais puras
- que hoje me apraz perdoar os que me não perdoaram!
E isso me cura um pouco esse desgosto imenso
de amá-los, esse tédio, a fartura, o cansaço
da vida; e me dá mesmo um prazer quando penso
nas vezes em que a sós eles se consideram
e me admiram mais, pelo bem que lhes faço,
do que eles pelo mal que sempre me fizeram.
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Cynthia Castello Branco
(sem dados biográficos)
" PROFANAÇÃO "
Tenho-lhe um ódio quase extravagante
depois de havê-lo amado com loucura...
As vezes penso que se o amor não dura,
tece correntes, mesmo agonizante!
Sinto-me escrava dele e a cada instante
pergunto-me a razão desta clausura! . . .
Talvez porque nascendo é uma ventura,
o amor que morre é sempre vigilante.
Quero afastar os laços que me prendem
ao meu destino, assim como se eu fora
este chão que ele pisa . . . E, entretanto,
garras do Tempo sobre mim se estendem
e é uma vertigem doida, embriagadora,
odiá-lo assim depois de amá-lo tanto!
Fonte:
– J.G . de Araujo Jorge . "Os Mais Belos Sonetos que o Amor Inspirou". 1a ed. 1963
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